O CÂNCER EM DEZ ANOS, MORTES PELA DOENÇA CAEM MAS NÚMERO DE NOVOS CASOS SUBIU: OCOLOGISTAS APONTAM OS 6 TIPOS COM AS MAIORES EXPECTATIVAS DE CURA E COM AS PIORES PREVISÕES

  Estudo prevê 79 mil novos casos de câncer no Brasil em 2023

O câncer em dez anos: oncologistas apontam os 6 tipos com as maiores expectativas de cura e com as piores previsões

Em entrevista ao GLOBO, médicos falam que os tumores de mama, pulmão e os hematológicos terão grandes avanços com tratamentos e os de pâncreas, cérebro e fígado ainda representam um grande desafio

Por 

Bernardo Yoneshigue

 e 

Giulia Vidale

 — Rio de Janeiro e São Paulo

13/01/2024 04h30  Atualizado há 2 semanas

Hoje, o câncer mata cerca de 10 milhões de pessoas por ano, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). Embora a expectativa para o futuro em relação a novos diagnósticos não seja muito otimista – com especialistas citando o impacto cada vez maior de hábitos de vida nocivos nos números de novos casos –, o cenário do tratamento, e até da possibilidade de uma cura, é mais animador.


É o que dizem oncologistas ouvidos pelo GLOBO, que contam como novas tecnologias em desenvolvimento têm demonstrado resultados promissores e podem mudar o jogo para tumores como de pulmão, de mama e hematológicos (leucemia, linfoma e mieloma) na próxima década. Enquanto isso, outras neoplasias, como de cérebro, de pâncreas e de fígado, devem avançar de forma mais lenta.

Novos tratamentos

As principais ferramentas que devem chegar aos pacientes são modalidades novas da imunoterapia, terapias celulares, como o famoso Car-T Cell, e o avanço de drogas-alvos, direcionadas a subtipos específicos de cada câncer identificados pela análise genética do tumor.


No caso da imunoterapia, descoberta que rendeu o Nobel de Medicina a uma dupla de cientistas em 2018, hoje a técnica envolve principalmente os chamados inibidores de checkpoint, medicamentos que bloqueiam proteínas expressadas pelo câncer que fazem com que ele se “esconda” do sistema imune.

— Agora estamos vendo surgir novas estratégias, como os anticorpos conjugados a drogas, em que a quimioterapia se acopla a um anticorpo para ser entregue dentro da célula. Outra são anticorpos biespecíficos, que se ligam a dois alvos ao mesmo tempo. E tem as vacinas terapêuticas com a tecnologia de RNAm, das doses da Covid-19, que ensinam o sistema imune a combater o tumor específico do paciente. É um futuro promissor — diz o presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e do Instituto Oncoclínicas, Carlos Gil.

Outra técnica que já ganha notoriedade com relatos de pacientes é o Car-T Cell. A terapia celular também envolve o sistema imune, porém funciona de forma diferente. Nela, os linfócitos T (células de defesa) são retirados do paciente e alterados geneticamente em laboratório para reconhecerem os antígenos do tumor específico daquele indivíduo. Em seguida, são reintroduzidos e passam a combater o câncer.

— É outra área que vai se destacar muito. É como se eu pegasse o soldado, o modificasse para ele reconhecer melhor o bandido. Por enquanto, está aprovado apenas para câncer hematológico, mas existem diversos estudos com terapias semelhantes em andamento para os tumores sólidos — afirma o oncologista Antonio Carlos Buzaid, diretor médico geral do Centro de Oncologia da Beneficência Portuguesa de São Paulo.

A mudança no cenário passa ainda por um maior entendimento das subdivisões do câncer a nível genético, e pelo uso de fármacos mais efetivos para cada versão, explica a chefe da divisão de Pesquisa Clínica e Desenvolvimento Tecnológico do Instituto Nacional do Câncer (Inca), Andreia Melo.

— Hoje para cada tipo de câncer existem subgrupos a depender das alterações moleculares. Às vezes temos pacientes com doenças às quais damos o mesmo nome, mas que se comportam de maneiras muito diferentes. As neoplasias têm sobrenomes, até mesmo vários. E o que a oncologia busca é identificar essas alterações exatas e desenvolver terapias para cada uma delas — explica.

As tecnologias devem avançar, mas já ganham espaço. Um estudo publicado na revista científica Cancer Discovery mostrou que de 198 drogas oncológicas aprovadas nos Estados Unidos entre 1998 e 2022, cerca de 43% (86) são classificadas como terapias de precisão – assim como a imunoterapia, as terapias celulares e outras drogas-alvo.

