COMO É O NATAL EM BELÉM, ENQUANTO ISRAEL CONTINUA BOMBARDEIO EM GAZA


Freiras oram em Belém em meio à guerra de Israel - Foto: HAZEM BADER / AFP
Freiras oram em Belém em meio à guerra de Israel — Foto: HAZEM BADER / AFP

Como é o Natal em Belém, enquanto Israel continua bombardeio em Gaza

Católicos palestinos não comemoram data, em luto por pelos mortos na guerra

Por Agências Publicado em 25 de dezembro de 2023 | 07h57 - Atualizado em 25 de dezembro de 2023 | 12h45

Israel prossegue com os bombardeios nesta segunda-feira (25/12) em Gaza, e o Hamas anunciou que os ataques provocaram várias mortes, em um dia de Natal que para os cristãos palestinos está marcado por uma guerra sem previsão de fim.

Em Belém, na Cisjordânia ocupada, onde Jesus nasceu segundo a tradição cristã, a prefeitura suspendeu quase todas as festividades e as ruas, que costumam ficar lotadas neste período do ano, estão praticamente desertas.

O Hamas, que governa a Faixa de Gaza, anunciou durante a madrugada que um bombardeio israelense deixou pelo menos 18 mortos em Khan Yunis, no sul do território cercado pelas tropas israelenses.

Fadi Sayegh, um cristão palestino que passou a véspera de Natal em um hospital Khan Yunis para fazer diálise, disse que não celebraria o Natal. "Não há alegria. Não temos árvore de Natal nem decorações, não há jantar em família e nem uma celebração", lamentou. "Rezo para que a guerra termine rapidamente. 

A religiosa Nabila Salah, da Igreja Católica de Gaza, também expressou a tristeza com o atual cenário. No início do mês, uma mãe e uma filha, que estavam refugiadas em um templo católico da Cidade de Gaza, morreram quando foram atingidas por tiros de um soldado israelense, denunciou o Patriarcado Latino de Jerusalém. "Como eu posso festejar enquanto minha cidade está destruída, minha família deslocada e meus irmãos e irmãs de luto?", questionou a religiosa.

O conflito começou há 80 dias, em 7 de outubro, depois que o Hamas executou um ataque surpresa contra Israel que deixou quase 1.140 mortos, a maioria civis, segundo um balanço da reportagem baseado em dados divulgados pelas autoridades israelenses. 

Os milicianos do Hamas também sequestraram 240 pessoas e 129 permanecem como reféns em Gaza, segundo o governo de Israel. Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e iniciou uma ofensiva terrestre e aérea que deixou mais de 20.400 mortos em Gaza, segundo o movimento islamista, que governa sozinho o território palestino desde 2007. 

O papa Francisco iniciou a missa da véspera de Natal com uma crítica ao "estrondo das armas". "E, nesta noite, o nosso coração está em Belém, onde o Príncipe da Paz ainda é rejeitado pela lógica perdedora da guerra, com o estrondo das armas que ainda hoje O impede de encontrar alojamento no mundo", expressou o pontífice argentino durante a missa na Basílica de São Pedro, no Vaticano.

Bombardeios na véspera de Natal

O Ministério da Saúde do Hamas informou no domingo que pelo menos 70 pessoas morreram em um bombardeio israelense que atingiu o campo de refugiados de Al Maghazi, no centro da Faixa de Gaza. O Exército de Israel afirmou à reportagem que estão “investigando" o "incidente".

O porta-voz da pasta da Saúde, Ashraf al Qudra, afirmou que o balanço de vítimas provavelmente aumentará porque muitas famílias estavam no local no momento do bombardeio. O Hamas também anunciou que 10 pessoas morreram no campo de Jabalia, norte de Gaza. A reportagem não conseguiu comprovar o relato com fontes independentes.

