POR QUE A DEMOCRACIA ALIMENTA TEORIAS DE CONSPIRAÇÃO

 

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Por que a democracia alimenta teorias da conspiração


Scott Radnitz*, Journal of Democracy em Português, novembro 2022.


Ao redor do mundo, teorias conspiratórias parecem ter tomado de assalto a política. Em países como Índia, Indonésia, Brasil, Tanzânia e Estados Unidos, tornaram-se amplamente aceitas alegações de que há conspirações em andamento, como um plano internacional para tomar a Floresta Amazônica, um complô secreto de homens muçulmanos para converter mulheres hindus casando-se com elas, uma infiltração chinesa na polícia nacional para suprimir protestos pós-eleitorais, um plano estrangeiro para pagar cientistas para exagerar a gravidade da Covid-19, e um esquema do “Estado profundo” para privar Donald Trump da vitória nas eleições presidenciais dos EUA em 2020, para citar apenas alguns exemplos (1).

Uma teoria da conspiração, por definição, é a crença de que indivíduos ou grupos estão “agindo secretamente para alcançar algum fim nefasto” (2). Como os exemplos acima indicam, esses relatos de eventos e de realidade social estiveram implicados em episódios recentes que incluem rejeição de vacinas contra a Covid-19, violência interétnica e insurreição. Um acúmulo crescente de evidências sugere que tais crenças surgem de um poço profundo de desconfiança social, cinismo, polarização e sentimento de alienação (3). Assim, a proeminência das teorias conspiratórias em uma sociedade é um sintoma, mais do que uma causa, de ataques recentes à democracia. No entanto, além de expressar a imaginação popular sobre graves abusos de poder, as teorias conspiratórias servem a propósitos que as tornam úteis enquanto retórica política. Embora o surgimento e a crescente popularidade das teorias da conspiração possam, por si só, ser mais sintomáticas que causais, uma vez que elas emergem — e quando a crença nelas se espalha e intensifica —, podem causar danos à democracia, agravando clivagens sociais, degradando a confiança nas instituições democráticas e exacerbando as fragilidades da democracia.

Na tentativa de explicar a retórica da conspiração, um elemento que merece mais atenção é a presença de competição política. Embora seja comum classificar essa retórica como uma marca de ditaduras, é importante compreender as maneiras pelas quais sistemas políticos relativamente abertos — ou seja, com eleições ao menos parcialmente livres e justas e algum grau de liberdade de imprensa — oferecem aos políticos incentivos para fazer acusações conspiratórias contra seus inimigos. Até recentemente, era comum associar o uso estratégico de teorias conspiratórias na política com os piores ditadores da história. Desde a adoção por Adolf Hitler do mito do Dolchstoss (“punhalada pelas costas”), usado pelo Exército Imperial Alemão para explicar a derrota na Primeira Guerra Mundial, aos alertas sombrios de Josef Stalin sobre o “cerco capitalista” à União Soviética, conspirações foram invocadas por líderes cujos regimes tinham total controle da mídia, e a retórica conspiratória foi usada como pretexto para campanhas de violência e repressão em massa. Críticas contra inimigos internos e externos eram feitas para manter populações inteiras em um estado constante de medo e redirecionar suas frustrações com os governantes para grupos marginalizados.

Recentemente, o mundo testemunhou o uso de teorias conspiratórias pelo presidente russo Vladimir Putin para produzir o casus belli* da invasão da Ucrânia. Às vésperas da guerra, ele alegou que a expansão da OTAN ameaçava a existência da Rússia e que a Ucrânia era governada por nazistas e praticava o “genocídio” da população de etnia russa, entre outras alegações. Essas afirmações fantasiosas de situações nefastas vieram depois de anos de propaganda do Kremlin retratando o Ocidente como ardiloso e determinado a subjugar a Rússia.

No entanto, a visão das teorias da conspiração como um monopólio de autocratas está obsoleta. No século 21, as teorias conspiratórias foram democratizadas. As normas que impediam autoridades públicas de promover teorias conspiratórias foram enfraquecidas nas democracias a tal ponto que as conspirações às vezes trazem recompensas eleitorais em vez de ostracismo. A marca da política democrática, a competição eleitoral, vem contribuindo para a retórica conspiratória, e mesmo os países semidemocráticos (onde a competição, embora limitada, ainda faz parte do jogo político) estão assistindo ao surgimento do “conspiracionismo”. Trata-se de um fenômeno global, e sua ascensão ameaça aumentar a desilusão dos cidadãos com a democracia e diminuir a capacidade dos governos de enfrentar desafios como as mudanças climáticas e a disseminação de doenças infecciosas. No limite, abre as portas para demagogos eleitos, cuja resposta preferida às conspirações imaginadas é pôr fim à própria democracia*.

