A compaixão diferencia-se de outras formas de comportamento prestativo humano no sentido de que seu foco primário é o alívio da dor e sofrimento alheios. Atos de caridade que busquem principalmente conceder benefícios em vez de aliviar a dor e o sofrimento existentes, são mais corretamente classificados como atos de altruísmo, embora, neste sentido, a compaixão possa ser vista como um subconjunto do altruísmo, sendo definida como o tipo de comportamento que busca beneficiar os outros minorando o sofrimento deles.
Compaixão, Simpatia e Empatia
A Compaixão, a Simpatia e a Empatia nem sempre são adequadamente entendidas. Cada uma destas palavras é ambigua, ou seja, pode assumir diferentes significados, e todas podem ser confundidas entre si. Um ponto comum todas é que se referem a uma relação frente ao sofrimento.
A palavra compaixão, tem origem latina, enquanto que simpatia e empatia têm origem grega.
Compadecer é "sofrer com". Ter compaixão é a virtude de compartilhar o sofrimento do outro. Não significa aprovar suas razões, sejam elas boas ou más. Ter compaixão é não ter indiferença frente ao sofrimento do outro. David Hume, quando definiu o termo Simpatia, no seu Tratado da Natureza Humana (A Treatise of human nature. 1738) dizia: "Ninguém é completamente indiferente a felicidade ou a miséria dos outros". Algumas pessoas entendem que isto não é uma virtude, mas sim um sentimento, que pode receber a denominação de Simpatia ou de Empatia.
Também existe a confusão entre Compaixão e Piedade, que é sentir-se triste com a tristeza dos outros. A Piedade aumenta a tristeza, a infelicidade. Esta confusão se ampliou com a obra de Scheler "Sympathie", escrita em 1923. Nesta obra Scheler equiparou Simpatia com Piedade.
A idéia de que a Simpatia é um sentimento que vincula as pessoas umas às outras foi proposta por David Hume. Em seu livro Tratado da Natureza Humana, escrito em 1738, ele propôs que:
"Nenhuma qualidade da natureza humana é mais importante, quer por si, quer por suas conseqüências, do que a propensão que nós temos para simpatizar uns com os outros, para receber por comunicação suas inclinações e seus sentimentos, por mais diferentes que eles sejam dos nossos, ou mesmo contrários... A este princípio é que devemos atribuir a grande uniformidade que podemos observar nos humores e nos modos de pensar dos membros de uma mesma nação: é muito mais provável que esta semelhança surja da simpatia do que da influência do solo e do clima, os quais ainda que permaneçam os mesmos, não conseguem manter inalterado por um século inteiro o caráter de uma nação."
John Gregory, o grande médico escocês que estabeleceu, no século XVIII, as bases para a Ética Médica contemporânea, afirmava que a Simpatia era fundamental para uma adequada relação médico-paciente. Adam Smith, que neste mesmo período era professor de Ética também em Edimburgo, tomando as idéias de Hume por base, propôs que a Simpatia é base da vida moral, entendendo-a como a "faculdade de participar das emoções de outrem, sejam elas quais forem" (Theory of Moral Sentiments, 1759). Todos estes autores fizeram parte do movimento caracterizado como Iluminismo ou Esclarecimento Escocês.
Empatia, por sua vez, é olhar com o olhar.do outro, é considerar a possibilidade de uma perspectiva diferente da sua. A falta de empatia é desconsideração, é não permitir diferentes percepções. A falta de empatia desconsidera a pessoa em si, os seus valores, o seu sistema de crenças ou os seus desejos. Para alguns a Empatia refere-se a Estética, e não a Ética propriamente dita. Em suma, a Empatia é sentir-se como se sentiria caso se estivesse na situação e circunstâncias experimentadas por uma outra pessoa.
Na obra "A História do Rei Lear" (texto quarto, cena 13), William Shakespeare descreve magistralmente o que é esta relação com o sofrimento.
Edgar (...) Quem sofre sozinho, sofre muito mais em sua mente (espírito). Deixa para trás a liberdade e a alegria. Mas a mente (espírito) com muito sofrimento pode superar-se, Quando a dor tem amigos e suportam a sua companhia, quão leve e suportável a minha dor parece agora. (...)
