A SOLIDÃO NO MUNDO CONTEMPORÂNEO-O JEITO É TER UM BICHINHO,MESMO!!!





"Prefere a solidão à má companhia, mas prefere uma boa companhia à solidão" (Recomendações de Maomé (Muhamad), de acordo com a tradição).
"Obrigada por razões profissionais a me transferir para São Paulo, me encontro sozinha e sem amigos. A cidade me sufoca durante o dia e me isola à noite num pequeno apartamento de bairro. Não sei o que fazer, não tenho a quem recorrer, às vezes chego quase ao desespero. Quero gente para conversar e para conviver. Ajude-me, por favor. Cartas para "Solitária desesperada", Jornal... etc.." .
Pedido de socorro como esse, acima, está se tornando freqüente em São Paulo e em outras grandes cidades. Razões profissionais e casamentos dos filhos, são os principais motivos para deixar os pais sozinhos; separação conjugal, viuvez, e não ter conseguido encontrar o amor da vida, também podem esvaziar o sentido de existência de algumas pessoas.
Há 30 anos atrás as festas folclóricas era um acontecimento social, ansiosamente esperado para encontros e reencontros, também existia o "footing" que animava as praças públicas das cidades interior, casamenteiras amadoras mexiam nos pauzinhos para aproximar os corações mais ou menos desesperançados, as rádios mandavam recadinhos - hoje torpedos - sinalizando a possibilidade de namoro. Muitos desses dispositivos sociais antigos sumiram ou estão em franco declínio, aumentando assim o contingente de solitários.
Nossa sociedade pós-moderna caracterizada pelas comunicações eletrônicas parece mais afastar do que aproximar as pessoas. A Internet como nova onda de comunicação, promete ser um meio de fazer amizades e até uniões amorosas, mas evidentemente é preciso saber "mexer" no computador, na Internet, o que não é costume da geração mais "à antiga". Muitos solitários como a moça acima, desejam mais que um  relacionamento virtual, demanda uma companhia real que dê sentido á própria vida.
Não são poucos os que, desesperançados, terminam se virando com a companhia de um cachorro ou um gato. O filósofo Schopenhauer, um dos muitos pensadores solitários, talvez até anti-social, preferia a companhia agradável de seu cão Atma á companhia humana. Lembro-me do carioca Eduardo Dusek quando compôs uma letra de música, não sei se moralista ou irônica que dizia "troque seu cachorro por uma criança pobre". Houve gente sensibilizada até a medula, mas duvido que adotaram uma criança pobre e jogaram seu cachorrinho na rua. Como diz a psicanálise, uma criança - e adulto também - tem necessidade, demanda e desejo.  Já um animal, um animal de estimação, carece de "desejo"; a "necessidade" made in instinto é que o faz viver, mas não existir. Só o ser humano  deseja, dizem os lacanianos; só o ser humano existe, diziam os existencialistas. O problema é que, primeiro, qualquer ser humano é livre para dar sentido ao seu desejo do jeito que quer e pode. Segundo, nem todos desejam ter uma "criança", nem mesmo "uma criança pobre". Pode ser até que alguém deseja, mas não pode, simplesmente porque sérias limitações psíquica, física, ou econômica, a impede de adotar uma criança. Mas, podem ter um cachorrinho, um gatinho, ou os dois, como companhia possível. Afinal, é fácil se encontrar um bichinho abandonado, peramburando pelas ruas, faminto, doente, carente. "A adoção de um animal abandonado, você ganha um amigo e salva uma vida", diz o site http://www.uol.com.br./bichos/adocao.htm.
Nem sempre se está preparado para ter uma criança com suas necessidades biológicas, sua solicitação infinita de amor, suas chatices, seus desejos. Uma pessoa deficiente física, por exemplo, precisa muito mais de um cãozinho que lhe faça companhia ou a ajude em suas dificuldades do que de uma criança que precisa de muitos cuidados no dia a dia, já que é um ser totalmente dependente do adulto. Uma pessoa portadora de transtornos psíquicos precisa mil vezes de um animalzinho que lhe dê retorno afetivo do que de um ser humano - criança ou adulto - com variações no humor ou de respeito . Nada pior para conviver o dia a dia do que ter ao lado uma pessoa que nos deixa ainda mais, solitários e irritados.  Com o declínio da autoridade paterna e o sumiço da figura de mãe e da maternagem , as crianças estão cada vez mais chatas . Portanto, quem sabe não seria melhor para o solitário ter mesmo um animalzinho de estimação no lugar de uma criança ou adulto chatos, cuja solidão continuaria a existir a dois, ou a três, na multidão.
