REVERTER IMPACTOS E RISCOS DO AQUECIMENTO GLOBAL EXIGE MUDAR TRAJETÓRIA DO DESENVOLVIMENTO NO MUNDO

 

Gráfico demonstra as trajetórias de desenvolvimento (IPCC/Relatório Síntese)

Gráfico demonstra as trajetórias de desenvolvimento (IPCC/Relatório Síntese)

Para reverter impactos e riscos do aquecimento global, mundo precisa mudar trajetória de desenvolvimento

Relatório do IPCC exige atitude urgentes de combate ao aquecimento global
© Divulgação/WWF

Relatório síntese do IPCC reforça urgência de ações climáticas integradas no curto prazo; limitar o aquecimento global requer zerar emissões de CO2

 

Publicado em 20/03/2023 12h49


A urgência da ação climática no curto prazo e o aumento da ambição dos países para a redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE) e para a adaptação são fundamentais para reverter a trajetória do aquecimento global e dos impactos no longo prazo. A renovação do apelo dos cientistas para a ação imediata é a principal mensagem apresentada pelo relatório síntese do Sexto Ciclo de Avaliação (AR6) publicado nesta segunda-feira (20) pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). O documento resume o conhecimento sobre as mudanças climáticas e seus impactos e riscos, e ações de mitigação e adaptação.

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) integrou a delegação brasileira que participou da avaliação dos governos, que aprovaram linha por linha do Sumário do Relatório Síntese para Tomadores de Decisão durante a reunião na semana passada (13 a 17 de março), em  Interlaken, na Suíça.

“Ações de curto prazo vão se refletir no longo prazo. Isso é muito importante, pois se a janela de oportunidades não for aproveitada, as possibilidades futuras de redução do aquecimento global e de minimização de seus impactos ficam mais limitadas”, explica Diogo Santos, especialista no tema de impactos, vulnerabilidade e adaptação do MCTI que participou da reunião de avaliação final do IPCC.

O gráfico que ilustra as trajetórias de desenvolvimento (resiliente ao clima) que o mundo deve seguir, de acordo com as decisões e ações implementadas, demonstra o momento importante em que nos encontramos. Se houver ações rápidas e integradas no curto prazo, ainda é possível entrar em um caminho de baixas emissões e melhores condições de resiliência que permitam almejar uma maior sustentabilidade global no futuro. Se as decisões forem adiadas, trajetórias mais sustentáveis não serão mais possíveis.

“O relatório consolida as informações que foram apresentadas pelos grupos de trabalho e nos relatórios especiais. Traz as mensagens mais relevantes para subsidiar as políticas públicas, considerando os resultados dos diferentes relatórios deste sexto ciclo do IPCC, como a necessidade de integrar as agendas de mitigação (redução de emissões de GEE) e de adaptação com vistas ao desenvolvimento sustentável”, explica Santos.

O relatório também recebeu a contribuição de duas cientistas brasileiras. A ecóloga Mercedes Bustamante, que atualmente é presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), trabalhou como editora revisora do documento. A vice-presidente do IPCC para sistemas terrestres, Thelma Krug, é listada como autora e integrante do comitê diretor científico.

O documento direcionado aos formuladores de políticas está organizado em três tópicos: apresenta o estado e as tendências atuais; as mudanças climáticas, os riscos e as respostas de longo prazo; e as respostas que devem ser tomadas no curto prazo.

“O ciclo AR6 indicou os avanços da ciência na atribuição da mudança climática como vetor de eventos extremos, no aprimoramento de modelos e na avaliação de impactos, mas também de soluções”, explica Mercedes, que também participou da reunião de aprovação em Interlaken.

De acordo com a pesquisadora, o relatório síntese pode ser resumido em três componentes: urgência, gravidade e esperança. “[A urgência é que] não estamos ainda na rota para manter o 1.5°C, a gravidade [envolve] impactos distribuídos entre populações e ecossistemas, alguns com consequências irreversíveis em escala de centenas a milhares de anos”, afirma a cientista.