O benefício político de inimigos ocultos

Teorias conspiratórias podem ser consideradas uma variante da propaganda: uma mentira deliberada empregada por pessoas no poder para moldar percepções e induzir comportamentos que favoreçam seus interesses (4). Teorias conspiratórias postulam a prática de ações que trazem grandes prejuízos ao público, mas não fornecem evidências críveis que subsidiem essas alegações. Trata-se de um tipo perigoso de formação de agenda: a atenção se volta a um problema e alguém é culpabilizado sem que se atenda ao princípio do ônus da prova.

Os líderes políticos normalmente constroem sua retórica a partir de um menu de opções, dependendo do contexto e do público. A forma narrativa das teorias conspiratórias tem a vantagem, na perspectiva do orador, de aprofundar as divisões sociais ou políticas. Criar um enredo e um culpado pode aumentar o senso de identidade intragrupo com base em sentimentos de vitimização, como quando pessoas perdem seu poder econômico ou temem perder status para outro grupo (5). Pessoas que normalmente não se identificam como um grupo podem mudar de ideia diante de uma ameaça comum, entendendo que compartilham de um destino comum. Em uma cartada final, líderes que promovem teorias conspiratórias podem se apresentar como aliados dos grupos vitimados. Isso lhes permite minimizar seu status de elite ao afirmar representarem os interesses do grupo. Donald Trump é um empresário rico e Jair Bolsonaro, um político veterano, mas ambos se apresentaram com sucesso como vítimas de um sistema injusto e, assim, reuniram apoiadores dispostos a se organizar, a espalhar desinformação, a votar e a se abster de criticar aquele que parece defender seus interesses.

Outro incentivo ao uso político de teorias conspiratórias envolve a sinalização, na qual os atores fornecem indiretamente informações sobre si mesmos por meio de suas palavras ou ações. As autoridades públicas têm acesso a informações exclusivas por meio de informantes, agências de inteligência e tecnologia. Essa inteligência lhes dá mais insights sobre eventos que ocorrem no país do que qualquer indivíduo comum é capaz de perceber. Quando os políticos dão voz às teorias da conspiração, usando seu acesso à mídia, sua demonstração de conhecimento de uma trama secreta sinaliza sua autoridade e lembra o público de seu poder sobre potenciais adversários (6). As alegações conspiratórias baseadas no acesso a segredos de Estado também os protege de refutação pelos céticos. Essa foi a base plausível usada pelo senador Joseph McCarthy para afirmar que havia comunistas no Departamento de Estado dos EUA em 1950, bem como pelo ex-presidente Trump para alertar, em um tuíte, que havia “criminosos e pessoas desconhecidas oriundas do Oriente Médio” em uma caravana de migrantes que atravessava o México (7).

Teorias conspiratórias também podem ser empregadas para sinalizar transgressão, uma manobra que vem sendo usada com maior sucesso em democracias avançadas. Normalmente, políticos democráticos buscam atrair cada grupo de eleitores por meio de promessas baseadas em políticas públicas, fazendo afirmações empiricamente fundamentadas que são, ao menos em teoria, passíveis de verificação. No entanto, esse estilo pode se esgotar quando boa parte dos eleitores considera o sistema corrupto e os políticos, mentirosos. O cinismo popular cria uma oportunidade para que políticos engenhosos ganhem atenção violando essas expectativas. Teorias conspiratórias podem ser usadas para atrair cidadãos descontentes, mas são especialmente efetivas em um contexto competitivo. Elas permitem que os transgressores sinalizem suas credenciais não convencionais e ostentem sua “autenticidade”, em contraste com os políticos “tradicionais” (8).

Não é surpresa, portanto, que as teorias da conspiração sejam preferidas por políticos populistas, que alegam representar uma manifestação genuína do “povo” contra uma elite sem rosto. Encaixam-se nesse modelo teorias conspiratórias que postulam a existência de alianças escusas entre as elites intelectuais ou culturais e os imigrantes (à direita), entre políticos neoliberais e o capital financeiro (à esquerda) ou entre qualquer adversário político e os judeus (em ambos) contra uma maioria nacional vulnerável. O enquadramento conspiratório clássico, de um grupo ameaçado por outro, mais organizado e aparentemente incontrolável, alinha-se à tendência das pessoas de simpatizar com Davis virtuosos contra Golias traiçoeiros, mesmo quando os Davis objetivamente detêm mais poder (9).

Competição e conspiracionismo

Apesar das vantagens intrínsecas das teorias da conspiração, claramente nem todos os políticos fazem uso delas. Como em qualquer forma de retórica política, a frequência com que são expressas e seu conteúdo dependem de uma variedade de fatores, como cultura política, memória histórica, confiança social e força institucional.

