A ILUSÃO DA EXPERIÊNCIA DO EGO - PAUL BRUNTON


A Ilusão da Experiência do Ego
(trechos do capítulo XI do livro “A Imortalidade Consciente”, de Paul Brunton)

Os trechos a seguir fazem parte do Capítulo XI – A Ilusão da Experiência do Ego, do livro A Imortalidade Consciente (edição em português publicada pela EDC Editora Didática e Científica, tradução de Zofia Gaffon).

O esquecimento da verdadeira natureza é a morte real; a recordação dela é verdadeiro nascimento. Ponha fim aos sucessivos nascimentos. Sua se torna então a Vida eterna. Por que lhe vem o desejo de Vida eterna? Porque o estado presente em que você se encontra é insuportável. Por quê? Porque essa não é a sua verdadeira natureza. Faça com que ele seja sua real natureza, então não mais haverá o desejo para deixá-lo agitado.
O homem julga a si próprio limitado; isso o incomoda. A ideia está errada. No sono não existiam o mundo, nem o ego, e não havia confusão. Alguma coisa acorda esse feliz estado e fala “eu”. Para esse ego o mundo reaparece. O ressurgimento do ego é a causa da confusão. Basta observar o ego e segui-lo até a sua fonte para reaver esse imutavelmente e feliz estado de sono sem sonhos. O Ser está sempre aí; a sabedoria aparece somente em declive, embora isso seja natural.
P.: Ego e Ser são a mesma coisa?
R.: O Ser pode existir sem o ego, ao passo que o ego não pode existir sem o Ser. Egos são como borbulhas no oceano.
As impurezas e os apegos mundanos afetam somente o ego. O Ser permanece sempre puro, nada pode afetá-lo.
Todas essas coisas são apenas conceitos mentais. Você agora está se identificando com o falso “eu”, com o “pensamento-eu”. Esse pensamento-“eu” surge e pensa; sempre está no vaivém. Enquanto que o “Eu Sou” no seu verdadeiro significado não pode fazer isso. Não pode haver quebra no seu ser.
O pai do seu “eu” pessoal é o real Eu Sou – Deus. Procure encontrar a Fonte do seu “eu” pessoal, e achará o outro “Eu”.
Onde os desejos vão, o “eu” pessoal segue.
P.: Quando jovem, eu era muito autoconfiante. Agora que estou velho, tenho medo. As pessoas riem de mim.
R.: Mesmo quando você diz que “era autoconfiante”, não era assim como disse – você era ego confiante. No lugar disso, se eliminasse o ego, seria realmente o Ser autoconfiante. Seu orgulho era meramente o orgulho do ego. Tanto quanto você se identificar com o ego, reconhecerá também seus outros egos pessoais, e lá haverá lugar para o orgulho. Mas, desligando-se do ego, os outros egos também se desligarão; assim, não haverá mais lugar para orgulho.
Tanto quanto permanecer na mente o sentido de separação, os pensamentos serão sempre aflitivos. Quando tornar a reaver a Fonte original, o sentido de separação irá desaparecer por completo. Sobrevirá então a paz.
Considere então o que acontece quando uma pedra está lançada para o alto. A pedra, ao ser lançada, deixou sua fonte e procura cair, estando sempre em movimento até alcançar sua fonte, o lugar onde estava. Assim também ocorre com as águas do oceano que, evaporando-se das nuvens movidas pelos ventos, se condensam em água e caem como chuva; as águas rolam agitadas dos topos de morros em córregos e rios até encontrarem sua fonte original, o oceano, e a ele se juntando, se acalmam.
Assim, você percebe que, onde haja o sentido de separatividade da fonte, há agitação e rebuliço, até que o sentido de separação se perca. O mesmo ocorre com você. Agora, estando identificado com o corpo, pensa estar separado. Você tem que reaver sua Fonte Primeva, antes que essa falsa identidade cesse para que seja feliz.
O ouro não é um ornamento, mas o ornamento é feito de ouro e, embora haja diferentes formas de ornamentos, deve sua feição somente a uma realidade, isto é, ao ouro. Conforme foi demonstrado, diz respeito também aos corpos e ao Ser.
A Realidade é o Ser. Identificando-se com o corpo e ainda procurando a felicidade é como uma tentativa de atravessar nas costas do jacaré um rio pouco fundo onde se pode passar a pé. A identidade-corpo deve-se à extroversão e ao vaguear da mente. Continuar nesse estado só poderá mantê-lo numa das infinitas massas confusas, e aí não haverá paz.
Procure sua fonte, mergulhe no Ser, no “Eu-Sou”, e permaneça todo UM. O desejo de renascimento significa de fato a insatisfação com o presente estado e quer-se renascer onde não haverá dissabores. O nascimento, sendo do corpo, não pode afetar o Ser. “Eu-Sou” sempre permanecerá, mesmo depois de o corpo perecer. O descontentamento é devido à identificação errada do Ser Eterno com o corpo perecível. O corpo é um necessário adjuvante do ego. Se o ego morrer, o Ser Eterno revelar-se-á em toda a Sua Glória. O corpo é a cruz. Jesus, o Filho do Homem, é o ego, ou melhor, a ideia “eu-sou-o-corpo”. Quando crucificado, o Glorioso Ser, o Cristo, Filho de Deus, ressuscita. “Não te apegarás a essa vida se quiseres viver”.
P.: Como se torna possível esta realização?
R.: Há um Ser Absoluto do qual vem a centelha como a do fogo. À centelha damos o nome de ego. No caso do ignorante, que se identifica com algum objeto logo que surge, porque não pode ficar livre de semelhantes associações. Esta associação é ignorância, cuja destruição é o objetivo de nossos esforços. Quando as tendências objetivas do ego estiverem mortas, ele fica também puro e imerge na sua fonte.
Podemos nos separar daquilo que é externo, mas nunca daquilo que está dentro de nós. Consequentemente, o ego não é mais um com o corpo. Isso deve ser conscientizado no estado de vigília.
A pergunta “Quem sou eu?” é um machado que corta fora o ego.
O intelecto sempre está em busca do conhecimento externo, excluindo o conhecimento de sua própria origem. A mente é apenas identificação do Ser com o corpo e é isso que o falso ego inventou e em volta disso gerou falsos fenômenos e neles parece mover-se.
Se a falsa identidade esvanecer, a Realidade se tornará aparente. Isto não significa que a Realidade não seja mesmo agora, neste instante. Ela é sempre presente e perenamente a mesma.


Fonte:http://advaita.com.br/2014/06/22/a-ilusao-da-experiencia-do-ego/



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