A guerra provocou uma grande destruição em muitas áreas de Gaza e os  2,4 milhões de habitantes do território enfrentam escassez de água, comida, combustível e remédios devido ao cerco imposto por Israel dois dias após o ataque do Hamas. Desde então, a população depende, desesperadamente, da entrada de ajuda humanitária. 

Quase 80% da população foi deslocada pela guerra, segundo a ONU, e muitas pessoas fugiram para o sul do território estreito de 362 quilômetros quadrados. Agora sobrevivem em barracas, expostas ao frio. 

O chefe do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), Filippo Grandi, afirmou que "a única solução é um cessar-fogo humanitário". O diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, lamentou "a destruição do sistema de saúde de Gaza", que chamou de "tragédia".

"Guerra será longa", diz Israel

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou no domingo que o país paga um "preço elevado pela guerra", mas acrescentou: "Não temos escolha além de continuar lutando. A guerra será longa", advertiu. 

O Exército israelense informou nesta segunda-feira as mortes de dois soldados, o que eleva a 17 o número de baixas militares desde sexta-feira. No total, 156 militares do país morreram desde o início da ofensiva terrestre de Israel na Faixa de Gaza, no fim de outubro.

Dois palestinos detidos em Gaza por soldados israelenses denunciaram no domingo que sofreram torturas, uma acusação corroborada por um médico e negada pelo Exército.

O médico Marwan al Hams, diretor do hospital de Najar em Rafah, sul de Gaza, afirmou que os homens apresentam hematomas e marcas de agressões.

(AFP)

Fonte:https://www.otempo.com.br/mundo/como-e-o-natal-em-belem-enquanto-israel-continua-bombardeio-em-gaza-1.3300151

'Belém não tem celebração nem alegria neste Natal'

Presépio com Jesus cercado por arame farpado

CRÉDITO,REUTERS

Legenda da foto,

Presépio neste ano mostra Jesus cercado por arame farpado

  • Author,Shaimaa Khalil
  • Role,Da BBC News em Belém

A atmosfera em Belém é marcada pela ausência.

As celebrações de Natal foram canceladas este ano na cidade por causa da guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza. Belém fica na Cisjordânia, um dos territórios palestinos ocupados.

Os milhares de turistas e peregrinos que normalmente encheriam a Praça da Mangedoura neste ano não estão ali.

"A cidade não tem felicidade, não tem alegria, crianças, Papai Noel. Não há celebração este ano", diz Madeleine, moradora de Belém.

A famosa árvore de Natal, geralmente no meio da praça, não está lá. Não há canções ou estandes da feira de Natal.

Em vez disso, um presépio que mostra Jesus recém -nascido cercado por grandes rochas e arame farpado foi instalado como uma homenagem às crianças mortas em Gaza.

Em uma igreja de natividade incomumente vazia, o padre Eissa Thaldjiya diz à BBC que sua cidade parece uma sombra de si mesma.

"Sou sacerdote nesta igreja há 12 anos. Nasci em Belém, e nunca a vi assim - mesmo durante a pandemia covid -19", diz ele.

"Temos irmãos e irmãs em Gaza - é isso que dificulta a celebração... Mas é bom estarmos unidos em orações".

Jawdat Mikhael vive em Belém, mas sua família está presa no norte de Gaza. Seus pais, irmão e dezenas de outros parentes estão se abrigando na Igreja da Sagrada Família, perto de Shejaiya, no leste da cidade de Gaza - uma área devastada pelo bombardeio israelense.

Enquanto Jawdat conversa com a BBC, ele recebe uma ligação de seu pai, Han'na Mikhael.

A conexão é instável - mas ele se apega a um vislumbre de seu pai.

Manifestantes seguram bandeira da palestina

CRÉDITO,EPA

Legenda da foto,

Protesto pede paz nos territórios palestinos

Han'na diz a seu filho que a família está ok. Ele diz que conseguiu sair da igreja pela primeira vez em mais de duas semanas para tentar encontrar comida. Ele diz que só há escombros ao redor do prédio e que todas as lojas estão queimadas. "É uma destruição total", diz ele.

