GOYA , FRANCISCO - PINTOR ESPANHOL- TURBULÊNCIA E ORIGINALDADE


Saturno Devorando Seus Filhos

Francisco de Goya

Pintor espanhol. Goya é um pintor que percorre a pintura espanhola e europeia desde o neoclassicismo de fins do século xviii até ao romantismo. Na sua produção, de uma extraordinária abundância, a originalidade e a variedade compensam com vantagem uma ou outra imperfeição em algum dos seus quadros. A sua arte vai evoluindo ao longo da vida.  
                         


             La Vendimia


               Bruxas no Ar


                   La Maja Vestida

Esquematicamente, pode dizer-se que Goya, partindo do rococó, se entrega à cor com fúria e liberdade e vai sucessivamente descobrindo a beleza dos cinzentos e dos pretos, sem com isso renunciar às cores intensas. Pintor de execução rápida, soluciona as composições de maneira concisa. Realista apaixonado, dá rédea solta a este impulso em quadros de grande riqueza expressiva, tais como O 3 de Maio de 1808 em Madrid, enquanto o contém e tempera nos seus cartões para tapeçarias, de ar mais rococó. Por outro lado, Goya cultiva magistralmente a pintura da imaginação, que dá passagem para o grotesco, para o fantástico e para o monstruoso da natureza humana. Estudando em Madrid e em Itália, a sua mais significativa obra de juventude consiste num conjunto de mais de sessenta cartões para tapeçarias, representando a maior parte cenas populares madrilenas, romarias e verbenas, povoadas por personagens bem ataviadas que bebem, dançam e se divertem. Os mais notáveis são A Cabra-Cega, O Espantalho, A Vindima e O Baloiço. A complexidade destes cartões aumenta, ao ponto de A Pradaria de Santo Isidro não ser transformado em tapeçaria.  

Ficheiro:El Tres de Mayo, by Francisco de Goya, from Prado in Google Earth.jpg
                      El Tres de Mayo

Ficheiro:Goya Maja naga2.jpg
                          La Maja Nua

Desta época são O Crucifixo, de inspiração neoclássica, bem como os seus primeiros retratos da corte. Goya fixa nos retratos a sua excepcional penetração psicológica, bem como a sua destreza técnica e o seu impiedoso realismo. Pinta reis, aristocratas, governantes, escritores, actores e toureiros: Carlos III, A Família de Carlos IV, que é o melhor, implacavelmente fiel à realidade; O Conde de Floridablanca, A Família do Duque de Osuna, A Marquesa de Pontejos, O Marquês de San Adrián, A Tirana, etc. Além de alguns auto-retratos, pinta também a Maja vestida a Maja desnuda, que são duas obras-primas de tema e tratamento insólitos na pintura espanhola da época. Tal como os retratistas ingleses, é um mestre nas representações infantis, como na do seu neto Marianito. Nos retratos da sua última época o uso do preto é de importância fundamental.    

             Retrato de Família de Carlos IV

A partir de certa altura, Goya começa a padecer de uma doença que lhe provoca uma surdez progressiva. Começa então a isolar-se, a ensimesmar-se. Deixa de ver, como acontecera com os cartões, o lado agradável da humanidade, fixa-se nos seus defeitos, nos seus aspectos grotescos. Neste sentido, são características Os Caprichos, série de gravuras que revelam uma faceta ascética do artista que continua a manifestar-se até à sua morte. São também desta época os frescos de Santo António da Florida, nos quais se serve de um tema religioso para mostrar uma variedade de tipos populares.    


                          Difteria 1812

Quando se verifica a invasão napoleónica, Goya alia-se às hostes dos afrancesados. Nomeado pintor de José Bonaparte, retrata alguns generais franceses. Os acontecimentos desta guerra, cheia de horrores e de sangue, vão mais tarde inspirar-lhe duas das suas mais notáveis pinturas, O 3 de Maio e A Carga  dos Mamelucos. São obras transbordantes de um poderoso ímpeto interior e de uma ardente imaginação. Na série de gravuras Os Desastres da Guerra assomam novamente a veia pessimista e a acentuada expressividade, chegando esta a transformar-se numa forma particular de expressionismo. Terminada a guerra e restituído o trono a Fernando VII, Goya continua a trabalhar na corte, mas quando, em 1823, se instala a monarquia absolutista, parte com muitos outros liberais espanhóis para França, instalando-se em Bordéus. É deste período final A Leiteira de Bordéus e outras obras extraordinárias,  cujo exuberante cromatismo e poderosa técnica de pincel antecipam o impressionismo.    

