COGUMELOS PSICODÉLICOS PODEM FREAR O ENVELHECIMENTO? ESTUDO INDICA AUMETO DA LONGEVIDADE EM CAMUNDONGOS

 

Equipe constatou que o uso da psilocina prolongou a vida útil celular das células da pele e do pulmão humano em mais de 50% — Foto: Pexels

Cogumelos psicodélicos podem frear o envelhecimento? Estudo indica aumento de longevidade em camundongos

A psilocibina, presente nos cogumelos alucinógenos, retardou o envelhecimento celular e melhorou indicadores físicos nos animais, segundo pesquisa das universidades de Emory e Baylor

Por 

Renata Turbiani

14/07/2025 09h22  Atualizado há 2 meses

A psilocina, um subproduto do consumo de psilocibina, o ingrediente ativo dos cogumelos psicodélicos, pode ser um aliado no retardo do envelhecimento, segundo um estudo recente publicado no Nature Partnering Journal Aging e realizado por pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Emory e da Faculdade de Medicina de Baylor, ambos dos Estados Unidos.

A equipe constatou que o uso da substância prolongou a vida útil celular das células da pele e do pulmão humano em mais de 50%. Paralelamente, foi conduzido um estudo in vivo de longo prazo que avaliou os efeitos sistêmicos em camundongos com 19 meses de idade, ou o equivalente a 60-65 anos humanos.

Pelos resultados, os animais que receberam uma dose inicial baixa de psilocibina de 5 mg, seguida por uma dose alta mensal de 15 mg por 10 meses, tiveram um aumento de 30% na sobrevida em comparação com os que não receberam nenhuma dose. O primeiro grupo ainda apresentou características físicas mais saudáveis, como melhor qualidade da pelagem, menos pelos brancos e crescimento capilar renovado.

Tradicionalmente, a substância em questão é pesquisada por seus benefícios à saúde mental, mas o recente trabalho sugere que ela impacta múltiplas características do envelhecimento, reduzindo o estresse oxidativo e preservando o comprimento dos telômeros.

Importante abrir um parêntese para explicar que os telômeros são as capas protetoras de sequências repetitivas de DNA localizadas nas extremidades dos cromossomos. Eles protegem os cromossomos de danos que podem levar à formação de doenças relacionadas à idade, como câncer, neurodegeneração ou doenças cardiovasculares, e encurtam à medida que envelhecemos.

As descobertas também sugerem que a psilocina leva ao aumento da expressão de SIRT1, que está associada à regulação da longevidade, bem como a outros marcadores celulares que indicam melhores respostas a danos no DNA.

“A maioria das células do corpo expressa receptores de serotonina, e este estudo abre uma nova fronteira sobre como a psilocibina pode influenciar os processos de envelhecimento sistêmico, principalmente quando administrada mais tarde na vida”, disse Louise Hecker, autora sênior e professora associada de Medicina no Baylor.

Ali John Zarrabi, diretor de pesquisa psicodélica do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Emory, acrescentou que a pesquisa fornece fortes evidências pré-clínicas de que a psilocibina pode contribuir para um envelhecimento mais saudável — não apenas uma expectativa de vida mais longa, mas uma melhor qualidade de vida na velhice.

“Como médico-cientista de cuidados paliativos, uma das minhas maiores preocupações é prolongar a vida em detrimento da dignidade e da funcionalidade. Mas esses camundongos não estavam apenas sobrevivendo por mais tempo — eles vivenciaram um envelhecimento melhor”, afirmou.

Kosuke Kato, principal autor do estudo e professor assistente de Pneumologia no Baylor, salientou que as descobertas abrem um novo capítulo “empolgante” na pesquisa com psicodélicos, que vai além de seus benefícios neurológicos e psicológicos.

“A psilocibina pode representar um agente disruptivo que promove o envelhecimento saudável. Os próximos passos precisam explorar os efeitos terapêuticos em diversas doenças relacionadas à idade”, complementou. “É importante observar que pesquisas adicionais são necessárias para validar essas descobertas em estudos com humanos”, disse Kato.

Segundo ele, ainda há muito a entender, incluindo protocolos de dosagem ideais que levarão à eficácia máxima e riscos potenciais do tratamento a longo prazo. Mas, uma vez validado em estudos com humanos, “o uso da psilocibina pode oferecer novas opções para o envelhecimento saudável e doenças potencialmente associadas à idade”, finalizou.

Fonte:https://epocanegocios.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2025/07/cogumelos-psicodelicos-podem-frear-o-envelhecimento-estudo-indica-aumento-de-longevidade-em-camundongos.ghtml