'TEORIA DA TRISTEZA': LIVRO REVELA RELAÇÃO CONTURBADA DE EINSTEIN COM A MULHER, QUE RECUSOU SER 'CRIADA' E FOI TROCADA PELA PRIMA

 Albert Einstein

'Teoria da tristeza': livro revela relação conturbada de Einstein com a mulher, que recusou ser 'criada' e foi trocada pela prima

Romancista croata reconstrói circunstâncias que marcaram a vida da 'brilhante matemática' que se casou com ganhador do Prêmio Nobel

Por O Globo com El País — Zurique

27/03/2024 04h00  Atualizado há 15 horas


Em julho de 1914, Albert Einstein enviou um bilhete à sua mulher, Mileva, por meio de um amigo em comum. A nota explicava o que ela deveria fazer para que pudessem continuar juntos: lavar a roupa dele, preparar três refeições por dia, limpar o quarto e arrumar tudo de seu escritório (que só ele usaria).

"Você se absterá de qualquer relacionamento comigo, a menos que seja necessário por motivos sociais", disse ele, forçando-a a desistir de ficar com ele em casa e de fazer viagens juntos. Não haveria intimidade – apenas o mínimo de contato – e absolutamente nada de virar os filhos contra ele. Estas foram as suas condições que pediu a Mileva que aceitasse.


Eles tinham acabado de se estabelecer em Berlim, embora, na época, morassem separados. Einstein fora nomeado membro da Academia Prussiana de Ciências, professor da Universidade Humboldt e diretor do Instituto de Física Kaiser Wilhelm. Finalmente teria tempo e recursos para realizar sua pesquisa. Mas Mileva tinha ouvido rumores de que Albert estava apaixonado por sua prima, Elsa Löwenthal (os dois acabariam se casando em 1919), com quem ele havia passado um tempo enquanto estava na casa de sua mãe. Mileva e seus filhos estavam morando com amigos.

Estas condições são de um dos poucos documentos reais que a escritora Slavenka Drakulić reproduz explicitamente no seu romance "Teoria da tristeza". Mileva tinha certeza de que acabaria cedendo e que aceitaria aquelas condições humilhantes, mas, no final, não fez isso: acabou enfrentando Albert Einstein. E, pouco depois, ela o fez aceitar um conjunto diferente de condições, nas quais Albert prometia fornecer uma quantia em dinheiro para a manutenção e educação de seus filhos (Mileva os levou consigo para Zurique).

Eles chegaram um dia depois de o Império Austro-Húngaro ter declarado guerra à Sérvia. Belgrado acabara de ser bombardeada. Slavenka Drakulić, de 74 anos, traça um paralelo entre o colapso da velha Europa e a catástrofe que acabava de ocorrer entre um homem e uma mulher que, alguns anos antes, estabeleceram uma proximidade alimentada de paixão pela matemática e pela física.

Mileva pertencia a uma rica família sérvia que vivia no lado austro-húngaro da fronteira, em Novi Sad. Eles eram cristãos ortodoxos. Seu pai a incentivou a estudar, o que era uma raridade para as mulheres da época. Sua inteligência lhe abriu portas e, em Zurique, ela conseguiu se conectar com um menino distraído, imaturo e brilhante de família judia (embora ele não praticasse sua fé). Albert Einstein era quatro anos mais novo, mas eles se entendiam perfeitamente. Eles se uniram, se apaixonaram e se envolveram em diversas investigações científicas, crescendo juntos em terrenos inexplorados.

Mileva trabalhou na parte matemática das teorias de Albert, escreveu resenhas para revistas especializadas (nas quais ele colocou seu nome) e até preparou notas para as aulas quando o companheiro conseguiu um cargo de professor.

Vários livros e filmes destacaram as importantes contribuições de Mileva Marić ao trabalho científico de Einstein, que ganhou o Prêmio Nobel em 1921. Mas a romancista croata Slavenka Drakulić — com uma longa obra por trás dela, a exemplo de "Como Sobrevivemos ao Comunismo e Até Rimos" (1991) — preferiu reconstruir toda a existência de uma mulher, atingida pela vida de tal forma que consegue transformar suas experiências em uma "Teoria do tristeza", como alerta o título.

Um episódio ilustra a relação. Um dia, durante uma caminhada com Marie Curie, Albert flertava com a babá que cuidava dos filhos da química. E, de repente, "parecia a Mileva que ela havia se tornado algo que ninguém olhava, como uma poltrona velha".

Mileva não conseguiu se formar em Física e Matemática ao mesmo tempo que Albert, porque teve de fazer os exames com o emocional abalado. Ela perdeu a filha — Lieserl – para a escarlatina, uma doença bacteriana, e viveu momentos de tensão com a irmã e o filho, que sofriam de esquizofrenia. Outro filho acabou por desprezá-la.


Fonte:https://oglobo.globo.com/ela/noticia/2024/03/27/teoria-da-tristeza-livro-revela-relacao-conturbada-de-einstein-com-a-mulher-que-recusou-ser-criada-e-foi-trocada-pela-prima.ghtml

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