GURU RAJSHREE PATEL : 'O BRASILEIRO GOSTA DE SE FINGIR DE BONZINHO'


Rajshree Patel que processava criminosos, agora dá aulas de meditação e respiração nos presídios, buscando lidar com possíveis traumas dos indivíduos
Foto: Daniela Dacorso / Agência O Globo
Rajshree Patel, ex-promotora e líder pacifista: ‘O brasileiro gosta de se fingir de bonzinho’
Instrutora internacional da ONG Arte de Viver, que age em prisões, empresas e outras áreas, ativista ugandense veio ao Rio formar professores de meditação e respiração

POR LAURO NETO

03/09/2014 

“Nasci em Uganda e cheguei aos Estados Unidos com 10 anos. Lá, trabalhei como promotora federal até 1989, quando conheci o guru Sri Sri Ravi Shankar. Desde então viajei para mais de 40 países ensinando programas de como ser mais afetivo, lidar com estresse e ter melhor qualidade de vida”.
Conte algo que não sei.
Quando vou à Argentina, a porta está fechada, mas não trancada. Quando você bate, os argentinos abrem e deixam você entrar. Uma vez que você entra, a casa está totalmente aberta. No Brasil, a porta está aberta, e você pode entrar facilmente. Mas é difícil passar da sala. O resto não está tão aberto. É algo que tem que mudar. O brasileiro gosta de se fingir de bonzinho. Essa cultura está reduzindo a glória do país.
Como assim? Exemplifique.
A riqueza está nos recursos naturais e no coração das pessoas. O crime e a violência aumentam, e em vez de expandir a mente, as pessoas põem grades nas janelas. Ir para outro país ou mandar os filhos para fora não é a solução. Queria ver os brasileiros resgatarem a sua terra, criarem a mudança, manter o crescimento aqui, em vez de fugir ou se isolar.
Como promotora, você processava criminosos. Agora, ‘liberta’ as pessoas?
A polícia acusava, e eu processava pelo Estado apresentando as evidências. Aprendi que prender pessoas não é a única solução para prevenir ou reduzir o crime. Uma mente na prisão se torna mais criminosa. Descobri que há uma maneira de libertar qualquer mente para se tornar mais responsável socialmente se removermos o trauma de um criminoso, atuar na maneira como ele cresceu ou foi exposto a drogas.
Como é o trabalho que vocês fazem nos presídios?
As ferramentas de respiração e meditação que ensinamos melhoram a qualidade de vida por dentro. É sobre dar poder às pessoas, fazer com que eles enxerguem que as coisas são possíveis, instaurar um estado positivo da mente no lugar de uma mente frustrada. Alguém que está feliz e calmo tem menos vontade de fazer coisas que machuquem os outros. Nossa técnica muda a qualidade e o estado da mente de um indivíduo por dentro para agir com excelência fora.
E os workshops com lideranças executivas? Qual a maior dificuldade delas?
Eles sempre têm problema com tempo, um calendário muito cheio. São bastante lógicos, analíticos. Muitas vezes não querem ver o que é possível. Quando experimentam uma pequena mudança na vida, percebem quão valiosas essas ferramentas são. Em São Paulo, fiz um programa corporativo para ensinar executivos e CEOs de empresas a serem mais afetivos e se tornarem melhores líderes.
O que é mais estressante: Rio ou São Paulo?
São Paulo tem mais estresse. Os paulistas têm uma cultura de engarrafamento e do “go, go, go”. Talvez a beleza do Rio, como esse visual de Santa Teresa, faça com que fique tudo mais fácil, e as coisas, mais relaxadas. Tudo que gere alegria de forma natural significa menor estresse. O açaí é uma grande coisa no Rio. Talvez funcione (risos).
Como diminuir o estresse e aumentar a produtividade?
Só através da meditação e da respiração podemos mergulhar dentro da nossa mente e mudar a maneira pela qual percebemos o mundo. Uma mente estressada é menos produtiva. Há pessoas que seguem pensando e não fazem nada. Não conseguem dormir, não refletem claramente, a memória fica embaçada. O estado calmo faz com que o intelecto seja mais agudo, mais consciente e consiga realizar mais em menos tempo.


Rajshree Patel que processava criminosos, agora dá aulas de meditação e respiração nos presídios, buscando lidar com possíveis traumas dos indivíduos
Foto: Daniela Dacorso / Agência O Globo
Rajshree Patel que processava criminosos, agora dá aulas de meditação e respiração nos presídios, buscando lidar com possíveis traumas dos indivíduos - Daniela Dacorso / Agência O Globo


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