A associação entre teorias conspiratórias e o grau de abertura de uma sociedade pode parecer contraintuitiva, até observarmos como os governantes que tentam permanecer no poder em diferentes sistemas empregam a propaganda. Os regimes autoritários de hoje são às vezes chamados de autocracias “informacionais”. Isso ocorre porque usam seu controle sobre a mídia para moldar a opinião pública e angariar apoio, evitando a coerção explícita (10). Regimes com a capacidade de censurar narrativas alternativas — como na China de Xi Jinping ou nas monarquias do Golfo Pérsico — normalmente preferem comunicações públicas que exaltem sua competência, seu heroísmo e suas credenciais nacionalistas. Alguns regimes, como a Rússia de Putin, lançam um fluxo constante de propaganda positiva para consolidar o apoio ao mandatário e de teorias conspiratórias para criar uma imagem de inimigos estrangeiros implacáveis. Os regimes autocráticos mais isolados e controlados de maneira mais rígida renunciam a teorias conspiratórias em favor de uma propaganda “caricaturesca” que vangloria seus feitos — um exemplo infame é o presidente do Turquemenistão, retratado na televisão estatal como um atirador perito, um músico, um montador de cavalo e um intrépido motorista off-road (11) —, atestando seu poder avassalador e a ausência de uma oposição viável (12).

Em contraste, quando os mandatários enfrentam uma disputa institucionalizada e os adversários têm acesso à mídia — condições típicas de regimes semidemocráticos ou híbridos —, estão sujeitos à crítica pública. As mensagens da oposição não precisam fazer alegações conspiracionistas. Em muitos sistemas políticos, em especial, em autocracias e quase-autocracias, a corrupção e a malversação do dinheiro público são, infelizmente, muito comuns. A oposição só precisa divulgar fatos sobre as falhas e omissões do governo. Nos últimos anos, os erros cometidos pelos governos tornaram-se mais conhecidos pelo público graças às mídias sociais e ao jornalismo investigativo. As contribuições das vozes independentes para o discurso público fornecem os meios para responsabilizar os políticos, ao mesmo tempo em que, ironicamente, aumentam a possibilidade de degradação desse discurso.

Os líderes que são alvos de críticas, legítimas ou não, lutarão para definir a narrativa pública em seus próprios termos. Teorias conspiratórias são úteis para líderes que buscam maneiras de contra-atacar seus críticos. Em vez de responder diretamente às acusações— especialmente as bem fundamentadas —, os governantes podem atacar o mensageiro. Assim, um veículo de imprensa que exponha a corrupção em uma contratação pública será acusado de ser testa-de-ferro da CIA. Um legislador da oposição que quer investigar uma política desastrosa deve estar tentando desviar a atenção de suas ligações com terroristas ou traficantes de drogas.

Em todos os regimes, mas especialmente nos competitivos, os líderes que se sentem cercados por percepções de que seu governo é inepto podem valer-se de conspirações para sinalizar sua força e, com isso (assim esperam), contrapor essas impressões. Em abril de 2020, políticos indianos próximos ao governo do primeiro-ministro Narendra Modi reagiram a um surto de Covid-19 em uma instituição muçulmana em Nova Déli chamando-o publicamente de “corona-terrorismo” (13). Em maio de 2021, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro especulou que o vírus era resultado de uma “guerra biológica” (14). Se um governo diz estar se esforçando para proteger o público contra poderosas forças do mal, os cidadãos não poderiam ficar tentados a conceder-lhe o benefício da dúvida?

Protestos em massa contra o governo frequentemente provocam acusações conspiratórias porque representam contestações visíveis e potencialmente ameaçadoras ao regime. Teorias conspiratórias que insinuam um apoio nefasto, muitas vezes externo, aos protestos visam deslegitimar os manifestantes e sinalizar força, lembrando o público da capacidade do governo de acessar informações sobre eventos aparentemente obscuros. Assim, em vez de aceitar os protestos de 2013 na Praça Taksim, em Istambul, como expressão da discordância popular com os planos de desenvolvimento urbano do governo de Recep Tayyip Erdogan, alegou-se um complô dos EUA e de sionistas para impedir o progresso da Turquia (15). De maneira similar, segundo a República Islâmica do Irã, cidadãos que, entre o final de 2019 e o início de 2020, protestaram contra o aumento dos preços dos combustíveis durante uma contração econômica só poderiam ter sido treinados, financiados e organizados pelos Estados Unidos (16).

Em regimes competitivos, durante os períodos eleitorais, as acusações conspiracionistas podem vir de várias direções. As campanhas políticas muitas vezes se tornam pessoais, envolvendo táticas como difamações, rumores, insinuações, exageros e mentiras. Em democracias consolidadas, com importantes exceções, os candidatos normalmente tentam fazer acusações que sejam factualmente precisas, ou pelo menos difíceis de refutar. Políticos flagrados fazendo afirmações patentemente falsas geralmente temem a cobertura negativa da mídia e a queda de popularidade. As pesquisas têm mostrado, no entanto, que as pessoas são atraídas por informações que confirmem opiniões pré-existentes e resistem a informações em contrário, especialmente quando seus amigos e vizinhos pensam da mesma maneira. Os eleitores, portanto, podem não punir os políticos por exagerar os fatos, e podem estar programados para acreditar nas alegações mais grosseiras sobre políticos de quem já desconfiam. Nessas circunstâncias, as teorias conspiratórias podem ser uma tática de campanha atraente.

