AVIÕES, MÍSSEIS, TANQUES: ISRAEL X HAMAS DÁ NOVO IMPULSO À INDUSTRIA DE ARMAS, QUE PROJETA RECORDES TRILIONÁRIOS

 Soldado isralense salta sobre tanque Merkava na fronteira com o Líbano

Aviões, mísseis, tanques: Israel x Hamas dá novo impulso à indústria das armas, que projeta recordes trilionários

Invasão da Ucrânia e percepção de ameaça da China já estimulava corrida global por equipamentos e modernização de sistemas; EUA controlam 45% do mercado

 

Por The New York Times — Jerusalém

25/10/2023 04h00  Atualizado há 4 meses


Poucos dias depois de o ataque terrorista do Hamas ter desencadeado uma nova guerra no Oriente Médio, começaram a chegar a Israel carregamentos de armas americanas: bombas "inteligentes", munição e interceptadores para o sistema de defesa antimísseis Domo de Ferro. O conflito entre Israel e o grupo extremista é apenas o mais recente impulso por trás de um boom nas vendas internacionais de armas, que tem reforçado os lucros e a capacidade de fabricação entre fornecedores americanos.


Mesmo antes de Israel responder ao ataque, a combinação da invasão da Ucrânia pela Rússia e a percepção de uma ameaça crescente por parte da China já estimulava uma corrida global à compra de aviões de combate, mísseis, tanques, artilharia, munição, entre outros equipamentos letais. O aumento nas vendas também tem sido impulsionado pelo ritmo rápido da mudança tecnológica no combate à guerra, pressionando mesmo nações bem armadas a comprar novas gerações de equipamento para se manterem competitivas.

O aumento nas vendas proporciona à gestão de Joe Biden novas oportunidades para vincular as forças militares de outros países aos Estados Unidos, o maior exportador de armas do planeta. Ao mesmo tempo, levanta preocupações de que um mundo mais fortemente armado estará propenso a mergulhar em novas guerras.

Negócio de mais de R$ 10 trilhões

O impulso para fornecer mais armas a Israel ocorre num momento em que os fornecedores de equipamentos militares americanos já lutam para acompanhar a demanda de reabastecimento da Ucrânia na sua guerra contra a Rússia e para ajudar outros aliados dos EUA na Europa, como a Polônia, a reforçar as próprias defesas. Bilhões de dólares em encomendas estão pendentes de aliados na Ásia, impulsionados pela percepção de uma ameaça crescente da China.

Os gastos militares mundiais no ano passado – com armas, pessoal e outros custos – atingiram US$ 2,2 trilhões (R$ 11 trilhões, o nível mais alto em dólares ajustados à inflação desde pelo menos o fim da Guerra Fria, de acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo, que prepara um cálculo anual. Um dos maiores impulsionadores é o aumento da compra de novos sistemas de armas.

Excluindo as vendas nos Estados Unidos, China e Rússia, espera-se que os gastos mundiais em aquisições militares atinjam US$ 241 bilhões (R$ 1,2 trilhão) no próximo ano, um aumento de 23% desde o ano passado, mesmo depois de os valores serem ajustados à inflação. Este é de longe o maior aumento em dois anos na base de dados mantida pela Janes, uma empresa que acompanha os gastos militares há quase duas décadas.

EUA controlam 45% do mercado

No ano passado, os Estados Unidos controlavam cerca de 45% das exportações mundiais de armas, quase cinco vezes mais do que qualquer outra nação. É o nível de domínio mais elevado desde os anos imediatamente seguintes ao colapso da União Soviética, de acordo com os dados. Isso representa um aumento em relação aos 30% de uma década atrás.

A intensa procura por poder de fogo militar também encorajou outras nações produtoras de armas, como a Turquia e a Coreia do Sul, a aumentarem as suas exportações, dando aos compradores mais opções.

Alguns dos grandes compradores — como a Polônia, um aliado da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) que teme novas agressões russas — estão se armando mais fortemente para enfrentar ameaças específicas. Outros, como a Indonésia, outrora cliente da Rússia e que agora procura comprar mais do Ocidente, tentam não ficar para trás em regiões que sofrem uma rápida militarização.

Já as nações do Oriente Médio, de Israel à Arábia Saudita, continuam a ser grandes compradoras de armas americanas, encomendas que agora irão aumentar com a nova guerra.

Mais armas, temor por mais guerras

— Vivemos num mundo muito frágil, onde existem muitos conflitos não resolvidos — disse Michael Klare, membro do conselho da Associação de Controle de Armas, uma organização sem fins lucrativos e que aponta para as tensões entre o Paquistão e a Índia, entre o Azerbaijão e a Armênia. — Existe o risco de que estas vendas de armas exacerbem um conflito regional e, em última análise, desencadeiem a eclosão de uma guerra entre as grandes potências.

Para os grandes fornecedores de materiais militares, o aumento da demanda reforçou os seus resultados financeiros.

As notificações do Pentágono ao Congresso sobre propostas de negócios militares entre governos ultrapassaram US$ 90,5 bilhões nos primeiros nove meses deste ano, excedendo o ritmo de uma média anual de cerca de US$ 65 bilhões na década anterior, de acordo com dados computados pelo Forum on the Arms Trade.

E as vendas governamentais são apenas uma parte do comércio global de armas, sendo as vendas diretas de fornecedores de equipamentos militares a maior parte do negócio. No ano passado, os US$ 51,9 bilhões em vendas militares estrangeiras que fluíram através do Pentágono representaram apenas um terço dos US$ 153,7 bilhões de dólares em vendas diretas de armas, peças militares e serviços autorizados pelos Estados Unidos ao exterior.

Desafio de diplomacia e produção

O esforço para modernizar os arsenais militares também criou um dos esforços diplomáticos mais robustos desde a Segunda Guerra Mundial por parte do governo dos EUA para expandir as alianças militares.

O aumento da procura tem proporcionado aos fabricantes de armas a confiança de que podem contar com encomendas sustentadas para aumentar a produção. Os fornecedores já tomaram algumas medidas iniciais para adicionar turnos e equipamentos à cadeia produtiva.

O Pentágono e o Departamento de Estado têm trabalhado este ano para encontrar formas de acelerar a aprovação de vendas militares estrangeiras para acompanhar a crescente procura global. Mas o principal gargalo continua sendo a capacidade de produção.


Fonte:https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2023/10/25/avioes-misseis-tanques-israel-x-hamas-da-novo-impulso-a-industria-das-armas-que-projeta-recordes-trilionarios.ghtml

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