                   Dois Velhos Comendo,1820-23

Na obra de Goya detectam-se impulsos e maneiras de executar que vão posteriormente constituir princípios orientadores de diversos desenvolvimentos importantes da história da pintura nos séculos xix e xx. Assim, na exaltação da cor, nos processos narrativos, existe já o germe do romantismo. Pelo impiedoso naturalismo, pela crítica aguda, é plenamente um pintor realista. Pela técnica pictórica dos seus últimos anos, em que se serve da justaposição de pinceladas de cores puras para formar novas cores e delimitar as massas, os impressionistas reconhecem-no como um precursor. A deformação da realidade, tão significativa nas suas gravuras, é nitidamente expressionista. E tem em comum com os surrealistas as visões fantásticas e oníricas que povoam a sua excepcional obra gráfica.

                           Inquisição 1812


   The Holy Family. c. 1775-1780


The Family of the Duke of Osuna 1788


Já surdo, (auto-retrato incompleto)


BIOGRAFIA

Francisco José de Goya y Lucientes (Fuendetodos, Saragoça, 30 de março de 1746  Bordéus, França, 15 de abril de 1828), foi um pintor e gravador espanhol. Conhecido como "Goya, o Turbulento" e considerado às vezes como "oShakespeare do pincel", suas produções artísticas incluem uma ampla variedade representativa de retratos, paisagens, cenas mitológicas, tragédia, comédia, sátira, farsa, homens, deuses e demônios, feiticeiros, e um pouco do obsceno.

Os primeiros anos


Goya nasceu em Fuendetodos, Aragão, Espanha, em 1746, filho de José Benito de Goya y Franque e de Gracia y Lucientes Salvador. Passou sua infância em Fuendetodos, onde sua família morava em uma casa com o brasão da família de sua mãe. O pai ganhava a vida como dourador. Em 1749, a família comprou uma casa na cidade de Zaragoza e alguns anos mais tarde mudou-se para lá. Goya frequentou a Escuelas Pias, onde fez uma estreita amizade com Martin Zapater, sendo sua correspondência ao longo dos anos considerada uma valiosa fonte para as biografias de Goya. Aos 14 anos, entrou para a aprendizagem com o pintor Don José Luzan y Martinez. Como era costume na época, começou fazendo cópias de pinturas de vários mestres.

Aos dezessete anos, transferiu-se para Madrid, onde estudou com Anton Raphael Mengs, um pintor que era popular na realeza espanhola. Entrou em choque com seu mestre e seus exames foram insatisfatórios. Tentou por duas vezes, uma em 1763 e outra em 1766, entrar para a Academia de Belas Artes, sendo rejeitado em ambas as tentativas. Os biógrafos atribuem a Goya todo o tipo de aventuras nos anos que se seguiram, como a de ter-se tornado toureiro em Roma e ter-se envolvido em inúmeras aventuras amorosas.

No final de 1771, inscreveu-se em concurso da Academia de Belas Artes de Parma, recebendo uma menção honrosa e sua primeira encomenda: o afresco na Igreja Nossa Senhora do Pilar, em Saragoça. A partir daí, seguiram-se encomendas para o Palácio de Sobradiel e o Monastério Aula Dei. Entre os anos de 1773 e 1774 foram executadas, provavelmente, as últimas pinturas desse período em que esteve em Saragoça.

Goya se casou com Josefa Bayeu, irmã dos artistas Francisco e Ramon Bayeu. Enquanto esteve em Madrid, trabalhou para várias fábricas, fazendo desenhos para tapeçarias. São desse período os desenhos que ganharam fama, com reprodução de cenas folclóricas e de paisagens. Contudo, ele não era um artista interessado em paisagens e o fundo de suas obras mostra o pouco interesse que ele tinha por elas.

O reconhecimento


Depois de estabelecido em Madrid, começou a pintar retratos. O mais antigo que se conhece data de 1774, sendo que no ano de 1778 fez nada menos do que quatorze retratos.