Segundo ela, o relatório também apresenta uma janela de esperança. “A janela de oportunidade ainda está presente com soluções que nos permitem reduzir as emissões à metade até 2030, mas para isso é preciso vontade política, cooperação, financiamento adequado e uma estrutura que considere equidade, justiça social e justiça climática.”

 

Emissões e a necessidade de aumento da ambição

O relatório reitera que a temperatura média global já está 1,1°C mais alta em relação aos níveis pré-industriais. As emissões médias de GEE entre 2010 e 2019 foram as mais altas em comparação com as registradas nas décadas anteriores.  Em 2019, as  emissões foram 12% mais altas em relação a 2010 e 54% se comparadas a 1990, muito embora a taxa de aumento tenha reduzido de 2,1% a 1,3% ao ano, entre 2010 a 2019. Os dados de 2019 indicam que 79% das emissões globais de GEE são oriundas dos setores de energia, indústria, transporte e construção, 22% têm origem em agricultura, florestas e uso da terra.

De acordo com o relatório, apesar da expansão das políticas e da legislação sobre mitigação, as emissões globais de GEE em 2030, conforme as contribuições determinadas nacionalmente (NDCs, na sigla em inglês) anunciadas até outubro de 2021, tornam provável que o aquecimento exceda 1,5°C durante o século 21, tornando  mais difícil limitar o aquecimento abaixo de 2°C. As políticas atualmente em implementação podem levar a um nível de aquecimento entre 2,2°C e 3,5°C até o final do século. Outro fator pontuado pelos cientistas no relatório é que há lacunas entre as emissões projetadas das políticas implementadas e as dos NDCs e os fluxos financeiros, que ficam aquém dos níveis necessários para atingir as metas climáticas em todos os setores e regiões.

O relatório síntese apresenta com alta confiança que reduções profundas, rápidas e sustentadas nas emissões de gases de efeito estufa levariam a uma desaceleração perceptível no aquecimento global dentro de cerca de duas décadas, e também para mudanças discerníveis na composição atmosférica dentro de alguns anos.

 

Perdas são proporcionais ao aumento da temperatura média e ações de adaptação

O relatório afirma que cada incremento de aquecimento resulta em perigos que aumentam rapidamente. Ondas de calor mais intensas, chuvas pesadas mais frequentes e outros extremos climáticos elevam ainda mais os riscos para o bem-estar humano e para os ecossistemas. Em cada região, as pessoas estão morrendo de calor extremo. A insegurança alimentar e hídrica vem se agravando com o aumento do nível de aquecimento. Quando os riscos se combinam com outros eventos adversos, como pandemias ou conflitos, tornam-se ainda mais difíceis de administrar.

De acordo com o relatório, se o aquecimento global não for contido, as opções de adaptação viáveis e eficazes hoje se tornarão restritas e menos eficazes. As perdas e danos aumentarão, e os sistemas humanos e naturais atingirão os limites de adaptação possível. Os melhores resultados da adaptação podem ser obtidos por meio de planejamento flexível, multissetorial, inclusivo e de longo prazo, com a consideração de potenciais co-benefícios entre os diferentes setores e sistemas. Muito embora o planejamento e a implementação da adaptação tenham progredido, a intensificação de ações de adaptação é fundamental para reduzir a distância entre o que está sendo feito e o que é necessário fazer.

 

Sobre o Sexto Ciclo de Avaliação do IPCC

O IPCC publica avaliações científicas abrangentes a cada seis ou sete anos. O anterior, o Quinto Relatório de Avaliação, foi concluído em 2014 e forneceu o principal aporte científico ao Acordo de Paris. O Sexto Ciclo de Avaliação do IPCC integra seis relatórios divulgados desde 2015: três Relatórios Especiais e três contribuições dos Grupos de Trabalho do IPCC.

A contribuição do Grupo de Trabalho I para o AR6, ‘Climate Change 2021: the Physical Science Basis’ (2021). A contribuição do Grupo de Trabalho II, ‘Mudança Climática 2022: Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade’ (2022). O Grupo de Trabalho III apresentou ‘Mitigação das mudanças climáticas’ (2022).

