'ANORA', GRANDE VENCEDOR DO OSCAR 2025. GANHA CINCO ESTATUETAS; LEIA CRÍTICA
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Cena de 'Anora', filme de Sean Baker ('Projeto Flórida') que levou a Palma de Ouro no Festival de Cannes — Foto: Divulgação Anora’, grande vencedor do Oscar 2025, ganha cinco estatuetas; leia crítica Além de melhor filme, longa de Sean Baker também venceu nas categorias melhor atriz (Mikey Madison), diretor, montagem e roteiro original Por Daniel Schenker — Rio de Janeiro 03/03/2025 01h38 Atualizado há 11 horas Do início ao fim de “Anora”, filme de Sean Baker vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, quase ninguém se entende. Considerando o desencontro de expectativas, não haveria mesmo como as relações darem certo. Vejamos: Anora (interpretada com energia contagiante por Mikey Madison) sobrevive com dificuldade como stripper numa boate em Nova York e, entre a ingenuidade e a esperteza, aposta tudo no casamento com um jovem milionário, Vanya (Mark Eydelshteyn). Mas, além de dinheiro, o rapaz esbanja alienação e inconsequência. Para completar, ele tem uma mãe que é uma fera — Galina (Darya Ekamasova), que conduz a situação de maneira brutal.Já os capangas da família de Vanya são mais atrapalhados do que ameaçadores. Um, inclusive, se destaca pelo bom coração. É Igor (Yura Borisov, excelente), cada vez mais sensibilizado diante da via-crúcis enfrentada por Anora depois que os planos dela desmoronam de forma cruel. Sincero e escrupuloso, Igor parece saído de um filme do finlandês Aki Kaurismaki. Seu perfil equilibrado contrasta com o descontrole geral, manifestado na briga física entre Anora e os capangas e em todo o trecho da caótica procura por Vanya.Também autor do roteiro, Baker não demonstra pleno domínio do timing, problema perceptível em algumas sequências um tanto esgarçadas. Em compensação, o diretor, responsável pelos ótimos “Tangerine” (2015) e “Projeto Flórida” (2017), confirma a grande vitalidade do seu cinema. Vale dizer ainda que a cena final fica gravada na memória. Bonequinho aplaude. Fonte:https://oglobo.globo.com/rioshow/cinema/guia/anora-grande-vencedor-do-oscar-2025-ganha-cinco-estatuetas-leia-critica.ghtml
ANORA | Trailer Oficial (Universal Pictures) - HD
Anora lamenta o mundo onde tudo é transacional - mas sem perder a ternura
Sean Baker continua prosperando no caos catárticoqueresta aos oprimidos Embora seus filmes tenham sempre um certo açúcar que os aproximou muito rapidamente do público jovem que curte cinema independente em busca de uma historinha de conforto para chamar de sua, Sean Baker não é um artista esperançoso. Desde pelo menos o revelador Tangerina (2015) que o cineasta estadunidense se acerca das histórias de grupos marginalizados e oprimidos através do humor e do movimento - seus filmes são vivos, não só na espontaneidade da contratação de atores amadores, mas também de forma bastante calculada dentro da linguagem e do ritmo que Baker impõe a eles na arquitetura de cada cena.No fim das contas, no entanto, o humor está ali mesmo para cumprir a sua função mais básica de escape. Baker entende que, no beco sem saída em que a classe trabalhadora é colocada, o caos e a risada são as únicas catarses, a única maneira de criar uma ilusão de que ainda estamos saindo por cima dessa disputa. E Anora, que venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes 2024 e o Oscar 2025 de Melhor Filme, repete essa fórmula com garra e inteligência o bastante para criar a mesma lealdade entre personagens e espectador que fez dos filmes anteriores de Baker um sucesso entre o público que - teoricamente - menos tem a ver com ele.Dessa vez, a personagem-título (Mikey Madison, de Pânico 5) é uma dançarina exótica e prostituta que acredita ter achado o seu tíquete para uma vida de conto de fadas quando conhece Ivan (Mark Eydelshteyn), o filho de um oligarca russo que vai de cliente