Somente pessoa sem capacidade empática pode ter o pensamento tão estreito e ser tão insensível para não entender porque se adota um animalzinho em vez de uma criança. Essas pessoas até tem direito de passarem um jeito meio bobo, com dengos e paparicos ao bichinho, medo quando ele fica doente ou depressão quando ele morre. Simbolicamente o bichinho ocupa o lugar de um ser humano. Parece que ser "nova esquerda" hoje é também saber respeitar o direito de todos serem como quiser, bem como defender os "mais fracos", sejam pessoas ou bichos, que por vezes sofrem com maus tratos ou com a extinção da espécie - ou eliminação em série, como vem ocorrendo com os bichos do zoológico de São Paulo.

O paradoxo social contemporâneo é convivermos o dia a dia com tanta gente e ao mesmo tempo sentirmos solitários. Muitas são as situações geradoras de solidão: existe a solidão gerada pelo próprio poder, a solidão decorrente da riqueza, a solidão dos bem e mal casados, a solidão imposta pelo trabalho atomizado, a solidão da criança cujos pais são egoístas ou inafetivos, a solidão dos velhinhos rejeitados com suas memórias e muitas vezes abandonados nos asilos onde se tornam esquecidos dos familiares, a solidão das crianças órfãs, abandonadas ou que são obrigadas a viverem em instituições repressivas, a solidão da loucura, a solidão dos internos dos hospitais psiquiátricos, a solidão dos enfermos hospitalizados, a solidão dos excluídos no topo do mercado de trabalho, a solidão do desempregado, a solidão do operário que deixou família para trabalhar na cidade grande, a solidão do estigmatizado, a solidão da morte, etc, etc.
As cifras da Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílios, diz que está aumentando o número de solitários no Brasil. São 3,8 milhões que moram sozinhos, um aumento de 137%, de 1988 a 1999. São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte estão á frente com mais pessoas vivendo isoladas .
Esta pesquisa aponta somente os sozinhos, portanto, deixa de revelar o sentimento de solidão, o que evidentemente revelaria um universo ainda maior  desta população. também revelam um significativo aumento de pessoas que vivem sozinhas por opção ou por imposição. Os governantes dos países nórdicos por vezes revelam preocupação com o aumento de "casais solitários", isto é, casais que fazem opção de não ter filhos. Preocupação parecida existe também em alguns paises asiáticos, tradicionais de famílias numerosas, como Cingapura, hoje convive com uma nova geração de família com um único filho, ou casal sem filhos e mulher que se recusa casar. A classe média brasileira também fez a opção de cada casal um ou dois filhos. A China, por sua vez, ao instituir a política "cada casal, um filho" de certa forma impôs uma forma de solidão ou tédio familiar. A geração de "filhos únicos" chamada de "reizinhos mandões" por ser demasiadamente crianças paparicadas, mimadas e excessivamente alimentados pelos pais, terminam obesas, egoístas, individualistas e incapazes de assimilar os "nãos" da vida.
Muitas pessoas solitárias justificam seu "desejo de privacidade", escolhendo "viver sozinhas porque gostam de liberdade", "preferir viver sozinhas do que mal acompanhadas". A tendência individualista de nossa época reforça o temor de conviver com as diferenças humanas, afinal, morar junto mesmo implica, sobretudo, sermos tolerante, compreender o outro, termos que dividir espaços e coisas e aceitar conferir a todo o momento que o outro não nos preenche. Demandamos sempre que o outro irá preencher nosso vazio existencial, mas isso não passa de um delírio visando zerar nossa falta essencial, afinal o sujeito é sempre um sujeito faltoso. Os mais conscientes dessa falta se recusam a investir num relacionamento duradouro.