Shakespeare W. The Complete Works. Oxford: Clarendon, 1991:928-929.
Comte-Sponville A. Pequeno tratado das grandes virtudes. São PAulo: Martins Fontes, 1005:115-129.
Por : José Roberto Goldim.
COMO DESENVOLVER A COMPAIXÃO
COMO DESENVOLVER A COMPAIXÃO
"Vosso sofrimento é o meu sofrimento, vossa felicidade é a minha felicidade". Buda Todos falam em compaixão, mas poucos sabem o que exatamente significa esse sentimento ou essa virtude. Sim, porque compadecer-se é um sentimento, mas também uma grande virtude que deve ser a princípio compreendida, e em seguida aprendida pela maioria denós. A compaixão se distingue claramente do amor e da generosidade, porque compadecer-se é sofrer junto de alguém, e nenhum de nós, como já mencionei em outras matérias, gosta de sofrer. Por esse motivo, poucos têm essa virtude, e, pior que isso, poucos têm a vontade de desenvolvê-la em si. Nossa sociedade é mestra na criação de seres duros, egoístas, frios, materialistas, insensíveis. Você já parou para refletir sobre como algumas exigências sociais nos impedem de desenvolver algumas de nossas melhores qualidades ou virtudes? Pois pare por um momento e reflita sobre o que e qual ambiente ou pessoa impede você de desenvolver-se e tornar-se uma pessoa melhor do que é. Sim, porque sempre existe alguém ou alguma coisa que impede nosso crescimento. A partir dessa reflexão poderemos entender muitas coisas sobre nós mesmos, como nossa submissão a certos valores, certos julgamentos que, de alguma forma, ainda impregnam nossa alma. Mas sempre é tempo de mudar. Quando nos compadecemos na dor de outro, quando somos compassivos com o outro, algo de inusitado acontece dentro e fora de nós. Digo sempre dentro e fora, porque não acredito na separatividade. O dentro existe apenas porque existe o fora, e assim como todos os opostos, que inevitavelmente são complementares. A compaixão é a simpatia com a dor do outro, é o sofrimento compartilhado, independente do valor do sentimento, pois compadecer-se é isentar-se de julgamentos. Mas todo sofrimento merece compaixão? O tirano que perdeu a guerra, o invejoso que sofre por cobiça, o assassino que sofre de arrependimento, todos merecem nossa compaixão? A compaixão deve ter como princípio a ausência do julgamento. Mas quantos de nós conseguem compadecer-se, ausentar-se desse julgamento? Mas afinal, a crueldade merece nossa compaixão? Por óbvio que não! Compartilhar o mal nunca será compaixão, mas participar da dor e do sofrimento da vítima é compadecer-se por ela. Compaixão e misericórdia são sentimentos que se misturam. Quando temos compaixão, nos sentimos mais humanos, pois enxergamos nosso semelhante como humanos, ou seja, como nós mesmos. A dor de nosso semelhante é como a nossa dor, seu sofrimento é nosso sofrimento, e essa forma de viver e se relacionar nos leva à misericórdia e consequentemente à elevação. Quanto ao tirano, por óbvio que não compartilharemos de seu prazer ou frustração em causar o mal, mas podemos compadecer-nos de sua loucura e sofrimento diante da culpa, quando esta existir. É preciso não confundir compaixão com piedade, pois esta é apenas a tristeza que sentimos diante da dor e sofrimento alheios, o que é diferente da compaixão. É um acúmulo de tristezas sobre tristezas. A piedade, na verdade, não passa de projeção dos nossos próprios sofrimentos de identificação, que é completamente diferente da compaixão. Mas de alguma forma, acredito ser um princípio, um começo, uma forma ainda insipiente de compaixão. Como dizia Spinoza, ..."a compaixão é o amor enquanto afeta o homem de tal sorte que ele se regozije com a felicidade de outrem e se entristeça com seu infortúnio". Mas acredito que a compaixão esteja mais relacionada com o infortúnio do que com a felicidade, se bem que a felicidade do outro muitas vezes gera inveja, não é mesmo? Este assunto também vale uma reflexão. Acredito que a grande e fundamental diferença entre piedade