LULA ANUNCIA MEDIDAS EMERGENCIAIS ÀS COMUNIDADES INDÍGENAS EM RORAIMA: 'É DESUMANO O QUE EU VI'

 

Lula acompanha a situação dos Yanomami, povo que vive grave crise sanitária.
Lula acompanha a situação dos Yanomami, povo que vive grave crise sanitária. Ricardo Stuckert

Lula anuncia medidas emergenciais às comunidades indígenas em Roraima: 'É desumano o que eu vi'

O Ministério da Saúde declarou emergência de saúde pública, após identificar crianças e idosos em estado grave de malária, infecção respiratória ou desnutrição

Por Renan Monteiro — Brasília

21/01/2023 13h40  Atualizado há 43 minutos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou neste sábado em Boa Vista, Roraima, para definir ações emergenciais à população Yanomami, que têm enfrentado graves problemas de saúde. A principal medida já anuncida pelo Governo foi a elaboração de um Plano de Trabalho conjunto entre os ministérios e orgãos de saúde para endereçar os problemas.

Outra medida é a chegada da Força Nacional do SUS a partir de segunda-feira na região, levando profissinias da saúde para atendimento de emergência. Lula falou em montar "um plantão da Saúde nas aldeias" no longo prazo e garantir meios transporte para a população indígena ter acesso mais rápido à capital do estado.

Na sexta-feira, o Ministério da Saúde declarou emergência de saúde pública, após a equipe da pasta identificar crianças e idosos das terras indígenas em estado grave de saúde, incluindo casos de malária, infecção respiratória aguda e desnutrição.

— É desumano o que eu vi aqui. O presidente que deixou à presidência esses dias, se ao invés de tanta motociata, tivesse vergonha e viesse aqui, quem sabe esse povo não estaria abandonado como está (...) A saúde deve ir na aldeia e não esperar que eles (cominidade indígena) venham aqui na cidade. Nós vamos civilizar o tratamento que se dá aos povos indígenas — afirmou o presidente em pronuncimento em Roraima.

Na primeira agenda, o petista visitou o hospital indígena e a Casa de Apoio à Saúde Indigena. A região Yanomami conta com aproximadamente 30,4 mil habitantes, segundo o Ministério. No ano de 2022 foram registrados 11.530 casos de Malária no Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami.

O presidente Lula reafirmou a sua promessa de combater o garimpo ilegal, fator apontado como responsável pelos problemas de saúde na camunidade. Segundo estudo divulgado em 2022 pela Fiocruz, a pesca em três de quatro pontos na Bacia do Rio Branco, que perpassa os territórios Yanomami, apresentou concentrações de mercúrio maiores ou iguais ao limite estabelecido pela OMS.

— Nós vamos levar muito a sério esse história de acabar com o garimpo ilegal. Mesmo que seja uma terra que tenha autorização para pesquisa, eles podem fazer pesquisa sem destruir a água, floresta, e sem colocar em risco a vida das pessoas — disse Lula.

O Ministério da Saúde criou o Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública (COE - Yanomami), que terá a responsabilidade de articular ações integradas com os gestores de âmbito estadual e municipal do SUS.

— Nós definimos que essa situação é uma emergência sanitária de importância nacional, semelhante a uma epidemia, isso que precisa ficar claro (...) Recebemos essa herança, estamos há 20 dia de governo, mas já vimos que isso teria que ser uma emergência — disse a ministra da Saúde, Nísia Trindade, que participa da comitiva com o presidente em Roraima.

O presidente Lula também instituiu por decreto, na sexta-feira, o Comitê de Coordenação Nacional para Enfrentamento à Desassistência Sanitária das Populações em Território Yanomami.

O grupo interministerial deve trabalhar e apresentar um plano de “ações estruturantes” para atenuar os problemas sociais e de saúde nas comunidades indígenas no prazo de 45 dias, incluindo articulação com órgãos públicos de saúde. A vigência de atuação do Comitê será de 90 dias, com possibilidade de prorrogação.

“É muito triste saber que indígenas, sobretudo 570 crianças Yanomami, morreram de fome durante o último Governo. Tomaremos medidas urgentes diante dessa terrível crise humanitária imposta contra nossos povos, oferecendo todo suporte necessário a eles”, declarou em nota a ministra Sonia Guajajara.

O Comitê de Coordenação Nacional, instituído pelo presidente, será composto por representantes de vários Ministérios. Na lista estão: Casa Civil; Ministério dos Povos Indígenas; Ministério da Saúde; Ministério da Defesa; Ministério da Justiça e Segurança Pública; Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome; e Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos.


Fonte:https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2023/01/lula-anuncia-medidas-emergenciais-de-amparo-as-comunidades-indigenas-e-desumano-o-que-eu-vi.ghtml?


Crianças são acometidas pela subnutrição na terra indígena Yanomami
Crianças são acometidas pela subnutrição na terra indígena Yanomami Divulgação/Urihi Associação Yanomami

Por Pâmela Dias e Lucas Altino — Rio

 

Imagens divulgadas nas redes sociais de crianças com desnutrição grave na Terra Yanomami, a maior reserva indígena do país, alertam para a desassistência na área da saúde que a etnia já havia denunciado no ano passado. As fotos, divulgadas pela associação Urihi, revelam meninos e meninas extremamente magros e com costelas aparentes. Para tentar conter a situação, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e o Ministério da Saúde montaram uma estratégia emergencial na região.

