MULHERES NA MARCENARIA FALAM SOBRE OS DESAFIOS CORRIQUEIROS EM UM OFÍCIO TIPICAMENTE MASCULINO

  Mulheres na marcenaria


Mulheres na marcenaria falam sobre os desafios corriqueiros em um ofício tipicamente masculino

Renata Ciannella, Paula Maggi, Joici Ohashi e Marcela Marcondes falam sobre experiências na profissão

Por 

Isabela Caban

 — Rio de Janeiro

04/03/2024 04h30  Atualizado há um mês

A marceneira Renata Ciannella se aproxima do balcão de uma loja de material de construção e pede: “Tem pinus seca?”, madeira usada em sua oficina, no Jacaré, na Zona Norte do Rio. O vendedor devolve: “Para que você quer?”, deixando a carioca inconformada. “Um homem na mesma situação recebe como resposta sim ou não”, conta. A cena se repete na rotina de mulheres que atuam no mesmo ofício, ramo majoritariamente composto por homens. Em comum, a paixão pela marcenaria prevalece diante dos desafios de cada dia.

Renata se formou em Direito, mas acabou virando produtora de festas e sempre, com sua caixa de ferramentas, a que resolvia pepinos de última hora nos eventos. Procurou um curso de marcenaria e sentiu-se pouco à vontade como única mulher. “Não tinha coragem de fazer perguntas”, lembra. Profissionalizou-se no Liceu de Artes e Ofícios, no Centro, e hoje comanda um curso para o público feminino.


Também carioca, Paula Maggi foi “mordida pelo bichinho” durante a faculdade de Arquitetura. Recém-formada, veio a pandemia e passou a produzir quadros com uma técnica de gravação em madeira. Aprofundou-se nos estudos e seu dia a dia atualmente é na oficina PoloMaker, no Rio Comprido, entre restauros de móveis: “Temos que provar nosso conhecimento a toda hora, para fornecedores, clientes...”

Da surpresa de uma mulher na profissão, nasceu o nome “Oh, eu que fiz!”, marca de Joici Ohashi, em São Paulo. No curso de teatro, a moça notou o gosto pela cenografia e trilhou o caminho rumo à marcenaria. Após fazer um banco (Brasília) que foi finalista do Prêmio Salão Design, em 2019, veio o estímulo. Não se incomoda mais com piadinhas e, quando precisa, desabafa no grupo de WhatsApp com 30 marceneiras. “Pega quando vejo um homem mais bem-sucedido do que uma mulher mais experiente. A maioria de nós vira empreendedora por necessidade. Não há quase vagas no mercado para mulheres”, observa. À frente da Marcelaria, na capital paulista, a colega e arquiteta Marcela Marcondes vive as mesmas situações, mas garante já ter cliente preferindo marceneira. “Reclamam que eles deixam o trabalho incompleto e não cumprem prazos”, cutuca.

As quatro analisam: as diferenças, de fato, já foram mais acentuadas. “Com as blogueiras do DIY, essa imagem ficou mais natural”, reflete Renata. “É um lindo trabalho, artesanal e industrial, intelectual e físico”, descreve Paula: “E sobretudo sustentável e contra a obsolescência programada que tanto nos cerca”.


Fonte:https://oglobo.globo.com/ela/gente/noticia/2024/03/04/mulheres-na-marcenaria-falam-sobre-os-desafios-corriqueiros-em-um-oficio-tipicamente-masculino.ghtml

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