AFINAL, PLANTAS SÃO OS NOVOS PETS? O QUE REVELAM OS NÚMEROS DO MERCADO DE PAISAGISMO

 

O apartamento repleto de plantas do arquiteto Guto Requena — Foto: Filippo Bamberghi | Estilo Adriana Frattini
O apartamento repleto de plantas do arquiteto Guto Requena — Foto: Filippo Bamberghi | Estilo Adriana Frattini

Afinal, plantas são os novos pets? O que revelam os números do mercado de paisagismo

Das tradicionais suculentas às hortas inteligentes, várias são as tendências que têm deixado nossas casas cada vez mais verdes

 

Por Laura Raffs

11/11/2022 06h01  Atualizado há um ano

 

Você já deve ter escutado a frase “planta é o novo pet”, mas o que ela quer dizer? A afirmação não significa que os animais de estimação estão sendo substituídos. Ela vai além e fala sobre um mercado em ascensão. Nos últimos anos, o ramo dos pets encarou um aumento de demanda e se especializou na criação de todo um universo exclusivo que chamasse a atenção dos tutores – e o mesmo está acontecendo com as plantas.

O interesse em ter plantas em casa cresceu, assim como todo o universo que envolve o cuidar e o aprender sobre elas. “Até outro dia, nós dávamos resto de comida para os pets. Hoje, vemos as mais variadas marcas de rações e acessórios. O mercado das plantas também está passando por esse processo”, explica Rafael Pelosini, CEO e fundador da Yes We Grow, empresa que tem o objetivo de ajudar as pessoas a plantar mais e melhor.

Segundo a ferramenta Google Trends, no Brasil, “como fazer uma horta em casa” foi o assunto mais pesquisado na plataforma na categoria “Como fazer” em 2021. Além disso, o Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor) mostra um crescimento constante no mercado de flores desde 2012, que atingiu o seu auge no ano passado, com R$ 10,9 bilhões de faturamento. “As plantas são uma tendência que veio pra ficar nos lares do Brasil e do mundo”, conclui Thais Lemos, bióloga e paisagista.

Ainda, a pandemia teve destaque neste crescimento. Para se ter ideia, entre 17 de março e 17 de junho de 2020, a procura pelo termo "kit de jardinagem" aumentou 180%, de acordo com o Google Trends. O tempo de isolamento social potencializou uma série de fatores que contribuíram para o aumento do interesse pelas plantas, como a necessidade de estar envolto pela natureza, a procura por uma nova forma de lazer e bem-estar, o anseio pela mudança de hábitos e o desejo de um ambiente esteticamente bonito.

Bem-estar e estética

De acordo com o livro O jeito Harvard de ser feliz, escrito pelo pesquisador Shawn Achor, ter plantas é um dos sete hábitos que tornam as pessoas mais felizes. Estar em contato com a natureza e cuidar de plantas impacta a nossa saúde mental de forma positiva, pois ajuda a combater o estresse e pode ser uma forma de lazer. “Quando se mexe na terra, você se concentra em cuidar de uma vida, aprende sobre o tempo da planta e aprecia o seu ciclo”, conta a paisagista Thais Lemos.

No Instagram, 8,7 milhões de publicações utilizam a hashtag #UrbanJungle — Foto: Ksenia Chernaya/Pexels
No Instagram, 8,7 milhões de publicações utilizam a hashtag #UrbanJungle — Foto: Ksenia Chernaya/Pexels

Além disso, as plantas contribuem para a criação de um ambiente mais aconchegante e bonito. Não é à toa que a estética urban jungle se tornou uma tendência: a hashtag com o termo reúne cerca de 8,7 milhões de publicações no Instagram. Esse estilo consiste em utilizar plantas e elementos ligados à natureza para construir a decoração da sua casa ou apartamento. “As pessoas procuraram deixar os seus ambientes domésticos mais bonitos, principalmente durante a pandemia, quando passamos a ficar mais tempo em casa”, diz Renato Opitz, diretor de Comunicação e Marketing do Ibraflor.

Neste sentido, a internet vem como um grande facilitador para os que desejam implementar essa estética dentro de casa. “As redes sociais possibilitaram que as pessoas aprendessem mais sobre decoração e o universo das plantas. Hoje, esse tipo de conteúdo viraliza muito mais”, ressalta Tamiris Alves, à frente do Instagram Casa Loft 320, que fala sobre decoração, jardinagem e lifestyle. Um exemplo disso é a extensa gama de tutoriais do it yourself (“Faça Você Mesmo” em português) que temos à disposição, capazes de explicar de maneira fácil e descomplicada como incorporar tendências da decoração dentro do seu próprio lar.

Mudança de hábitos e conscientização

Modelo de horta inteligente desenvolvido pela Yes We Grow — Foto: Divulgação
Modelo de horta inteligente desenvolvido pela Yes We Grow — Foto: Divulgação

Mas não são apenas as plantas ornamentais que ganharam o coração das pessoas. A busca por bons hábitos e uma alimentação mais saudável também influenciou o mercado das plantas, tanto que a #hortaemcasa reúne 549 mil publicações no Instagram. Neste ramo, surgiram diversas formas de se cultivar alimentos em casa, desde os tão queridos temperinhos e ervas até legumes, verduras e frutas.

