INFLAMAÇÃO EM CÉLULAS NERVOSAS PODE SER UMA DAS CAUSAS DO AUTISMO

 

Autismo (Foto: charamelody/Flickr)

Autismo (Foto: charamelody/Flickr)

  • LARISSA LOPES*
  • REVISTA GALILEU
 ATUALIZADO EM 


Pesquisadores do projeto Fada do Dente, ligado à Universidade de São Paulo (USP), realizaram uma importante descoberta sobre o autismo clássico, transtorno grave que tem como consequências o comprometimento da fala e a estereotipia — nome dado aos movimentos feitos de maneira repetitiva, como estalar os dedos, bater os pés, balançar as mãos. 

Utilizando dentes de leite doados por famílias de crianças autistas e não-autistas, os cientistas extraíram e reprogramaram células embrionárias para criar neurônios e astrócitos, que são células responsáveis por sustentar os neurônios e filtrar o que chega do sistema sanguíneo até eles.

Com essas células em mãos, os pesquisadores simularam uma série de combinações que permitiram verificar uma inflamação nos astrócitos e que pode ser uma das causas do autismo clássico.

Reprogramação
O primeiro passo da pesquisa foi a reprogramação das células presentes no dente de leite, um método não invasivo para pesquisas que requerem a análise de partes delicadas, como as células do sistema nervoso.

“Todas as células do nosso organismo tem todos os genes de quando nós éramos um embrião”, explica Fabiele Russo, principal autora do artigo publicado na Biological Psychiatry, e fruto de seu doutorado. “O que vai diferenciar essas células umas das outras são os genes que estão sendo expressos nelas naquele momento ou não. Alguns estão dormindo e outros estão acordados”, compara.

A reprogramação faz com que as células expressem genes que as façam voltar à fase embrionária, caracterizada pela pluripotência, ou seja, a capacidade de formar qualquer célula do organismo human. Dessa maneira, os pesquisadores conseguiram desenvolver neurônios e astrócitos para realizarem a pesquisa.

Com as células à disposição, os cientistas combinaram neurônios e astrócitos de indivíduos autistas e não autistas. Foi assim que observaram que, quando neurônios saudáveis eram combinados com astrócitos autistas, suas ramificações diminuiam, enquanto que, quando o neurônio autista era combinado com um astrócito saudável, ele recuperava suas ramificações.

Esquema de combinações feitas no estudo. (Foto: Fapesp)

Esquema de combinações feitas no estudo. (Foto: Fapesp)

“Isso mostra que o papel do astrócito saudável é o de resgatar o fenótipo sadio de um neurônio”, explica Patrícia Beltrão Braga, professora da USP, orientadora de Fabiele e coordenadora do projeto Fada do Dente.

Com isso, os pesquisadores puderam verificar uma inflamação que já havia sido citada em pesquisas anteriores, mas que até então não tinha sido relacionada aos astrócitos. Os cientistas finalmente confirmaram que os astrócitos autistas tinham uma produção elevada da proteína interleucina 6, comprometendo as atividades do sistema nervoso.

Tratamento
A pesquisa abrangeu, além de doadores não autistas, apenas pacientes diagnosticados com autismo clássico. Por isso, não se pode afirmar que todas a variantes do espectro autista apresentem a mesma inflamação, mas a descoberta do papel do astrócito abre um novo caminho para que outros estudos sejam feitos.

Com a evidência, cientistas esperam testar novas medicações para melhorar a qualidade de vida de pessoas com autismo clássico.

* Com supervisão de Thiago Tanji

Fonte:https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2018/03/inflamacao-em-celulas-de-neuronios-pode-ser-uma-das-causas-do-autismo.html

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