a namorado, e de namorado a marido, em um espaço de poucas semanas. Quando a poderosa família do rapaz fica sabendo do matrimônio, no entanto, eles e seus capangas passam a fazer de tudo para separar o casal apaixonado. E tome fugas desesperadas por Nova York, com a nossa Anora presa na furiosa e constante incerteza da validade e segurança de seu laço com o marido - a relação começou como transação, afinal, e nada garante que não continue sendo uma.Esta é uma história, portanto, sobre como a “produtização” das relações humanas criou não só um mundo em que a dignidade da pessoa é um pensamento secundário, como também um mundo onde a insegurança é inconstante. E em dobro para a mulher, cujo corpo é o commodity mais abusado do capitalismo; em dobro para o pobre, que depende da liquidez dessas transações humanas para sobreviver em um sistema que lhe nega um ganha-pão mais sólido, mais estável. Pior ainda, quem está do outro lado dessa troca não poderia estar ligando menos para o fato de que há outra pessoa ali, de-sensitizados à exploração do próximo porque ela é a rotina de quem está no topo da pirâmide social.Anora talvez seja mais eloquente nas elaborações desses discursos do que Projeto Flórida, por exemplo. E Baker, que também assina o roteiro e a montagem, mostra consciência invejável da potência de sua mensagem ao segurar a pisada no freio emocional da trama para os últimos minutos, talvez até segundos, do filme. Mas há também nesse cineasta comedido que parece ter surgido nos últimos anos algo de dissimulação que não existia antes - nos diálogos gritados, situações esdrúxulas e picuinhas mesquinhas de Anora, Baker deixa-se escorregar para o cinema do caos calculado, que é muito menos excitante que o cinema visceral que ele fazia antes.Mas existe a clareza de visão e coração aqui, ainda, e existe a ternura. Enquanto não perder essas coisas, o cineasta dificilmente vai deixar de ser uma das vozes mais interessantes do cinema contemporâneo dos EUA. Avaliação: ÓTIMO Fonte: https://www.omelete.com.br/filmes/criticas/anora-festival-de-cannes-2024-sean-baker
Vencedor da Palma de Ouro em Cannes em 2024, Anora é um conto moderno de Cinderela com um toque agridoce. Dirigido por Sean Baker, cineasta com uma filmografia marcada por retratos sensíveis de grupos ou pessoas marginalizadas, o longa é uma comédia que se assume sem nenhuma vergonha, centrada na vida de Ani (Mikey Madison, em atuação fantástica), uma dançarina erótica/prostituta que trabalha em Brighton Beach, Nova York. Na primeira parte do filme, o diretor nos livra de todo tipo de conflito e, para os mais ansiosos, isso pode gerar uma grande expectativa aliada ao medo de que a fita irá passar sem momentos memoráveis, o que está bem longe de ser verdade. Essa preparação do primeiro bloco é necessária. Nela, o diretor define com muita clareza o Universo de Ivan (Mark Eidelshtein, outra grande atuação da fita), filho de um oligarca russo que está nos Estados Unidos vivendo com os mimos milionários fornecidos pela família, divertindo-se, no sentido mais amplo possível da palavra. O ponto de virada acontece quando ele se casa com Ani e, dias depois, a família descobre e começa a fazer de tudo para anular o casamento.Embora seja perfeitamente compreensível a função narrativa da primeira parte, não dá para negar que ela é muito mais longa do que o necessário. Considerando que a melhor parte da obra — ou, para ser ainda mais exato, o verdadeiro filme — acontece depois da descoberta da família de Ivan, fica muito contrastante a estrutura e a fluidez da obra entre as duas partes. Na primeira, o diretor passeia com a câmera despreocupadamente, como um agente externo que olha, sem muitos julgamentos, para as danças, as drogas, o sexo e os esbanjamentos da juventude ali representada, momento onde também percebemos o quão imaturo e irresponsável é o herdeiro russo. Na segunda, Sean Baker