O 1º MODELO DE HABITAÇÃO SUSTENTÁVEL IMPRESSO EM 3D COM TERRA CRUA LOCAL


O projeto responde à emergência climática, à crise habitacional e à necessidade de casas sustentáveis que sejam

O projeto responde à emergência climática, à crise habitacional e à necessidade de casas sustentáveis que sejam "quilômetro zero" (Foto: Divulgação)


  • POR IZA VALADÃO
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Ao usar os avanços tecnológicos e com o auxílio da impressão 3D, foi construída uma casa totalmente impressa em solo local. Ela está localizada em Massa Lombarda, município distante, a 40 km ao leste de Bolonha, na região de Ravenna, Itália. A construção foi feita com um formato orgânico, que se assemelha a duas conchas de ouriço marinhas fundidas ou a duas cestas de vime.

A superfície de sua fachada aparenta ter estética inspirada no universo Star Wars e é impressa em camadas por meio de uma estrutura ondulada, que cria espaços vazios no interior, usados para ventilação ou para isolamento térmico e acústico, quando preenchidos por cascas de arroz. A cúpula dupla atua, ao mesmo tempo, como estrutura, telhado e revestimento, simplificando assim os processos, minimizando recursos e reduzindo o tempo de construção.

Estima-se que, atualmente, pelo menos um terço da população mundial use o solo como principal material de construção. Isso ocorre principalmente porque o solo é o material mais abundante no planeta, depois da água. Ele também é um excelente isolante térmico, o que o torna ideal para ser usado na proteção contra grandes variações de temperatura e intempéries. Por isso ele também é o material de construção mais antigo, com registros históricos bem longrvos, como nos alojamentos dos operários responsáveis pelas construções das pirâmides e tumbas egípcias.

Para a TECLA foi utilizado um software capaz de otimizar movimentos e evitar colisões para permitir que os dois braços de impressão funcionassem simultaneamente (Foto: Divulgação)

Para a TECLA, foi usado um software capaz de otimizar movimentos e evitar colisões para permitir que os dois braços de impressão funcionassem simultaneamente (Foto: Divulgação)

A casa italiana, batizada de TECLA (combinação das palavras Tecnologia e Argila), busca maximizar o rendimento tradicional da terra crua por meio da fabricação digital. Para sua fabricação, foram usadas impressoras 3D sincronizadas para funcionar ao mesmo tempo e dois braços mecânicos, que possibilitam cobrir grandes metros quadrados, com um sistema complexo de coleta, mistura e bombeamento de materiais.

Eles usaram um modelo digital construído com 7.000 códigos de máquina (código G), que combinados, tornam possível a impressão multinível com 350 camadas de 12 mm, 150 km de extrusão, 60 metros cúbicos de terra crua e um consumo médio inferior a 6 kW, dentro de 200 horas.

A TECLA nasceu em 2019, a partir de um projeto de pesquisa em princípios bioclimáticos e uso de materiais naturais e locais da Cucinella School of Sustainability (SOS), Bologna, Itália. Através da colaboração entre as equipes do escritório Mario Cucinella Architects (MCA) e o Massimo Moretti (WASP: World’s Advanced Saving Project), especialistas em impressão 3D na Itália, conseguiu finalmente ser fabricada e sua instalação e a apresentação estão previstas para os próximos meses.

Até agora, a impressão 3D se concentrava na fabricação de peças e de elementos individuais. Para a TECLA foi usado um software capaz de otimizar movimentos e evitar colisões para permitir que os dois braços de impressão funcionassem simultaneamente. Os desenvolvedores explicam que este sistema modular e multinível pode ser configurado de acordo com cada projeto, o que significa que as possibilidades dessa tecnologia podem se estender a projetos ainda mais complexos, já que "cada unidade de impressão tem uma área de 50 metros quadrados, possibilitando a construção de módulos vivos independentes de qualquer formato e em poucos dias", conforme informado por Mario Cucinella.

Para sua fabricação foram usadas impressoras 3D sincronizadas para funcionar ao mesmo tempo e dois braços mecânicos que possibilitam cobrir grandes metros quadrados (Foto: Divulgação)

Para sua fabricação, foram usadas impressoras 3D sincronizadas para funcionar ao mesmo tempo e dois braços mecânicos que possibilitam cobrir grandes metros quadrados (Foto: Divulgação)




O aparecimento da TECLA, em meio a uma pandemia, faz-nos repensar o morar e aborda a crise climática juntamente com a escassez de moradias, transformando um material antigo com tecnologias modernas. De acordo com o arquiteto italiano Mario Cucinella, o protótipo lança as bases para a futura criação de habitats sustentáveis cada vez mais eficientes e maciços, representando "uma mudança de paradigma no campo da arquitetura, atendendo às necessidades das pessoas e encontrando uma resposta para a 'Terra' dentro da 'terra'. Uma colaboração que se torna a união entre a arquitetura empática e a aplicação de novas tecnologias".

A TECLA recebeu a aprovação do planejamento em maio de 2019 e a impressão começou em setembro de 2019. Sua instalação final está programada para os próximos meses. Ela representa uma perspectiva sem precedentes para edifícios e novos assentamentos, em que o valor das matérias-primas locais é ampliado pelo design digital. Massimo Moretti diz que “hoje, temos o conhecimento para construir sem impacto com um simples clique, já que a tecnologia está agora a serviço do homem e do lar”, maximizando assim, o desempenho de um material antigo ao mesmo tempo que incentiva um novo modelo circular de habitação inteiramente criado com materiais reutilizáveis e recicláveis, quase neutro em carbono e adaptável a qualquer clima e contexto.

O projeto responde à emergência climática, à crise habitacional e à necessidade de casas sustentáveis que sejam "quilômetro zero". O termo, muitas vezes escrito como km 0, é emprestado do movimento Slow Food e promove o uso de bens locais, diminuindo assim a distância entre produtor e usuário final.

Iza Valadão (Foto: Divulgação)

Iza Valadão (Foto: Divulgação)

Iza Valadão é Engenheira Civil com Ph.D. em Materiais e Sustentabilidade e Professora e Pesquisadora da UFF.

Fonte:https://revistacasaejardim.globo.com/Casa-e-Jardim/Colunistas/Iza-Valadao/noticia/2021/06/o-1-modelo-de-habitacao-sustentavel-impresso-em-3d-com-terra-crua-local.html


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