De acordo com um levantamento do portal Sumaúma, ao menos 570 crianças menores de cinco anos morreram nos últimos quatro anos por doenças que poderiam ter sido evitadas. As vítimas são de mais de 120 comunidades Yanomamis, entre elas a Kataroa, na região do Surucucu, no município de Alto Alegre, ao Norte de Roraima. De acordo com o presidente da Urihi, Júnior Hekurari Yanomami, que também é chefe do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana (Condisi-YY), a desnutrição severa se deve à falta da cobertura sanitária na região, escassez de medicamentos e invasão de garimpeiros.

— Estamos sem assistência há quatro anos. Todos os dias, desde que o Ministério da Saúde chegou aqui, no dia 16, dezenas de crianças e adultos são levados para a capital em estado grave. Apresentam desnutrição, malária. Tem crianças tendo paradas cardíacas. Precisamos de insumos e medicamentos urgente — relatou Júnior Hekurari Yanomami ao GLOBO.

Yanomamis denunciam falta de assistência da Saúde que gerou desnutrição severa em crianças
00:00/00:48

Yanomamis denunciam falta de assistência da Saúde que gerou desnutrição severa em crianças

Segundo o presidente da Urihi, nesta manhã os técnicos do Ministério da Saúde salvaram um bebê de 18 dias que apresentava pneumonia aguda. Ele teve cinco paradas cardíacas e foi levado de helicóptero para um hospital de Boa Vista, capital de Roraima. Outra criança de três anos, que pesa apenas 6 quilos, foi atendida após convulsionar duas vezes.

Todo o território tem cerca de 8 mil crianças, grande parte delas com algum problema de saúde. Segundo levantamento realizado pelo Sumaúma, durante o governo Bolsonaro o número de mortes de crianças com menos de 5 anos por causas evitáveis aumentou 29% em terras Yanomami, em comparação à gestão de Dilma Rousseff e Michel Temer.

Em nota divulgada pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) nesta sexta-feira (20), desde o último dia 16 agentes do Ministério da Saúde estão no território para fazer um levantamento de informações para o diagnóstico sobre a situação da saúde dos indígenas.

Estratégia do Ministério da Saúde

Assessor do Instituto Socioambiental (ISA) e integrante da Rede Pro Yanomami e Ye'kwana, Estêvão Benfica Senra é um dos pesquisadores que integra a sala de atenção montada pelo Ministério da Saúde para o enfrentamento da crise sanitária no Território Indígena (TI) Yanomami. Ele explicou que na primeira reunião, nesta sexta, houve as primeiras tentativas para se definir linhas prioritárias de atuação, além de esforços para ampliar o leque de atores que possam contribuir.

A estratégia para ações emergenciais montada pelo Ministério de Saúde está baseada em duas frentes: a sala de situação, que terá reuniões virtuais semanalmente, com articulação entre diferentes entidades da sociedade civil, representantes indígenas, universidades e órgãos governamentais; e o trabalho em campo de uma equipe no TI Yanomami, fundamental para realizar um diagnóstico mais apurado dos problemas.

-- Construir um plano de ação apenas com base nos dados mais recentes talvez não passe a noção correta do que está acontecendo -- afirmou o pesquisador, que vem acompanhando e denunciando a " situação da degradação sanitária", como define, na região. -- A TI Yanomami vive hoje uma das maiores tragédias humanitárias do território brasileiro.

O especialista explica que as causas do problema estão em dois vetores principais, e que se relacionam: a destruição administrativa e política do DSEI e a invasão garimpeira. Segundo o relatório "Yanomami sob ataque", publicado pela Hutukara Associação Yanomami no ano passado, o garimpo ilegal avançou 46% dentro do território entre 2020 e 2021 e a atividade ilícita já afeta mais da metade das 350 comunidades indígenas.

-- A relação dos dois vetores vai alimentando a tragédia. Nas áreas onde houve invasão de garimpeiros, há tendência de aumento de malária. Junto a isso, tivemos o processo de desorganização do distrito sanitário, que deixa de fornecer insumos, desde lâminas para microscópios, a mão de obra. E em alguns casos os polos até foram fechados, tomados pelo crime -- disse Senra.

Há registros de que ao menos quatro polos de atendimento foram fechados: em Hakoma, onde vivem 650 pessoas; Homoxi, que tem população de 250 pessoas; Haxiu, 934 habitantes; e Kayanau, 300 habitantes. Todos esses casos tiveram relação direta ou indireta com a invasão garimpeira. Em Homoxi, por exemplo, o posto foi fechado porque a pista que dava acesso aos profissionais foi sequestrada pelos garimpeiros. Em outros casos, houve conflitos e até mortes por tiro nas proximidades do posto.

