10 LIVROS PARA LER DURANTE O "SETEMBRO AMARELO"

 Confira uma lista de 10 livros para ler durante 'setembro amarelo'

10 livros para ler durante o "setembro amarelo"

No mês que relembra a importância de ações de prevenção do suicídio, confira indicações literárias para refletir sobre a psique humana e a importância da saúde mental

Por 

Vanessa Centamori

17/09/2024 18h02  Atualizado há 5 dias

 

A psicanálise é uma das abordagens terapêuticas que muitas pessoas buscam para tratar a depressão e outras questões que costumam estar associadas a pensamentos suicidas. Foi ela que eu mesma escolhi quando precisei de ajuda. Já são mais de três anos de sessões com minha querida psicanalista, que acompanha todos os meus altos e baixos.

Na "Sua estante" deste mês, indico livros para refletir sobre temas que de alguma forma afetam a nossa saúde mental. Na obra Histórias de morte matada contadas feito morte morrida, das jornalistas Niara de Oliveira e Vanessa Rodrigues, vemos como a misoginia afeta a sociedade e o bem-estar mental de mulheres vítimas de feminicídios, que são violentadas também pela forma que são retratadas nos noticiários.

Em O impulso, da romancista sul-coreana Won-pyung Sohn, conhecemos um protagonista extremamente deprimido, que resgata a esperança de viver ao se tornar obcecado por corrigir sua postura corporal. Já na obra Neko Café, da filósofa húngara Anna Sólyom, aprendemos com os gatos uma série de lições de vida, porque, como diz a capa, "você não precisa de sete vidas para ser feliz: uma só basta".

Confira a lista completa de obras a seguir (Alerta de gatilho para pessoas sensíveis: contém temas como depressão, suicídio e estupro):

1. Café com Freud e Lacan - A dor de existir, de Fabiana Ratti

"Café com Freud e Lacan" de Fabiana Ratti — Foto: Unbewusste/Divulgação
"Café com Freud e Lacan" de Fabiana Ratti — Foto: Unbewusste/Divulgação

Esta obra da psicóloga e psicanalista Fabiana Ratti é o terceiro volume de uma série de livros. A autora compartilha, dez anos depois, os conhecimentos que obteve durante a escrita de sua dissertação de mestrado em Psicanálise Clínica, feita na PUC-SP entre 2012 e 2014.

Por meio de linguagem acessível, o leitor aprende sobre perdas e lutos e conceitos popularizados pela psicanálise, como privação, frustração e castração. O livro também utiliza como exemplo as peças Antígona de Sófocles e A Falecida de Nelson Rodrigues para comparar tragédias sociais e familiares às tragédias puramente psicológicas de Rodrigues. Por último, a discussão salta para doenças propriamente ditas como ansiedade, depressão, burnout e síndrome do pânico.

2. Histórias de morte matada contadas feito morte morrida - 2ª edição , de Niara de Oliveira e Vanessa Rodrigues

"Histórias de morte matada contadas feito morte morrida - Segunda edição", por Niara de Oliveira e Vanessa Rodrigues — Foto: Drops Editora
"Histórias de morte matada contadas feito morte morrida - Segunda edição", por Niara de Oliveira e Vanessa Rodrigues — Foto: Drops Editora

Lançado em 2021 pelas jornalistas Niara de Oliveira e Vanessa Rodrigues, o livro Histórias de morte matada contadas feito morte morrida ganha uma nova edição publicada neste mês de setembro pela Drops editora. A publicação analisa matérias sobre feminicídios feitas pela imprensa brasileira nos últimos 40 anos. Com isso, as autoras identificam algo muito grave nas reportagens: a tendência de culpabilizar as mulheres pela violência que sofrem.

Entre os casos analisados estão assassinatos conhecidos, como os de Ângela Diniz, Eliane de Grammont, Sandra Gomide, Eloá Pimentel, Eliza Samudio e Marielle Franco.

As autoras do livro observam, em comunicado da Drops editora., que algo comum é a corresponsabilização da vítima (fulana foi morta "por ciúme", "o companheiro não aceitava o fim do relacionamento"). Além disso, a mulher é muitas vezes colocada sob uma lupa moral, por exemplo, por meio de fotos que acompanham uma matéria jornalística.

Segundo Oliveira, "buscar um motivo que a mulher tenha dado para ter sido assassinada torna-se uma espécie de segundo assassinato, dessa vez em praça pública". Já Rodrigues reforça que isso "contribui para perpetuar a misoginia estrutural da sociedade, que é a causa primeira do crime de feminicídio".

