SOB O DOMÍNIO DO CORPO - MAURO LACERDA

 

Sob o domínio do corpo
 
 
 
Pela linguagem do corpo, dizemos muito aos outros. E os outros têm muito a nos dizer também. Quando nos encontramos com alguém, pela primeira vez, ficamos sempre com uma determinada impressão da pessoa logo no primeiro minuto. Observamos seu modo de vestir, sua postura, o aperto de mão, os movimentos dos braços e pernas. É daí que tiramos nossas primeiras impressões, mesmo que a pessoa em questão não tenha se expressado verbalmente. Este é o momento crucial em que percebemos o quanto a linguagem corporal é importante.

Gestos, olhares, posições do corpo, comunicam a verdade que as palavras não conseguem dizer. Portanto ao encontrar alguém pela primeira vez, tente ser sincero, para não ser traído pelo corpo. Por mais que controlemos nossos movimentos físicos, eles fazem parte da linguagem do inconsciente, assim como as palavras pertencem ao universo da linguagem do consciente.

Não é preciso ser um detetive ou um psicólogo para dar-se conta de que o conhecimento da linguagem não verbal é imprescindível para quem deseja harmonia nas relações com as pessoas, em seus encontros, em entrevistas e apresentação e até num depoimento policial. Quem jamais se esquecerá a reviravolta causada pela personagem da atriz Sharon Stone (foto) na trama do filme “Instinto Selvagem”? Durante um interrogatório numa delegacia, com um inesperado movimento corporal, a atriz cruza suas belas pernas, deixando à mostra tudo o que esconde uma calcinha feminina e mudando, assim, o rumo da história. Poucas vezes se viu na tela linguagem mais provocante e eficiente.

Pesquisas feitas por cientistas não-verbalistas mostram que 55% das nossas mensagens são transmitidos via linguagem corporal. Segundo o mesmo estudo, a voz é responsável por 38% e as palavras apenas por 7%.

O corpo grita, agita, chora, ri, sente e se emociona. É uma maneira misteriosa e não verbal de comunicação. Sabia que o corpo fala? É isso mesmo! Está cientificamente provado que não é só por meio de palavras que a gente se comunica. Muitas vezes nosso corpo dá sinais que dizem muito mais que nossa boca. O corpo mostra o que está latente no ser humano, expressa nossas ansiedades e desejos de forma natural, mesmo que nossas palavras digam o contrário. Os gestos significam muito mais do que se supõe.

Nosso corpo revela nosso inconsciente, é uma projeção de nossa mente. Mostra, através de gestos inconscientes, algo que estamos sentindo, ou tentando esconder ou disfarçar, e não queremos falar. São muitos os sinais que o corpo pode dar, revelando a todo momento sentimentos e pensamentos.

A linguagem corporal, quando bem interpretada, pode ajudar a entender melhor
as pessoas além de nos permitir agir de forma mais inteligente, para um melhor relacionamento familiar, profissional, social. Compreender a linguagem dos gestos é um caminho para a segurança, autoconfiança e liberdade para definirmos nossa conduta.
Uma forma de nos tornarmos responsáveis pelos nossos atos e suas conseqüências.

Você sabia que mulheres de seios grandes são acolhedoras e protetoras e que as de bumbum proeminente são autoritárias e individualistas? "A linguagem corporal é uma técnica que analisa de que forma nossa mente projeta na silhueta características de como encaramos o mundo a nossa volta", explica a especialista Cristina Cairo, do Instituto Linguagem do Corpo, em São Paulo.

Utilizando conhecimentos da medicina oriental (que acredita na força das emoções), da medicina psicossomática (que mostra como a mente desencadeia algumas doenças) e da neurolingüística (ciência que estuda a influência da linguagem sobre o cérebro e o comportamento), Cristina Cairo garante que é possível fazer um mapa da nossa estrutura e, a partir dele, traçar a personalidade de um indivíduo. "Você pode se autoconhecer, se compreender e melhorar aspectos da sua vida profissional e pessoal", diz ela.

A pergunta de Cristina e dos estudiosos da linguagem corporal é uma só: como se dá essa leitura corporal nos dias de hoje, numa geração que se acostumou a comunicar-se pelo computador? A chamada geração Y não tem essa leitura do corpo. Não aprenderam com ela.

Se um jovem, hoje, chega atrasado para o trabalho e o chefe lhe dá um olhar furioso,
ele não entende. O chefe bate o pé com os braços cruzados na frente dele e ele, que está provavelmente ouvindo o Ipod, não sabe o
que o chefe quer. O que acontece? Ele estaria desafiando a autoridade? Não, ele simplesmente não entende porque o chefe está furioso. Pertence a uma geração que passa a vida no computador. Seus códigos são outros.
O que fazer?

A resposta – ou parte dela – está nos artigos que compõem o Especial desta semana, onde especialistas no assunto chamam nossa atenção para o fato de que estamos lidando com uma tribo com códigos de conduta próprios. Mesmo que se pareçam conosco, mesmo que se vistam de forma parecida, eles pensam diferente e não entendem coisas que nos parecem óbvias. Siga em frente, leia os artigos e tire suas próprias conclusões. Mas não se perca nas palavras, ou pelo menos não se esqueça que existem corpos por trás de tudo isso.
 
Por Marco Lacerda*
 
*Marco Lacerda é jornalista, escritor e Editor Especial do Dom Total

Fonte:http://www.domtotal.com/especiais/1106

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