Os tipos de câncer com maiores promessas

  • Câncer de mama

Nesse cenário, O GLOBO pediu que os especialistas elencassem os tipos de câncer com melhor perspectiva (e com pior). O oncologista Fernando Maluf, membro do comitê gestor do Hospital Israelita Albert Einstein e fundador do Instituto Vencer o Câncer, cita o câncer de mama como um dos que apresentam uma perspectiva promissora.

— O prognóstico tem aumentado de modo significativo com as drogas anti-HER2, um tipo de tumor que representa 30% do total. Várias vezes, quando a doença é local ou regional, vemos uma resposta completa antes da cirurgia. Em alguns casos, observa-se até erradicação da doença metastática. Claramente o câncer de mama é um dos tumores no qual tanto para doença localmente avançada quanto metastática, os resultados vão melhorando dia a dia — diz.

  • Neoplasias hematológicas

São os tumores ligados ao sangue e no momento os grandes beneficiados pela terapia Car-T Cell, lembra Gil: — Já estamos tendo muito avanço para elas e vamos ver cada vez mais. As terapias celulares são tecnologias muito avançadas. Proporcionam aumento do tempo de sobrevida, mas também cura de pacientes que antes seriam incuráveis.

  • Câncer de pulmão

Buzaid cita que um dos tipos de câncer com mais divisões genéticas identificadas e que, por isso, torna-se mais suscetível a terapias-alvo é o de pulmão. Gil explica que isso tem levado a um grande avanço já nos últimos 5 anos até mesmo para casos avançados e com metástase.

— Agora estamos vendo algumas dessas tecnologias, como a imunoterapia, nos pacientes mais precoces, o que aumenta a chance de cura. Com estratégias também de rastreamento, vamos ver uma antecipação do diagnóstico e, com isso, poder curar mais pacientes. Importante por ser uma doença que tem uma incidência e uma mortalidade altas — diz o presidente da SBOC.

Os tipos de câncer cujo avanço é mais difícil

  • Câncer de pâncreas

Consenso entre os especialistas é que a expectativa ainda não é boa para o câncer de pâncreas. Entre os motivos, Buzaid cita que “ele tem múltiplos mecanismos de escape ao sistema imune, então hoje não temos nenhuma imunoterapia para ele”. Gil, da SBOC, diz ainda que, mesmo sendo um dos mais estudados geneticamente, o avanço foi pouco. Enquanto isso, por ser um tumor silencioso e agressivo, o diagnóstico costuma ser tardio e apresentar uma elevada taxa de mortalidade.

  • Câncer de cérebro

Outro tumor agressivo é o glioblastoma, tipo mais comum de câncer primário no cérebro e na medula óssea. Um dos problemas é que os sintomas demoram a aparecer, e o tratamento nem sempre é possível. Com isso, a sobrevida tende a ser curta.

— Uma primeira dificuldade é a localização, porque pode não permitir que o paciente seja submetido a uma cirurgia pelos riscos de sequelas motoras, neurológicas, extremamente importantes. Além disso, o sistema nervoso é envolto por uma barreira, as meninges, que o protegem contra infecções, mas que também acaba impedindo a passagem de determinadas medicações — explica Andrea, do Inca.

  • Câncer de fígado

O câncer de fígado é considerado entre os cinco tumores mais agressivos que existem. Quando o diagnóstico é precoce, o tratamento, majoritariamente cirúrgico, é eficaz. Porém, por ser uma doença silenciosa, geralmente é identificado de forma tardia, quando as opções terapêuticas são limitadas.

A sobrevida, por exemplo, é inferior a cinco anos na maioria dos casos avançados. Além disso, o tumor responde pouco à imunoterapia, o que leva a modalidade terapêutica a oferecer pouca perspectiva.


Fonte:https://oglobo.globo.com/saude/noticia/2024/01/13/o-cancer-em-dez-anos-oncologistas-apontam-os-6-tipos-com-as-maiores-expectativas-de-cura-e-com-as-piores-previsoes.ghtml


Câncer: mortes pela doença caem, mas há um porém

Sociedade Americana do Câncer diz que 4 milhões de óbitos foram evitados nos EUA desde 1991, mas casos estão aumentando

 

Por 

Gina Kolata

 Em The New York Times

18/01/2024 16h19  Atualizado há uma semana

As mortes por câncer nos Estados Unidos estão diminuindo, com 4 milhões de óbitos evitados desde 1991, de acordo com o relatório anual da Sociedade Americana do Câncer.