Em regimes híbridos, onde a mídia é muitas vezes partidária e as instituições de controle são fracas, as teorias conspiratórias proliferam durante campanhas políticas. As eleições dão à oposição uma atenção incomum e uma plataforma para tecer críticas públicas aos mandatários. Estes, geralmente, não têm material factual no mesmo nível para desacreditar os adversários, que não detêm o poder e passaram menos tempo sob os holofotes. Os mandatários podem, portanto, ver utilidade nas teorias da conspiração, como uma maneira de associar seus rivais a agendas veladas, a histórias pessoais inventadas ou a outras figuras estrangeiras ou internas impopulares. As teorias podem ser disseminadas por terceiros, possibilitando aos mandatários negar seu envolvimento. Se há alegações de que informações oficiais secretas fundamentam as acusações, tanto melhor do ponto de vista dos mandatários, pois isso lembra os eleitores de seu poder e autoridade.

O papel transgressor das teorias da conspiração funciona melhor quando um adversário enfrenta alguém que representa as normas políticas convencionais. Nos Estados Unidos e na Europa, a confiança no governo vem diminuindo há anos, e uma parcela do eleitorado passou a rejeitar políticos de centro-esquerda e de centro-direita por considerá-los egoístas e alienados em relação à realidade dos cidadãos (17). Em tais circunstâncias, os oportunistas políticos podem recorrer a conspirações para sinalizar seu status de outsider. Tentativas de políticos tradicionais, figuras da imprensa e agências de checagem de fatos de refutar os oportunistas e suas teorias conspiratórias podem sair pela culatra e reforçar a atração por teorias conspiratórias entre pessoas que (recordemos) já desdenham do establishment e de seu apelo à autoridade. Essa lógica aponta para uma conclusão inquietante de que instituições produtoras de conhecimento robustas e uma estigmatização generalizada da retórica da conspiração podem ajudar os candidatos conspiracionistas a posar, ainda mais vigorosamente, de defensores dos eleitores descontentes.

O emprego de teorias conspiratórias para atrair cidadãos cínicos geralmente não é uma estratégia eficaz para conquistar uma maioria democrática. Em países com instituições eleitorais contramajoritárias (Estados Unidos) ou regras proporcionais tendenciosas (Hungria), no entanto, uma estratégia de reunir e mobilizar sua base pode ser algo poderoso, abrindo o caminho para o poder sem a mesma preocupação de políticos convencionais com a “conquista” da ampla fatia do eleitorado mediano. Também pode ser suficiente para garantir uma base parlamentar (em um sistema de voto proporcional com baixo quociente eleitoral) e, com isso, talvez a capacidade de influenciar a construção de uma coalizão governista. Partidos populistas de direita na França, Alemanha, Itália e Países Baixos adotaram essa abordagem, promovendo narrativas que associam as elites aos imigrantes vindos de países muçulmanos (18). Essas alegações vão além das discordâncias políticas convencionais, afirmando haver um plano nefasto das elites liberais e centristas para minar os valores tradicionais ou diluir a população nativa. Embora esses partidos dificilmente conquistem mais de 20% dos votos, eles fazem com que os partidos de centro-direita, que, ao contrário dos partidos periféricos, por vezes detêm o poder, movam-se mais à direita por medo de perder seus eleitores mais conservadores e normalizem ideias conspiratórias como discurso político (19).

Na Polônia e na Hungria, os partidos têm difundido teorias conspiratórias para conquistar maiorias em vários ciclos eleitorais. O partido Lei e Justiça (PiS) na Polônia concorreu em oposição ao establishment pós-comunista, criticando a desigualdade resultante de reformas neoliberais e a disposição dos antigos líderes comunistas de lucrar com a transição. Ele abraçou as teorias conspiratórias como ferramenta política depois que um acidente de avião em abril de 2010 matou o presidente Lech Kaczynski, que voava para a Rússia para um evento de reconciliação. Embora investigações independentes tenham determinado que a queda tenha sido causada pelo fato de Kaczynski ter pressionado o piloto (um oficial da Força Aérea da Polônia) a pousar em Smolensk sob uma densa neblina, o irmão sobrevivente do falecido presidente, Jaroslaw Kaczynski, deu início a uma narrativa consistente de que o Kremlin — e os rivais políticos do PiS — haviam sabotado o avião e cometido um assassinato. Essa teoria da conspiração serviu para fazer de Lech Kaczynski um mártir político e para lembrar o público das credenciais nacionalistas de seu partido (20).

Na Hungria, o primeiro-ministro Viktor Orban usou teorias conspiratórias para acumular poder com base na defesa contra diversas supostas ameaças. Como outros populistas de direita após a crise financeira global de 2008, Orban capitalizou as ansiedades econômicas e culturais, culpando atores externos pelos problemas de seu país: a UE, George Soros e os migrantes (muçulmanos) a quem supostamente ajudaram. Embora poucos dos migrantes que fugiram do Oriente Médio para a Europa em 2015 tenham entrado na Hungria, Orban explorou imagens de muçulmanos saqueadores para se passar por um justo defensor da nação húngara e da civilização cristã (21).

