'MAIS DE 10 MIL BACTÉRIAS EM ROUPAS ÍNTIMAS': SAIBA QUAL A VIDA ÚTIL E COMO LAVAR AS PEÇAS

 Saiba como lidar com os microrganismos que habitam em nossas roupas íntimas

'Mais de 10 mil bactérias em roupas íntimas': Saiba qual a vida útil e como lavar as peças

Pesquisadores indicam ser impossível 'zerar' os microrganismos das peças, e que isso não representa um problema; em alguns casos, porém, é preciso ter atenção

 

Por 

Amaia Odriozola 

Em El País — Madrid

28/10/2023 04h00  Atualizado 28/10/2023


Elas estão por toda parte. No teclado, no celular, nos transportes. As bactérias vivem ao nosso redor sem que as vejamos, e não há problema algum. Mas, nos últimos anos, a pesquisa científica sobre como esses organismos invadem itens comuns, como roupas, tem se intensificado – e a situação adquire um aspecto interessante quando descobrimos a quantidade de bactérias que vivem na roupa íntima.

De acordo com o Good Housekeeping Institute, roupas íntimas limpas podem conter até 10 mil bactérias vivas. Maite Muniesa, professora de microbiologia e membro do Departamento de Genética, Microbiologia e Estatística da Faculdade de Biologia da Universidade de Barcelona, acredita que “é impossível e contraproducente tentar manter os microrganismos zerados, porque vivemos cercados por eles”.

– E, em nosso próprio corpo, há muitos. Portanto, nós mesmos vamos contaminar as roupas que vestimos. Não há motivo para preocupação, nosso sistema imunológico e nossos próprios microrganismos nos protegem dos que estão ao nosso redor, que, aliás, nem sempre são patogênicos. É lógico e razoável manter uma certa higiene pessoal e de nossas roupas, mas não é preciso exagerar nos riscos – disse ela.

No entanto, não é tranquilizador pensar que nossas roupas íntimas podem abrigar desde salmonela até hepatite, como conclui Charles Gerba, professor de microbiologia e Ciências do Meio Ambiente da Universidade do Arizona em um artigo. Na publicação, ele afirma que não há necessidade de realizar desinfecções especiais em lavanderia diária, a menos que haja pessoas doentes em casa.

– Outra coisa é no caso de profissionais de saúde em contato com pacientes doentes, ou no caso de ter em casa alguém doente com uma infecção intestinal, por exemplo. Nesse caso, é recomendada uma limpeza adicional das roupas com um desinfetante ou com água sanitária, já que, de fato, as roupas podem ter sido contaminadas.

O que encontraríamos em nossa roupa íntima sob o microscópio

Assumindo que estamos falando de roupas íntimas usadas em um dia normal, encontraríamos grandes quantidades de bactérias da pele, da área urinária/vaginal e da área retal. Segundo Muniesa, “não há problema nisso”. Às vezes, algumas pessoas podem ter uma infecção urinária devido a microrganismos de sua área retal, mas normalmente isso ocorre em pessoas com uma flora vaginal fraca.

– Se a flora normal estiver saudável e estável, ela serve como uma barreira de proteção contra possíveis patógenos na maioria das vezes. Raramente a roupa íntima será contaminada por microrganismos do ambiente, porque normalmente não teremos muito contato da roupa com superfícies ou com o ar – observa Muniesa.

Além de encontrar vestígios de sujeira, urina, fezes ou secreção vaginal, deve-se considerar que entre as pernas, especialmente nas dobras e virilhas, há umidade, tornando-se um local propício para a reprodução de bactérias, leveduras e fungos, o que pode aumentar o risco de infecções genitais, micose da virilha ou dermatite bacteriana.

