FALTA OU COMPLETUDE ? LACUNA OU POSSIBILIDADE ?

Penso que o vazio que nos move para a luz (completude) é o mesmo que nos lança na imensidão escura (falta). É aquele que nos traz a alegria de sermos únicos (possibilidade) e a tristeza de nos sentirmos sós (lacuna). É aquele que nos impele à busca (possibilidade) e nos paralisa diante do encontro (falta).
É apenas o vazio inerente, em tudo e no todo; infinitamente cheio do nada e do todo. É falta, é completude, é lacuna, é possibilidade.
Traduz, ao mesmo tempo, o mergulho da alma no infinito e o enterro do corpo na matéria. É o Yin e o Yang, o ponto e o contraponto. A partida e a chegada. O seguro e o improvável. O dinâmico e o estático. O elástico e camisa de força. É o tudo e o nada.
Permite que possamos tateá-lo e nos organizar, mas também rompe todas as fronteiras e assegura nossa total caotização. É abstrato, na medida em que o relativizamos mentalmente. É concreto, na medida em que o sentimos pulsar dentro de nós. Parece um movimento que nos ilude, pois não há, em si mesmo, separação alguma. Então, está contido em tudo e guarda as parcelas do todo. Ele é e não é.
É o tempo do infinito que traz de volta a falta de tempo.  O vazio é como o Tao: é indivisível, inevitável, inalienável, impermanente.

Por  Andrea Silveira

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