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A impotência de mães e pais com as dores dos filhos conforme eles crescem
"Assistir a um filho encarar as dificuldades de ser humano revela as nossas dificuldades mais íntimas, assombra, machuca. A gente queria o poder de arrancar a dor com a mão", desabafa Elisama Santos, sobre como a adolescência complexifica as dores dos filhos - e dos pais que os acompanham nesse processo de amadurecimento e descobertas
Por
Elisama Santos
25/12/2024 08h15 Atualizado há 2 meses
Das dores de crescer, a que mais me assusta é a certeza da minha impotência. Ver um filho chorando porque caiu e ralou os joelhos dói e a gente consola, ampara e sabe que logo passa. Em alguns instantes, a criança pequena já está encantada com a nuvem em formato de ovelha, com o barulho do brinquedo novo, com a música maluca que você acabou de inventar. De repente, o joelho ralado não é mais uma questão e a vida segue, e elas sobem novamente na bicicleta, na árvore, no balanço. A queda vira história numa velocidade maravilhosa.
A adolescência complexifica um tanto as dores. A gente sabe que o choro do coração partido pelo rompimento com um amigo ou por descobrir que aquela paixão não é correspondida não passa tão rapidamente quanto o choro pelo joelho ralado. A dor chega de um jeito diferente, se aboleta como uma visita que não tem a intenção de ir embora. E nos resta consolar, acolher e entender que ela faz parte da vida. Você não tem mais o telefone da mãe de todos os amiguinhos, os problemas relacionais já não se resolvem com um simples: “Vamos levar as crianças para brincar na pracinha hoje?”. A nossa gerência sobre as relações deles, tão grande enquanto pequenos, agora escancara nossa impotência. Sim, podemos bem pouco.
Repito internamente que escutar é fazer alguma coisa. Que não vou conseguir colocá-los numa redoma, que a vida, dentre outras coisas, vai feri-los, como fere a mim, como fere a você. Assistir a um filho encarar as dificuldades de ser humano revela as nossas dificuldades mais íntimas, assombra, machuca. A gente queria o poder de arrancar a dor com a mão. De direcioná-los para as escolhas que nos parecem tão obviamente positivas. Mas eles insistem em manter aquela amizade que vemos que não vale a pena. Bate uma saudade do tempo em que nos angustiávamos porque não queriam comer brócolis e feijão.
O futuro, o bullying, o cyberbullying, a violência urbana, a depressão, a nova automutilação que está sendo difundida na rede social e que a gente não sabia que existia. Haja preocupação para esse coração de mãe. Leio, estudo... e lido com a minha humanidade. Meus esforços não garantem proteção e corações inteiros. Posso apenas assegurar que, enquanto eu estiver viva, não passarão por nenhuma das dores inevitáveis da vida sozinhos. Oferto companhia, colo e escuta, torcendo que seja o suficiente. Mas que eu queria um pouco de tédio, ah, isso eu queria.
Fonte:https://revistacrescer.globo.com/colunistas/elisama-santos-entre-lacos/coluna/2024/12/das-dores-de-crescer-a-que-mais-me-assusta-e-a-certeza-da-minha-impotencia.ghtml
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