DISPUTADAS NO MUNDO, TERRAS-RARAS MOBILIZAM R$ 11,5 BILHÕES DE REAIS NO BRASIL, EM 8 PROJETOS QUE VÃO EXPLORAR UM TERÇO DA RESERVA DO PAÍS ATÉ 2029
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Disputadas no
mundo, terras-raras mobilizam R$ 11,5 bi em 8 projetos que vão explorar um
terço da reserva do país até 2029
Insumos essenciais para indústrias de
alta tecnologia e baixo carbono viraram um dos pontos que podem facilitar as
negociações entre Brasil e EUA por tarifaço
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— Rio de Janeiro
07/12/2025 04h00 Atualizado há 21
horas
Oito projetos de mineração de elementos de terras-raras (ETRs) em curso no Brasil poderão desenvolver mais de um terço da reserva potencial do país — considerada a segunda maior do mundo — de matérias-primas que estão entre as mais cobiçadas no mundo atualmente e que ganharam uma importância geopolítica sem precedentes com o avanço da indústria de tecnologia e a guerra comercial do presidente dos EUA, Donald Trump.
Segundo estimativa recente do Ibram, que reúne empresas brasileiras de mineração, os investimentos somam US$ 2,2 bilhões (R$ 11,5 bilhões) de 2025 a 2029.
Esses insumos — essenciais para indústrias de alta tecnologia e baixo carbono, como as de semicondutores, carros elétricos, turbinas eólicas, painéis solares, drones e armamentos — viraram um dos pontos que podem facilitar as negociações entre Brasil e EUA em torno das tarifas de importação sobre produtos brasileiros na maior economia do mundo.
O interesse americano nessas reservas em meio à queda de braço com a China, maior exportadora e dona da maior reserva global de ETRs, foi manifestado pela Embaixada dos EUA ao Ibram, e o presidente Lula já disse que o tema pode entrar nas conversas.
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O Brasil tem interesse em atrair investimentos para explorar ETRs, cuja produção demanda uma cadeia industrial de beneficiamento.
Os oito projetos mais adiantados no país foram mapeados em um relatório do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), feito com o Ibram e instituições de pesquisa. Estão à frente deles empresas estrangeiras, principalmente pequenas mineradoras de capital aberto, conhecidas como “junior mineral companies”, de EUA, Austrália e Canadá.
Apenas um já produz, o da Serra Verde Mineração, que fica no norte de Goiás e é controlado por duas empresas americanas (Denham Capital e EMG) e uma britânica (Vision Blue). Os outros ainda estão em diferentes estágios de pesquisa das reservas, mas a expectativa é que acelerem o ritmo agora.
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Aportes em alta
O mapeamento do Ibram já mostra investimentos em alta, já que a previsão entre 2024-2028 era menor, de US$ 1,5 bilhão (R$ 7,9 bilhões). O aumento para os R$ 11,5 bilhões de 2025-2029 se dá em meio à corrida de americanos e europeus por outros fornecedores que não a China, após os chineses usaram seu poder de monopólio para restringir as exportações de ETRs e ímãs de terras-raras para os EUA, em reação ao tarifaço de Trump.
Para acadêmicos, consultores e executivos, o Brasil se destaca nesta nova dinâmica pelo tamanho e pela qualidade das reservas.
— O Brasil conta com diversos atributos que poderiam sustentar o desenvolvimento de uma indústria de terras-raras com relevância global. Entre eles estão legislação e sistema de licenciamento mineral estabelecidos, mão de obra qualificada e acesso à infraestrutura consolidada, especialmente em energia renovável — diz Ricardo Grossi, presidente da Serra Verde Mineração, em comentário por escrito.
As reservas do Brasil somam 21 milhões de toneladas totais de óxidos de terras-raras (TREO, em inglês), atrás só da China, conforme o Serviço Geológico dos EUA (USGS). Os projetos mais avançados, em Minas, Goiás, Bahia e Amazonas, somam 38% disso, com capacidade de produzir 7,98 milhões de toneladas de TREOs, segundo o relatório do Cebri e informações das empresas.
— Nenhum país sozinho vai conseguir dar conta desse desafio — diz Rafaela Guedes, senior fellow da entidade.
O Brasil tem ainda outros 12 projetos nessa área, a maioria ainda sem reservas estimadas. A Terra Brasil Minerals espera concluir nos próximos meses a venda de uma fatia minoritária de suas ações para investidores internacionais como forma de levantar US$ 1 bilhão (R$ 5,3 bilhões) para um projeto em Patos de Minas (MG) que combina ETRs com fosfato e potássio, usados na fabricação de fertilizantes, informou a Reuters.