As teorias da conspiração predominantes entre os populistas de direita na Europa assumem diversas formas, mas um elo comum é a incitação do nacionalismo étnico, mirando alvos impopulares, às vezes uma entidade distante como Bruxelas, em outras ocasiões bodes expiatórios internos, como minorias. As alegações de uma aliança entre as duas entidades atraíram eleitores descontentes sensíveis à presença de novos imigrantes e apreensivos com mudanças culturais. E, uma vez que a narrativa conspiracionista ecoa em um país, ela pode ser copiada e adaptada por outros países onde haja um eleitorado receptivo à política do “nós contra eles”.

Um caso notável de conspiracionismo como sinal de transgressão em democracias consolidadas é a ascensão de Donald Trump e a reformulação do Partido Republicano. Em 2016, as abundantes alegações conspiracionistas do candidato Trump — sobre o chamado Estado profundo, os imigrantes, o local de nascimento de Barack Obama e a Fundação Clinton, entre outros — ajudaram a estabelecer sua reputação como alguém de fora da política, disposto a sacudir a política tradicional. Teorias conspiratórias foram fundamentais para o posicionamento de Trump como um defensor dos eleitores que se sentiam abandonados ou explorados pelo que ele chamou de um sistema “corrompido”. A transgressão das normas da retórica política provocou críticas de instituições e atores tradicionais, incluindo companheiros de partido, o que o tornou ainda mais admirado pelos eleitores descontentes, que passaram a ver Trump como a sua “voz”.

Embora Trump, tanto em sua retórica como em suas ações como presidente, tenha sido comparado por muitos de seus detratores a líderes autoritários, foi precisamente a natureza hipercompetitiva da democracia dos EUA que permitiu que o gambito de Trump funcionasse. A oposição dos democratas no Congresso e nas ruas e a investigação do Departamento de Justiça sobre o conluio com a Rússia alinhavam-se à narrativa de Trump como vítima de um sistema injusto. Uma mídia independente e robusta, fascinada pelo espetáculo de Trump e seduzida por altas audiências, deu a Trump e a suas teorias conspiratórias uma plataforma e o acesso direto aos eleitores por meio de seus canais de televisão e feeds de rede social. Ao mesmo tempo, os freios institucionais informais que anteriormente limitavam a viabilidade política de demagogos não funcionaram como planejado. Em particular, os esforços de checagem de informações e as reportagens investigativas da imprensa não ecoaram entre os eleitores para os quais o estilo conspiratório de Trump era uma virtude e não um defeito (22). Trump não obteve a maioria do voto popular (Hillary Clinton venceu por 48,2% a 46,1%), mas venceu no colégio eleitoral e, com isso, conquistou a Casa Branca.

A degradação do discurso político

A capacidade dos políticos de prosperar em meio a mentiras e xenofobia nos Estados Unidos e em outras democracias foi possibilitada pela confiança hesitante nas instituições, contribuindo para agravá-la ainda mais. Esses processos ocorrem como um movimento de pinça: os líderes contaminam deliberadamente o discurso público fazendo alegações infundadas, enquanto seus apoiadores trabalham para desacreditar órgãos independentes que são projetados para expor alegações falsas e responsabilizar seus autores. Campanhas caluniosas para minar a imprensa, as universidades, os juízes e o funcionalismo público neutro aumentam o impacto da retórica conspiratória dos políticos, enquanto ataques verbais conspiratórios permitem aos apoiadores dos líderes autoritários levantar dúvidas sobre esses órgãos.

O que acontece com um sistema político quando teorias conspiratórias são consideradas uma estratégia eleitoral eficaz? Um cenário é o observado nos casos acima: teorias conspiratórias funcionam para alguns atores, introduzindo suas credenciais transgressoras, mas outros continuam a comunicar suas posições e valores de maneiras mais convencionais. Partidos que estabeleceram uma reputação de governança eficaz podem concluir que podem obter o maior número de votos com apelos tradicionais de políticas públicas. Ao fazê-lo, buscam (re)capturar o centro político, trazendo de volta um grupo de eleitores descontentes, mas que ainda possuem preocupações materiais.

De fato, essa tem sido a estratégia dos partidos de centro-direita e de centro-esquerda na Europa, bem como do Partido Democrata nos Estados Unidos. Na França e na Alemanha, os partidos de centro-direita avançaram mais para a direita para conter as deserções para a extrema direita, mas continuam a competir por votos baseados em posições políticas convencionais e táticas de campanha bem estabelecidas (23). Apelos gerais centrados na governança eficaz e no combate à corrupção também têm sido a estratégia das coalizões de oposição na Hungria, na Polônia e na Turquia.