O IPCC também publicou os relatórios especiais sobre questões mais específicas durante a Sexta Ciclo de Avaliação: Aquecimento global de 1,5°C (2018); Mudanças Climáticas e Terra (2019); e Relatório especial sobre o oceano e a criosfera em um clima em mudança (2019). Os materiais foram traduzidos para o idioma português pelo governo brasileiro para facilitar o acesso à comunidade de países de língua portuguesa. Todas as publicações podem ser acessadas no Sistema de Registro Nacional de Emissões (SIRENE) do MCTI.

Fonte:https://www.gov.br/mcti/pt-br/acompanhe-o-mcti/noticias/2023/03/para-reverter-impactos-e-riscos-do-aquecimento-global-mundo-precisa-mudar-trajetoria-de-desenvolvimento

Reverter impactos e riscos do aquecimento global exige mudar trajetória de desenvolvimento

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24 Março 2023


Relatório síntese do IPCC reforça urgência de ações climáticas integradas no curto prazo; limitar o aquecimento global requer zerar emissões de CO2.

A reportagem é publicada por EcoDebate, 20-03-2023.

urgência da ação climática no curto prazo e o aumento da ambição dos países para a redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE) e para a adaptação são fundamentais para reverter a trajetória do aquecimento global e dos impactos no longo prazo. A renovação do apelo dos cientistas para a ação imediata é a principal mensagem apresentada pelo relatório síntese do Sexto Ciclo de Avaliação (AR6) publicado nesta segunda-feira (20) pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). O documento resume o conhecimento sobre as mudanças climáticas e seus impactos e riscos, e ações de mitigação e adaptação.

Ministério da CiênciaTecnologia e Inovação (MCTI) integrou a delegação brasileira que participou da avaliação dos governos, que aprovaram linha por linha do Sumário do Relatório Síntese para Tomadores de Decisão durante a reunião na semana passada (13 a 17 de março), em Interlaken, na Suíça.

“Ações de curto prazo vão se refletir no longo prazo. Isso é muito importante, pois se a janela de oportunidades não for aproveitada, as possibilidades futuras de redução do aquecimento global e de minimização de seus impactos ficam mais limitadas”, explica Diogo Santos, especialista no tema de impactos, vulnerabilidade e adaptação do MCTI que participou da reunião de avaliação final do IPCC.

O gráfico que ilustra as trajetórias de desenvolvimento (resiliente ao clima) que o mundo deve seguir, de acordo com as decisões e ações implementadas, demonstra o momento importante em que nos encontramos. Se houver ações rápidas e integradas no curto prazo, ainda é possível entrar em um caminho de baixas emissões e melhores condições de resiliência que permitam almejar uma maior sustentabilidade global no futuro. Se as decisões forem adiadas, trajetórias mais sustentáveis não serão mais possíveis.

“O relatório consolida as informações que foram apresentadas pelos grupos de trabalho e nos relatórios especiais. Traz as mensagens mais relevantes para subsidiar as políticas públicas, considerando os resultados dos diferentes relatórios deste sexto ciclo do IPCC, como a necessidade de integrar as agendas de mitigação (redução de emissões de GEE) e de adaptação com vistas ao desenvolvimento sustentável”, explica Santos.

O relatório também recebeu a contribuição de duas cientistas brasileiras. A ecóloga Mercedes Bustamante, que atualmente é presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), trabalhou como editora revisora do documento. A vice-presidente do IPCC para sistemas terrestres, Thelma Krug, é listada como autora e integrante do comitê diretor científico.

O documento direcionado aos formuladores de políticas está organizado em três tópicos: apresenta o estado e as tendências atuais; as mudanças climáticas, os riscos e as respostas de longo prazo; e as respostas que devem ser tomadas no curto prazo.

“O ciclo AR6 indicou os avanços da ciência na atribuição da mudança climática como vetor de eventos extremos, no aprimoramento de modelos e na avaliação de impactos, mas também de soluções”, explica Mercedes, que também participou da reunião de aprovação em Interlaken.

