Aos 23 anos, a estudante do curso de Letras da UFSJ, Francine Oliveira, conta 16 tatuagens, 3 escarificações (ou scars, como prefere chamar),13 piercings e mais 10 alargadores. Ela começou com apenas um piercing no nariz, colocado em uma farmácia com pistola de furar orelhas. A vontade de modificar o corpo surgiu na adolescência. Francine investiu na paixão e tornou-se uma body artist. Pesquisou na internet e em revistas especializadas. Logo, a perfuradora corporal (termo usado no Brasil) que praticava apenas em si, já estava trabalhando com amigos e pessoas próximas.
O psicólogo social, mestre e doutorando em psicologia pela UFRJ e professor da UFSJ, Julio Rocha, afirma que existem inúmeras motivações para que um indivíduo marque a própria pele. “Vemos constantemente nos jornais e revistas, pessoas que tatuam o nome dos filhos ou namorados, frases e declarações de amor, rostos de pessoas importantes na vida delas, símbolos e imagens significativos ou representativos da história de vida das pessoas. Isso tudo evidencia componentes afetivos e sociais que motivam a marcação”, diz. Para ele a modificação corporal proporciona autoafirmação e individuação, que são consideradas fundamentais para o desenvolvimento psíquico dos indivíduos.
Francine diz que a maioria dos clientes está interessada nas intervenções por questões estéticas. Outro tatuador e body-piercer, Cleiton Soares, o “Juh”, 28, concorda com Francine, mas acrescenta que muitos fazem porque os amigos também fizeram. “Hoje é moda”, afirma.
O psicanalista Hugo Silva Valente reconhece que esse tipo de prática está intimamente ligada às relações sociais. “A noção de beleza está muito associada à noção do fetiche”, diz. Segundo Hugo, toda modificação é uma tentativa de formar um símbolo representante, seja de status, de beleza ou verdade. Tal como um rito de passagem, a prática da modificação estética seria uma forma de estabelecer laços sociais e se integrar a um grupo.
Dor
A escarificação (ou scarification) é um dos procedimentos que mais causam impacto nas pessoas. Sobre ele, Francine conta que realmente é dolorido, e a parte mais difícil é suportar o ‘depois’, do processo, mas também há certo prazer envolvido. Ela acredita que tal arte é uma forma de provar maturidade para si mesma dentro da modificação corporal. Entretanto, não é qualquer um que pode fazer a escarificação: “Normalmente já se tem contato com a arte... Para realizar o procedimento leva tempo, como se fosse um treinamento. Tem que avaliar a capacidade da pessoa de suportar a dor”, relata.
Segundo a estudante o risco envolvido na escarificação é maior, visto que qualquer infecção pode alcançar elevadas proporções devido a grande quantidade de tecido exposto no processo. A incisão também é muito profunda; e em relação à cicatrização o ideal é que demore para que o desenho fique mais definido.
E não, não há utilização de anestesia, dúvida muito freqüente entre os não adeptos. “Não é muito certo usar, mas tem gente que prefere – geralmente o artista. Na Venezuela usam abertamente. O problema, é que para o uso da anestesia, também é necessário um profissional qualificado no ambiente”, diz Francine.
Quando questionado sobre a função da dor no procedimento, Julio diz que ela faz parte de todo o processo e pode ser valorizada tanto por quem vivencia a prática, quanto por aqueles que observam. O ato de infringir dor ao corpo é uma forma de obter satisfação. Para Hugo Silva Valente, a psicologia após 1905, depois de Freud, reconhece vários modelos de satisfação que vão contrários à idéia de prazer consciente. Ele deixa claro que fetiche cultural e masoquismo, devem ser vistos de forma isolada. “O sujeito pode formar seu símbolo sem necessariamente sentir dor. Um brinco ou um piercing cumprirá a função reservada ao fetiche, mas dificilmente iria satisfazer o sujeito em busca da satisfação pela dor”, diz. Julio lembra que é necessário diferenciar o masoquismo relacionado a modificações corporais da prática do body-art, onde a dor cumpre função específica.
Body art ou modificação corporal?
Outro termo utilizado para designar modificação corporal é “Body art”, pois praticantes e admiradores encaram as modificações como expressões artísticas, entretanto, com distinções dentro das próprias práticas. Francine conta que body art é todo tipo de arte feita no corpo ou com ele, como maquiagem artística, performances de qualquer tipo (inclusive as que envolvem agulhas ou a própria suspensão), além da pintura corporal. “Modificação corporal, body modification ou body mod envolve uma modificação do corpo mesmo, a "longo" prazo, mas não necessariamente permanente”, diz.
Juh concorda. Segundo ele, a body art engloba todos os tipos de modificação corporal, mas o termo ‘modificação corporal’ refere-se principalmente a “procedimentos que fogem um pouco dos padrões e que geralmente são irreversíveis”.
Regulamentação profissional
Assim como para tatuagens e piercings, práticas mais “extremas” de modificação corporal também não exigem regulamentação profissional. Os interessados em aprender tais técnicas realizam cursos ou tem ajuda de alguém mais experiente. Entretanto, Juh e Francine acreditam que se aprende realmente no dia-a-dia, com a prática.