Ele se levanta ao dizer que a comunicação está difícil e que não há água. A comida também é escassa. "O suficiente para nos mantermos vivos, mas não para encher o estômago", diz ele.

Han'na chora quando fala sobre o quão diferente o Natal foi no ano passado.

"Em dias como esse, estaríamos decorando a igreja. Havia canções. As pessoas vinham ajudar. Mas agora estamos apenas orando para sair daqui vivos."

A família já sofreu uma perda terrível.

Há uma semana, a avó de Jawdat, Naheda Khalil Anton - que também estava se abrigando na igreja em Gaza - foi baleada duas vezes no estômago enquanto estava a caminho do banheiro. Sua tia Samar Kamal Anton correu para ajudá -la e levou um tiro na cabeça.

Jawdat mostra fotos do funeral.

Jawdat Mikhael , um jovem árabe, segura um celular onde conversa com um homem mais velho
Legenda da foto,

Jawdat Mikhael conversa com pai, que está em Gaza

Sua família estava se abrigando na Igreja da Sagrada Família desde o início da guerra. Agora, eles enterraram seus entes queridos lá.

A família culpa atiradores israelenses pela morte. O exército de Israel diz que fará uma investigação.

Através das lágrimas, Han'na diz que as duas mulheres da família morreram diante de seus olhos. "Foi um choque... foi insuportável", disse ele.

Ele pede desculpas por chorar e por não conseguir falar muito.

"Sinto muito, mas é tão difícil. Nós sofremos muito", conta.

Um grande esntrondo é ouvido durante a ligação, antes de Jawdat, com relutância, se despedir de seu pai.

Hoje de manhã, em Belém, os sinos da igreja estão tocando enquanto alguns habitantes locais se reuniram em torno de Jesus na instalação dos escombros. Músicas árabes tocadas nos alto-falantes pedem salam - paz - para crianças.

Dezenas de pessoas estão segurando uma grande bandeira palestina - acenando para cima e para baixo.

O cardeal católico Pierbattista Pizzaballa, patriarca latino de Jerusalém, está em Belém para fazer seu discurso tradicional. Ele estava usando o tradicional cachecol palestino em preto e branco.

Antes de entrar na Igreja da Natividade, ele disse que este era "um Natal muito triste".

Cardeal dá benção na Cisjordânia

CRÉDITO,EPA

Legenda da foto,

O cardeal Pierbattista Pizzaballa pediu paz para Gaza

"Estamos em uma guerra terrível. Nossos pensamentos vão em primeiro lugar para Gaza, para o nosso povo em Gaza... dois milhões estão sofrendo", disse ele.

Ele acrescentou que "um cessar -fogo não é suficiente".

"Temos que parar essas hostilidades e virar a página porque a violência gera apenas a violência".

A poucos passos da Praça da Mangedoura, as lojas de lembranças da rua mais turística não tem a agitação habitual. Os famosos lenços palestinos, capas de almofada e artefatos ficam nas vitrines intocados.

Normalmente, essa época é alta temporada para o comércio. Não esse ano.

"Não podemos comemorar com tantas pessoas mortas em Gaza", diz Abood Subouh, dono de uma loja no mercado local, perto da Praça da Mangedoura.

Ele diz que está triste por ver sua cidade e seus negócios assim, mas que comemorar o Natal parece errado este ano.

"Não podemos ser felizes porque não estamos do outro lado do mundo. Ainda estamos na Palestina", diz.

Fonte:https://www.bbc.com/portuguese/articles/cv2lpgm32g8o#:~:text

Natal em Belém: conflito em Gaza afeta celebração na cidade considerada o berço do cristianismo

Pela tradição cristã, Jesus Cristo nasceu na cidade Palestina, onde, até ano passado, a época do Natal era um tempo de festa e de luzes. Mas, agora, o cenário está bem diferente.

