Segredo dos 117 anos? Cientistas estudam genes da mulher mais velha do mundo
Pesquisadores apontam fatores genéticos e de estilo de vida que ajudaram Maria Branyas a chegar tão longe
Por The New York Times — Washington
26/09/2025 04h01 Atualizado agora
Maria Branyas Morera, considerada a pessoa viva mais velha do mundo à época, fez um pedido derradeiro antes de morrer. “Por favor, me estude”, disse ela a Manel Esteller, chefe de genética da Faculdade de Medicina da Universidade de Barcelona. Moradora de Olot, na Espanha, ela morreu no verão passado, aos 117 anos.
Esteller e um grupo de colegas atenderam ao desejo. Examinaram amostras de sangue, saliva, urina e fezes da Sra. Branyas para tentar compreender os motivos de sua longevidade.
Segundo artigo publicado nesta quarta-feira (24) na revista Cell Reports Medicine, a resposta está, em parte, no estilo de vida. Ela seguia a dieta mediterrânea, não fumava nem bebia e caminhava diariamente por uma hora até o início dos anos 2000, quando as limitações físicas se intensificaram. Além disso, contou com a chamada “loteria genética”, com variantes associadas à proteção contra colesterol alto, demência, doenças cardíacas e câncer.
“Ela tinha células que pareciam mais jovens do que sua idade”, afirmou Esteller.
O papel do microbioma
Outro fator apontado pelo estudo foi o microbioma de Branyas, com baixa inflamação e presença abundante de bactérias benéficas, como a Bifidobacterium, cujo crescimento pode ser estimulado por iogurte. Ela consumia três unidades por dia.
“Altos níveis de inflamação estão ligados ao envelhecimento acelerado”, explicou o geneticista.
Para a geneticista Immaculata De Vivo, da Universidade de Harvard, que não participou da pesquisa, as conclusões são “cientificamente razoáveis”. No entanto, ela ressalvou que é preciso cautela: “Resultados de casos individuais não têm o mesmo peso que estudos populacionais grandes e controlados”.
Em outras palavras, bons genes e microbiomas não garantem, sozinhos, uma vida longa.
Já Mary Armanios, oncologista e geneticista da Faculdade de Medicina Johns Hopkins, foi ainda mais cética. Ela questionou a capacidade de certas variantes genéticas preverem longevidade. “A genética da longevidade é notoriamente confusa”, disse. Pesquisadores costumam comparar genes de centenários aos de pessoas mais jovens, mas não há como saber se estas últimas viverão tanto.
“O ideal seria ter perfis genéticos realmente preditivos, mas isso é muito difícil”, acrescentou.
Além da genética, o contexto social
Armanios também destacou que fatores socioeconômicos influenciam fortemente a expectativa de vida. Em Baltimore, por exemplo, a diferença pode chegar a 20 anos entre moradores do centro e dos subúrbios.
“Existe, sim, uma genética ruim que limita a longevidade”, afirmou. “Mas não está claro se a boa genética, sozinha, é capaz de superar barreiras socioeconômicas.”
Mesmo assim, Branyas parecia excepcionalmente resiliente.
Nascida em São Francisco, em 1907, filha de espanhóis que migraram para os Estados Unidos a trabalho, ela perdeu o pai aos 8 anos e retornou com a mãe para a Espanha. Casou-se e teve três filhos: um morreu aos 52 anos, e as duas filhas ainda vivem, hoje com 92 e 94 anos.
Outros membros da família tiveram destinos comuns — Alzheimer, câncer, tuberculose, insuficiência renal, doenças cardíacas. Ela, no entanto, sobreviveu a todos.
Branyas reunia os pré-requisitos apontados como ideais para a longevidade: genética favorável, estilo de vida saudável e forte rede social. “À medida que amigos partiam, ela fazia novos”, relatou Esteller. Ela e a família viveram sempre na mesma cidade.
Independente até 2001, mudou-se para uma casa de repouso quando já tinha dificuldades para andar. Tocou piano até cerca de cinco anos atrás.
“Ela viveu de forma saudável”, resumiu Esteller.
Fonte:https://oglobo.globo.com/saude/ciencia/noticia/2025/09/26/segredo-dos-117-anos-cientistas-estudam-genes-da-mulher-mais-velha-do-mundo.ghtml
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