PORQUE É DIFÍCIL PARAR DE FUMAR MESMO SABENDO DOS MALES DO CIGARRO?: NICOTINA, HÁBITO E VÍCIO; ENTENDA OS FATORES QUE TORNAM ESSA MUDANÇA DE HÁBITO SER TÃO DIFÍCIL E NÃO TER RECEITA UNIVERSAL

PORQUE É DIFÍCIL PARAR DE
FUMAR MESMO SABENDO DOS MALES DO CIGARRO?
26 agosto, 2021 | Prevenção
Com Antonino Eduardo, gerente médico
A começar pelo tabagismo, o fumo está relacionado com cerca de 50 doenças crônicas, dentre elas vários tipos de câncer, enfermidades no aparelho respiratório, problemas digestivos e cardiovasculares. No homem, pode causar impotência sexual; na mulher, infertilidade e complicações na gravidez. Por ano, 157 mil brasileiros aproximadamente, são vítimas fatais de doenças ocasionadas pelo cigarro. E mesmo conhecendo as estatísticas alarmantes, os fumantes não conseguem abandonar esse hábito que faz tão mal à saúde.
A nicotina presente no cigarro é um componente altamente viciante, além de outros elementos químicos que também causam dependência. Há ainda um fator importante que prejudica o fumante na hora de abandonar o vício: a questão psicológica. “Quem fuma tem a sensação que o cigarro ajuda a enfrentar os problemas. É a válvula de escape que para muitos, por isso, não consegue ser dispensado”, explica o clínico e gerente médico do Hospital Badim, Antonino Eduardo Neto. Esse padrão determina os dois tipos de tratamentos do tabagismo: o medicamentoso e a terapia cognitivo-comportamental.
O especialista enfatiza que a decisão de parar de fumar não deve acontecer por impulso, mas programada e relacionada a um momento especial da vida do fumante, como a data do seu aniversário ou de outra conquista, para que a experiência seja motivadora. Outro caminho é lembrá-lo dos riscos que oferece às pessoas queridas do seu convívio. “Quem não fuma também inala indiretamente a fumaça do cigarro, podendo desenvolver doenças crônicas decorrentes das substâncias tóxicas, além de inflamações e até alterações na genética das células”, alerta Antonino. O tratamento do tabagismo, na maioria dos casos, é longo e o seu percurso pode ser marcado por alguns ‘deslizes’, “o que é normal porque é um processo que requer muita força de vontade, esforço físico e mental. O mais importante é o paciente entender que esse caminho é o melhor para a sua saúde”, comenta o médico.
O tabagismo é gerado pela dependência à nicotina. O hábito é uma porta aberta para o surgimento de vários tipos de câncer, principalmente o de pulmão. Nesse caso, o fumante tem 20 vezes mais risco de desenvolver a doença e 90% das ocorrências estão relacionadas ao fumo.
De acordo com os dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), o país registra mais de 28 mil novos casos de tumores pulmonares ao ano. Estudos realizados pelo Observatório da Política Nacional de Controle do Tabaco, órgão ligado ao INCA, constataram que o cigarro é responsável por 12,6% do total de mortes anuais, 43% dos problemas cardiovasculares, 34% dos casos de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) e 5% das ocorrências de AVC. Da lista de doenças crônicas desencadeadas pelo fumo as prioritárias são: Acidente Vascular Cerebral (AVC), diabetes, infarto e úlceras gástricas. O hábito de fumar ainda prejudica a função renal e o fluxo sanguíneo. Enfermidades do sistema gastrointestinal também podem surgir, como gastrite e refluxo.
“O ideal é o fumante procurar ajuda especializada para tratar o tabagismo. Mas para quem ainda não deu esse importante passo, uma dica é ir diminuindo a quantidade de cigarros por dia e, simultaneamente, adotar a prática de atividades físicas ou qualquer outro hobby que possa fazê-lo esquecer do cigarro e se sentir feliz”, sugere o clínico.
Nicotina,
hábito e vício: entenda os fatores que fazem parar de fumar ser tão difícil e
não ter receita universal
Capacidade de lidar com os sintomas
de abstinência varia para cada fumante e vai definir qual a melhor estratégia:
parar abruptamente ou reduzir progressivamente? Apoio profissional, disponível
inclusive no SUS, aumenta as chances de sucesso.