Nos Estados Unidos, embora alguns democratas flertassem com o conspiracionismo para explicar o gosto intrigante de Trump pela Rússia e por Putin, as campanhas para as primárias presidenciais democratas de 2020 giravam principalmente em torno de questões econômicas e sociais, à medida que os candidatos buscavam capitalizar a reação contra as ações de Trump como presidente. Enquanto concorria à Casa Branca e como presidente, Joseph Biden adotou uma estratégia de tentar manter e expandir a coalizão do Partido Democrata, abordando as causas básicas da alienação política que levou alguns eleitores a votar em Trump em 2016. Esses programas, projetados para expandir a rede de proteção social e reduzir a desigualdade, tinham como objetivo demonstrar a capacidade de resposta do governo e reduzir o potencial para futuros demagogos.

Também pode se desenvolver um equilíbrio mais pernicioso, no qual os grandes partidos empregam teorias conspiratórias de maneira descontrolada. Uma vez que a retórica conspiratória se torna prática corrente, os esforços para refutar teorias da conspiração podem sair pela culatra, reforçando as alegações iniciais por meio da repetição. Os alvos de alegações conspiracionistas podem, portanto, ser incentivados a fazer suas próprias alegações contra seus acusadores, tanto como ação preventiva quanto como distração. Cálculos políticos podem resultar em uma dinâmica autossustentada de alegações conspiracionistas mutuamente destrutivas que afastam retóricas baseadas em política pública. É mais provável que essa situação ocorra em sistemas com competição acirrada e instituições fracas ou com pouca confiança.

Por exemplo, essa dinâmica era evidente na Ucrânia, uma nação politicamente dividida que também é objeto de disputa geopolítica. Em um episódio típico, em 2011, o presidente Viktor Yanukovych acusou a oposição de comprar armas e planejar uma revolução, enquanto seus opositores alegaram que Yanukovych estava espalhando desinformação como pretexto para reprimir e transformar a Ucrânia na Belarus (24). Durante os protestos Euromaidan de 2014, o presidente fez coro à Rússia, acusando seus inimigos políticos de serem conspiradores e agentes da OTAN. A oposição, por sua vez, acusou Yanukovych de receber ordens da Rússia e de planejar operações de bandeira falsa que visavam fazer os manifestantes parecerem violentos. A imprensa disseminou histórias que serviam aos interesses políticos de seus proprietários oligarcas, independentemente de seu conteúdo factual (25). A camada geopolítica, na medida em que a Ucrânia hesitava entre o Oriente e o Ocidente, elevava as apostas e conferia às alegações conspiracionistas uma aura de plausibilidade.

Em 2019, Volodimir Zelenski — que não era um político profissional — tentou transcender a cultura política tóxica da Ucrânia ao concorrer à Presidência da Ucrânia sem retórica conspiratória ou tribuna geopolítica. Como os principais flagelos dos populistas discutidos acima, ele “baixou a temperatura” dando ênfase às políticas populares — no caso, as medidas anticorrupção — a fim de construir uma ampla coalizão. E conseguiu, superando alegações de que ele era um fantoche russo e derrotando Petro Poroshenko com uma votação esmagadora de 73% dos votos (26).

Antes de as normas jornalísticas se consolidarem no século 21, as teorias conspiratórias eram parte integrante da política nos EUA. Das supostas inclinações pró-Grã-Bretanha dos federalistas aos supostos planos dos abolicionistas antes da Guerra Civil, era comum que políticos eleitos e membros respeitados da sociedade apresentassem alegações conspiratórias para obter vantagem política (27). Uma imprensa partidária e orientada pelo lucro circulava avidamente essas ideias em uma democracia vigorosa — e frequentemente corrupta. Uma propensão para teorias conspiratórias pode decorrer de uma desconfiança do governo que persistiu de várias formas ao longo da história dos EUA, mas seu uso pelas elites se deve aos benefícios políticos percebidos. Não há exemplos maiores dessa inclinação do que dois praticantes das artes conspiratórias da era da Guerra Fria: o já citado senador McCarthy e Richard Nixon, que, como membro da Câmara dos Representantes dos EUA e, mais tarde, do Senado, avançou politicamente disseminando teorias conspiratórias sobre comunistas no governo federal (28).

Hoje, teorias conspiratórias se espalharam pelo Partido Republicano, tanto entre a elite como entre a massa de apoiadores, contrariando as tendências de outras democracias avançadas. Quando Trump demonstrou os dividendos políticos do conspiracionismo, outros seguiram sua liderança, em particular na disseminação da alegação de que os democratas “roubaram” a eleição de 2020. Assim, membros republicanos do Congresso, procuradores-gerais, legisladores estaduais e potenciais funcionários de órgãos eleitorais têm utilizado essa narrativa para sinalizar sua lealdade a Trump, apelar para a base partidária e fabricar o pretexto para criar restrições ao voto no nível estadual (29).

Essa narrativa conspiratória, enquanto um sintoma de desconfiança institucional à direita, também serve para promover uma causa — uma com consequências potencialmente terríveis para a democracia. Ela fornece uma base para os republicanos contestarem, e possivelmente anularem, eleições futuras. A imprensa se refere a essa manobra como a “Grande Mentira”, fazendo uma referência provocativa à Alemanha nazista e capturando com precisão seu poderoso momentum e as maneiras pelas quais ela impõe conformidade àqueles que querem permanecer membros respeitados do partido.