Para o tatuador, saber desenhar é essencial. Existem cursos específicos que cedem certificados. Juh participou de vários desses cursos, sendo o primeiro realizado na cidade de Perdões, em Minas Gerais. Porém, sobre tais cursos, Francine relata que tanto o de desenho quando de tattoo são poucos e muito caros. Ela aprendeu o ofício principalmente com profissionais mais experientes que estão no ramo já há algum tempo. Algumas pessoas desenvolvem essas habilidades de forma autodidata, principalmente o desenho. O próprio Juh conta que começou a desenhar sozinho, quando criança.
Branding e Escarificação são para ele as práticas mais extremas, enquanto a suspensão tem se tornado mais comum. Existe também uma técnica na qual se aplica pigmentação aos olhos, mas essa ainda não tem nome específico. Essas modalidades de body art são realizadas paralelamente às práticas que acontecem no estúdio, mas não são tão publicizadas como as tatuagens, pois na teoria são ilegais: “É super velado. Feito em estúdio mesmo, mas não há propaganda”, diz Francine. Autoridades entendem esse tipo de procedimento como mutilação, mesmo que os praticantes estejam de acordo ao realizá-las.
Riscos e cuidados
Quanto aos riscos existentes em processos de modificação corporal e body art, os profissionais dizem que devem ser encarados com seriedade, como em qualquer procedimento cirúrgico. Infecções simples que podem vir a generalizar-se, quelóides, cicatrizes permanentes, rejeição às peças, e doenças como hepatite e HIV. Juh diz que para evitar qualquer tipo de problema é importante observar as condições de higiene e assepsia do local e do profissional, além de verificar se o estabelecimento tem autorização da Vigilância Sanitária.
O material utilizado no estúdio deve ser descartável e esterilizado, se necessário. Para a esterilização eficaz, o profissional deve usar o autoclave. O armazenamento do material também deve ser feito com cuidado, respeitando as indicações adequadas para cada produto e instrumento.
Francine conta que o problema em alguns locais é a falta de cuidado dos profissionais. A falha mais comum é a retirada das luvas antes de terminar o procedimento, quando, por exemplo, o cliente já se foi, mas ainda restam agulhas para serem jogadas fora. Essa falta de atenção coloca em risco a saúde do próprio profissional, que entra em contato direto com material cortante utilizado no processo. A forma de descarte é a mesma do lixo hospitalar. Juh diz que em seu estúdio, isso é separado e uma pessoa passa para buscar. “Não pode ser deixado na rua como qualquer tipo de lixo”, explica.
Preconceito e discriminação
O psicólogo social Julio Rocha diz que a discriminação em relação a body art e modificação corporal ainda existe e é bem definida, especialmente em relação à aficionados que marcam boa parte do corpo. Para ele é importante evidenciar que algumas práticas podem ser mais valorizadas socialmente e esteticamente – como o implante de silicone nas mamas, por exemplo – enquanto outras podem ser menos apreciadas pela sociedade, como o uso de alargadores ou escarificações.
Juh e Francine concordam que atualmente o tema é visto com menos preconceito, mas ainda há alguma resistência: “Ainda tem essa visão, mas a marginalização é menor. É mais o impacto mesmo”, diz Francine em relação à aversão de algumas pessoas à modificação corpo
Tipos de modificação corporal e body-art mais comuns
Tatuagem: é uma das formas de modificação corporal e body art mais conhecidas. Um desenho permanente é feito na pele a partir de aplicação subcutânea de tinta. Durante muitos séculos foi irreversível, mas atualmente pode ser “apagada” com laser. A remoção completa (que não deixe ao menos uma pequena cicatriz) geralmente não é possível.
Piercing: trata-se de uma perfuração na pele para aplicar alguma jóia feita especificamente para esse tipo de body-art.
Alargadores: são peças que mantém o tecido expandido. A idéia é expandir qualquer tecido para colocação de uma peça maior.
Escarificação: é um procedimento permanente concebido para decorar o corpo. É feita incisão na pele com o intuito de cortar ou remover tecidos. O instrumento utilizado, geralmente bisturis, deve ser afiado e esterilizado. Existem diferentes tipos de escarificação, caracterizadas pelo material utilizado e técnicas aplicadas. Essa prática é considerada muito valiosa artisticamente por alguns clãs e tribos, principalmente na África Ocidental.
Branding: são queimaduras feitas por aço ou laser e cauterizadas por ferramentas como ferro de solda, por exemplo.
Microdermal: o microdermal é uma micro placa que fica sob a pele com uma saída única, onde podem ser rosqueadas peças, que por sua vez podem variar desde implantes simples a algo mais sofisticado. O efeito visual é de que a pessoa está utilizando jóias.
Subdermal: material tipo PTFE ou teflon implantado debaixo da pele – é o único implante subcutâneo. Simula a aparência de chifres, por exemplo.
Transdermal: é o antecessor do microdermal. Possui apenas uma saída e é feito com incisão cirúrgica interna, além do furo.
Suspensão corporal: é o ato de suspender um corpo humano através de ganchos passados por perfurações na pele. Estas perfurações são temporárias e normalmente abertas pouco antes da suspensão ocorrer. Os ganchos utilizados são feitos de aço cirúrgico e colocados como piercings tradicionais, com agulhas. A localização exata desses ganchos no corpo determina o tipo de suspensão que está sendo executada, e o número de itens instalados geralmente depende do peso da pessoa e seu nível de experiência.
Fonte : Jornalismo On Line- Thayná Faria e Rômer Castanheira,colaboração de Gabriel Riceputi-UFSJ
Fonte : Jornalismo On Line- Thayná Faria e Rômer Castanheira,colaboração de Gabriel Riceputi-UFSJ
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