CANADENSE NAOMI KLEIN,DO MOVIMENTO AMBIENTAL,FALA SOBRE SEU PAPEL DE AGENTE DE TRANSFORMAÇÃO E MULHER

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Naomi Klein sobre ser uma agente de transformação e mulher (Foto: Contour by Getty Images)

Canadense fala sobre seu papel como agente de transformação e mulher – e por que milhões de pessoas em todo o mundo finalmente acordaram para a crise climática

Naomi Klein faz parte do movimento ambiental há mais de uma década. Mas apenas durante os últimos dois anos ela tem visto uma mudança clara nos diálogos acontecendo em todo o mundo, graças a personagens como Greta Thunberg e Extinction Rebellion. “As coisas estão mudando”, diz a autora e ativista canadense à Vogue. “Gostaria que tivessem começado a mudar mais cedo, mas estão finalmente mudando”.
Frequentemente são mulheres que estão à frente dessa mudança: lembre-se de Thunberg e as greves escolares mundiais; a política de Nova York Alexandria Ocasio-Cortez promovendo o Green New Deal nos EUA; e a diplomata mexicana Patricia Espinosa, atualmente liderando os esforços climáticos na ONU. Nesse meio tempo, o livro de Klein, de 2014 – This Changes Everything: Capitalism vs The Climate – foi um best-seller internacional que levou muitas pessoas a confrontarem a crise climática pela primeira vez.
“As mulheres tiveram papel de liderança nesse movimento, mas o grupo que aparecia à frente de tudo na mídia era esmagadoramente masculino”, diz Klein. “Não representava a realidade do movimento; há um reequilíbrio acontecendo agora”. 
Com a celebração do Dia Internacional da Mulher, Vogue conversa com Klein sobre seu papel como agente de transformação e mulher, e por que ela está se preparando para uma grande virada que irá alterar radicalmente a maneira como abordamos a crise que ameaça nosso planeta.
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Naomi Klein sobre ser uma agente de transformação e mulher (Foto: Bloomberg via Getty Images)

Por que você acha que tantas pessoas acordaram para a crise climática durante o último ano?
Uma razão é a realidade vivida pelas pessoas. Não dá para tantos anos com calor recorde serem descartados como anomalia. Elas percebem que não é algo que está distante; é uma coisa acontecendo agora e que é bastante perturbadora, destruindo lugares amados e que já está tirando vidas.
Há muitas mulheres à frente do movimento climático, incluindo você. Por que acha que isso acontece?
É incrível que haja jovens mulheres como Greta Thunberg, Alexandria Ocasio-Cortez e [a também americana, a deputada] Rashida Tlaib [liderando o movimento climático]. Jovens estão abrindo o coração dos assuntos climáticos. Acho que há uma maneira como mulheres falam [sobre a crise climática] que permite que as pessoas sintam toda a emoção de nosso movimento. Damos espaço para a dor, para o amor, para a esperança; isso é muito importante.
Você falou sobre o poder limitado que indivíduos têm para lidar com a crise climática. Mas você, e as mulheres que menciona, teve enorme influência sobre a mudança na maneira como as pessoas enxergam a questão.
Não estou dizendo que indivíduos não podem ter um impacto grande no contexto de movimentos sociais. O que estou dizendo é que você, enquanto consumidor individual, não vai mudar o mundo. A mensagem que frequentemente chega até nós é: ‘Você pode ser vegano’, ‘você pode cortar o uso de plástico’, ‘você pode parar de pegar avião’ – tudo isso vai diminuir sua pegada de carbono pessoal, [mas] basicamente não vai fazer nada na escala de mudança de que precisamos. Mesmo se você e muitas outras pessoas fizer isso tudo, ainda será uma gota no oceano, porque temos um sistema econômico em constante expansão.
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Naomi Klein sobre ser uma agente de transformação e mulher (Foto: Getty Images)

O movimento climático está se tornando mais inclusivo?
Depende de que lugar [você está falando]. O movimento de greves climáticas jovens está se tornando mais e mais diverso porque é global. É verdade que o principal rosto do movimento é Greta, que é europeia e branca, mas Greta tem visitado comunidades indígenas, se certificando de que haja plataformas para outras vozes. É frustrante quando a mídia foca apenas em Greta; ela está tentando contar uma história sobre o que acontece quando as pessoas se juntam.
Há nomes de mulheres que não são tão conhecidas como deveriam [ser] no movimento de justiça climática, incluindo [a diplomata boliviana] Angélica Navarro Llanos e [a diretora executiva da Asian Pacific Environmental Network] Miya Yoshitani. Há também muitas mulheres não brancas com esses argumentos há muito tempo e que nunca receberam o respeito intelectual que seu trabalho merece.
Faz cinco anos que seu best-seller This Changes Everything foi publicado. O que mudou desde então?
A maior mudança é que agora há uma geração de ativistas que entendem que não vamos chegar onde precisamos a menos que estejamos dispostas a construir alianças com outros movimentos, e a menos que desejemos adotar uma visão mais holística de mudança. 
Houve muita mudança muito rapidamente ao longo dos últimos anos, em termos da ascensão do movimento de greve estudantil, essa explosão de desobediência civil com a Extinction Rebellion, o surgimento de um Green New Deal.
Seu livro mais recente se chama On Fire: The Burning Case for a Green New Deal. Qual é sua visão para a proposta?
O aspecto mais significativo do Green New Deal é que não se trata de um plano climático restrito; não tem a ver apenas com a sociedade reduzir o carbono. É um plano para a próxima economia que reúne a necessidade de sair dos combustíveis fósseis com a necessidade de construir uma sociedade mais justa em muitas frentes.

O Green New Deal [proposto] nos EUA inclui assistência à saúde pública universal, cuidados infantis universais, acesso livre à faculdade. É muito importante reconhecermos setores como a saúde e educação, [que é] trabalho com baixo carbono. São trabalhos incrivelmente femininos, então são desvalorizados. Quando pensamos sobre os empregos da próxima economia, visualizamos esses empregos industriais porque não estamos considerando a economia do cuidado.
Você faz parte do movimento climático há mais de 10 anos. Em algum momento se sente oprimida pela escala do desafio que estamos enfrentando?
Sim, com certeza. Tenho dias em que me sinto invadida pela derrota. Permito-me ficar triste; não deixo acumular. Tenho momentos de raiva em relação às pessoas que sabiam e não escutaram. Há momentos em que vejo a escala mundial disso tudo e penso que talvez estejamos nos dando conta tarde demais. Mas também vi sociedades mudando bem rapidamente. Esses momentos de virada podem vir – meu foco é nos prepararmos para a próxima vez que acontecerem.


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