– Embora normalmente pensemos em bactérias, também somos portadores de outros microrganismos, como parasitas da sarna (que estão em alta agora) ou o protozoário Trichomonas vaginalis, além de fungos como a Candida ou certos dermatófitos – afirmou Dolo Vidal, membro do grupo de Ensino e Divulgação da Sociedade Espanhola de Microbilogia. – No caso de sutiãs, encontraríamos espécies de fungos saprófitos e outras bactérias típicas da pele.

Secar as roupas ao sol

A luz ultravioleta desempenha um papel desinfetante que elimina as bactérias, portanto, pendurar as roupas ao sol ajuda a preveni-las. Segundo Muniesa, o aumento da temperatura nas roupas age “como um excelente desinfetante” que “reduzirá o número de bactérias”. Apesar disso, a ação não as eliminará completamente, uma vez que penduradas ao ar livre elas também estarão mais expostas.

– Nós estamos cercados por eles em todos os lugares, e não é necessário ser alarmista. Não precisamos eliminá-los sistematicamente, nosso corpo está cheio de microrganismos e precisa deles para suas funções vitais, como a digestão de alimentos, proteção e provavelmente muitas outras funções que estamos apenas começando a entender. Apenas alguns desses microrganismos são patogênicos e podem nos causar danos.

Descartar após seis meses?

Então, qual deve ser a vida útil de uma calcinha ou sutiã? Não existe um prazo oficial ou recomendado para a vida útil de roupas íntimas, pois isso depende de diversos fatores, como os tecidos usados na fabricação, o uso e os cuidados dispensados. Apesar de haver inúmeras opiniões, parece que a data de validade é um conceito bastante subjetivo.

Como Philip M. Tierno, Ph.D., professor de microbiologia e patologia na Faculdade de Medicina da Universidade de Nova York, explica, contanto que você lave sua roupa íntima após cada uso, não há motivo relacionado a germes para descartar suas calcinhas antigas após um período arbitrário. Elas não têm data de validade.

– Enquanto você lavar e desinfetar suas roupas íntimas, e elas estiverem mecanicamente funcionais, sem buracos e não estiverem sujas, você pode mantê-las – diz Tierno. – Quando elas se desgastarem ou o elástico parar de funcionar, você saberá que precisa substituí-las.

O que acontece se você reutilizar o mesmo par de calcinhas sem lavá-las?

Estamos de acordo que não é o ideal, mas também é verdade que às vezes acontecem situações inesperadas. Talvez você não tinha outras limpas à mão, talvez não esteja em casa, de qualquer forma, se for algo pontual, não causará danos significativos.

A pele, em geral, é um ambiente bastante hostil para a maioria dos microrganismos, porque é um ambiente muito seco, exceto em áreas de dobras cutâneas (por exemplo, sob os seios), pés ou axilas, onde há mais umidade e maior abundância de microrganismos, como fungos.

– No entanto, algumas pessoas podem ser portadoras de certos fungos ou outras bactérias que podem ser patogênicas, como Staphylococcus aureus, embora quando realizamos estudos de colonização desses microrganismos em portadores, a porcentagem de pessoas portadoras também seja alta – explica Dolo Vidal.

Tanto a vulva quanto a área perineal têm um ambiente quente e úmido, perfeito para a reprodução de microrganismos. Especialistas alertam sobre o risco de usar roupas íntimas sujas, pois aumenta as chances de irritação da pele ou dermatite vulvar, odores desagradáveis, candidíase e vaginose bacteriana, e até mesmo o desenvolvimento de erupções cutâneas ou infecções por fungos e leveduras na vagina e na bexiga.

Portanto, é recomendável usar roupas íntimas limpas diariamente; além disso, se você pratica esportes ou faz exercícios, seria bom trocar de calcinha e sutiã depois de terminar, e antes de ir para a cama (se você é do grupo que dorme de calcinha), substituir as que você usou durante o dia por um par limpo.


Fonte:https://oglobo.globo.com/saude/noticia/2023/10/28/mais-de-10-mil-bacterias-em-roupas-intimas-saiba-qual-a-vida-util-e-como-lavar-as-pecas.ghtml

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