3. O impulso, por Won-pyung Sohn

"O impulso", por  Won-pyung Sohn — Foto: ‎ Rocco/Divulgação
"O impulso", por Won-pyung Sohn — Foto: ‎ Rocco/Divulgação

Você já se sentiu um fracassado? Talvez, então, se identifique com Andreas Kim Seonggon, o protagonista de O impulso, novo livro da romancista sul-coreana Won-pyung Sohn. O homem se torna obcecado por corrigir a própria postura corporal após sofrer várias ideações suicidas, mas acaba resgatando a esperança novamente.

Já no início do livro, o personagem flerta com a ideia de pular de uma ponte que cruza o rio Han, no coração de Seul, mas acaba desistindo. "A vida era como aquela água. Havia momentos de claridade, porém, na maior parte, era um pântano escuro, frio e infinito", diz um trecho da obra.

A autora de O Impulso é a mesma de Amêndoas (2023), obra lida por dois integrantes da cultuada banda de k-pop BTS, e que acabou virando febre no Brasil e no mundo. O novo livro promete se agarrar nessa mesma "onda" de fãs da cultura pop sul-coreana.

4. Neko Café, de Anna Sólyom

Com tradução de Mardie Esther Villegas (VR Editora, 141 páginas | Impresso: R$ 49,90)

"Neko café", por Anna Sólyom — Foto: VR Editora/Divulgação
"Neko café", por Anna Sólyom — Foto: VR Editora/Divulgação

Você sabia que os gatos dormem em média 15 horas por dia? Além de dorminhocos, eles são bastante autoconfiantes e independentes. As características dos bichanos são destacadas e reverenciadas na ficção de cura Neko Café, da filósofa húngara Anna Sólyom.

"Muito melhor se ocupar do que você está fazendo, mesmo que seja uma soneca, do que se preocupar com coisas que você nem sequer sabe se vão acontecer", diz um trecho da obra.

A publicação, traduzida para 14 idiomas, nos faz repensar muitas coisas na vida, de capítulo em capítulo. Além de reflexiva, é uma leitura rápida, como se estivéssemos lendo crônicas, o que a torna ideal para quem deseja retomar o hábito de ler.

A protagonista é Nagore que, prestes a completar 40 anos, arranja um emprego em um café de gatos — isto é, uma cafeteria onde os clientes podem interagir com felinos, disponíveis para adoção. Só tem um problema: a mulher sofre de ailurofobia, ou seja, medo de gatos. Ainda assim, ela aprende muito com os bichanos.

5. Pá de cal, de Gustavo Ávila

"Pá de cal", de  Gustavo Ávila — Foto: Record/Divulgação
"Pá de cal", de Gustavo Ávila — Foto: Record/Divulgação

"Até onde o ser humano é capaz de ir para fugir da dor?" Esta é a pergunta-chave do livro Pá de cal, de autoria do paulista Gustavo Ávila, que também é autor da obra O sorriso da hiena (2017). O enredo fala de sete estranhos que acordam sem memórias em casas espalhadas no meio de uma floresta.

Enquanto isso, Inês é uma neurocientista reconhecida por suas pesquisas em busca da cura do Alzheimer; já Sandro, um enfermeiro solitário, vive em uma sociedade segregada devido a uma doença degenerativa contagiosa.

“Às vezes, boas lembranças se tornam tristes. Como paredes que ainda conservam a marca de quadros que já não estão lá", diz a contracapa do livro, que é recheado de mistério e reflexões filosóficas.

6. A amiga maldita, de Beatrice Salvioni

"A amiga maldita", por Beatrice Salvioni — Foto: ‎ Intrínseca/Divulgação
"A amiga maldita", por Beatrice Salvioni — Foto: ‎ Intrínseca/Divulgação

A italiana Beatrice Salvioni relata em seu romance de estreia A amiga maldita a amizade entre duas meninas de classes sociais diferentes em meio ao machismo e ao fascismo na Itália do passado. Trata-se de um livro brutal, que já começa com uma cena triste: Francesca, de apenas 13 anos, está às margens do rio Lambro, em Monza, na Itália, e sobre ela jaz sem vida um homem que tentou estuprá-la.

Quem a salvara de seu estuprador foi sua amiga, Maddalena, que a ajuda a se livrar do corpo. A partir daí, Francesca narra como, um ano antes, em 1935, conheceu a garota, que todos chamavam de "a Maldita" por ser uma rebelde de origens humildes, segregada pela comunidade.

"Ninguém gostava dela", diz o primeiro capítulo do livro. "Dizer o nome dela trazia azar. Era uma bruxa, uma daquelas que grudam o hálito da morte no corpo da pessoa".