De acordo com a pesquisadora, o relatório síntese pode ser resumido em três componentes: urgência, gravidade e esperança. “[A urgência é que] não estamos ainda na rota para manter o 1.5°C, a gravidade [envolve] impactos distribuídos entre populações e ecossistemas, alguns com consequências irreversíveis em escala de centenas a milhares de anos”, afirma a cientista.

Segundo ela, o relatório também apresenta uma janela de esperança. “A janela de oportunidade ainda está presente com soluções que nos permitem reduzir as emissões à metade até 2030, mas para isso é preciso vontade política, cooperação, financiamento adequado e uma estrutura que considere equidade, justiça social e justiça climática.”

Emissões e a necessidade de aumento da ambição

O relatório reitera que a temperatura média global já está 1,1°C mais alta em relação aos níveis pré-industriais. As emissões médias de GEE entre 2010 e 2019 foram as mais altas em comparação com as registradas nas décadas anteriores. Em 2019, as emissões foram 12% mais altas em relação a 2010 e 54% se comparadas a 1990, muito embora a taxa de aumento tenha reduzido de 2,1% a 1,3% ao ano, entre 2010 a 2019. Os dados de 2019 indicam que 79% das emissões globais de GEE são oriundas dos setores de energia, indústria, transporte e construção, 22% têm origem em agricultura, florestas e uso da terra.

De acordo com o relatório, apesar da expansão das políticas e da legislação sobre mitigação, as emissões globais de GEE em 2030, conforme as contribuições determinadas nacionalmente (NDCs, na sigla em inglês) anunciadas até outubro de 2021, tornam provável que o aquecimento exceda 1,5°C durante o século 21, tornando mais difícil limitar o aquecimento abaixo de 2°C. As políticas atualmente em implementação podem levar a um nível de aquecimento entre 2,2°C e 3,5°C até o final do século. Outro fator pontuado pelos cientistas no relatório é que há lacunas entre as emissões projetadas das políticas implementadas e as dos NDCs e os fluxos financeiros, que ficam aquém dos níveis necessários para atingir as metas climáticas em todos os setores e regiões.

O relatório síntese apresenta com alta confiança que reduções profundas, rápidas e sustentadas nas emissões de gases de efeito estufa levariam a uma desaceleração perceptível no aquecimento global dentro de cerca de duas décadas, e também para mudanças discerníveis na composição atmosférica dentro de alguns anos.

Perdas são proporcionais ao aumento da temperatura média e ações de adaptação

O relatório afirma que cada incremento de aquecimento resulta em perigos que aumentam rapidamente. Ondas de calor mais intensas, chuvas pesadas mais frequentes e outros extremos climáticos elevam ainda mais os riscos para o bem-estar humano e para os ecossistemas. Em cada região, as pessoas estão morrendo de calor extremo. A insegurança alimentar e hídrica vem se agravando com o aumento do nível de aquecimento. Quando os riscos se combinam com outros eventos adversos, como pandemias ou conflitos, tornam-se ainda mais difíceis de administrar.

De acordo com o relatório, se o aquecimento global não for contido, as opções de adaptação viáveis e eficazes hoje se tornarão restritas e menos eficazes. As perdas e danos aumentarão, e os sistemas humanos e naturais atingirão os limites de adaptação possível. Os melhores resultados da adaptação podem ser obtidos por meio de planejamento flexível, multissetorial, inclusivo e de longo prazo, com a consideração de potenciais co-benefícios entre os diferentes setores e sistemas. Muito embora o planejamento e a implementação da adaptação tenham progredido, a intensificação de ações de adaptação é fundamental para reduzir a distância entre o que está sendo feito e o que é necessário fazer.

Sobre o Sexto Ciclo de Avaliação do IPCC

IPCC publica avaliações científicas abrangentes a cada seis ou sete anos. O anterior, o Quinto Relatório de Avaliação, foi concluído em 2014 e forneceu o principal aporte científico ao Acordo de Paris. O Sexto Ciclo de Avaliação do IPCC integra seis relatórios divulgados desde 2015: três Relatórios Especiais e três contribuições dos Grupos de Trabalho do IPCC.

