Abusos na igreja: 13 padres suspensos e mais de um
terço dos suspeitos já morreu
Dos 98 nomes que as dioceses receberam do relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja Portuguesa, cinco são leigos e 93 sacerdotes, 36 dos quais já falecidos.
De acordo com o Jornal de Notícias, três semanas após a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja Portuguesa ter entregado os nomes dos alegados abusadores aos bispos, foram suspensos 13 padres e um leigo.
O patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, afastou na terça-feira quatro sacerdotes, todos responsáveis por paróquias.
Segundo o mesmo jornal, dos 24 nomes indicados pelas vítimas como sendo autores de abusos sexuais que a diocese recebeu, oito são de sacerdotes falecidos, dois são sacerdotes doentes e retirados, três de sacerdotes sem qualquer nomeação e quatro são nomes desconhecidos.
Dessa lista, um dos nomes refere-se a um leigo e outro a um sacerdote que abandonou o sacerdócio. Cinco dos padres estão no ativo, tendo sido quatro agora suspensos. O outro sacerdote referido peça comissão independente já tinha sido investigado pela mesma denúncia e o caso foi arquivado. Está no ativo.
O Porto afastou três padres; Angra dois; Braga, Guarda, Vila Real e Évora um; e Leiria afastou um leigo.
O nome de sacerdotes que já morreram e que constam da lista é uma das críticas feitas ao relatório pela Igreja. “Como era possível não haver mortos, já que o estudo vai até 1950? Mas é importante sabermos os nomes dos mortos, para percebermos o fenómeno”, afirmou o psiquiatra Daniel Sampaio, membro da comissão, ao Expresso.
Fonte:https://zap.aeiou.pt/abusos-igreja-padres-suspeitos-527680
“Todos somos pecadores”. Bispo de Beja apela ao
perdão dos padres abusadores arrependidos
O bispo de Beja acredita que os padres abusadores que se mostrarem arrependidos devem ser perdoados. D. João Marcos também não adianta o que pretende fazer com os párocos suspeitos de abusos na sua diocese.
O bispo de Beja, D. João Marcos, apelou esta terça-feira a que os padres suspeitos de abusar sexualmente de menores possam ser perdoados caso se mostrem arrependidos e façam penitência.
“Todos somos pecadores, todos somos limitados, todos temos falhas. Esta maneira de abordar não é muito católica. Na Igreja Católica existe o perdão”, afirma o bispo em entrevista à SIC.
Sobre as respostas contraditórias que vários responsáveis da Igreja têm dado sobre como a instituição deve lidar com as denúncias de casos feitas no relatório da comissão independente e sobre se os padres devem ou não ser suspensos de funções, D. João Marcos apela ao perdão.
“Se realmente as pessoas estão arrependidas do que fizeram, se fizerem a penitência e repararem o que fizeram. Se há este novo nascimento, que o perdão nos oferece, isso é importante. Não podemos desvalorizar isso. A justiça é como que a estrutura que segura, que dá firmeza, a este edifício que é a caridade, que é o perdão, que é a misericórdia”, defende.
Recorde-se que o cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, já se manifestou publicamente contra a suspensão preventiva dos padres suspeitos de abusos sexuais, afirmando que só a Santa Sé pode avançar com este castigo.
No entanto, o bispo auxiliar de Braga, D. Nuno Almeida, e o reitor do seminário maior de Coimbra, o padre Nuno Santos, discordam dessa visão e garantem que os bispos têm poder para tomar a decisão de afastar os párocos.
D. João Marcos avança ainda que há nove casos de suspeitas de abusos na sua diocese, mas que não conhece os nomes dos padres suspeitos porque saiu mais cedo da reunião da Conferência Episcopal Portuguesa realizada na semana passada.
“Cada caso é um caso. A decisão que tomarei dependerá em grande parte desta segunda análise dos casos”, disse, questionado sobre o que planeia fazer com os padres suspeitos.
