Ela destaca que o ioga, em especial, a ajuda a manter-se mentalmente ativa. Mesmo com sua idade avançada, Taylor continua realizando a prática – embora agora o faça mais frequentemente em uma cadeira do que no tapete.
Como uma iogue (praticante de ioga) idosa e, acima de tudo, mentalmente saudável, a centenária não está sozinha. Muitos dos mais notáveis praticantes da técnica milenar viveram vidas longas e saudáveis. Um exemplo é B.K.S. Iyengar, provavelmente o professor de ioga mais famoso de nossa época. Na infância, ele recebeu o diagnóstico de apenas alguns anos de vida após contrair simultaneamente malária, febre tifoide e tuberculose. Então, ele descobriu o exercício e começou a praticar por dez horas diárias. Não apenas sobreviveu às doenças, mas viveu até os 95 anos.
Seu cunhado e professor, Tirumalai Krishnamacharya, fundador do vinyasa ioga, viveu até os 100 anos. Já Krishna Pattabhi Jois, outro aluno renomado de Krishnamacharya e criador do Ashtanga ioga – que lançou as bases para a onda do ioga fitness – viveu até os 93 anos.
Existem muitas razões pelas quais o ioga é tão benéfico, mesmo na idade avançada. Estudos mostram que ele pode ter um efeito positivo em várias doenças relacionadas à idade, reduzindo a pressão arterial, os níveis de gordura no sangue e a obesidade.
O ioga também pode aliviar a depressão, o estresse e a ansiedade. Além disso, está associado a um estilo de vida geralmente mais saudável, como seguir uma dieta mais equilibrada.
Evidências também indicam que o ioga pode ter muitos benefícios quando se trata de envelhecimento e de se manter jovem.
Ioga e o envelhecimento
Pesquisas mostram que o ioga pode influenciar o envelhecimento celular. Em um estudo, os participantes que praticaram ioga mostraram um aumento de 43% na atividade da telomerase – enquanto os participantes que apenas relaxaram apresentaram um aumento de pouco menos de 4%. A enzima telomerase é um fator chave no envelhecimento, pois ela retarda o envelhecimento celular.
Além disso, alguns iogues muito experientes podem reduzir tanto o metabolismo que seu estado fisiológico se torna semelhante ao de animais hibernando: a respiração e a frequência cardíaca diminuem significativamente, assim como a temperatura corporal. Em animais, essa fase de descanso mostra-se capaz de aumentar a longevidade. Alguns argumentam que o mesmo poderia ser verdade para os seres humanos.
À medida que envelhecemos, há um declínio mental. Aprender coisas novas e formar novas memórias se torna cada vez mais difícil. Isso se reflete no cérebro: o hipocampo, em particular, importante para a formação de novas memórias, perde substância com a idade.
Mas um estudo que examinou os cérebros de praticantes de ioga descobriu que, em geral, eles tinham uma massa cerebral maior em comparação com não-praticantes da mesma idade. Essa diferença foi particularmente evidente no hipocampo. E não só isso, mas quanto mais tempo uma pessoa praticava ioga, maior era sua massa cerebral.
Outro estudo também encontrou que a massa cerebral média de meditadores com idades entre 40 e 50 anos correspondia à massa cerebral média de não-meditadores de 20 a 30 anos. A meditação é uma parte importante do ioga.
Embora muitos desses estudos se preocupem em ajustar para quaisquer variáveis que possam influenciar o risco de declínio cognitivo de uma pessoa (como seus hábitos de vida e genética), esse controle nunca é perfeito – portanto, essas associações são apenas correlações.
Mas a pesquisa realmente mostrou que a meditação pode aumentar a massa cerebral de forma causal – e de maneira bastante rápida. Em um estudo com participantes sem experiência em meditação, um grupo participou de um curso de meditação de quatro meses, enquanto o outro grupo não participou. Após quatro meses, a massa cerebral aumentou significativamente no grupo de meditação. Mais uma vez, isso afetou particularmente o hipocampo. No geral, os dados sugerem que a meditação – e o ioga – estão associados a um cérebro mais jovem.
Estudos também analisaram a chamada "inteligência fluida" – a capacidade de resolver problemas novos e desconhecidos, aprender coisas novas e reconhecer padrões e conexões. Essa habilidade tende a declinar com a idade. Mas a pesquisa mostra que pessoas de meia-idade que praticaram ioga ou meditação por muitos anos têm melhor inteligência fluida em comparação com pessoas da mesma idade que não praticaram nenhuma das atividades.
Mas há alguma evidência direta mostrando que o ioga prolonga a vida? Um estudo investigou exatamente isso. Os pesquisadores usaram dados vinculados do National Death Index e do National Health & Nutrition Examination Survey – uma pesquisa nacional em andamento sobre o status de saúde e nutrição da população dos EUA. Os 22.598 participantes do estudo foram questionados sobre seus hábitos de vida – incluindo se praticavam ioga.
Os resultados foram impressionantes. Em uma média de oito anos e meio após a pesquisa, o risco de morrer era quase dois terços menores entre os participantes que praticavam ioga do que entre aqueles que não praticavam. Havia apenas um detalhe: os iogues eram, em geral, muito mais jovens do que a média dos participantes. Quando a idade foi levada em consideração na análise, não houve mais diferença entre a mortalidade de iogues e não-iogues.
Portanto, o ioga não parece aumentar a longevidade, afinal. Daisy Taylor falou em sua entrevista sobre sua irmã de 103 anos e seus outros cinco irmãos, que também viveram mais de 90 anos. Assim, no caso de Taylor, sua longevidade parece ser mais uma característica familiar.
Mas o ioga parece nos manter mais saudáveis e, acima de tudo, mentalmente mais aptos na velhice. E talvez, como aconteceu com Daisy Taylor, ele possa tirar o medo da velhice.
*Holger Cramer é professor de pesquisa em medicina complementar na Universidade de Tübingen.
*Este artigo foi republicado de The Conversation sob licença Creative Commons. Leia o artigo original.
Fonte:https://oglobo.globo.com/saude/noticia/2024/12/27/ioga-a-pratica-e-realmente-uma-chave-para-a-longevidade-especialista-explica.ghtml
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