A contribuição do Grupo de Trabalho I para o AR6, ‘Climate Change 2021: the Physical Science Basis’ (2021). A contribuição do Grupo de Trabalho II, ‘Mudança Climática 2022: Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade’ (2022). O Grupo de Trabalho III apresentou ‘Mitigação das mudanças climáticas

IPCC também publicou os relatórios especiais sobre questões mais específicas durante a Sexta Ciclo de AvaliaçãoAquecimento global de 1,5°C (2018); Mudanças Climáticas e Terra (2019); e Relatório especial sobre o oceano e a criosfera em um clima em mudança (2019). Os materiais foram traduzidos para o idioma português pelo governo brasileiro para facilitar o acesso à comunidade de países de língua portuguesa. Todas as publicações podem ser acessadas no Sistema de Registro Nacional de Emissões (SIRENE) do MCTI.

Fonte:https://www.ihu.unisinos.br/627277-reverter-impactos-e-riscos-do-aquecimento-global-exige-mudar-trajetoria-de-desenvolvimento

Os ursos polares serão os primeiros animais a serem extintos devido ao aquecimento global
© WWF

Aprovado por 195 governos, documento ressalta a necessidade crítica de uma ação climática urgente

Por WWF

Um relatório científico de enorme referência divulgado hoje (8 de outubro) na Coréia do Sul analisa as perspectivas de limitar o aquecimento global a 1,5 °C em relação ao Período pré-Industrial e ressalta a necessidade crítica de uma ação climática urgente. Aprovado por 195 governos, o documento ressalta a pequena janela de oportunidades que temos para sair do perigoso caminho de aquecimento em que o mundo se encontra.

 

O Relatório Especial do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) sobre o Aquecimento Global de 1,5 °C é o texto científico mais importante sobre a mudança climática e deve orientar a tomada de decisões dos governos no aprimoramento de seus compromissos climáticos nacionais em relação ao Acordo de Paris.

Confira o relatório aqui.

 

O relatório deixa claro que um cenário de 1,5 °C é mais seguro que 2 °C em termos de impactos climáticos, e que permitir que as temperaturas globais subam 2 °C acima dos níveis pré-industriais terá consequências ainda mais devastadoras, incluindo a perda de habitats naturais e de espécies, a diminuição de calotas polares e o aumento do nível do mar - impactando em nossa saúde, nossos meios de subsistência, nossa segurança humana e nosso crescimento econômico.
 

As emissões atuais levarão à quebra de pontos de inflexão, causando impactos irreversíveis, que serão desastrosos para as pessoas, nosso meio ambiente e nossa economia, com potencial de nos levar a limites onde a adaptação é impossível. Hoje, muitas comunidades já estão sofrendo as consequências negativas de perdas e danos.

 

O Dr. Stephen Cornelius, conselheiro-chefe do WWF internacional sobre mudança climática, analisou positivamente a reunião que aprovou o relatório: “Nós já esperávamos negociações duras sobre este relatório histórico e estamos felizes que os governos fizeram uma boa reflexão sobre o que foi apresentado. As promessas atuais dos países para reduzir as emissões são insuficientes para limitar o aquecimento global a 1,5 °C. Não podemos negociar com a ciência”, comentou.

 

Cornelius fez uma menção especial à urgência dessas ações: “Cada semestre é importante para as pessoas e para a natureza - esta é a realidade do nosso mundo em aquecimento. Sem cortes rápidos e profundos nas emissões de carbono, enfrentaremos impactos mais severos nos ecossistemas, desde os recifes de corais ao gelo marinho do Ártico e mais vida selvagem em risco”.

 

O documento destaca que as promessas existentes sob o Acordo de Paris não são suficientes para limitar o aquecimento a 2°C, muito menos 1,5°C, e quanto mais atrasamos o combate às emissões, maiores os impactos climáticos - alguns dos quais serão irreversíveis - e mais caras serão as soluções.