Como o conspiracionismo pode ser combatido?

A forma como a retórica conspiratória aumenta e diminui sugere que nem todos os políticos veem a conspiração como uma tática vencedora, e mesmo aqueles inclinados a espalhar teorias conspiratórias podem se conter às vezes. A observação da incidência variável da retórica conspiracionista naturalmente levanta a questão de quais fatores militam contra o uso de teorias da conspiração na política.

Recentemente, em resposta a uma aparente onda de “notícias falsas” e desinformação, especialistas demandaram uma variedade de contramedidas, como o letramento informacional, a verificação de informações e o monitoramento minucioso e a rotulagem de desinformação pelas plataformas de rede social. Isso pode ajudar até certo ponto, mas onde a desinformação é onipresente e vista como politicamente útil, é improvável que isso faça muita diferença. Pesquisas sugerem que os partidários desmascaram de maneira mais eficaz as teorias da conspiração quando elas vêm de seu próprio campo ideológico (30), mas eles geralmente relutam em ser vistos como traidores de seu partido, como evidenciado pela ampla aquiescência das elites republicanas à campanha patentemente falsa de “parem a fraude” (stop the steal).

Na medida em que as teorias da conspiração são empregadas por serem vistas como politicamente úteis, a melhor esperança para o seu declínio é que elas eventualmente colapsem sob o próprio peso. Em primeiro lugar, a retórica que está em desacordo com a realidade pode perder força ao conflitar com as experiências pessoais, como as alegações de que a Covid-19 não é mais mortal que a gripe, ou de que as vacinas contêm microchips. As pessoas certamente dispendem quantidades enormes de tempo assistindo à televisão e consumindo as redes sociais dentro de câmaras de eco informacionais, mas elas também têm encontros não mediados com a realidade. Pode ser mais fácil acreditar em rumores não verificados sobre eventos distantes — sobre os quais as pessoas têm pouco conhecimento – do que sobre asuntos que podem observar diretamente. As pessoas podem demonstrar fidelidade a teorias da conspiração populares que se conformem com suas identidades partidárias, mas inconscientemente se comportar de maneira consistente com as evidências observáveis, sem mencionar o bom senso. Por exemplo, muitos membros republicanos do Congresso e personalidades da Fox News que espalham desinformação sobre as vacinas contra a Covid-19 provavelmente foram vacinados (31).

Essas contradições não necessariamente se traduzirão em mudanças no comportamento político, pois as pessoas continuarão a formar vínculos políticos com base em emoções e identidade, em vez de apenas em fatos. E as teorias da conspiração mais cintilantes das eleições nacionais (George Soros, serviços de inteligência estrangeiros, o “Estado profundo”, a “Grande Substituição”) não estão sujeitas à verificação individual, tornando-as resistentes à refutação com base na experiência. Os promotores de teorias conspiratórias, no entanto, correm o risco de perder credibilidade se habitualmente preverem resultados terríveis que não se concretizam ou fizerem alegações claramente em desacordo com a realidade. A perda de confiança pode levantar dúvidas sobre as qualificações de um líder, especialmente se seu poder não repousar sobre a legitimidade eleitoral. A conversão de uma modesta proporção de crentes da conspiração que decidem começar a acreditar em seus “olhos mentirosos” pode bastar para diminuir as fortunas políticas de um fabulista raivoso.

Em segundo lugar, as teorias da conspiração podem perder sua capacidade de galvanizar os eleitores quando seu caráter de novidade passar. Teorias da conspiração causam impacto devido à sua natureza contrariadora e por estimular a ansiedade ou a raiva. Assim, elas ganham mais atenção quando parecem chocantes para os defensores do status quo, mas isso as torna suscetíveis à lei dos rendimentos decrescentes. Se os provocadores quiserem manter sua notoriedade, devem aumentar a estranheza de suas alegações, a fim de se manter em destaque diante do barulho constante da televisão, das redes sociais, dos videogames e de outras distrações. Teorias da conspiração que ecoam no vácuo podem não valer a pena compartilhar, e alegações cada vez mais radicais, apocalípticas e rebuscadas, um produto da concorrência entre os promotores de conspirações, podem levar a um descrédito da mentalidade da teoria da conspiração ao fazer suposições cada vez mais fantasiosas e apontar para consequências improváveis.

Por fim, políticos conspiracionistas podem perder popularidade se não atenderem às demandas da sociedade. Assim como os revolucionários normalmente não possuem as habilidades para governar, os teóricos da conspiração podem ter dificuldade para oferecer uma agenda positiva. Eles enfrentam o risco de que o aumento das percepções de ameaças crie uma distração apenas temporária antes de o público passar a julgar seu governo por sua capacidade de resolver problemas reais. A resposta de Trump à Covid-19, culpando a China pela pandemia e não tomando as medidas tangíveis para reduzir a propagação do vírus, é um exemplo disso. Bolsonaro, que fez uso com sucesso de teorias da conspiração tanto como candidato quanto como presidente, também privilegiou bravatas e arrogância em vez de medidas que poderiam mitigar a pandemia e, consequentemente, viu sua popularidade despencar (32).