D. João Marcos foi um dos bispos apontados pela comissão independente como não tendo respondido ao pedido de entrevista feito. O bispo de Beja alega que se esqueceu de responder ao convite devido aos problemas de memória que passou a ter após ter sofrido um AVC há alguns anos.
Fonte:https://zap.aeiou.pt/bispo-beja-perdao-padres-abusadores-525528
Houve bebés abusados pela Igreja, revela relatório final
4815 crianças abusadas pela Igreja desde 1950. 77% dos agressores eram padres
“Fim do celibato não vai acabar com abusos”.
Ornelas lembra “papás e mamãs abusadores”
22 MARÇO, 2023
O relatório na íntegra só será divulgado às 15 horas, mas desde as 9h30 que já estão a ser divulgadas as principais conclusões na conferência de imprensa de apresentação dos resultados na Fundação Calouste Gulbenkian.
A comissão validou 512 testemunhos dos 564 que recebeu, com um número mínimo de 4815 vítimas. Foram remetidos 25 casos para o Ministério Público.
Pedro Strecht, o pedopsiquiatra que coordenou a comissão, começou por prestar “um tributo e homenagem sincera a todas as vítimas dos abusos” que “são muito mais do que um número ou estatística”. O especialista frisa que “a maior parte das vítimas não acha que haja reparação possível, mas aguarda um pedido de desculpa dos abusadores”.
O pico dos abusos aconteceu entre 1960 e 1990 e a maioria dos crimes teve lugar em seminários (23%), na igreja (18,8%), em confessionários (14,3%), nas casas paroquiais (12,9%) ou em colégios internos e escolas católicas (6,9%).
Há ainda relatos de casos já no século XXI e, mais tarde, muitos dos abusos passaram a acontecer ao ar livre em agrupamentos de escuteiros. A esmagadora maioria (96%) dos abusadores eram homens e 77% eram padres.
Só 4% das vítimas fez queixa à polícia
Os distritos do país onde mais crimes terão acontecido são Lisboa, Porto, Braga, Santarém e Leiria e a grande maioria dos abusos aconteceu quando a vítima tinha entre 10 e 14 anos, com uma idade média de início de 11,2 anos.
As vítimas tinham, em média, 52,4 anos quando contactaram a comissão e a maioria (52,7%) são do sexo masculino. Em 27,5% dos casos, os crimes prolongaram-se durante períodos superiores a um ano. 52,7% das vítimas foram abusadas mais do que uma vez.
“Na amostra predominam pessoas com grau de literacia elevado, 32% tem licenciatura, mas há um grupo elevado – quase 18% – que só tem habilitações literárias até ao nono ano”, explica Pedro Stretch sobre o perfil das vítimas.
Cerca de 12,9% das vítimas são ainda pós-graduados. 88,5% são residentes em Portugal e 53% são católicos, sendo que 25,8% destes são praticantes.
A grande maioria dos casos nunca chegou a ser denunciada às autoridades. 43% das vítimas falaram pela primeira vez sobre as suas experiências com os especialistas da comissão, 77% nunca apresentaram queixa à Igreja e apenas 4% denunciaram os abusos à polícia.
Cerca de 52% das vítimas demoraram 10 anos a contar a alguém que tinham sofrido abusos. As vítimas do sexo masculino geralmente contam aos cônjuges e aos amigos e as vítimas do sexo feminino preferem falar com a família. 56,2% alegam que as pessoas a quem contaram acreditaram na veracidade das denúncias.
Nos casos em que as vítimas confrontaram os abusadores, poucos foram aqueles que se mostraram arrependidos.
“Apenas uma parte residual dos testemunhos demonstra algum tipo de arrependimento ou pedido de desculpa por parte da pessoa abusadora. Mas, mesmo assim, era algo que surgia sempre revestido de uma razão exterior, como uma tentação imputada injustamente à criança ou a impossibilidade de reprimir os sentimentos”, explica a cineasta Catarina Vasconcelos.
