DO EL NINO À AÇÃO HUMANA: ENTENDA POR QUE O BRASIL REGISTROU O ANO MAIS QUENTE DE SUA HISTÓRIA PELA SEGUNDA VEZ SEGUIDA
A temperatura média no ano passado ficou em 25,02°C no país. Esse valor é 0,79°C acima da média histórica de 1991 a 2020 (de 24,23°C). E ficou 0,69°C acima do patamar registrado em 2023. Além disso, as cinco maiores médias anuais foram registradas entre 2016 e 2024. De acordo com o Inmet, todos esses anos estavam sob influência do fenômeno El Niño (aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico no Hemisfério Sul), “com intensidade de forte a muito forte”. Inclusive em 2023 e nos primeiros meses de 2024.
“Após análise dos desvios de temperaturas médias anuais do Brasil desde 1961 a 2024, o Inmet verificou uma tendência de aumento estatisticamente significativo das temperaturas ao longo dos anos, que pode estar associada à mudança no clima em decorrência da elevação da temperatura global e mudanças ambientais locais”, diz o comunicado do instituto, vinculado ao Ministério da Agricultura e Pecuária.
De acordo com José Marengo, coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), a maior concentração de gases do efeito estufa, causada pela atividade humana, potencializa os efeitos do El Niño, fenômeno que altera a circulação na atmosfera. O resultado são chuvas mais fortes no Sul e no Sudeste do Brasil e secas no Norte, problemas que o país teve de enfrentar no ano passado.
— A combinação do El Niño, que é um fenômeno natural, com a influência humana cada vez mais forte é o motivo pelo qual temos o ano mais quente pelo segundo ano seguido — afirma o especialista, que faz parte do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), criado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e a Organização Meteorológica Mundial.
Marengo explica que ainda é difícil prever se 2025 seguirá a mesma tendência. Há a chance de que o ano registre o fenômeno La Niña, que reduz as temperaturas do Oceano Pacífico. Neste caso, aumentam as chuvas no Norte e no Centro-Oeste brasileiro, e secas para o Sul do país.
— O La Niña era previsto, mas está demorando a se formar. Existe até a possibilidade de ela não ocorrer. Se acontecer, o ano segue quente, mas não deve bater um novo recorde como em 2023 e 2024 — avisa.
O resultado desses recordes de temperatura foi um aumento do número de eventos climáticos extremos, com mortes e prejuízos financeiros. Pesquisadores apontam, desde 2020, um crescimento alarmante de episódios com vítimas no Brasil.
De acordo com um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), elaborado pela Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica, o Brasil teve uma média anual, entre 2020 e 2023, de 4.077 desastres relacionados ao clima. O número é quase o dobro dos 2.073 desastres registrados anualmente, em média, nas duas décadas de 2000 a 2019.
Além das enchentes do Rio Grande do Sul, em maio, quando 183 pessoas morreram e 478 cidades foram afetadas, 2024 também registrou o maior número de queimadas em 17 anos. O país chegou a ter 60% do seu território coberto pela fumaça.
Na Amazônia, seis rios atingiram mínimas históricas, inclusive alguns fundamentais para a região, como o Negro e o Solimões, que formam o Amazonas. Eles começaram a sofrer a diminuição do volume d'água ainda mais cedo do que em 2023, quando a região também sofreu com a falta de chuvas.
O coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Cemaden diz que o Brasil teve, em 2024, nove episódios de ondas de calor intensas.
— Esses episódios são graves em áreas como o Sul do país e em São Paulo. Afetam as pessoas, a agricultura e também contribuem para gerar chuvas intensas — explica Marengo.
Tendência global
O Inmet aponta ainda que a temperatura média da superfície global ficou 1,54°C acima da média histórica registrada entre 1850 e 1900, até setembro do ano passado, segundo a versão provisória do Estado Global do Clima 2024, publicada pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) em novembro.
Com este valor, o ano de 2024 tende a superar a temperatura média global de 2023, o mais quente até então, afirma o Inmet: “Por 16 meses consecutivos (junho de 2023 a setembro de 2024), a temperatura média global provavelmente excedeu qualquer registro anterior, de acordo com a análise consolidada dos conjuntos de dados da OMM”.
Karina Bruno Lima, pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), lembra que segundo a projeção mais recente do Met Office, o serviço nacional de meteorologia do Reino Unido, 2025 deve ficar entre os três anos mais quentes globalmente, perdendo apenas para 2023 e 2024:
— Isso porque, até o momento, não é esperado que tenhamos El Niño em 2025 — explica a pesquisadora.
Fonte:https://oglobo.globo.com/brasil/meio-ambiente/noticia/2025/01/04/do-el-nino-a-acao-humana-entenda-por-que-o-brasil-registrou-o-ano-mais-quente-de-sua-historia-pela-segunda-vez-seguida.ghtml
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