Por Mariana
Garcia, g1
09/03/2024 04h00 Atualizado há 14
horas
A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem uma lista com mais de 100
razões para parar de fumar. Confira três exemplos:
1. Quem fuma tem
expectativa de vida, em média, dez anos menor.
2. Tabagistas têm duas
vezes mais risco de derrame e quatro vezes mais risco de doenças cardíacas.
3. Fumar é a principal
causa de câncer de pulmão.
Apesar disso, mesmo sabendo de todos os males, por
que é tão difícil para o fumante se livrar do vício?
O pneumologista Frederico Fernandes resume a resposta em dois pontos:
1. "É
desafiador devido à dependência física e psicológica causada
pela nicotina. Ela estimula os receptores de prazer no cérebro, criando
uma sensação de bem-estar que leva à dependência", afirma Fernandes.
2. "Além
disso, o hábito de fumar está associado a rotinas diárias, situações
sociais e emoções, o que torna difícil abandonar um comportamento tão
atrelado ao vício", explica o pneumologista.
Mesmo diante das conhecidas dificuldades, chega a hora em que todo o
fumante precisa decidir: o
vício ou a saúde?
Foi o que aconteceu com auxiliar de limpeza Edsonia da Conceição
Viola. Fumante há mais de 40 anos, ela conta que um
dia, ao voltar do trabalho, percebeu que não estava conseguindo respirar
direito. Ela estava sentindo uma pontada no peito. Assustada, foi até o
pronto-socorro.
"Cheguei e entrei direto. Uma enfermeira colocou um troço no meu
dedo, colocou soro e mandou eu esperar. O médico chegou e disse que eu ficaria
internada. Ninguém me dizia nada, até
que meu filho chegou e me contou que eu tinha tido um infarto", relata
Edsonia.
Ela ficou 23 dias internada. Foi
aí que ela decidiu parar de fumar de vez.
"Só tenho mesmo que agradecer a oportunidade que Deus me deu de
estar aqui de novo. Eu sei que o cigarro é muito ruim. E em primeiro lugar vem
a minha saúde".
O infarto foi em 2016. Já são oito anos sem o cigarro e um
risco de morte por infarto do miocárdio reduzido pela metade.
O pneumologista conta que a saúde está entre as principais motivações
para parar de fumar.
"As
pessoas procuram tratamento para parar de fumar para melhorar a saúde e reduzir
os riscos associados ao tabagismo, como doenças cardíacas, câncer e problemas
respiratórios. Muitas vezes, também é motivado por preocupações com a saúda da
família e o custo financeiro".
—
Frederico Fernandes, pneumologista
Parar de fumar por conta de própria, como fez Edsonia, não é fácil
e deve ser motivo de comemoração.
"O fato de a dependência da nicotina ser
tão intensa dificulta muito a cessação por conta própria. Em um
levantamento que fiz em um hospital oncológico, 60% dos pacientes fumantes que
recebem o diagnóstico de câncer não conseguem parar de fumar, necessitando de
ajuda multiprofissional", completa o pneumologista, que também é médico
assistente da disciplina de pneumologia do InCor.
O vai e
volta
Não é
incomum ouvir relatos de pessoas que pararam de fumar por um longo período e
depois voltaram.
"Fiquei
sem fumar nenhum cigarro por três anos, enquanto morei fora do país. Depois que
voltei para o Brasil, em setembro de 2023, acabei voltando socialmente. Fumo
alguns cigarros quando encontro amigos", relata Renata Faia, customer
service de exportação.
Esse vai
e vem do tabaco pode ocorrer por diversos fatores, como estresse,
pressão social, gatilhos emocionais, explica o pneumologista Fred Fernandes.
"A
única saída que o fumante conhece para esses problemas é fumar. Com isso, cai novamente no
vício da nicotina. Outro problema é subestimar o poder da dependência. O
fumante pensa: será que eu era mesmo viciado? E fuma um cigarro para testar. Ao fazer isso, a
dependência volta forte, pois são reativados os
receptores de nicotina no sistema nervoso central."
O médico
ressalta que, para enfrentar o vício, são essenciais o apoio contínuo, o
fornecimento de recursos para o tratamento da dependência e o aprendizado de
habilidades de enfrentamento para lidar com gatilhos e estresse.