Especialistas explicam que uma das estratégias dos garimpeiros para aliciar jovens Yanomami é fornecer armas de fogo e fomentar disputas intercomunitárias. Situações que tensionam as relações. E, com o acirramento da violência, acusam a gestão anterior de omissão para soluções que poderiam reverter a falta de atendimento médico.

Como prioridades no momento, Senra diz que é necessário reativar os postos fechados, realizar campanhas de vacinação, pois houve redução da cobertura, fazer missões de tratamento de verminose em massa, busca ativa de casos de malária para controle de vetores e, principalmente, atacar a situação de desnutrição e da fome, com suplementação alimentar para crianças desnutridas e identificação de áreas que precisam de apoio para alimentação.

A sala de situação criada agora só tratará das ações emergenciais de saúde, mas Estevão Senra explica que serão necessários planos para solucionar a raiz do problema.

-- É fundamental a retirada dos invasores, o que foi promessa de campanha do governo. Outra coisa é recuperar a infraestrutura e logística do atendimento de saúde. Regiões que antes eram atendidas com avião monomotor agora só recebem helicópteros, que tem um custo mais alto, por causa da falta de manutenção da pista. Isso torna o atendimento mais difícil. Demandará articulação com Funai, Ministério da Saúde, Anac e Ministério da Defesa -- destaca o pesquisador, que também lembra da necessidade de se garantir segurança aos profissionais que irão atuar em campo.


Fonte:https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2023/01/apos-denuncia-de-mortes-de-criancas-yanomami-por-desnutricao-grave-funai-e-ministerio-da-saude-montam-estrategia-para-acoes-emergenciais.ghtml


Em Roraima, Lula diz que vai levar transporte e atendimento médico a indígenas Yanomami e pôr fim ao garimpo ilegal

'É desumano o que vi aqui', afirmou o presidente, após visitar um posto médico na zona rural de Boa Vista. Governo decretou emergência por causa de casos graves de desnutrição de crianças.

Por g1 — Roraima e Brasília

21/01/2023 13h40  Atualizado há uma hora


Em viagem a Roraima neste sábado (21), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que vai levar transporte e atendimento médico aos indígenas Yanomami e pôr fim ao garimpo ilegal.

Lula e uma comitiva de ministros visitaram a Casa de Saúde Indígena (Casai) Yanomami, na zona Rural de Boa Vista (RR). O Ministério da Saúde estima que cerca de 570 crianças foram mortas pela contaminação por mercúrio, desnutrição e fome, devido ao impacto das atividades de garimpo ilegal na região.

Após verificar a situação, o presidente afirmou que a condição dos indígenas é "desumana" e anunciou algumas medidas para ajudar a população da região. A melhoria do transporte oferecido aos indígenas, segundo o petista, será a primeira providência.

"É desumano o que eu vi aqui", disse Lula.

    O presidente também disse que quer montar um plantão médico nas aldeias: "A saúde precisa ir até a aldeia, não esperar que as pessoas se locomovam até a cidade".

    Por fim, o petista afirmou que vai trabalhar para acabar com o garimpo ilegal. O presidente, no entanto, não deu detalhes de como fará para retirar os garimpeiros da região.

    "Eu posso dizer para você é que não vai mais existir garimpo ilegal. E eu sei da dificuldade de se tirar o garimpo ilegal, já se tentou outras vezes, mas eles voltam."

    Em 2020, o primeiro ano da pandemia, o garimpo ilegal avançou 30% na Terra Yanomami. Segundo relatório produzido pela Hutukara Associação Yanomami (HAY) e Associação Wanasseduume Ye’kwana (Seduume), a área total devastada pelo garimpo é de 2.400 hectares.

    Além de Lula, também participaram da visita:

    • Janja da Silva (primeira-dama)
    • Wellington Dias (Desenvolvimento Social)
    • Nísia Trindade (Saúde)
    • Sônia Guajajara (Povos Indígenas)
    • Flávio Dino (Justiça)
    • José Múcio (Defesa)
    • Silvio Almeida (Direitos Humanos)
    • Márcio Macêdo (Secretaria-Geral)
    • General Gonçalves Dias (Gabinete de Segurança Institucional)
    • Joênia Wapichana (presidente da Funai)
    • e o comandante da Aeronáutica, Marcelo Kanitz Damasceno

    O governador de Roraima, Antonio Denarium (PP), e o secretário de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Weibe Tapeba, também integraram a comitiva.


    Emergência de saúde pública


    Na noite de sexta-feira (20), o Ministério da Saúde declarou emergência de saúde pública para enfrentar à desassistência sanitária das populações no território Yanomami. Desde segunda-feira (16), técnicos da pasta resgataram ao menos oito crianças Yanomami em estado grave.

    O presidente Lula também decretou a criação Comitê de Coordenação Nacional, para discutir e adotar medidas em articulação entre os poderes para prestar atendimento a essa população.

    O plano de ação deve ser apresentado no prazo de quarenta e cinco dias, e o comitê trabalhará por 90 dias, prazo que pode ser prorrogado.


    Fonte:https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2023/01/21/em-roraima-lula-promete-transporte-e-atendimento-medico-a-indigenas-yanomami-e-fim-do-garimpo-ilegal.ghtml


    Comentários