 

O relatório do IPCC e seu sumário para tomadores de decisão foram encomendados pelos governos após a conferência da ONU em Paris em 2015, quando foi decidido limitar o aumento na temperatura média global a bem abaixo dos 2°C acima dos níveis pré-Industriais, colocando esforços para que esse aumento fique em menos de 1,5°C.

 

Manuel Pulgar-Vidal, líder global da prática de Clima e Energia do WWF, destacou a responsabilidade ainda maior dos países a partir do lançamento: “Os governos pediram este relatório. Agora, em posse dele, eles devem atender à ciência para evitar os piores impactos das mudanças climáticas. Limitar o aquecimento a 1,5°C é possível, necessário e urgente. Ultrapassar o 1,5°C não é inevitável, mas não podemos atrasar mais a ação global”, comenta Pulgar-Vidal, acrescentando que “a diferença entre ‘impossível’ e ‘possível’ é a liderança política. O que precisamos agora é de um forte compromisso para garantir que vamos enfrentar o desafio que temos pela frente”.

 

Impactos no Brasil
 

O diretor executivo do WWF-Brasil, Mauricio Voivodic, afirma que o relatório reforça a importância do Brasil intensificar a implementação de ações concretas que diminuam a emissão de gases de efeitos estufa – e não ir na contramão do Acordo de Paris, como tem feito de forma recorrente: “Há pouco mais de uma semana, deputados de Rondônia acabaram com mais de meio milhão de hectares de áreas protegidas na Amazônia. Isso é uma abertura para o desmatamento ilegal, perda de biodiversidade e um passo contrário ao que nos comprometemos nas Conferências de Clima. O Brasil é um dos principais atores nas negociações internacionais climáticas da ONU, e precisamos aumentar a ambição das nossas metas para garantir o limite de 1,5ºC ao invés de não cumprirmos aquelas que nós mesmos já estipulamos”.

 

Voivodic também enfatiza o importante papel de cada pessoa nessa luta por um futuro de baixo carbono: “Nós podemos e devemos começar agora a mudar esse cenário de desequilíbrio social e ambiental. Nossas escolhas e hábitos, como diminuir o desperdício de alimentos dentro de casa, um consumo mais consciente, incentivando o comércio local e com produção mais responsável, com a economia de água e energia. Tudo isso faz parte. Mas também é importante que cada cidadão se lembre que a gestão pública, representada pelos candidatos em que acabou de votar, precisa ser cobrada por políticas mais firmes contra o aquecimento global”.

 

Para o coordenador do Programa Mudanças Climáticas e Energia do WWF-Brasil, André Nahur, o relatório reforça a necessidade de ação urgente, em todos os setores da economia e da sociedade. “No Brasil, a principal causa de emissões de gases de efeito estufa ainda é o desmatamento, que baixou há alguns anos, mas tem voltado a crescer. Isso acontece não só na Amazônia, mas também em outros biomas, como Cerrado e Mata Atlântica. Além disso, é extremamente necessário implantarmos efetivamente a agricultura de baixo carbono e formas mais eficientes e limpas de energia, em especial a solar descentralizada. O Brasil possui inúmeros exemplos de boas práticas climáticas, que aliam menos emissão de carbono a avanços socioeconômicos, e precisam ser promovidas e intensificadas. Por mais impactante que sejam os dados, o relatório mostra que um futuro de 1,5ºC  ainda é possível se agirmos agora.”

 

COP24 e aumento da ambição
 

O WWF pede que os governos intensifiquem e aumentem a ambição em seus próprios compromissos climáticos nacionais até 2020, consistente com a limitação do aquecimento global para abaixo de 1,5°C.

 

Os países são encorajados a anunciar seus compromissos revisados no Diálogo de Talanoa na 24ª conferência de partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP24), que será realizada em dezembro em Katowice, Polônia.


Fonte:https://www.wwf.org.br/?67822/Relatrio-do-IPCC-2018-sobre-aquecimento-global-de-15C-incita-mais-esforos-para-ao-climtica-global



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