No universo dos sozinhos existem aqueles que o fizeram por opção pessoal, e aqueles que devido ás contingências da vida foram obrigados a viverem desacompanhados. Depois que morreu seu companheiro por mais de trinta anos, a viúva D. X. optou por viver sozinha apesar dos filhos insistentemente convidarem a querida mãe para se mudar para a casa deles; por enquanto ela diz preferir não abrir mão de sua privacidade. Muitos aposentados se queixam de terem sumido os "amigos" do trabalho. O rótulo de "inativo"sinaliza exclusão na linguagem e na prática da convivência diária.  Inativo ou aposentado são palavras mal ditas  no Brasil. Principalmente se for jovem o sujeito é visto como um "privilegiado", que evidentemente força-o ainda mais ao isolamento ressentido.
O isolamento social obrigatório é muito diferente do viver sozinho "por opção". No primeiro, existe a imposição do destino ou das circunstâncias, no segundo, a escolha é consciente e deliberada viver solitariamente. O escritor, por exemplo, precisa estar sozinho para se concentrar e produzir seu texto, o que não quer dizer que ele padece do sentimento de solidão. Para ler, refletir, escrever, precisamos estar sozinhos. Acontece também com diversas funções profissionais cujo isolamento social é condição sine qua non para bem exercer a função. Ruben Alves a chama de "solidão criativa" , o poeta alemão Rainer Maria Rilke e o filósofo Gaston Bachelard fazem um elogia a "grandiosa solidão". Do contrário, quando a solidão não é uma escolha torna-se difícil de se carregar e poder se transformar em desespero, sofrimento, falta de sentido, ou simplesmente vazio .
A solidão só pode ser conquistada - ou domada - por aqueles cuja coragem e determinação de levá-la a trabalhar, a produzir criativamente. Entretanto, conquistar a solidão ou domá-la não quer dizer eliminá-la. Dizem que a Cecília Meireles, mesmo quando acompanhada dos amigos, dava sempre a impressão de estar solitária, vivendo no seu próprio mundo, impenetrável . A solidão indomada tem o poder de fazer do sujeito seu objeto, isto é, efeitos patológicos são previsíveis como a depressão, ás drogas, á hipocondria, ao alcoolismo e até o suicídio.
Por isso, Bachelard pergunta: "Como se comporta sua solidão? Esta pergunta tem mil respostas. Em que recanto da alma, em que recanto do coração, em que lugar do espírito, um grande solitário está só, bem só? Só? Fechado ou consolado? Em que refúgio, em que cubículo, o poeta é realmente um solitário? E quando tudo muda também segundo o humor do céu e a cor dos devaneios, cada impressão de solidão de um grande solitário deve achar sua imagem (...) Um homem solitário, na glória de ser só, acredita ás vezes pode dizer o que é a solidão. Mas a cada um cabe uma solidão (...) As causas da sua solidão não serão nunca as causas da minha". E conclui: "A solidão não tem história" .
A grande maioria das pessoas que acorrem aos serviços de ajuda por telefone como o CVV e Samaritanos, no fundo, são solitários em momento crítico existencial. A carência de amizade para se trocar "energia afetiva" é o principal motivo de busca dos serviços por telefone (disk amizade, disk namoro, CVV, etc) e pelos variados tipos de comunicação via Internet. Os momentos difíceis e de risco de vida para os solitários são os fins de semana, as noites, as festas que lembram família, como Natal, Ano Novo e Páscoa e a euforia histérica de Carnaval. Tais datas, longe de comover o solitário crônico de sair do seu casulo e procurar companhia, tende a disparar o gatilho da depressão. Pesquisas revelam existir um maior risco de suicídios entre aqueles que vivem sozinhos no seu mundinho pseudo-autista do que as pessoas que vivem acompanhadas - não importando se vivem bem ou mal acompanhadas .
Somente a presença ativa de outro ser humano pode dar sentido ao vazio da solidão. A depressão não só pode ser gerada nos estados de solidão "indomada" como também a própria depressão tende a levar o doente ao isolamento extremo . A psicanalista inglesa M. Klein, uma pioneira a pensar as origens do sentimento de solidão achava que esta brotava de "ansiedades paranóides e depressivas provenientes das ansiedades psicóticas das criancinhas"; trabalhava também com a hipótese de "uma perda irreparável"  primordial, cujo efeito psíquico era a solidão.
