DALAI LAMA,S.S. - UMA ÉTICA PARA O NOVO MILÊNIO



Sinopse - Uma ética para o novo milênio - Sabedoria milenar para o mundo de hoje - Dalai Lama

"Quanto mais coisas vejo no mundo, mais claro fica para mim que, sejamos ricos ou pobres, instruídos ou não, todos desejamos ser felizes e evitar os sofrimentos.
Constato que, de modo geral, as pessoas cuja conduta é eticamente positiva são mais felizes e satisfeitas do que aquelas que se descuidam da ética. Tentarei mostrar neste livro o que quero dizer com a expressão ´conduta ética positiva´.
Uma revolução se faz necessária, mas não uma revolução política, ou econômica, ou até mesmo tecnológica. O que proponho é uma revolução espiritual.
Ao pregar uma revolução espiritual, estaria eu afinal defendendo uma solução religiosa para nossos problemas? Não. Cheguei à conclusão de que não importa muito se uma pessoa tem ou não uma crença religiosa. Muito mais importante é que seja uma boa pessoa.
Estas declarações podem parecer estranhas, vindas de um personagem religioso. Porém, sou tibetano antes de ser Dalai-Lama, e sou humano antes de ser tibetano. Portanto, como ser humano tenho uma responsabilidade muito maior - uma responsabilidade que na verdade todos nós temos."

Sua Santidade, o Dalai-Lama

http://www.skoob.com.br/livro/1974-uma-etica-para-o-novo-milenio


"Cada uma de nossas ações conscientes e, de certa forma, toda a nossa vida podem ser vistas como resposta à grande pergunta que desafia a todos: "Como posso ser feliz?"
No entanto, estranhamente, minha impressão é que as pessoas que vivem em países de grande desenvolvimento material são de certa forma menos satisfeitas, menos felizes do que as que vivem em países menos desenvolvidos.
Esse sofrimento interior está claramente associado a uma confusão cada vez maior sobre o que de fato constitui a moralidade e quais são os seus fundamentos.
A meu ver, criamos uma sociedade em que as pessoas acham cada vez mais difícil demonstrar um mínimo de afeto aos outros. Em vez da noção de comunidade e da sensação de fazer parte de um grupo, encontramos um alto grau de solidão e perda de laços afetivos.
O que gera essa situação é a retórica contemporânea de crescimento desenvolvimento econômico, que reforça intensamente a tendência das pessoas para a competitividade e a inveja.. E com isso vem a percepção da necessidade de manter as aparências - por si só uma importante fonte de problemas, tensões e infelicidade.
O descaso pela dimensão interior do homem fez com que todos os grandes movimentos dos últimos cem anos ou mais - democracia, liberalismo, socialismo - tenham deixado de produzir os benefícios que deveriam ter proporcionado ao mundo, apesar de tantas idéias maravilhosas.
 
Meu apelo por uma revolução espiritual não é um apelo por uma revolução religiosa.

Considero que a espiritualidade esteja relacionada com aquelas qualidades do espírito humano - tais como amor e compaixão, paciência, tolerância, capacidade de perdoar, contentamento, noção de responsabilidade, noção de harmonia - que trazem felicidade tanto para a própria pessoa quanto para os outros. É por isso que às vezes digo que talvez se possa dispensar a religião.
O que não se pode dispensar são essas qualidades espirituais básicas."



 
"Quanto mais coisas vejo no mundo, mais claro fica para mim que, sejamos ricos ou pobres, instruídos ou não, todos desejamos ser felizes e evitar os sofrimentos. Constato que, de modo geral, as pessoas cuja conduta é eticamente positiva são mais felizes e satisfeitas do que aquelas que se descuidam da ética. Tentarei mostrar neste livro o que quero dizer com a expressão conduta ética positiva. Uma revolução se faz necessária, mas não uma revolução política, ou econômica, ou até mesmo tecnológica. O que proponho é uma revolução espiritual. Ao pregar uma revolução espiritual, estaria eu afinal defendendo uma solução religiosa para nossos problemas? Não. Cheguei à conclusão de que não importa muito se uma pessoa tem ou não uma crença religiosa. Muito mais importante é que seja uma boa pessoa. Estas declarações podem parecer estranhas, vindas de um personagem religioso. Porém, sou tibetano antes de ser Dalai-Lama, e sou humano antes de ser tibetano. Portanto, como ser humano tenho uma responsabilidade muito maior uma responsabilidade que na verdade todos nós temos."DALAI LAMA

 
 
ÉTICA PARA UM NOVO MILÊNIO


Comentários sobre "Uma ética para um novo milênio" do Dalai Lama
Reli o livro "Uma ética para o novo milênio" do Dalai Lama por estes dias e achei alguns pontos interessantes para reproduzir aqui. Acredito que tudo o que nos faça refletir é uma muitíssimo bem-vinda oportunidade de abrir a mente para a evolução.

