SE A CHINA INVADIR TAIWAN, QUAL SERÁ O IMPACTO NA ECONOMIA GLOBAL? ECONOMISTAS FIZERAM A CONTA

 Navio da Marinha chinesa cruza pelo Estreito de Taiwan enquanto turistas passeiam na orla de Pingtan, parte do território chinês mais próxima de Taiwan

Se a China invadir Taiwan, qual será o impacto na economia global? Economistas fizeram a conta

Especialistas da Bloomberg Economics estimaram um custo de cerca de 10% do PIB global paa o caso de uma operação militar chinesa para retomar sua província rebelde ou mesmo isolá-la

 

Por Bloomberg — Nova York

10/01/2024 00h00  Atualizado há uma semana


Uma invasão de Taiwan pela China teria um custo altíssimo em vidas, mas também em dinheiro, o que faz mesmo os mais insatisfeitos com a situação atual da ilha terem razões para não arriscar.

Especialistas da Bloomberg Economics estimaram um custo de cerca de US$ 10 trilhões (R$ 49,06 trilhões) de uma eventual operação militar da China para retomar sua província rebelde.


Esse valor é o equivalente a 10% do Produto Interno Bruto (PIB) global, superando em muito o impacto da guerra da Ucrânia, da pandemia de Covid-19 e mesmo da crise financeira global de 2008.


O maior peso econômico e militar da China, o crescente sentimento de identidade nacional de Taiwan e as relações turbulentas entre Pequim e Washington apontam que as condições para uma crise estão postas. As eleições presidenciais do próximo sábado, 13 de janeiro, em Taiwan são um potencial ponto de conflito.

Pessoas jantam em um restaurante enquanto uma tela transmite o presidente da China, Xi Jinping, durante seu discurso de Ano Novo em Pequim, em 31 de dezembro de 2023 — Foto: PEDRO PARDO / AFP
Pessoas jantam em um restaurante enquanto uma tela transmite o presidente da China, Xi Jinping, durante seu discurso de Ano Novo em Pequim, em 31 de dezembro de 2023 — Foto: PEDRO PARDO / AFP

Pouca gente vê alta probabilidade de uma iminente invasão chinesa. O Exército de Libertação Popular não está mobilizando tropas no entorno de Taiwan. Relatos de corrupção nas forças armadas da China têm lançado dúvidas sobre a capacidade do presidente Xi Jinping de realizar uma ofensiva militar bem-sucedida.

Autoridades dos EUA dizem que as tensões diminuíram um pouco no encontro de novembro entre o presidente Joe Biden e Xi, que prometeu medidas para atrair investidores estrangeiros.

Ainda assim, os conflitos na Ucrânia e na Faixa de Gaza lembram como as tensões latentes podem se transformar em conflitos concretos da noite para o dia. Todos, desde os investidores de Wall Street aos estrategistas militares e ao conjunto de empresas que dependem dos semicondutores de Taiwan, já estão agindo para se protegerem deste risco.

Especialistas em segurança nacional no Pentágono, grupos de acadêmicos nos EUA e no Japão, e empresas de consultoria globais estão imaginando cenários que vão desde uma “quarentena” marítima chinesa em Taiwan até a tomada das ilhas periféricas de Taiwan ou mesmo uma invasão chinesa em grande escala.

Jude Blanchette, especialista em China do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, diz que o interesse nos riscos de uma crise em Taiwan “explodiu” por parte de empresas multinacionais para as quais ele dá consultoria desde a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022. O assunto surge em 95% das conversas, diz ele.

A escassez de semicondutores no mundo após a pandemia, impactando empresas de vários setores, dá uma dimensão do que está em jogo em Taiwan, principal produtor desses dispositivos. O impacto de uma guerra no Estreito de Taiwan, um dos pontos de navegação comercial mais movimentados do mundo, seria muito maior.

Somente as 20 empresas do mundo que mais compram semicondutores da gigante Taiwan Semiconductor Manufacturing somam US$ 7,4 trilhões em valor de mercado. A falta de semicondutores foi o principal impacto econômico considerado pelos economistas da Bloomberg.

Os especialistas consideraram impactos econômicos no caso de uma escaldada na tensão com, por exemplo, um bloqueio do acesso a Taiwan pela China. Mas, no caso de uma guerra, o cenário mais temido, os especialistas concluíram:

  • A economia de Taiwan seria fortemente afetada, com retração de cerca de 40% do PIB
  • Com o corte de laços comerciais com grandes parceiros e sem acesso a semicondutores avançados, a China também perderia muito: 16,7% do PIB, o segundo maior do planeta. Isso considerando que os EUA conseguiria arregimentar uma forte aliança de países dispostas a sancionar economicamente a China.
  • Para os EUA, que são a maior economia global, mesmo distante geograficamente, teria muito a perder, por exemplo, com a alta dependência que empresas como a Apple têm de componentes eletrônicos asiáticos. O custo para o PIB americano seria de 6,7%
  • Para o mundo como um todo, a perda no PIB global seria de 10,2%, com países asiáticos como Coreia do Sul, Japão e outras economias do leste asiático mais impactadas.

Fonte:https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2024/01/10/se-a-china-invadir-taiwan-qual-sera-o-impacto-na-economia-global-economistas-fizeram-a-conta.ghtml

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