No ano de 1780, entrou para a Academia de San Fernando e apresentou a obra "La Crucificada". Nessa pintura, Goya seguiu as regras acadêmicas, provando que era um mestre do estilo convencional. Em 1785, começou a receber encomendas da aristocracia. A primeira encomenda foi para o "Festival Folclórico" do dia de Santo Isidoro. No mesmo ano, executou o primeiro retrato de um membro da nobreza, a Duquesa de Osuna. Em 25 de abril de 1785, depois da morte de Carlos III e da coroação de Carlos IV, foi nomeado "Primeiro Pintor da Câmara do Rei", tornando-se o pintor oficial do monarca e sua família.

Em 1790, pintou um de seus auto-retratos.

A doença




Los Caprichos, El sueño de la razon produce monstruos

Em 1792, numa viagem a Andaluzia, contraiu uma doença séria e desconhecida, transmitida por seu amigo Sebastián Martínez, ficando temporariamente paralítico, parcialmente cego e totalmente surdo. Com a doença, perdeu sua vivacidade, seu dinamismo, sua autoconfiança. A alegria desapareceu lentamente de suas pinturas, as cores se tornaram mais escuras e seu modo de pintar ficou mais livre e expressivo. Parcialmente recuperado, retornou a Madrid no verão de 1793 e continuou a trabalhar como artista da Corte, porém buscou outras inspirações para expressar sua fantasia e invenção sem limite, o que as obras sob encomenda não lhe permitiam.

Devido à doença, Goya passou a não ter mais muito respeito pela aristocracia, expondo nas suas pinturas as verdadeiras identidades e as fraquezas dos modelos. Um exemplo é o retrato do rei Fernando VII da Espanha. Seus retratos deste período mostram, todavia, a sua fascinação pelas mulheres e pelas crianças, não igualada por nenhum outro artista, com a possível exceção de Renoir. Dois retratos de mulheres, executados nessa época, mostram claramente essa qualidade: "Doña Antonia Zarate", orgulhosa, ereta, coquete e algo triste; e a "Condesa de Chinchón", o mais terno de seus retratos de mulheres, no qual o rosto infantil e a postura frágil dos ombros contrastam com o traje elegantemente pintado. Estes retratos foram como um último adeus às alegrias da vida, porque pouco depois Goya se exilou em sua Quinta del Sordo, em Madrid. As guerras napoleônicas vieram e se foram, e os horrores sofridos pelos espanhóis deixaram um Goya amargo, transformando a sua arte em um ataque contra a conduta insana dos seres humanos, passando a retratar a falta de sentido do sofrimento humano, tanto injusto como não merecido.

Entre os anos de 1810 e 1814, produziu sua famosa série de pinturas "Los Desastres de la Guerra" e suas duas obras primas "El Segundo de Mayo 1808" e "El Tercero de Mayo 1808" (também conhecido como "Los fusilamientos en la montaña del Príncipe Pío" ou "Los fusilamientos del tres de mayo" ). Estas pinturas demonstram um uso de cores extremamente poderoso e expressivo. Pela primeira vez, a guerra foi descrita como fútil e sem glória, e pela primeira vez não havia heróis, somente assassinos e mortos.

Em 1821, a Inquisição abriu um processo contra Goya por considerar obscenas as suas "Majas", mas o pintor conseguiu livrar-se, sendo-lhe restituída a função de "Primeiro Pintor da Câmara".

Os últimos anos


Durante a última parte de sua vida, Goya cobriu as paredes de sua Quinta del Sordo com as famosas "pinturas negras", as últimas e mais misteriosas de seu gênio atormentado, como "Saturno devorando a un hijo" (1815) que se encontra atualmente no Museu do Prado. Esta pintura constitui uma referência aos conflitos internos de Espanha, durante o reinado absolutista de Fernando VII, mas será também um reflexo da degradação da sua saúde física e mental.

Em 1824, Goya se exilou em Bordeaux, França, vindo a morrer quatro anos depois naquela cidade.

Obras




§  (1778) - La cometa

§  (1786) - La nevada














Filmes


§  Sombras de Goya, de Milos Forman (2006)

§  Goya, de Carlos Saura (1999)



Bibliografia


  §  Thomas, Henry; Thomas,  Dana Lee; Vidas de Grandes Pintores (Goya - p. 147).


         Fonte : Wikipédia

          Group on a Balcony

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