O relatório já chegou às mãos da Conferência Episcopal este domingo e a comissão vai enviar à Igreja a lista dos alegados abusadores ainda no activo. A lista será também entregue ao Ministério Público.
Laborinho Lúcio revela ainda que a maioria das 25 denúncias remetidas para o Ministério Público já prescreveu. “A comissão independente não tem que fazer juízos sobre a possibilidade de maior ou menor sucesso da investigação criminal”, realça o ex-ministro da Justiça, que defende ainda que a idade limite de 23 anos para a vítima para poder apresentar queixa deve ser aumentada até aos 30 anos.
Como vai a Igreja responder?
Vários membros da hierarquia da Igreja marcaram presença na divulgação dos resultados do relatório, incluindo D. José Ornelas.
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa adiantou que haverá uma assembleia extraordinária a 3 de Março para a CEP “reflectir sobre o significado” destes dados e para decidir que medidas vai adoptar para “fazer justiça ao sofrimento das vítimas que foram o eixo motor de todo o processo”.
Saberemos assim nas próximas semanas como a Igreja vai reagir às revelações da comissão e se vai seguir os exemplos das instituições de outros países que já foram alvo de investigações semelhantes.
Em França, por exemplo, depois de um relatório ter estimado que 330 mil vítimas foram abusadas por membros da Igreja entre 1950 e 2020, foi criado um Tribunal Penal Canónico Interdiocesano Nacional para acompanhar tantos os abusos sexuais como os delitos financeiros da Igreja.
A Conferência Episcopal francesa também vendeu imóveis das dioceses para pagar indemnizações às vítimas que podem chegar, no máximo, aos 60 mil euros. Até outubro do ano passado, havia 1500 pedidos de indemnização, mas só perto de 40 já tinham sido ressarcidas, relata o JN.
Outro exemplo que pode inspirar Portugal é o Chile. Em maio de 2018, todos os bispos chilenos apresentaram a renúncia ao Papa e pelo menos sete deixaram o cargo na sequência da onda de denúncias de abusos.
Na Bélgica, a Igreja pagou indemnizações às vítimas no valor de 3,9 milhões de euros, entre 2012 e 2015, através da fundação Dignidade, criada pela Conferência Episcopal. As indemnizações vão desde os 2500 euros nos casos de atentado ao pudor até aos 25 mil euros para as violações repetidas e graves.
Adriana Peixoto, ZAP //
Fonte:https://zap.aeiou.pt/4815-criancas-abusadas-igreja-77-padres-521910
“Eu sou heterossexual e não ando a deitar-me por aí assim de qualquer jeito”, diz José Ornelas, defendendo que o que precisamos é de pessoas equilibradas.
D. José Ornelas sugere que se acabe com a obrigatoriedade do celibato dos sacerdotes, mas realça que isso não significa o fim dos abusos sexuais de menores. O bispo de Leiria-Fátima lembrou que também há “papás e mamãs abusadores”.
“Eu nunca escondi que gostaria de ver padres casados na nossa Igreja. Era importante a ordenação de homens casados”, sublinha José Ornelas, em entrevista ao semanário Expresso.
O bispo insiste que acabar com celibato “é uma falsa solução” e, confrontado se pode ser uma causa, diz que “o que precisamos é de pessoas equilibradas”. “Eu sou heterossexual e não ando a deitar-me por aí assim de qualquer jeito”, atira.
Os resultados da investigação da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica ainda não foram discutidos com o Papa Francisco. Ornelas defende que “temos de ter tempo para gerir tudo”.
D. José Ornelas rejeita que tenha havido uma teatralização dos testemunhos e argumenta que “era importante que aquilo se dissesse”. “Perante o sofrimento, não há pudor que valha. É preciso ver, tocar e tentar levantar-se”, acrescenta.
Com a Jornada Mundial da Juventude à porta, o bispo diz que não se preocupa nem se deixa de preocupar com a hesitação de alguns jovens em participar após a revelação dos casos de abusos sexuais.