Em verdade, a solidão está mais para sintoma, jamais pode ser considerada uma doença. Sintoma por ser tanto uma forma de fuga do convívio social e da aceitação das diferenças humanas, que pode levar o sujeito a ver nela também um modo próprio de viver a própria vida, solitariamente.
Os fiéis companheiros dos solitários costumam ser o rádio, a televisão, o telefone, o radio amador, os animais domésticos, a leitura, o computador. A Internet têm sido um instrumento de comunicação ambíguo, pois tanto pode facilitar a busca de companhia virtual como pode ser usado também para sustentar o isolamento social. São os fóbicos sociais, isto é, neuróticos crônicos que temem sair de casa, não suportando simplesmente qualquer aglomeração urbana. Por outro lado, cresce o número de "reativos da solidão", isto é, organizações ou clubes da 3a idade, promovendo dias dançantes, jogos, grupos de filantropia e ONGs de diversos tipos, tudo para driblar a solidão com alguma atividade lúdica ou prestação de serviço voluntário.
Por outro lado, são "inimigos" do solitário ou agravantes do sentimento de solidão: o descaso e a insensibilidade dos familiares, o individualismo dos colegas de trabalho, a alienação dos vizinhos, enfim, todos que vivem mais preocupados com suas próprias vidas do que estabelecer vínculos de amizade. O espírito consumista e hedonista de nossa época faz com que as pessoas  - mesmo aquelas auto consideradas "de esquerda", "humanistas" ou "religiosas", se rendam ao individualismo.
é bom lembrar que a criança de nossa época é também obrigada conviver com a solidão em famílias, por vezes, inafetivas ou "afetivamente desligadas" , ou cujos pais excessivamente seguem o modo de vida estético ou de solteiro, segundo Kierkegaard . As crianças, obrigadas desde cedo a conviver com a indiferença, o desamparo ou o abandono dos pais, estão se formando futuros solitários e até mesmo personalidades anti-sociais.
O aumento dos diversos tipos de solidão no Brasil e no mundo põe em dúvida a antiga tese do homem como um ser eminentemente social. As novas gerações deverão redefinir se o humano é ou não um ser social. Na prática cotidiana deverão responder a seguinte questão ética: qual o melhor jeito de bem viver a vida, acompanhado ou sozinho?
BACHELARD, G. A chama de uma vela. Rio: Bertrand Brasil, 2002.
BICHOS... www.uol.com.br./bichos/adoção.htm
CASSORLA, R. O que é suicídio. São Paulo: Brasiliense,1992.
DIAS, M. L. Suicídio: testemunho de adeus. São Paulo: Brasiliense, 1991.
DURANT, W. A filosofia de Shopenhauer... Rio: Ediouro, 1964.
FIGUEIREDO, G. Tratado geral dos chatos. Rio de Janeiro: C. Brasileira, 1993.
KLEIN, M. O sentimento de solidão. Rio: Imago, 1975: 133 e 1143.
MAYRINK, J. M. Solidão. São Paulo: EMW, 1983.
PENHA, J. O que é existencialismo. São Paulo: Brasiliense, 1982. 9ª. ed.
PIERUCCI, Antonio Flávio. As bases da nova direita. Novos estudos CEBRAP, N. 19, DEZ/ 1997.
RILKE, R. M. Cartas a um jovem poeta. P. Alegre: 1980.
SHOPENHAUER, A. Aforismos para a sabedoria da vida. São Paulo: Melhoramentos, 1964.
Carta adaptada do livro de José Maria Mayrink "Solidão". São Paulo: EMW, 1983.
Atma - termo bramânico que quer dizer Alma do Mundo -, era um pequeno cão "poodle" de Shopenhauer. Os brincalhões de plantão da cidade o chamava de "o jovem Shopenhauer".
Existem pesquisas comprovando a eficácia clínica da companhia de animais em pessoas com problemas psíquicos.
Interessados em aprofundar o declínio da função paterna, deve pesquisar os livros mais recentes dos psicanalistas: P. Julien, J. D- Nasio, E. Batinter, E. Roudinescu, etc. 