"É
muito raro fumar e não se tornar dependente da nicotina. De cada 100 pessoas que
consomem álcool, menos de dez são dependentes, ou seja, sente os sintomas de
abstinência quando ficam sem beber. No cigarro, a conta se inverte. De cada 100
fumantes, mais de 90 precisam fumar todos os dias, muitas vezes toda hora, pois
são dependentes da nicotina", explica o pneumologista.
Parar
de vez ou ir aos poucos?
Fred Fernandes explica que não
existe uma abordagem única que funcione para todos. "Algumas
pessoas têm sucesso parando abruptamente, outras preferem reduzir gradualmente
o consumo de cigarros. A escolha depende das preferências individuais e da
capacidade de lidar com os sintomas de abstinência", diz.
A atriz Gabriella Drummond sempre soube que uma hora ia parar de fumar,
mas a decisão veio quando a saúde apertou. Para largar o vício, adotou
a estratégia de diminuir o número de cigarros por dia.
"Eu ainda estou no processo, mas venho
diminuindo gradativamente. Percebi que meu vício maior é no hábito e venho trabalhando
nisso. Por exemplo, logo depois do almoço eu tento demorar cada vez mais tempo
para acender o cigarro. Quando vou fazer algo na rua, não levo o cigarro, já
que habitualmente já estava com ele na mão.
Tenho usado essa estratégia para ajudar minha cabeça a desassociar", diz.
Se a ideia for parar gradualmente, como a Gabriella, Fred dá algumas
orientações:
- Mantenha os cigarros guardados em um local de
difícil acesso.
- Sempre que surgir o desejo de fumar, considere
se é possível adiar o cigarro naquele momento.
- Bateu
aquela vontade intensa de fumar? Beba um líquido gelado ou coloque algo
com um gosto forte na boca.
Benefício nos
primeiros minutos
Sentir os benefícios de parar de fumar pode ser um motivador e
fornecer incentivo adicional para continuar no processo de cessação.
"Essa melhora na saúde demonstra o impacto positivo
imediato de abandonar o tabagismo e reforça a determinação da pessoa em
permanecer livre do cigarro", reforça Fred.
Quem decide parar de fumar sente os efeitos já no primeiro dia:
- Após 20 minutos sem o tabaco, a pressão
sanguínea e a pulsação voltam ao normal.
- Duas horas depois, não há mais nicotina circulando no
sangue.
- Após 8 horas, o nível de oxigênio no sangue se
normaliza.
"Eu já percebo melhoras. Eu tinha muito pigarro, tossia
todos os dias. Sinto também que a minha respiração está melhor", conta
Gabriella.
Renata Faia também se sente mais disposta, inclusive para as aulas de futevôlei. "Faço futevôlei na praia e sinto que tenho mais fôlego para o exercício. Além disso, já percebi que minha pele mudou, está mais viçosa."
Os riscos do tabaco e os benefícios para quem decide parar de fumar — Foto: Arte/g1
Procurando ajuda
Algumas estratégias podem ser eficazes para largar o cigarro:
- Definir uma data para largar o cigarro.
- Buscar apoio da família.
- Identificar e lidar com gatilhos de fumo.
- Usar
terapias de reposição de nicotina ou medicamentos sob prescrição médica.
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento
gratuito para largar o tabaco. Segundo o Instituto Nacional de
Câncer (INCA), responsável pelo Programa Nacional de Controle do Tabagismo, o
tratamento está disponível nos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal.
"A pessoa pode procurar uma unidade de saúde perto de casa para
saber se tem o tratamento, quais os dias. A partir do momento que é inserida no
tratamento, ela passa por uma avaliação para conduzir o tratamento de acordo
com o perfil dessa pessoa", explica Vera Lúcia Borges, psicóloga
integrante da Divisão de Controle do Tabagismo do INCA.
O tratamento no SUS inclui avaliação clínica, abordagem mínima ou
intensiva, individual ou em grupo e, se necessário, terapia medicamentosa
juntamente com a abordagem intensiva.
"Para quem tem um nível alto de dependência, é
muito importante ter o apoio profissional para largar o cigarro. Depois que a
pessoa para de fumar, ela vai começar a manutenção. Essa manutenção é
importantíssima para não fumar e se manter longe do cigarro", completa a
psicóloga.
Fonte:
https://g1.globo.com/saude/noticia/2024/03/09/nicotina-habito-e-vicio-entenda-os-fatores-que-fazem-parar-de-fumar-ser-tao-dificil-e-nao-ter-receita-universal.ghtml
Comentários
Postar um comentário