Qualidade na argila
Em qualidade, o Brasil está numa posição única fora da Ásia: tem ETRs em depósitos de argila iônica. Reservas desse tipo, na província de Jiangxi, no centro-sul da China, foram o diferencial do país asiático para dominar o setor. Essa mesma característica atraiu para Minas a Viridis Mining & Minerals, junior mineral que atua em Brasil, Canadá e Austrália, onde tem capital aberto na Bolsa ASX.
A companhia planeja investir US$ 356 milhões (R$ 1,9 bilhão) em seu projeto de Poços de Caldas (MG), que deve começar a produzir em 2028 com tecnologia desenvolvida na China. De forma simplificada, a extração é feita com a lavagem da argila, com sulfato de amônia, no local.
— A argila iônica dentro do vulcão de Poços de Caldas (MG) é única, é a melhor reserva do mundo. No sul da China, a média de óxidos de terras-raras na argila é de 600 a 700 gramas por tonelada. Em Poços de Caldas, vamos iniciar a lavra com 4 quilos por tonelada — diz Klaus Petersen, diretor-executivo e country manager para o Brasil da Viridis.
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Antonio de Castro, gerente de exploração da Brazilian Critical Minerals (BCM), outra mineradora de capital aberto na Bolsa australiana, diz que a transposição de tecnologia chinesa para o Brasil também dá viabilidade econômica ao seu projeto no sul do Amazonas, barateando o investimento necessário. A BCM prevê US$ 55 milhões (R$ 292 milhões), abaixo dos demais.
— Não é o momento de inventar e, sim, de copiar. Toda a Ásia faz (a lixiviação, uma espécie de lavagem) in situ (no local). Resolvemos fazer também — diz Castro, prevendo o início das operações para 2027. — Hoje, a BCM é a única empresa no Ocidente que está caminhando para produzir como os chineses e os asiáticos produzem (fora da China).
Outro exemplo é o da Aclara, mineradora canadense listada na Bolsa de Valores de Toronto (TSX) e controlada pelo empresário peruano Eduardo Hochschild, do Grupo Hochschild, e pela CAP S.A., conglomerado chileno que atua em mineração, siderurgia e infraestrutura. A empresa investirá US$ 680 milhões (R$ 3,6 bilhões) no norte de Goiás, para começar a produzir em 2028.
— Em projetos de argilas iônicas, que estão presentes no Brasil, há espaço para rotas de extração com menor impacto ambiental, alta recirculação de água e reaproveitamento de reagentes — diz José Augusto Palma, vice-presidente executivo da Aclara, em comentário por escrito.
Apesar do entusiasmo, não faltam obstáculos para o desenvolvimento do setor no Brasil. Baixa competitividade industrial, restrições de financiamento e ausência de um marco regulatório claro, que priorize licenças ambientais, são alguns citados por executivos. Queixam-se do “Custo Brasil” num setor muito sensível às condições de capital. Como mostra a China, a produção de ETRs — assim como a de outros minerais críticos, como lítio, grafita e nióbio — depende de uma dimensão industrial complementar, pois a produção desse tipo de insumo requer beneficiamento.
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O investimento da China no setor, mantido estrategicamente por Pequim desde os anos 1980, deu-se com saltos tecnológicos que derrubaram custos de produção. Agora, enfrentar a competitividade da China não é simples. O domínio chinês se dá tanto na primeira quanto na segunda fase do beneficiamento — que separa os ETRs em óxidos de cada um dos elementos — e também na terceira, a sofisticada produção de ímãs especiais e outros insumos essenciais para a indústria de tecnologia.
— Estive na China em 1992, visitando os laboratórios que estavam trabalhando com os ímãs de terras-raras naquele momento, e era incrível como os laboratórios acadêmicos estavam se transformando em empresas — conta Fernando Landgraf, professor da Escola Politécnica da USP.
Segundo Landgraf, a corrida por alternativas à China nos ETRs precisa ir além da pesquisa de reservas e concessões. Passa por investimentos nas demais fases, pois nem EUA nem a Europa têm capacidade de refino para atender a demanda ocidental. A produção de baixo custo chinesa inviabilizou vários projetos similares fora da Ásia nos últimos anos.
