DIAGNÓSTICO DE REI CHARLES PODE REDESENHAR COMO A REALEZA FUNCIONA E SE PROJETA PARA O MUNDO; ENTENDA

 Major Johnny ao fundo, atrás do rei Charles III, durante a coroação deste sábado

Diagnóstico de rei Charles pode redesenhar como a realeza funciona e se projeta para o mundo; entenda

Monarca, de 75 anos, participou de 425 compromissos reais em 2023; ele foi aconselhado por médicos a adiar aparições e compromissos públicos durante o tratamento

 

Por The New York Times — Londres

07/02/2024 02h00  Atualizado há um mês


A rainha Elizabeth II gostava de dizer que precisava ser vista para ser digna de credibilidade. Agora cabe ao seu filho, o rei Carlos III, testar esse princípio, após um diagnóstico de câncer que o forçará a deixar os holofotes num futuro próximo. Para uma família real que cultivou a sua imagem pública por meio de milhares de aparições por ano – inaugurações, lançamentos de navios, eventos de gala, cerimônias de investidura e mais –, o afastamento de Charles pode finalmente forçar a realeza a repensar a forma como se projeta num futuro próximo, sobretudo na era das redes sociais.


A doença do rei é o mais recente golpe para a família real britânica, que viu o número de membros ativos decair em razão de mortes (Elizabeth e seu marido, o príncipe Philip), escândalos (príncipe Andrew), autoexílios (príncipe Harry e sua mulher, Meghan Markle) e outros problemas de saúde (Kate Middleton, mulher do príncipe William).

Charles, de 75 anos, participou de 425 compromissos reais em 2023, seu primeiro ano completo no trono, de acordo com uma contagem do The Daily Telegraph. Isso fez dele o segundo membro da realeza mais trabalhador, depois de sua irmã mais nova, a princesa Anne, que representou a Coroa em 457 ocasiões. Ambos estavam mais ocupados do que no ano anterior, quando Elizabeth, embora no crepúsculo de sua vida, ainda aparecia em público esporadicamente.

Embora Anne, de 73 anos, mostre poucos sinais de desaceleração e William planeje retornar às funções públicas enquanto sua mulher se recupera de uma cirurgia abdominal, uma ausência temporária do rei do palco público coloca forte pressão sobre a Coroa.

— Não há muitos deles — disse Peter Hunt, ex-correspondente de família real da BBC. — Há apenas dois deles com menos de 50 anos. Eles precisam decidir se continuarão a cumprir o mantra da rainha. Qual é o mínimo de compromissos que eles precisam realizar para fazer isso?

A resposta a esse enigma, argumentam especialistas, pode estar na tecnologia e nas redes sociais. Durante a pandemia do coronavírus, quando Elizabeth ficou reclusa no Castelo de Windsor, a monarca conduziu reuniões por meio de ligações do Zoom. Ficou confortável o suficiente para fazer piadas com os rostos pixelados na tela do computador.

O uso das redes sociais pelo Palácio de Buckingham também pode amplificar a exposição pessoal dos membros da família. A conta da família real no Instagram possui mais de 13 milhões de seguidores e sua conta no X, bem mais de cinco milhões. Para os jovens, que passam horas por dia online e seguem as suas celebridades favoritas nas redes sociais, a presença de uma realeza para inaugurar uma nova escola primária ou clínica de saúde no bairro pode não importar tanto como importava para os seus pais ou avós.

O maior fardo da doença do rei provavelmente recairá sobre seu herdeiro de 41 anos, William. Ed Owens — um historiador da realeza que publicou recentemente “Depois de Elizabeth: Será que a Monarquia Pode Salvar-se?” — argumenta que a realeza deveria se afastar das atividades de caridade porque elas interferem com o papel adequado de um governo na sociedade.

“A cultura da filantropia real”, escreveu Owens, “muitas vezes capitalizou as lacunas deixadas num Estado de bem-estar social falido”.

Outra questão paira sobre o papel do príncipe Harry, o filho mais novo do rei, que se desentendeu com o pai e o irmão depois que ele e Meghan renunciaram aos deveres reais e se mudaram para a Califórnia, em 2020. Harry chegou a Londres na terça-feira para visitar seu pai, suscitando "esperanças", segundo a mídia local, de que a crise poderia levar a uma reconciliação. Mas Harry não trouxe sua própria família e nem ficou claro onde ele ficaria (o rei o despejou de Frogmore Cottage em 2023).