Por outro lado, a sociedade informou que o número de novos casos da doença subiu para mais de 2 milhões em 2023, contra 1,9 milhões em 2022.

O câncer continua a ser a segunda principal causa de morte nos Estados Unidos, depois das doenças cardíacas. Os médicos acreditam que é urgente compreender as mudanças na taxa de mortalidade, bem como as mudanças nos diagnósticos.


A sociedade médica destacou três fatores principais na redução das mortes por câncer: diminuição do tabagismo, detecção precoce e avanços nos tratamentos.

— Nas décadas de 1980 e 1990, o câncer de mama metastático era considerado uma sentença de morte —, disse Donald Berry, estatístico da Universidade do Texas e autor de um novo artigo sobre câncer de mama com Sylvia K. Plevritis, da Universidade Stanford.

O artigo, publicado no JAMA, descobriu que a taxa de mortalidade por câncer de mama caiu para 27 por 100 mil mulheres em 2019, de 48 por 100 mil em 1975. Isso inclui o câncer metastático, que representou quase 30% da redução no câncer de mama.

O tratamento do câncer da mama melhorou tanto que se tornou um fator mais importante do que o rastreio para salvar vidas, disse Ruth Etzioni, bioestatística do Fred Hutchinson Cancer Center.

As taxas de mortalidade diminuíram até mesmo entre mulheres na faixa dos 40 anos, que geralmente não faziam mamografias regulares, explica Mette Kalager, professora de medicina da Universidade de Oslo e do Hospital Universitário de Oslo, “indicando um efeito substancial do tratamento”, disse ela. .

— A maior história não contada sobre o câncer de mama é o quanto o tratamento melhorou — explica H. Gilbert Welch, epidemiologista de câncer do Brigham and Women’s Hospital. — Esta é uma boa notícia inequívoca.

O que não sabemos: a causa de novos casos de câncer

A American Cancer Society descobriu aumentos na incidência de muitos tipos de câncer, incluindo câncer de mama, próstata, útero, cavidade oral, fígado (em mulheres, mas não em homens), rim e cólon e reto entre adultos de meia-idade. A incidência de melanoma também aumentou. Os números foram ajustados para mudanças no tamanho da população.

William Dahut, diretor científico da sociedade médica disse que, embora a taxa geral de câncer colorretal tenha continuado a diminuir, ele estava preocupado com o aumento em um grupo: pessoas com menos de 55 anos: a incidência é agora de 18,5 por 100 mil habitantes e tem aumentado entre 1% e 2% ao ano desde meados da década de 1990, prevendo-se que 30.500 pessoas sejam diagnosticadas este ano.

No final da década de 1990, o câncer colorrectal era a quarta principal causa de morte em pessoas com menos de 50 anos. Agora é a principal causa em homens com menos de 50 anos e a segunda principal causa em mulheres. Os médicos não sabem dizer por quê.

— Não temos uma boa explicação— disse Dahut. — É dieta? É obesidade? É algo no meio ambiente? É exposição no útero?

Mas o câncer colorretal continua a ser predominantemente uma doença das pessoas mais velhas. Nas pessoas com mais de 65 anos, tem diminuído 3% ao ano. A sua incidência é agora de 155,4 por 100 mil habitantes, prevendo-se que 87.500 pessoas sejam diagnosticadas este ano.

Diagnóstico

Os pesquisadores dizem que quanto mais você procura o câncer, mais você encontra. À medida que o rastreio se torna cada vez mais sensível, os médicos descobrem cada vez mais cancros.

Isso parece uma coisa boa— não seria melhor remover os tumores antes que se tornem perigosos? O problema é que por vezes o tratamento pode ser desnecessário, porque nem todos os cânceres são potencialmente fatais ou mesmo perceptíveis. Alguns tipos de câncer nunca se espalham. Outros realmente somem. Outros podem eventualmente ter um resultado fatal, mas a pessoa morre antes de outra coisa. Mas pode ser impossível distinguir os cânceres inofensivos dos mortais, por isso todos são tratados.

A situação é chamada de sobrediagnóstico, mas ninguém pode dizer com precisão com que frequência isso ocorre. Com a mamografia, disse Berry, as estimativas de sobrediagnóstico variam de 0 a 50%.

— Os aumentos na incidência são sempre preocupantes à primeira vista, mas precisamos entender por que estão ocorrendo, porque podem ser um artefato — afirma Etzioni.

Esse é o desafio que os pesquisadores do câncer enfrentam agora.


Fonte:https://oglobo.globo.com/saude/noticia/2024/01/18/cancer-mortes-pela-doenca-caem-mas-ha-um-porem.ghtml? 

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