Os novos hábitos de leitura com as redes sociais
Com a pandemia e as redes sociais, os livros ganharam mais espaço e uma
nova geração de leitores surgiu – e veio para ficar!
Por Malu Pinheiro (@mariluisapp)
29/10/2023 05h39 Atualizado há 5 horas
Desde os clássicos da literatura até os romances contemporâneos, os brasileiros sempre tiveram uma relação especial com os livros. Mas, nos últimos anos, o hábito da leitura tem passado por uma transformação significativa. Prova disso foi a Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro deste ano, que ocorreu entre 1º e 10 de setembro e celebrou seu 40º aniversário com resultados impressionantes. O evento recebeu mais de 600 mil visitantes e alcançou a marca de 5,5 milhões de livros vendidos. A média de livros adquiridos por pessoa foi de nove – o maior número da história do evento!
Será que existe uma explicação por trás desse boom da leitura? Segundo Mariana Kaplan, diretora de marketing da Editora Sextante e Arqueiro, as pesquisas do mercado editorial apontam para um caminho otimista, apesar do avanço ainda ser tímido. Para ela, foi durante a pandemia do coronavírus, a partir de 2020, que as pessoas redescobriram o prazer dos livros.
"A indústria teve um crescimento nominal de faturamento de 6% em 2022, excluindo o segmento de livros científicos e técnicos. Esse número nos traz bastante esperança em relação ao futuro do mercado editorial, pois conseguimos crescer mesmo em um cenário de quebra de livrarias e reaquecimento econômico", diz.
E, se o hábito da leitura cresceu, o perfil do leitor também mudou. "Hoje, ele é mais participativo e pede uma interação maior com as editoras. Marca presença nas redes sociais, forma comunidades com outros leitores e também troca diretamente com os autores favoritos", diz Rafaella Machado, editora-executiva da Galera Record.
Redes sociais como influência
É claro que vários fatores têm contribuído para as mudanças nos hábitos de leitura dos brasileiros, mas as redes sociais talvez sejam o maior deles. Inclusive, por muito tempo se pensou que a internet competiria com os livros, quando na verdade, revelou-se um catalisador para a leitura. Segundo Rafaella, o TikTok, por exemplo, passou a pautar as mesas de exposição em livraria.
"As redes sociais são importantes nessa construção de uma comunidade leitora. Seus usários indicam novos títulos, debatem sobre livros e até criam fanfics", brinca. Até porque a recuperação judicial de livrarias de referência, como Saraiva e Cultura, acompanhada em seguida da pandemia, transformou a dinâmica da indústria em favor do varejo online, que hoje representa 35% das vendas do mercado. "Nesse novo cenário, o papel do livreiro na jornada de compra do leitor foi reduzido, e vemos o crescimento das redes sociais como fonte de recomendação e descoberta de novos livros", explica Mariana.
Daí, surgiram os booktokers, criadores de conteúdo focados em literatura dentro do TikTok e que, juntos, possuem um dos maiores engajamentos na rede chinesa, com mais de 150 bilhões de visualizações na hashtag, de acordo com a YOUPIX, consultoria de negócios e marketing digital brasileira. "Eles têm um papel relevante no resgate de clássicos, na promoção de uma literatura mais diversa e também na viralização de livros publicados há uma década que ainda não tinham decolado", afirma Mariana.
Inclusive, na Bienal, dos dez livros mais vendidos das Editoras Sextante e Arqueiro, oito são sucessos do TikTok. Por outro lado, se as redes sociais influenciam a leitura dos brasileiros, a tendência digital ainda não desbancou os livros físicos. No Brasil, a versão digital ainda representa uma fração pequena do mercado, 6% do total. "Em ficção, categoria que na Editora Arqueiro é dominada por leitores jovens que são nativos digitais, a nossa penetração de e-books é três vezes maior do que em livros de não ficção", pontua Mariana. Já Rafaella acredita que, mesmo os jovens, que compram muitos e-books, preferem ter também o livro físico exposto em suas prateleiras.
Tendências para a leitura
A pandemia impulsionou o hábito da leitura, e isso é fato. Mas, será que ele veio para ficar? "A gente espera que sim! Uma nova geração de leitores surgiu durante o isolamento social e, mesmo com a volta à normalidade, esses vínculos entre os fãs e o amor pelas histórias continua a crescer. Agora, com o diferencial de ser possível encontrar autores pessoalmente em eventos como a Bienal, por exemplo", reflete Rafaella.
Talvez outro caminho que possa surgir em breve – e que impulsione ainda mais os livros – sejam os audiobooks. "Estamos muito entusiasmados com a vinda da Audible [serviço de livros narrados da Amazon] para cá em 2023", pontua Mariana. Isso porque o mercado de audiolivros vem crescendo nos Estados Unidos, e o Brasil é o terceiro país no mundo que mais consome podcasts. Ou seja, o sucesso pode ser grande! "No mundo em que vivemos, onde a leitura compete com outras formas de entretenimento como televisão e celular, o audiolivro oferece um conteúdo que pode ser consumido junto a outras atividades, como afazeres domésticos, exercícios físicos e deslocamento para o trabalho", diz Mariana. Em papel, na tela ou em áudio, o importante é que a leitura continue a ser uma parte importante dos nossos dias!
Os livros mais vendidos na Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro de 2023:
SEXTANTE:
- Taylor Swift, de Wendy Loggia
- As coisas que você só vê quando desacelera, de Haemin Sunim
- Os segredos da mente milionária, T. Harv Eker
EDITORA ARQUEIRO
- A hipótese do amor, de Ali Hazelwood
- Amor teoricamente, de Ali Hazelwood
- Rainha Charlotte, de Julia Quinn
EDITORA GALERA RECORD
Internacionais
- A biblioteca da meia-noite, de Matt Haig
- É assim que acaba, de Colleen Hoover
Nacionais
- Tudo é rio, de Carla Madeira
- O amor não é óbvio, de Elayne Baeta
GRUPO COMPANHIA DAS LETRAS
- O mar me levou a você, de Pedro Rhuas
- Eu nasci para isso, de Alice Oseman
- Vermelho, branco e sangue azul, de Casey Mcquisto
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