7. Eu Só Existo às Terças-feiras, de Rodrigo Goldacker

"Eu Só Existo às Terças-feiras", por Rodrigo Goldacker — Foto: Divulgação
"Eu Só Existo às Terças-feiras", por Rodrigo Goldacker — Foto: Divulgação

Finalista do Prêmio Amazon de Literatura Jovem, o livro Eu Só Existo às Terças-feiras, do paulistano Rodrigo Goldacker, é influenciado pelo processo de individuação — conceito recorrente na obra do psiquiatra Carl Jung.

O livro conta a história de Viktor, um adolescente que cursa o colegial e há alguns anos lida com uma cisão de personalidade: nele habitam sete indivíduos diferentes, uma para cada dia da semana. O narrador é a personalidade que, como o título declara, só existe às terças-feiras.

"Terça", como é chamado, reflete sobre a condição humana, crises existenciais, famílias disfuncionais e a finitude da vida. Contudo, uma conspiração (pessoal e) familiar se manifesta colocando em risco a existência do protagonista.

8. Dentes de Leite, de Antonio Pokrywiecki

"Dentes de leite", por Antonio Pokrywiecki — Foto: Cachalote/Divulgação
"Dentes de leite", por Antonio Pokrywiecki — Foto: Cachalote/Divulgação

O medo do futuro aparece em quase todos os contos de Dentes de leite, livro do jornalista e escritor catarinense Antonio Pokrywiecki, lançado pela editora Cachalote. No conto pandêmico O anjo exterminador, o autor não cita a pandemia de Covid-19, mas o fim do mundo é assistido pelas janelas de um apartamento e ganha contornos de punição divina.

Em Nico e Kira, acompanhamos a história de um casal impactado pelo avanço tecnológico. Nico é substituído em seu emprego em uma fábrica de colchões por uma máquina alemã. Já em Dentes de leite, conto que nomeia a obra, um menino tem seus dentes arrancados ao sofrer bullying, ilustrando como a sensação de inferioridade pode surgir logo na infância.

“Após escrever, me dei conta de que todos os contos tratam de personagens em que algo falta, e a pulsão de morte de alguma maneira se manifesta. Para todos os personagens, há algo fora do lugar - como um dente arrancado”, comenta Antonio, em comunicado da editora Cachalote.

9. Dependências Comportamentais: Vivendo em Excessos, por ABEAD

"Dependências comportamentais: vivendo em excessos", da  ABEAD — Foto: ABEAD
"Dependências comportamentais: vivendo em excessos", da ABEAD — Foto: ABEAD

A Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (ABEAD) lançou no último dia 15 de setembro um livro de 17 capítulos para discutir dependências comportamentais, como dependência de sexo, internet, games, compras, jogos de azar, comida, etc.

A obra nasceu a partir de um encontro presencial da ABEAD no Rio de Janeiro, em 2022, onde os associados e convidados discutiram sobre o tema. Com linguagem acessível, o livro tem como autores profissionais da saúde mental e membros da associação.

“Ao pensar nestes casos [de dependências comportamentais], cada pessoa é única, portanto, apesar dos sinais, é sempre importante buscar ajuda especializada para ter um melhor encaminhamento e controle da situação junto ao profissional”, diz em nota um dos autores, Higor Caldato, médico psiquiatra e sócio do Instituto Nutrindo Ideais.

10. Felicidade Ordinária, de Vera Iaconelli - disponível a partir de 24 de setembro

"Felicidade ordinária", de Vera Iaconelli — Foto: Companhia das Letras/Divulgação
"Felicidade ordinária", de Vera Iaconelli — Foto: Companhia das Letras/Divulgação

Com data de lançamento marcada para 24 de setembro, o livro Felicidade Ordinária, da psicanalista Vera Iaconelli, reúne artigos sobre angústias contemporâneas que ela publica periodicamente desde 2017 no jornal Folha de S. Paulo.

Os textos abordam temas como relações afetivas, feminismo, masculinidade, educação, sexo, política e parentalidade. A obra apresenta também uma introdução inédita onde a autora, que é Mestre e Doutora em psicologia pela Universidade de São Paulo (USP,) reflete sobre as contribuições da psicanálise para o enfrentamento das questões do dia-a-dia.

Para Iaconelli, o sofrimento ordinário é permeado de felicidade ordinária, episódica e fugaz. "Esse constante questionamento ético e subjetivo oferece ferramentas para que cada um de nós se defronte com nossos medos, traumas e desejos, permitindo-nos assumir nossas condições existenciais, sejam elas de âmbito individual, coletivo, cultural ou político", diz uma publicação no Facebook da editora Zahar, responsável pelo lançamento.


Fonte:https://revistagalileu.globo.com/colunistas/sua-estante/coluna/2024/09/10-livros-para-ler-durante-o-setembro-amarelo.ghtml

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