Por Fantástico

24/12/2023 22h23  Atualizado há 14 horas

 

Como o conflito em Gaza mudou o Natal na cidade de Belém, na Cisjordânia, considerada o berço do cristianismo.

Pela tradição cristã, Jesus Cristo nasceu na cidade Palestina, onde, até ano passado, a época do Natal era um tempo de festa e de luzes, de comidas típicas e de alegria, como é comemorado no Brasil.

Mas, agora, o cenário está bem diferentePerto da Praça da Manjedoura, um dos pontos turísticos de Belém, decorações apagadas e ruas vazias.

Todos os anos, nessa época em dezembro, peregrinos vão do mundo inteiro visitar a Igreja da Natividade e ver a árvore de Natal que a cidade monta. Agora neste ano, o que é possível ver é que não tem nenhum sinal de comemoração.

O Natal em Belém foi afetado pela guerra provocada pelo ataque terrorista do Hamas, há quase três mesesO prefeito de Belém e os líderes das igrejas cancelaram as festas para mostrar solidariedade.

A história e os desafios de Belém

Belém é uma cidade palestina localizada na Cisjordânia, território ocupado por Israel desde a Guerra de 1967. A cidade fica a menos de 10 quilômetros de outra cidade bíblica, Jerusalém, e a pouco mais de 60 quilômetros da Faixa de Gaza, onde moram cerca de 30 mil palestinos, a maioria muçulmanos. Mas também vivem na cidade palestinos cristãos.

Há menos de 100 anos, esses árabes cristãos eram a grande maioria da cidade. Hoje, são apenas 10 mil, segundo o padre ortodoxo que cuida da Igreja da Natividade.

O padre Issa Thaljieh descreve qual é a diferença na celebração do Natal este ano em comparação aos anos anteriores na Igreja da Natividade:

“Na época de Natal, tinha filas e muitas pessoas do mundo todo, milhares, vindo para Belém e sobretudo para a Igreja da Natividade, onde Jesus nasceu”. Agora não vemos ninguém. Desde o dia 7 de outubro, fica difícil para as pessoas visitarem. Então o Natal não é bem o Natal. Não tem árvore, música, bandas, ou qualquer tipo de celebração", conta.

Na Igreja Luterana, o que chama atenção é uma releitura do tradicional presépio natalino: as imagens de Maria e José observam um menino Jesus enrolado no lenço palestino - em meio a escombros da guerra.

“As pessoas estão tristes pelo que está acontecendo. Tememos o futuro dos nossos amigos e das nossas famílias, porque muitas pessoas aqui em Belém têm parentes em Gaza”, relata Munther Isaac, pastor evangélico luterano em Belém:

Impacto no turismo

Sem os peregrinos cristãos, o turismo - que é uma das principais atividades de Belém - também sofre.

A reportagem foi em uma rua que, mesmo quando não é época de Natal, fica cheia de turistas. Cada uma das portas azuis são lojas que estão vendendo lembrancinhas para as pessoas que vão visitar Belém. E agora o que é visto nesse ano é uma rua completamente vazia. O movimento em uma loja despencou.

"Não tivemos nenhum turista desde o dia 7 de outubro", diz um comerciante.

Um taxista conta que, antes da guerra, ganhava cerca de 100 dólares por dia na época do Natal - mais de R$ 500. Neste ano, tem feito apenas 50 shekels - pouco mais de 10 dólares. Neste Natal, continua sendo um local de esperança para os que tem fé. ainda sobrevive em Belém.

"O natal deste ano é sobre oração, a oração vai nos proporcionar um momento de esperança", diz o pastor evangélico Luterano.

“Que esse lugar onde Jesus nasceu dê esperança e força para as pessoas", diz o padre Issa Thaljieh.

Fonte: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2023/12/24/belem-nao-tem-celebracao-nem-alegria-neste-natal.ghtml

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