Embora essa aparente fraqueza possa parecer um calcanhar de Aquiles, há exceções a essa regra. Alguns partidos que apostaram em narrativas conspiratórias venceram consistentemente as eleições usando outros instrumentos de governo para angariar votos. Por exemplo, sob o PiS, a Polônia paga às famílias uma pensão mensal para cada criança. Na Índia, o partido de Modi se beneficiou de uma reputação de governo honesto e de apoiador dos negócios, ao mesmo tempo em que implementou políticas redistributivas que ajudaram os pobres. Os eleitores que acham os conspiradores inadequados ainda podem estar inclinados a votar neles se, diante das baixas expectativas, eles devolverem dinheiro ao povo em vez de roubá-lo. A fusão da retórica conspiratória, que atrai uma base indignada, com um aparato partidário que aborda as preocupações materiais cotidianas do eleitorado pode ser uma fórmula vencedora em uma era de cinismo e de privação material. Se os políticos se conscientizarem dessa estratégia e forem competentes em implementá-la — nunca uma conclusão inevitável —, esse modelo tem o potencial de se tornar mais difundido.

Em um futuro próximo, há razões para esperar que as teorias da conspiração persistam e até prosperem. Desafios estruturais, como desigualdade e insegurança, dão a impressão de um jogo desigual, levando os cidadãos a imaginar que agentes ocultos é que dão as cartas. Uma sensação de que as pessoas não têm qualquer capacidade de conduzir seus próprios destinos, muito menos a política ou a economia, alimenta sua vontade de buscar culpados. Enquanto os cidadãos se afastarem das instituições para melhorar suas vidas, eles buscarão narrativas alternativas que satisfaçam seu desejo de atribuir culpa.

A maré crescente do conspiracionismo não anuncia seu triunfo final nem significa o fim do discurso político baseado em fatos — mas a política democrática pode começar a parecer diferente. Considerando que a democracia se baseia em uma concordância sobre fatos, mas discordâncias sobre políticas, podemos estar entrando em um período em que os atores políticos não concordam nem com realidades elementares — ou, mais precisamente, em que alguns atores deliberadamente negam fatos conhecidos. Dependendo das regras institucionais, essa forma de política pode persistir enquanto os partidos entenderem que suas táticas são eficazes. É claro que mesmo esse cenário requer a manutenção da competição eleitoral e uma imprensa suficientemente independente para que os cidadãos possam ter acesso aos fatos, se quiserem. O perigo é que um vencedor conspiracionista, levando os agouros conspiratórios à sua conclusão lógica e atendendo aos desejos dos eleitores conspiracionistas, decida que a democracia não serve mais aos interesses do vencedor.

Notas

* N.T. Do latim, “caso de guerra”. Ato que dá origem à guerra entre países.

** Nota do editor brasileiro: leia o artigo “Teorias conspiratórias e democracia”, de Bernardo Sorj, publicando em junho de 2022 no Journal of Democracy em Português (Vol. 11, Nº 1).

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2. Michael Barkun, A Culture of Conspiracy: Apocalyptic Visions in Modern America, 2nd ed. (Berkeley: University of California Press, 2013), 3.

3. Karen M. Douglas et al., “Understanding Conspiracy Theories”, Political Psychology 40 (fevereiro 2019): 3–35.

4. É uma definição similar à proposta por Garth S. Jowett e Victoria O’Donnell, Propaganda and Persuasion, 5th ed. (Los Angeles: Sage, 2012).

5. Aleksandra Cichocka et al., “‘They Will Not Control Us’: Ingroup Positivity and Belief in Intergroup Conspiracies”, British Journal of Psychology 107 (agosto 2016): 556–76.

6 . Scott Radnitz, Revealing Schemes: The Politics of Conspiracy in Russia and the Post-Soviet Region (Nova York: Oxford University Press, 2021).

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Scott Radnitz, Journal of Democracy em Português, novembro 2022.

Journal of Democracy em Português, Volume 11, Número 2, Novembro de 2022 © 2022 National Edowment for Democracy and The Johns Hopkins University Press.

Publicado originalmente como “Why Democracy Fuels Conspiracy Theories”, Journal of Democracy, April 2022, Volume 33, Number 2 © 2022 National Endowment for Democracy and The Johns Hopkins University Press.

*Scott Radnitz é professor associado de estudos sobre Rússia e Eurásia na Jackson School of International Studies da Universidade de Washington. É autor de Revealing Schemes: The Politics of Conspiracy in Russia and the Post-Soviet Region [Esquemas reveladores: a política da conspiração na Rússia e na região das ex-repúblicas soviéticas] (2021) e coeditor de Enemies Within: The Global Politics of Fifth Columns [Inimigos internos: a política global dos quintas-colunas] (2022).

Fonte:https://dagobah.com.br/por-que-a-democracia-alimenta-teorias-da-conspiracao/


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