Além disso, acho indispensável para o músico (classe da maioria dos amigos que freqüentam este humilde blog) informar-se, conscientizar-se e, então, agir para proteger-se das armadilhas do ego! Na minha opinião, ego de artista merece cuidados especiais: vive inchando por qualquer coisa e, para quem não o controla, ele só traz dissabores - que surgirão cedo ou tarde, mas surgirão.

Vamos aos trechos...

No início do capítulo 4 o Dalai Lama define o ato ético de maneira simples, mas abarcadora:

"... na minha opinião, pode-se concluir que um ato ético é aquele que não prejudica a experiência ou a expectativa de felicidade de outras pessoas."

Para o músico esta noção me parece essencial. Por exemplo: ao tocar, você não está fazendo um show de exibição dos seus prodígios técnicos, de suas habilidades, etc. Você deve servir à música, apenas tocando o que sente, ou tocando o que a sua intuição lhe diz - como diz Stravinsky em seu livro "Poética Musical em 6 Lições": "a intuição nunca erra". E sempre ouvindo atentamente os seus companheiros! Isso é indispensável. Chega de tocar como se estivesse distribuindo cartóes de um mero negócio ou mesmo disputando a atenção do público com rompantes de heroísmo e artifícios apelativos do gênero. Isso é patético, abominável! Ao tocar de forma egoísta, você só prejudica os seus semelhantes, porque há a intenção de escravizá-los, de sobrepujá-los, de, enfim, usá-los para "triunfar" perante uma platéia - que profunda tristeza e desespero deve viver uma pessoa que busca isso! Por outro lado, quando você toca ouvindo o que acontece ao seu redor, acaba fazendo parte de algo maior, apenas facilitando para que a música - que é inexplicável, divina, indescritível quando realmente acontece - aconteça. Fazer parte de um grupo que toca se ouvindo, onde todos têm a disposição em "jogar para o time", pelo simples amor de fazer um som juntos; isso é nobre, edificante e incomparável.

Para a nossa conduta diária, então, essa definição de um ato ético pode ajudar a trazer discernimento ou um "colocar-se no lugar do outro" importantíssimos. Considero-a um alerta que pode nortear todos os nossos atos, para o bem de todos.

No capítulo 15, "O papel da religião na sociedade moderna", ele fala sobre uma questão diferente da anterior, mas igualmente relevante: a tolerância religiosa.

"... sejam quais forem as diferenças de doutrina, todas as principais religiões estão preocupadas em ajudar as pessoas a se tornarem melhores seres humanos. Todas dão relevo ao amor, à compaixão, à paciência, à tolerância, ao perdão, à humildade,e todas são capazes de ajudar os indivíduos a desenvolverem essas qualidades. Além disso, o exemplo oferecido pelos fundadores de cada uma das grandes religiões demonstra claramente a intenção de ajudar os semelhantes a encontrar a felicidade através do desenvolvimento dessas qualidades. Todos viveram suas vidas pessoais com grande simplicidade, tendo como traço distintivo de seu comportamento a disciplina ética e o amor por todos os semelhantes. Não viveram faustosamente como reis ou imperadores. Pelo contrário, aceitaram voluntariamente o sofrimento sem considerar as privações com a finalidade de beneficiar a humanidade inteira. Em seus ensinamentos, todos ressaltaram de modo especial a importância do amor, da compaixão e da renúncia aos desejos egoístas. E cada um deles exortou-nos a transformar nossos corações e mentes. Sem dúvida, quer tenhamos fé ou não, todos merecem a nossa admiração mais profunda."

E ele complementa:

"Além do diálogo com os seguidores de outras religiões, devemos obviamente introduzir em nossa vida diária a prática dos ensinamentos de nossa própria religião. Tendo experimentado os benefícios do amor, da compaixão e da disciplina ética, reconheceremos com facilidade o valor dos ensinamentos alheios."