A observação de "O ser humano já nasce chato", foi tomado emprestado de Guilherme Figueiredo em "Tratado geral dos chatos". Rio de Janeiro: C. Brasileira, 1993. Quando digo que a criança "chata", em verdade estamos nos sinalizando que ela está sendo "mal criada" ou, melhor "mal educada", ou seja, é uma criança chateada mais pela ausência dos pais ou responsável.
Para ajudar a pensar sobre esse assunto, sugiro o livro de Norberto Bobbio, "Direita e esquerda...", 2001. Também o artigo de PIERUCCI, Antonio Flávio. As bases da nova direita. 1997: 26-45.
Folha de S. Paulo, 25/06/00.
R. Alves. A solidão amiga. Campinas: Jornal Correio Popular, 30/06/2002. [tb. no Site].
R.M. Rilke. Cartas a um jovem poeta. P. Alegre: 1980.
G. Bachelard. A chama de uma vela. Rio: Bertrand Brasil, 2002, p. 27. 
"Graças a chama de uma vela, a solidão de um sonhador não é mais a solidão do vazio." Bachelard, op. cit.
Na orelha do livro de Rilke, Cecília Meireles faz um breve comentário destacando o caráter de "heoísmo e magnificência", a ponto de dizer que "o homem solitário pode preparar mais coisas futuras porque as suas mãos erram menos".  
G. Bachelard, op. cit., p. 57. [grifo meu].
R. Cassorla. O que é suicídio. São Paulo: Brasiliense,1992.Tb. M.L. Dias, Suicídio: testemunho de adeus. São Paulo: Brasiliense, 1991.
Dados da Organização Mundial da Saúde apontam que no ranking das doenças da humanidade, a depressão será "promovida" do atual 4o para o 2o lugar, no ano 2010. Junto com a depressão têm se elevado ás taxas de suicídios no mundo todo, inclusive em lugares e em culturas que contrariam as hipóteses de Durkheim.
M. Klein. O sentimento de solidão. Rio: Imago, 1975: 133 e 1143.
Escrevi um pequeno artigo que procurava entender porque hoje existem tantos pais esquecendo seus filhos nos colégios. Como se sente uma criança cujos pais sempre estão atrasados ou se esquecem de buscá-la no colégio?
Para Kierkegaard existem três modos de vida: o estético, o ético e o religioso. O modo de vida estético é o modo de vida do solteiro, isto é, o sujeito tende a pensar exclusivamente em si próprio, sua moral é hedonista, romântica, e está sempre fugindo ou se contrapondo a dor a qualquer tipo de sofrimento e, sobretudo, ao tédio. O modo de vida ético contrasta com a vida estética, pois o sujeito se vê primeiro sob o domínio do dever e das obrigações para com o próximo, além de seguir as regras universais. O modo de vida ético segue uma moral de casado, ou melhor, de quem valoriza primeiro o desejo da família, primeiro visualiza as necessidades do outro para somente depois procurar preencher as próprias necessidades. Por exemplo, antes de gastar um dinheiro consigo, ele se pergunta, se este dinheiro não irá faltar aos seus filhos. Antes de se beneficiar com um projeto pessoal de vida ele se pergunta de não estará prejudicando alguém que ama. Para Kierkegaard o modo de vida religioso é o que melhor proporciona desenvolvimento existencial. Ou seja, o viver de modo hedonista termina levando o sujeito ao vazio, ao tédio e ao arrependimento, escolhendo curtir somente com o momento; mas, por outro lado, se viver apenas de modo ético poderá reduzir a existência ao peso das regras, das normas e das obrigações infinitas. Cabe ao homem a ascese, isto é, tanto superar o hedonismo e o desejo das coisas efêmeras, como também evitar cair prisioneiro das obrigações "tão enfadonhas quando se trata de ciência como quando se trata da vida". Vivendo a religiosidade o homem abraça uma relação particular com o Absoluto. Deus torna-se a regra do Indivíduo, a uma fonte capaz de realizá-lo plenamente". (Penha, 1982 : 25).

Autor : Raymundo de Lima

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