SÃO PAULO - BRASIL VIRA MECA DO CONSUMO DE ULTRALUXO

 

Courtyard. do Soho: para ser sócio, é preciso passar por seleção e ter atividade ligada à criatividade. Além de pagar anuidade de R$ 8,1 mil — Foto: Christopher Sturman

São Paulo vira a meca do consumo de ultraluxo

Setor cresce no país a ritmo bem acima da média mundial, e capital paulista se consolida como um polo de atração de investimentos em imóveis de alto padrão, hotelaria sofisticada e clubes exclusivos

Por 

Ana Flávia Pilar

, 

João Sorima Neto

 e 

Mariana Rosário

 — São Paulo

05/01/2025 04h00  Atualizado há 16 horas

A escolha do Brasil para que a Tiffany abrisse sua primeira flagship na América Latina, no Shopping Iguatemi, tem uma razão que diferencia o país de outros mercados. O segmento de luxo está em pleno crescimento no país, num ritmo acima da média mundial. E São Paulo, além da Tiffany, concentra outras grifes como Chloé, Giorgio Armani, Gucci, Givenchy, Louis Vuitton, Prada, Dior, Rolex e Jimmy Choo, voltadas para o público AAA.

Carlos Ferreirinha, especialista em mercado de luxo e autor do livro “O Olhar para o Extraordinário”, explica que São Paulo se tornou a capital do consumo de luxo nos últimos 10 a 15 anos. O setor imobiliário lidera os investimentos em imóveis de altíssimo padrão, mas há também busca por carrões importados, moda, joias e serviços exclusivos, como hotelaria, turismo, gastronomia, beleza e bem-estar.

— Há uma demanda maior por personalização e por exclusividade, aquela sensação de que você está acessando algo único, exclusivo — diz Ferreirinha.

Segundo pesquisa da Bain & Company, a expectativa do setor de luxo é movimentar R$ 130 bilhões por ano até 2030 no Brasil. Em 2022, último ano para o qual a pesquisa traz dados, o movimento foi de R$ 74 bilhões. Os números da Bain mostram alta de 10% das vendas de itens de luxo no mundo, enquanto no Brasil esse crescimento é de 18%.

Imóveis de R$ 12 milhões

Neste mês, a atriz Marina Ruy Barbosa e o noivo, Abdul Fares, compraram um apartamento no Daslu Residence, condomínio de luxo nos Jardins, com entrega prevista para 2028. O prédio conta com simulador de golfe, academia exclusiva e serviços personalizados, como concierge e health coach. Os imóveis, que variam de 114 m² a 350 m², custam a partir de R$ 6 milhões. O apartamento escolhido pelo casal terá quatro suítes, salas integradas, varanda com piscina privativa, área gourmet e três vagas na garagem.

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Já no Complexo Cidade Jardim, o projeto do São Paulo Surf Club prevê uma piscina com tecnologia PerfectSwell da American Wave Machines, que recria ondas artificiais de até 22 segundos em uma extensão de 220 metros. O espaço inclui restaurante, bar, spa, academia e quadras para diversos esportes. A assinatura familiar custa cerca de R$ 900 mil, com anuidade de R$ 25 mil, para cônjuge e três dependentes de até 35 anos. A individual sai por R$ 600 mil, com a mesma anuidade.

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Ricardo Carazzai, especialista em mercado de luxo e professor da Universidade Corporativa Secovi/SP, diz que o mercado de imóveis de ultraluxo tem atraído interessados também no interior de São Paulo. Distante uma hora de São Paulo, na cidade de Porto Feliz, o empreendimento Fazenda Boa Vista tem 12 milhões de metros quadrados, com lagos, mata nativa, campos de golfe e polo, quadras de tênis, squash e poliesportivas. Imóveis de sete quartos no complexo chegam a custar R$ 40 milhões.

Um levantamento da boutique imobiliária Mbras, referência em imóveis de luxo em São Paulo, mostra que o volume de transações acima de R$ 12 milhões cresceu expressivamente desde 2019. Foram 2.565 naquele ano. Em 2024, até outubro, já foram registrados 4.122 negócios.