(considero a última frase acima merecedora de profunda análise e interiorização)

Este assunto chega até mim da seguinte forma: quando alguém quer enfiar a religião que professa por minha goela abaixo! Isso não acontece freqüentemente, felizmente, mas essa história de "minha religião é a única que salva" traz um ranço de maniqueísmo e fanatismo que me causa repulsa instantânea - justamente por ser algo invasivo, violento mesmo, já que tenta ferir minha liberdade de escolha.

Sinto que pessoas mais evoluídas emanam tranqüilidade, compreensão e um respeito profundo e verdadeiro pela prática de seus semelhantes; pessoas ignorantes transtornadas pelo turbilhão de suas mentes mal cuidadas - e, na maioria das vezes, entregues ao controle de mercantilistas ardilosos que se escondem sob o disfarce de líderes espirituais - sempre ultrapassam, mais cedo ou mais tarde, o limite do direito de escolha do outro quando têm a oportunidade. Penso que, se é pra ter uma religião, que isso gere amor e virtudes, e não o contrário!

Bem, o livro termina com o capítulo "Um Apelo", que é muito bonito. Destaco aqui um trecho:

"Não há como negar que a nossa felicidade está inexoravelmente entrelaçada à felicidade dos outros. Não há como negar que, se a sociedade sofre, nós também sofremos. Nem há como negar que quanto mais animosidade há em nossos corações, mais infelizes nos tornamos. Por isso, podemos rejeitar tudo o mais: religião, ideologia, toda a sabedoria recebida. Mas não podemos escapar à necessidade de amor e compaixão.
Esta, então, é minha religião verdadeira, minha fé simples. Neste sentido, não é preciso existir templo ou igreja, mesquita ou sinagoga, não há necessidade de filosofia, doutrina ou dogma complicados. Nosso próprio coração e nossa própria mente são o templo. A doutrina é a compaixão. Amor pelos outros e respeito por seus direitos e sua dignidade, sejam eles quem forem ou o que forem: é só o que afinal precisamos ter. Se praticarmos isso em nossas vidas diárias, não importa se somos instruídos ou ignorantes, se acreditamos em Buda ou em Deus, se seguimos outra religião ou nenhuma. Desde que tenhamos compaixão pelos outros e sejamos capazes de nos conter, motivados pela noção de responsabilidade, não há dúvida de que seremos felizes."

Interessante o ponto de contato entre este trecho e o trecho do Evangelho de São Tomé - considerado apócrifo e até mesmo herético pela Igreja Católica, mas é só pensar um pouco pra se chegar ao entendimento de tal "excomunhão" - em que Jesus diz "Rachai uma madeira: eu estou ali. Levantai uma pedra e me achareis". Para mim, o próprio conceito da Onipresença Divina também só vem a fortalecer esse ponto de contato.

Mas, caros amigos, quero deixar muito claro que não quero entrar em questões doutrinárias ou argumentar sobre o inargumentável - o dito popular "discutir sobre futebol e religião é perda de tempo" se aplica neste momento. O que busco com esse texto é simplesmente:

1) ressaltar a importância da ética e da preservação do direito de se viver em paz dentro de uma escolha, seja ela qual for, desde que essa mesma escolha não prejudique nossos semelhantes;

2) estabelecer um contato com as pessoas que pensam como eu, mas que receiam manifestar esse modo de pensar, justamente por viverem em meio a uma sociedade hipócrita na qual todo mundo tem que ter "um time", "uma religião", enfim, um rótulo para classificar qualquer aspecto de sua vida.

O modo de pensar ao qual me refiro é: não declaro-me isto ou aquilo, não limito-me a um rótulo para "encaixar-me" ou "adequar-me". Procuro beber de todas as fontes de sabedoria que me façam refletir e que me ajudem a melhorar. Ponto.

Para os fanáticos, reservo minha simples e respeitosa distância; para as pessoas que querem evoluir (dentro da definição do que é um ato ético), minha total empatia, companheirismo e minha mais sincera vontade de melhorar e aprender.

Abraços a todos,
Michel
http://blog.michelleme.com/2009/03/comentarios-sobre-uma-etica-para-um.html
 




Comentários