Para especialistas ouvidos este ano a IA será colocada à prova. Muitas promessas não foram cumpridas da forma como foram vendidas, avalia o professor da PUC-SP, Diogo Cortiz, que prevê “um ano de ajustes”.
Estão no radar ainda os avanços da China na tecnologia, a aposta da Nvidia para os robôs humanoides alimentados por IA e as dúvidas sobre o modelo de negócios da OpenAI.
O que será da OpenAI?
Uma das questões é como ficará uma das empresas mais poderosas da indústria de IA. No fim de 2024, a criadora do ChatGPT divulgou documento em que detalhava planos para mudanças em sua estrutura societária.
Pensada inicialmente como uma organização voltada para pesquisas, atualmente avaliada em US$ 157 bilhões, a OpenAI informou que pretende criar uma divisão voltada para lucro, com ações ordinárias, e uma outra sem fins lucrativos.
Essa mudança deve atrair mais investidores e acelerar o desenvolvimento de novas tecnologias. A reorganização vem em meio à pressão por resultados financeiros e um objetivo ambicioso: saltar de 300 milhões de usuários ativos por semana para 1 bilhão, segundo o CEO Sam Altman.
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Cumprir essas “resoluções de ano novo”, no entanto, não será simples. A OpenAI ainda deve enfrentar o crescimento de rivais como Anthropic e Google. E terá de responder a questionamentos legais — Elon Musk entrou na Justiça para contestar a mudança societária da empresa — e lidar com tensões com a Microsoft, sua principal investidora.
Para Monica Magalhães, especialista em inovação da Agência Disrupta, a reestruturação da OpenAI é um meio para a empresa acelerar os investimentos na criação de uma AGI — sigla em inglês para inteligência artificial geral, uma IA com capacidades similares às de humanos. Nessa disputa, ressalta, o Google ganhou espaço em 2024:
— A OpenAI provavelmente entendeu que precisará de mais dinheiro para chegar primeiro à AGI e que o apoio da Microsoft não será suficiente.
O ano dos agentes
Os “agentes” devem ser expandidos em 2025, avaliam pesquisadores. Os sistemas de IA que realizam tarefas autônomas são uma aposta do setor para ampliar ganhos de produtividade e aumentar a base de usuários dos serviços. Diferentemente de um bot, que responde a solicitações, os agentes podem ser programados para realizar tarefas de forma independente, além de interagirem com sistemas externos e com outras IAs.
A OpenAI, segundo a Bloomberg, deve lançar este ano um agente capaz de controlar computadores. O sistema será semelhante ao Claude 3.5, da Anthropic, surgido em 2024, que é capaz de acessar sites, analisar documentos, automatizar o preenchimento de cadastros e gerenciar compromissos.
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O Google, que vende para empresas sistemas que podem construir agentes para tarefas corporativas, também trabalha em uma IA no Chrome que poderá fazer compras on-line, reservas em hotéis e buscas. Na Microsoft, os agentes estão disponíveis para assinantes do serviço do Copilot, em ferramentas como Outlook e Teams.
Na avaliação de Cortiz e do especialista em Tecnologia e Inovação Arthur Igreja, os agentes devem ser o grande foco da indústria este ano. Mas fazem um alerta:
— As empresas precisarão ter muito cuidado com o tema da alucinação, ou seja, a IA pode parecer convincente, articulada, mas pode estar inventando, criando algo absurdo, o que pode causar danos de imagem, reputacionais e operacionais para as empresas — diz Igreja.
Para o professor da PUC-SP, esse é um tema que ainda precisa ser mais debatido, em um momento em que a IA generativa tem integrado sistemas de celulares, redes sociais e aplicativos:
— É possível mitigar as alucinações, mas não eliminá-las completamente. Isso traz desafios enormes de segurança e governança.
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E o lucro?
Depois de US$ 165 bilhões investidos em 2024, Amazon, Microsoft, Google, Oracle, Meta e Apple projetam aumentar em 20,9% seus aportes no próximo ano, com foco em uma infraestrutura voltada para a IA generativa (capaz de criar conteúdo), segundo análise da Bloomberg Intelligence.
A disparidade entre o entusiasmo com a IA e os resultados da tecnologia para os negócios, no entanto, deve se manter no radar dos investidores para o próximo ano. Depois da disparada de ações do setor — só a Nvidia se valorizou em quase 190% nos últimos 12 meses —, parte do mercado começou a temer um “estouro da bolha da IA” em 2025.
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— Como toda tecnologia, tem aquela fase exploratória, depois o período de se perceber o que pode funcionar para determinado segmento e negócio, e depois uma fase de se extrair o retorno, de ter os indicadores, o retorno financeiro — explica Igreja.
Além das dúvidas de investidores, as empresas têm o desafio de lidar com o impacto ambiental da tecnologia. Devido ao elevado consumo de energia dos data centers, as big techs terão de buscar alternativas. Magalhães destaca que empresas como Google, Amazon e Meta já estão investindo em projetos de energia nuclear, por exemplo.
Limites da IA e modelo o3
Outro desafio é a limitação técnica para o avanço dos modelos de IA, afirma Cortiz, da PUC-SP:
— A IA depende de dados, e eles estão se esgotando. Do ponto de vista técnico, essa foi a questão mais discutida: o que era a escala (de desenvolvimento) dos últimos dez anos está chegando ao fim. Vamos ter que pensar em novas formas de treinar modelos.
O pesquisador destaca que, perto do fim de 2024, surgiram alternativas a serem exploradas. Em dezembro, a OpenAI lançou o o3, sistema que foi aperfeiçoado com um método conhecido como chain of thought (cadeia de pensamento), que permite à IA "quebrar" problemas complexos em etapas menores e resolvê-los de maneira estruturada, algo mais próximo do “raciocínio” humano.
O método permite que a IA possa “lidar com problemas mais complexos” que exigem raciocínio, como matemática e física, destaca Cortiz, e são uma alternativa para avanços.
Robôs humanoides e regras
A fabricante de chips para IA Nvidia terá nos robôs humanoides um de seus focos este ano. Segundo o jornal britânico Financial Times, ela deve lançar uma nova geração de computadores compactos para esses robôs.
— AMD e Google estão avançando no desenvolvimento de chips, então a Nvidia entendeu que precisa abrir um mercado paralelo, para além do chip de IA. E esse mercado de robôs pode ser o diferencial — avalia Magalhães.
A disputa tecnológica entre EUA e China vai se acirrar. Entre as big techs chinesas, a Alibaba desponta como uma das mais competitivas. Em setembro a empresa lançou o Qwen 2.5, uma família de modelos de linguagem que, em testes, superou rivais como ChatGPT e Gemini em métricas de raciocínio e codificação.
Para Cortiz, este ano a China deve se consolidar como potência tecnológica. Ele lembra ainda que a volta de Donald Trump à Casa Branca pode intensificar a agenda de desregulação nos EUA, inclusive como estratégia para a disputa com a China. Trump já sinalizou que poderá flexibilizar regras para IA.
No Brasil, as regras para a IA, já aprovadas no Senado, seguirão para a Câmara.
— Países fora do centro de desenvolvimento, como o Brasil, precisam equilibrar a regulação com o estímulo à inovação. É essencial criar um ambiente saudável que permita avanços tecnológicos sem comprometer o controle e a segurança — diz o professor da PUC-SP.
Fonte:https://oglobo.globo.com/economia/tecnologia/noticia/2025/01/01/inteligencia-artificial-em-2025-desafios-serao-dar-lucro-e-manter-ritmo-de-expansao.ghtml
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