adota um caminho que combina muito mais com a estética dos anos 1970 que disse ter sido sua maior inspiração, tanto na construção improvável e genuinamente hilária da comédia social, repleta de fisicalidade, quanto no conteúdo, que às vezes sugere algo um pouco mais tenso — difícil não pensar que os funcionários da família de Ivan são mafiosos assassinos, porque o diretor brinca o tempo inteiro com essa possibilidade — e logo se mostra outra coisa. É desse ponto em diante que o filme brilha, com todo o elenco na melhor de suas representações, e com a obra fluindo intensamente, de maneira a não dar trégua para o espectador.Mesmo antes do casamento, o espectador saber que esta é uma relação fadada ao fracasso. Primeiro, porque este momento precede a todo um longo estudo sobre o mundo, as motivações e a composição de Ivan como indivíduo. Depois, porque vai ficando cada vez mais evidente as diferenças sociais entre o casal, com a celebração incrédula de Ani, que encontrou resultado em sua busca por amor em circunstâncias improváveis, e os limites impostos pelas estruturas de poder e privilégio. Não deixa de ser a variação de um “conto de fadas moderno“, mas daqueles em que os abismos sociais definem a visão de mundo e a reação dos indivíduos diante das pressões familiares ou similares. Mas não é apenas isso. Considerando a vida de Ani e Ivan, o diretor faz uma investigação cômico-sociológica que descortina a realidade que os cerca, mostrando o lugar de onde eles vêm, como estão preparados para viver suas vidas, realizar seus sonhos e impor-se diante de contrariedades, lutando por aquilo que desejam. Ivan não possui esse poder, porque ele tem absolutamente tudo a perder e nenhuma vontade de deixar os milhões da família para trás. Para ele, tudo é substituível e pode ser comprado. Com a profundidade psicológica de um pires, o personagem aceita as ordens da matriarca e, em poucas horas, despreza e rejeita a mulher que até então tinha sido objeto de sua devoção.Entre a luz neon e delicada das boates e a luz dura dos ambientes externos e diurnos, a estética de Anora reafirma o contraste criado pela narrativa entre os dois atos principais, utilizando diferentes filtros para este conto de fadas que se transforma num pesadelo amoroso e cômico, com recorte de classe e alguns ingredientes de cunho ético e moral a tiracolo. A maior surpresa destoante e dramatúrgica, nesse cenário, é Igor (Yura Borisov), cuja presença silenciosa e ameaçadora do início encaminha-se para uma sensibilidade inesperada, tornando-se um pilar de apoio psicológico para Ani, dando a ela a chance de finalmente confrontar suas emoções reprimidas. Após uma montanha-russa de emoções, a protagonista não sabe realmente o que fazer. Ela tenta encobrir seus sentimentos e traumas através do sexo banal, mas com Igor, isso não é possível, existe uma barreira que ela não consegue ultrapassar. E então é forçada a olhar para dentro e colocar para fora o que estava guardado. Sean Baker deixa para o final a real manifestação da alma da personagem principal, retirando dela o véu do confronto, da força, deixando-a completamente desarmada diante do silêncio honesto, após a perda de uma vida de luxo e a possibilidade do encontro de um verdadeiro parceiro para a vida. Talvez o único momento de honesta realização que Anora teve em muito tempo. Uma realização diante da qual faz todo sentido chorar. Anora (EUA, 2024)Direção: Sean BakerRoteiro: Sean BakerElenco: Mikey Madison, Paul Weissman, Lindsey Normington, Emily Weider, Luna Sofía Miranda, Vincent Radwinsky, Brittney Rodriguez, Sophia Carnabuci, Mark Eidelshtein, Anton Bitter, Ella Rubin, Ross Brodar, Zoë Vnak, Vlad Mamai, Maria Tichinskaya, Ivy Wolk, Karren Karagulian, Vache TovmasyanDuração: 139 min. AVALIAÇÃO: ÓTIMO Fonte: https://www.planocritico.com/critica-anora-2024/#google_vignette
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