Embora Charles vá se afastar da cena pública por um período, o palácio real tem se esforçado para enfatizar que ele continua sendo plenamente um soberano. Ele continuará a se reunir semanalmente com o primeiro-ministro Rishi Sunak, receberá outros visitantes e analisará os documentos oficiais que lhe são entregues diariamente numa tradicional caixa vermelha.

Existem alguns rituais e decisões que apenas um monarca em exercício pode realizar ou tomar. Qualquer que seja o seu prognóstico, o câncer do rei empurra a família real para um território desconhecido. Ao optar por ser mais aberto sobre as suas dificuldades de saúde, Charles III divergiu de uma longa prática familiar. Ele fez isso, disse o palácio, “na esperança de que possa ajudar na compreensão pública de todos aqueles ao redor do mundo que são afetados pelo câncer”.

Se o rei pode refutar o mantra da rainha sobre ter que ser visto para ser digno de credibilidade é outra questão.

Príncipe William deve assumir compromissos do pai

O príncipe William de Gales, herdeiro da coroa britânica, deverá assumir algumas funções em nome do seu pai, segundo o jornal britânico The Guardian, citando a PA Media. As funções do pai assumidas por William deverão somar-se à sua própria agenda.

As atividades de William serão retomadas nesta quarta-feira, após terem sido suspensas devido a uma cirurgia abdominal de sua esposa, Kate Middleton, que continua em recuperação. Na quarta, o príncipe assistirá a uma cerimônia de posse no Castelo de Windsor e, à tarde, participará de um baile beneficente em Londres, em prol da London Air Ambulance, informou o Palácio de Kensington.

O herdeiro de 41 anos, irá cumprir os compromissos sem a princesa de Gales, que deve retomar à sua agenda apenas depois da Páscoa. William é muito mais popular que o próprio rei (e o mais popular entre os membros da família real britânica), com 68% de aprovação, de acordo com uma pesquisa recente do YouGov. Ele está à frente de sua tia, a princesa Anne, com 67%, e de sua esposa Kate, com 63%. O rei, por sua vez, aparece apenas na sexta posição, com 51%.

Já o irmão mais novo de Wiliiam, Harry, desembarcou nesta terça-feira em Londres para ver o pai. O duque de Sussex tem uma relação turbulenta com o restante da família real britânica, incluindo o irmão. Não se sabe se eles se encontrarão.

Atualmente, Harry mora na Califórnia com sua família, a duquesa de Sussex Meghan Markle e seus dois filhos, Archie e Lilibet, desde que abdicou de suas funções reais em 2020. A família não viajou com ele para Londres.

Com o duque afastado e os problemas de saúde sucessivos, além da retirada do príncipe Andrew da vida pública após um escândalo de abuso sexual de menores, o círculo de membros ativos da família real britânica foi reduzido quase pela metade, deixando a rainha Camilla, de 76 anos, na linha de frente, com diversos compromissos semanais.

O diagnóstico do rei

Charles foi aconselhado pelos médicos a suspender suas aparições e compromissos públicos devido ao tratamento contra o câncer, sobre o qual está "totalmente confiante". Contudo, é esperado que o rei continue a receber as suas "caixas vermelhas", que contém documentos do governo a serem revisados pelo monarca, e a "tratar de negócios do Estado e da papelada oficial".

A princípio, ele também seguirá realizando o seu encontro semanal com o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, e as reuniões do Conselho Privado, embora não tenham sido divulgados mais detalhes.

No fim de janeiro, Charles deu entrada em um hospital de luxo de Londres, no Reino Unido, para fazer uma cirurgia por um quadro de próstata aumentada — comum entre homens a partir dos 60 anos. Mas, na segunda-feira, o palácio revelou que, durante seu recente procedimento hospitalar, "testes diagnósticos identificaram uma forma de câncer".

Apesar disso, uma fonte próxima à Buckingham, citada pela agência Reuters, afirmou que não se trata de câncer de próstata, como se especulava quando a notícia foi divulgada.


Fonte:https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2024/02/07/diagnostico-de-rei-charles-pode-redesenhar-como-a-realeza-funciona-e-se-projeta-para-o-mundo-entenda.ghtml

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