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R$ 1.600 por 90 minutos

Nos arredores da Avenida Paulista, na Rua Itapeva, o mercado de luxo ganhou um imponente pit-stop com a instalação do hotel Rosewood, em 2022. O empreendimento de cotação seis estrelas foi o pontapé inicial do complexo chamado de Cidade Matarazzo, em um terreno de quase 30 mil metros quadrados onde outrora funcionou um hospital que estava abandonado.

Loja conceito da Tiffany no Shopping Iguatemi. Consumo de luxo no Brasil cresce a um ritmo de 18% — Foto: Maria Isabel Oliveira / Agência O Globo

Uma das principais novidades do hotel é o spa chamado Asaya, no qual os tratamentos são assinados pela maison francesa Guerlain. Há, por exemplo, uma massagem facial feita com gua sha, um tipo de técnica asiática antienvelhecimento com manejo de pedras naturais, ao custo de R$ 1.600 por 90 minutos.

Também na Cidade Matarazzo funciona a única unidade latina do Soho House, um clube exclusivo de abrangência global. Para se afiliar é preciso passar por uma seleção e ter algum tipo de atividade criativa (seja pessoal ou profissional) e pagar uma anuidade de R$ 8,1 mil. No endereço, há noites de jazz, workshops de coquetelaria e eventos privados. Entre as figuras que já passaram pela Soho brasileira estão o piloto Lewis Hamilton e o ator Billy Porter. Os sócios podem ainda se hospedar nas luxuosas instalações do clube.

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São Paulo também vai ganhar uma unidade do hotel Faena, que encanta turistas de Buenos Aires e Miami. Situado a 300 metros da Faria Lima, entre Alto de Pinheiros e Jardins, o empreendimento tem 140 unidades de 300 a 1.000 metros quadrados.

— São Paulo hoje é referência no mercado de superluxo, com empreendimentos acima de R$ 10 milhões que entregam exclusividade e inovação — afirma João Paulo Laffront, diretor de Incorporação da Even, responsável pelo empreendimento, lembrando que 70% dos compradores da empresa têm mais de 40 anos, muitos com renda superior a R$ 400 mil por mês.

Este ano, segundo relatório do banco suíço UBS, o Brasil ganhou 19 novos bilionários (com patrimônio superior a US$ 1 bilhão) e chegou ao total de 60 pessoas nesse grupo de elite. A fortuna somada dos brasileiros cresceu 37,7% em um ano e chegou a US$ 154,9 bilhões (R$ 947 bilhões).

Jatinhos e carrões

Outro termômetro que mostra a alta temperatura do setor AAA são as vendas de carros do chamado segmento premium, que não para de crescer no país, com São Paulo sendo o maior mercado. Levantamento da Bright Consulting mostra que as vendas alcançaram 56,9 mil unidades entre janeiro e setembro de 2024, frente a 47,2 mil no mesmo período do ano passado. São carros como BMW 3-series e modelos Porsche como Cayenne, 911 e Macan, cujos preços variam de R$ 400 mil a R$ 1 milhão.

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A venda de jatinhos também disparou. A JetMatch, especializada na venda e gestão de jatos executivos, estima um aumento entre 15% e 20% na venda no estado de São Paulo este ano. Foram 50 em 2023 e cerca de 60 em 2024. São jatos que podem custar US$ 50 milhões, como o G450, da Gulfstream, com cabine espaçosa e luxuosa.

De olho nesse público e para agradar atuais e potenciais clientes, o BTG lançou em novembro um terminal VIP em Guarulhos para o passageiro fugir de filas, ter exclusividade no despacho das malas, além de acessar menu e drinques estrelados. O custo é de US$ 590 por pessoa e, se quiser driblar o trânsito, pode pegar um helicóptero na Faria Lima até Guarulhos desembolsando mais US$ 950 pelo transporte e uso do terminal.

Fonte:https://oglobo.globo.com/economia/negocios/noticia/2025/01/05/sao-paulo-vira-a-meca-do-consumo-de-ultraluxo.ghtml