“Não posso embarcar nessa ideia, a Igreja não é um antro de pedofilia. Agora é preciso estar atento, porque numa concentração de jovens não ter esse cuidado é que seria mau”, afirma.
“Pedir desculpa significa, antes de mais, reconhecer. O sistema que nós tínhamos não previa tudo isso. Mas estamos a pensar criar um ponto de escuta, um sítio onde uma pessoa se pode queixar e tem acompanhamento. Algo à imagem do que foi a Comissão Independente”, disse ainda D. José Ornelas, ao Expresso.
O bispo diz ainda que as vítimas terão direito a “tratamento psiquiátrico, psicológico” e que “a Igreja pagará os tratamentos”. “A pessoa apresenta a fatura e nós pagamos”, explica.
Fonte:https://zap.aeiou.pt/jose-ornelas-papas-mamas-abusadores-525885
Igreja anunciou medidas sobre abusos: não paga às
vítimas e não afasta padres (para já)
CEP reagiu oficialmente ao relatório da comissão independente sobre os abusos sexuais na Igreja Católica. Vai haver memorial na JMJ.
“É com dor que, novamente, pedimos perdão a todas as vítimas de abusos sexuais no seio da Igreja Católica em Portugal”.
A Conferência Episcopal Portuguesa reagiu oficialmente ao relatório da comissão independente criada para estudar os casos de abusos sexuais na Igreja Católica, desde 1950.
Três semanas depois, em conferência de imprensa em Fátima, D. José Ornelas confirmou que não vai ser afastado qualquer padre suspeito. Pelo menos, para já.
“Só temos nomes, é muito difícil. Para termos os elementos necessários para dar andamento é evidente que precisamos de ter dados e essa lista que nós recebemos só tem nomes. Às vezes é só um Jacinto, um Albino, assim não dá. Não posso tirar alguém do Ministério só porque alguém o acusou. Não basta dizer, é preciso haver uma base sólida”, justificou o bispo e presidente da CEP.
Vai ser feita uma investigação “nome a nome”: a lista dos padres e outros religiosos ainda no activo, acusados de abusos, será do conhecimento de todas as dioceses para que cada acusado possa ser investigado. E, depois, cada diocese vai definir “as medidas apropriadas” em cada caso.
Será criada uma nova comissão independente que vai continuar a acompanhar este assunto dentro da Igreja em Portugal.
As vítimas de abuso têm vários organismos de apoio às vítimas às quais podem recorrer mas, sublinha o Correio da Manhã, também não foi anunciada qualquer indemnização por parte da Igreja às vítimas. O que contraria – para já – o que aconteceu em França ou nos EUA.
“Se há um mal feito por alguém, é esse alguém que é responsável. É uma questão individual”, explicou D. José Ornelas.
A lista de medidas, partilhada na rádio Renascença, inclui ouvir as vítimas através de um grupo específico, um pedido de perdão a todas as vítimas num gesto público que vai decorrer em Abril, em Fátima.
A Jornada Mundial da Juventude em Lisboa terá um memorial “para que os abusos não se voltem a repetir”.
A Igreja Católica disponibiliza-se para acolher e ajudar no acompanhamento espiritual, psicológico e psiquiátrico, e vai contactar instituições e desenvolver parcerias para acompanhamento.
Promete “tolerância zero” para com todos os abusadores e para quem tenha encobrido abusos na Igreja Católica e quer prevenir e formar para ter um ambiente seguro nos espaços eclesiais.
Também foi anunciada uma revisão das directrizes da Conferência Episcopal e dos planos de formação dos seminários e de outras instituições.
Esta lista de medidas foi um “passo atrás” da Igreja, critica no Público o jornalista e católico Jorge Wemans, que subscreveu a carta aberta que deu origem à comissão independente.
“Não vi nada concreto. Não sentimos nenhuma compaixão entre essas pessoas”, afirmou Lisete Fradique, do movimento Nós Somos Igreja, outro subscritor da carta.
Fonte:https://zap.aeiou.pt/abusos-igreja-nao-paga-vitimas-nao-afasta-padres-525024
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