Rajshree Patel,
ex-promotora e líder pacifista: ‘O brasileiro gosta de se fingir de bonzinho’
Instrutora
internacional da ONG Arte de Viver, que age em prisões, empresas e outras
áreas, ativista ugandense veio ao Rio formar professores de meditação e
respiração
POR LAURO NETO
03/09/2014
“Nasci em Uganda e
cheguei aos Estados Unidos com 10 anos. Lá, trabalhei como promotora federal
até 1989, quando conheci o guru Sri Sri Ravi Shankar. Desde então viajei para
mais de 40 países ensinando programas de como ser mais afetivo, lidar com
estresse e ter melhor qualidade de vida”.
Conte algo que não sei.
Quando vou à
Argentina, a porta está fechada, mas não trancada. Quando você bate, os
argentinos abrem e deixam você entrar. Uma vez que você entra, a casa está
totalmente aberta. No Brasil, a porta está aberta, e você pode entrar
facilmente. Mas é difícil passar da sala. O resto não está tão aberto. É algo
que tem que mudar. O brasileiro gosta de se fingir de bonzinho. Essa cultura
está reduzindo a glória do país.
Como assim? Exemplifique.
A riqueza está nos
recursos naturais e no coração das pessoas. O crime e a violência aumentam, e
em vez de expandir a mente, as pessoas põem grades nas janelas. Ir para outro
país ou mandar os filhos para fora não é a solução. Queria ver os brasileiros
resgatarem a sua terra, criarem a mudança, manter o crescimento aqui, em vez de
fugir ou se isolar.
Como promotora, você processava criminosos. Agora, ‘liberta’ as pessoas?
A polícia acusava, e
eu processava pelo Estado apresentando as evidências. Aprendi que prender
pessoas não é a única solução para prevenir ou reduzir o crime. Uma mente na
prisão se torna mais criminosa. Descobri que há uma maneira de libertar
qualquer mente para se tornar mais responsável socialmente se removermos o
trauma de um criminoso, atuar na maneira como ele cresceu ou foi exposto a
drogas.
Como é o trabalho que vocês fazem nos presídios?
As ferramentas de
respiração e meditação que ensinamos melhoram a qualidade de vida por dentro. É
sobre dar poder às pessoas, fazer com que eles enxerguem que as coisas são
possíveis, instaurar um estado positivo da mente no lugar de uma mente
frustrada. Alguém que está feliz e calmo tem menos vontade de fazer coisas que
machuquem os outros. Nossa técnica muda a qualidade e o estado da mente de um
indivíduo por dentro para agir com excelência fora.
E os workshops com lideranças executivas? Qual a maior dificuldade
delas?
Eles sempre têm
problema com tempo, um calendário muito cheio. São bastante lógicos,
analíticos. Muitas vezes não querem ver o que é possível. Quando experimentam
uma pequena mudança na vida, percebem quão valiosas essas ferramentas são. Em
São Paulo, fiz um programa corporativo para ensinar executivos e CEOs de
empresas a serem mais afetivos e se tornarem melhores líderes.
O que é mais estressante: Rio ou São Paulo?
São Paulo tem mais
estresse. Os paulistas têm uma cultura de engarrafamento e do “go, go, go”.
Talvez a beleza do Rio, como esse visual de Santa Teresa, faça com que fique
tudo mais fácil, e as coisas, mais relaxadas. Tudo que gere alegria de forma
natural significa menor estresse. O açaí é uma grande coisa no Rio. Talvez
funcione (risos).
Como diminuir o estresse e aumentar a produtividade?
Só através da
meditação e da respiração podemos mergulhar dentro da nossa mente e mudar a
maneira pela qual percebemos o mundo. Uma mente estressada é menos produtiva.
Há pessoas que seguem pensando e não fazem nada. Não conseguem dormir, não
refletem claramente, a memória fica embaçada. O estado calmo faz com que o
intelecto seja mais agudo, mais consciente e consiga realizar mais em menos
tempo.
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