e compaixão é que piedade está mais relacionada à tristeza, e compaixão ao amor, mas um amor entristecido, e também à misericórdia. Mas compaixão está também relacionada à caridade que não deve somente ser pensada e sentida por conseqüência da desgraça alheia, mas todo o tempo. A compaixão é opositora da crueldade e do egoísmo, portanto quem cultiva algum desses sentimentos impede seu desenvolvimento. A compaixão nos eleva e nos leva ao desenvolvimento de qualidades humanas inigualáveis, atingimos o mais alto do verdadeiro sentido do que é ser humano, nossa mais elevada humanidade. A compaixão é isenta de preconceitos, de julgamentos, é absolutamente universal, a mais universal de todas as virtudes. Acredito que São Francisco de Assis seja o maior e mais nobre representante dessa virtude. Esse é também o maior ensinamento do Buda, imbuído de toda Sua sabedoria...e compaixão! Um ser carente de compaixão é um ser menos humano que a maioria. Vale lembrar que a compaixão é, antes de tudo um sinal de sensibilidade, uma aversão ao sofrimento alheio, um ardor pelo bem estar e felicidade de todo o mundo. Ser compassivo, é estar em comunhão com o sofrimento. Diz o ditado: "Faz teu bem com o menor mal possível a outrem". Vale refletir sobre a compaixão e sobre todas as maneiras de desenvolvê-la. Como dizia o Buda: "Ama e faz o que queres, compadece-te e faz o que deves". Fonte : Eunice Ferrari-Terra Esotérico-Provações Compaixão Extraído de Transforme sua vida de Venerável Geshe Kelsang Gyatso. Compaixão é a verdadeira essência de uma vida espiritual e a prática central daqueles que devotaram suas vidas para alcançar a iluminação. É a raiz das Três Jóias Supremas – Buda, Darma e Sanga. É a raiz de Buda, porque todos os Budas nascem da compaixão. É a raiz do Darma, porque os Budas dão ensinamentos motivados unicamente por compaixão. É a raiz da Sanga, porque é ouvindo e praticando os ensinamentos de Darma, os quais são dados por compaixão, que nos tornaremos membros da Sanga, ou Seres Superiores. O que é exatamente compaixão? Compaixão é uma mente que, com a motivação de apreciar todos os seres vivos, deseja libertá-los do seu sofrimento. Às vezes, desejamos que alguém se livre do sofrimento por razões egoístas; isso é bastante comum nas relações que se fundamentam principalmente no apego. Se nosso amigo estiver doente ou deprimido, poderemos desejar que se recupere depressa para desfrutarmos novamente da sua companhia; mas esse desejo é basicamente autocentrado, não é verdadeira compaixão. A verdadeira compaixão baseia-se, necessariamente, na motivação de apreciar os outros. Embora já tenhamos algum grau de compaixão, no momento, ela é bastante parcial e limitada. Quando nossos familiares e amigos estão sofrendo, facilmente geramos compaixão por eles, mas é bem mais difícil sentirmos solidariedade por estranhos ou por pessoas que achamos desagradáveis. Além do mais, sentimos compaixão por aqueles que estão sofrendo dor manifesta, mas não por aqueles que estão desfrutando de boas condições e menos ainda pelos indivíduos que estão cometendo ações nocivas. Se realmente quisermos realizar nosso potencial alcançando a plena iluminação, temos que aumentar o escopo da nossa compaixão até que ela consiga abranger todos os seres vivos sem exceção, como faria uma mãe amorosa que sente compaixão por todos os seus filhos, independente de estarem agindo bem ou mal. Essa compaixão universal é o coração do budismo mahayana. Ao contrário da nossa compaixão atual, limitada, que já surge ocasionalmente de modo natural, a compaixão universal precisa ser cultivada por meio de treino durante um longo período. Para saber mais sobre compaixão, consulte os livros Oito passos para a felicidade, Compaixão universal, e Contemplações significativas de Geshe Kelsang Gyatso. Texto Extraído de Transforme sua vida do Venerável Geshe Kelsang Gyatso. |
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