Um exemplo de praticidade são as hortas inteligentes, que contam com sistemas de irrigação e iluminação automáticos, ideais para quem não tem tempo para cuidar de plantas. Ainda, existem as hortas verticais ou suspensas, uma opção para quem não tem muito espaço e quer dar um toque diferente ao ambiente. No final, todas as opções trabalham para um objetivo comum: o cultivo do próprio alimento.

Além de ajudar na questão da saúde (física e mental), as hortas e plantas em geral contribuem para a criação de uma consciência ecológica. “Cultivar uma planta e ver o seu crescimento nos ajuda a entender de onde vem o alimento que consumimos, como foi esse processo e sua importância. Aprendemos a valorizar”, explica Rafael Pelosini.

A medicina das plantas

Além de ajudar na questão da saúde (física e mental), as hortas e plantas em geral contribuem para a criação de uma consciência ecológica. — Foto: Leeloo Thefirst/Pexels
Além de ajudar na questão da saúde (física e mental), as hortas e plantas em geral contribuem para a criação de uma consciência ecológica. — Foto: Leeloo Thefirst/Pexels

Outro ramo do mercado de plantas que vem crescendo são as plantas medicinais – e elas estão mais próximas do nosso dia a dia do que imaginamos. Sabe aquele chá de boldo que a sua avó faz para se livrar da dor de estômago? Esses saberes populares tem como base a medicina das plantas. Inclusive, os princípios ativos de muitas delas são utilizados na fabricação de remédios pela indústria farmacêutica.

E não é apenas no corpo físico que as plantas mostram seus benefícios: a saúde mental também pode ser impactada. Um chá de camomila, por exemplo, possui propriedades relaxantes. Os próprios óleos essenciais, que se tornaram uma tendência, utilizam moléculas aromáticas de plantas para proporcionar sensação de bem-estar e podem até ajudar no relaxamento e sono. Tudo isso acontece quando o cheiro aciona o sistema límbico do nosso cérebro.

A aromaterapia é uma técnica que utiliza óleos essenciais extraídos de plantas para promover o equilíbrio físico, mental, espiritual e emocional — Foto: Getty Images
A aromaterapia é uma técnica que utiliza óleos essenciais extraídos de plantas para promover o equilíbrio físico, mental, espiritual e emocional — Foto: Getty Images

E existe muito mais desse universo: estudos atuais sobre o chá de ayahuasca, uma bebida de origem indígena feita com ervas, mostram seu potencial no tratamento da ansiedade e depressão. “Existem muitas pesquisas clínicas de substâncias que vêm das plantas que mostram sua capacidade de tratar doenças modernas, principalmente as mentais e psíquicas”, completa Guga Korte, designer para tecnologia e sustentabilidade e membro da Fundação Txai, que luta para promover o fortalecimento de povos tradicionais brasileiros, com ênfase nos indígenas da Amazônia acreana.

Mas as plantas medicinais vão além disso. “Através delas, há todo um resgate da ancestralidade do ser humano e a sua relação ancestral com a natureza”, comenta Guga. Porém, com a industrialização e modernização da sociedade, parte da população acabou perdendo esses conhecimentos. Por isso, é importante que haja a valorização de quem entende e aplica em seu dia a dia a medicina das plantas: os povos originários do Brasil. “Eu acredito na democratização das plantas medicinais. Mas isso precisa ser feito com a participação das populações indígenas, para que seja sustentável e não destrua a floresta”, reforça.

O que o futuro reserva?

As hortas verticais ou suspensas são boas opções para otimizar espaço — Foto: Divulgação
As hortas verticais ou suspensas são boas opções para otimizar espaço — Foto: Divulgação

Ter plantas já se tornou um desejo de muitos, mas o futuro deste mercado será maior do que simplesmente ter uma flor ou uma horta dentro de casa. “Existe uma exigência do público para um novo tipo de produto: mais fácil de ser usado e que permita que as pessoas cultivem de uma maneira mais simples, gostosa e eficiente”, ressalta Rafael Pelosini. Por isso, a tendência é que aconteça cada vez mais uma especialização deste meio, com o desenvolvimento de novos itens que atendam as demandas e vontades do consumidor.


Além da praticidade, outro fator que pode impactar esse mercado é a preocupação da marcas com pautas socioambientais. Em 2019, um estudo feito pela agência norte-americana Union + Webster mostrou que 87% da população brasileira prefere comprar produtos e serviços de empresas sustentáveis. “Hoje, utilizamos apenas os vasos feitos pela Vasap, nossa parceira, que são feitos de plástico 100% reciclado”, exemplifica a produtora de conteúdo Tamiris Alves. “Nós vamos observar consumidores cada vez mais conscientes e exigentes por marcas que sejam éticas e tenham um compromisso com a melhoria do dia a dia, das comunidades e do planeta”, arremata Rafael.


Fonte:https://casavogue.globo.com/arquitetura/paisagismo/noticia/2022/11/plantas-novos-pets-mercado-paisagismo.ghtml

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