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Por outro lado, esse desafio é uma oportunidade de atração de investimentos e negócios para o Brasil. Por enquanto, os projetos em desenvolvimento no país focam na primeira etapa da cadeia de produção, que resulta em carbonatos de ETR, com os elementos ainda misturados — embora alguns investimentos já prevejam posterior beneficiamento no Brasil ou no exterior, como é o caso da Viridis e da Aclara, que já prevê uma refinaria nos EUA.
Projeto de lei propõe incentivos
Um projeto de lei (PL) tramita no Congresso para dar ao Brasil uma Política Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos. O relator, deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), já indicou informalmente nas linhas gerais de seu parecer um pacote de incentivos para atrair investimentos em beneficiamento e refino.
Aldeias quenianas e floresta estão no centro da disputa global sobre terras-raras
Parte dos especialistas defende políticas industriais para o setor, embora incentivos malsucedidos do passado sejam frequentemente citados como sinal de alerta. Executivos apontam a importância de priorizar e agilizar os processos de licenciamento ambiental, ainda que seja mantido o rigor. Por outro lado, a mineração é um dos setores que mais preocupam ambientalistas.
— Temos um problema estrutural: é difícil desenvolver indústria no Brasil — diz Aline Nunes, gerente de Assuntos Minerários do Ibram. — Sem incentivos fiscais e atração de investimentos é impossível.
O relatório de Jardim deve prever um pacote com benefícios tributários, autorização para emissão de títulos de dívida incentivados — similares às chamadas “debêntures de infraestrutura”, com isenção tributária — e o Fundo Garantidor da Atividade Mineral, destinado à concessão de garantias a financiamentos para pequenas mineradoras, que têm caixa apertado e poucos ativos. A falta de garantias é um obstáculo até mesmo para créditos do BNDES, que estimula investimentos produtivos. Os benefícios não seriam restritos ao setor de terras-raras.
A CBMM é apontada como um paradigma. O desenvolvimento do mercado global de nióbio — usado para melhorar ligas de aço e que tem sido testado em baterias — está ligado a investimentos da empresa da família Moreira Salles em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias de refino e aplicações para a matéria-prima. Hoje, o Brasil domina 90% da produção mundial do nióbio, sem incentivos específicos, embora André Pimenta, coordenador do Instituto de Terras-Raras do Senai de Minas, aponte o apoio do governo mineiro ao longo dos anos.
A CBMM evita comentar políticas de incentivo, mas ressalta, em nota, que “não vende minério, somente produtos industrializados de alto valor agregado, buscando maximizar a geração de valor e avançar na cadeia produtiva”. Investe até R$ 300 milhões por ano em tecnologia, em “mais de 200 projetos em parceria com universidades, centros de pesquisa e clientes”.
O BNDES promete para o início de 2026 a aprovação dos primeiros projetos da Chamada Pública de Planos de Negócios para Investimentos em Transformação de Minerais Estratégicos, que distribuirá R$ 5 bilhões, em parceria com a Finep, agência de fomento à inovação do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Em junho, a primeira etapa de seleção da chamada escolheu 56 projetos, que preveem R$ 45,8 bilhões. Embora os R$ 5 bilhões disponíveis — para crédito, títulos de dívida e até investimentos em participação acionária — pareçam pouco perante os planos de investimento, BNDES e Finep veem espaço para conseguir mais recursos ao longo do tempo.
— A corrida dos minerais críticos não é de curto prazo — diz o diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do BNDES, José Luís Gordon, evitando adiantar quaisquer detalhes, seja de valores ou tipos de minerais, sobre os primeiros projetos que deverão ser aprovados na chamada. — Estamos conversando com as empresas sobre os planos de negócios, entendendo as demandas de médio prazo.
O Ministério de Minas e Energia (MME) diz, em nota ao GLOBO, que está “contribuindo para que o marco regulatório resultante ofereça segurança jurídica, previsibilidade e ambiente competitivo para investidores e operadores”. E defende, no caso das terras-raras, “o domínio de tecnologias de separação e refino”. “A visão do MME é de que o desenvolvimento da cadeia de terras raras deve ocorrer de forma integrada, sustentável e com foco na agregação de valor no país”, diz a nota.
Fonte:https://oglobo.globo.com/economia/negocios/noticia/2025/12/07/disputadas-no-mundo-terras-raras-mobilizam-r-115-bi-em-8-projetos-que-vao-explorar-um-terco-da-reserva-do-pais-ate-2029.ghtml
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