RACISMOS, SEXISMO E GENOCÍDIOS: ELEMENTOS DE UMA NECROPOLÍTICA A SER SUPERADA

 

"The Wounded Angel" (1903), de Hugo Simberg (1873-1917)

Reprodução Wikipédia 

Racismos, sexismo e genocídios: elementos de uma necropolítica a ser superada



Em palestra que ocorre hoje, dentro do XXV Colóquio Internacional de Filosofia Unisinos e XXI Simpósio Internacional IHU, Felipe Sotto Maior Cruz abordará o tema

 

Quando achávamos que o século XXI estava chegando recheado de avanços e evoluções, vimos uma ultradireita subir ao poder em diversos lugares do mundo vociferando conta mulheres, LGBTQIA+, negros, imigrantes, indígenas, entre outros. É como se fôssemos transmutados do sonho do novo milênio para o pesadelo dos séculos passados com seus genocídiosnazismosfascismosmachismos e muita, mas muita violência. A necropolítica, ou uma política da morte que dizima aqueles tidos como contrários, parece ser o que move não só governos, mas mentes e corações. É como diz o historiador e antropólogo Michel Gherman em entrevista ao IHU: “O que a extrema-direita produz para o mundo é uma nova utopia, que na minha percepção é distópica, mas, na percepção deles, é utópica”.

Diante de tanta incivilidade e espírito fraterno, como manter a esperança de um futuro melhor? Talvez, nada mais simbólico em nosso tempo do que o quadro acima, do finlandês Hugo Simberg (1873-1917), intitulado "O Anjo Ferido". O próprio Simberg nunca quis propor desconstruções à obra, sempre permitindo que o espectador constituísse sua própria interpretação. Em nosso tempo, uma narrativa possível seria a de nossa esperança e nossa utopia, metaforizadas no anjo, combalidas. Mas não podemos ignorar que o soldado celestial é carregado por meninos muito jovens. Apesar de semblantes sofridos e diante de uma paisagem árida, o olhar do jovenzinho à direita o interpela. Quase podemos ouvir o sussurro de seu pensamento: “Viste o que fizeste? Vamos ajudar o anjo, mas seu voo de viço dependerá de vocês”. Ou seja, talvez haja esperança nas gerações futuras. Mas será que só nelas?

Em artigo recentemente reproduzido pelo IHUFlavio Lazzarin, padre italiano fidei donum, da Diocese de Coroatá, no Maranhão, nos incita a termos esperança. Para ele, é fundamental não nos esquecer de que “como nos ensinam os numerosos levantes indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais rurais e urbanas, a esperança de um futuro fraterno e justo vem das minorias abraâmicas, pequenos remanescentes, que defendem ancestralidade e territórios. Não surge das disputas eleitorais, que se baseiam no poder da maioria ou de multidões que, inconscientes, se sujeitam às astúcias dialéticas da história”.

Então, não seria o caso de concebermos uma outra política capaz de superar o caudaloso e amargo mar de necropolítica que parece inundar nossas vidas por esses tempos? Talvez este seja um caminho. O jovem antropólogo da Universidade Federal da Bahia – UFBA, Felipe Sotto Maior Cruz, o indígena Felipe Tuxá, parece ter intuições muito interessantes nesse sentido. Autor da pesquisa que culminou na tese de doutorado em Antropologia, intitulada "Letalidade Branca. Negacionismo, violência anti-indígena e as políticas de genocídio", Felipe irá proferir a conferência “A violência anti-indígena e a necropolítica como método". A atividade compõe o XXV Colóquio Internacional de Filosofia Unisinos e XXI Simpósio Internacional IHU – O Futuro da Democracia e o novo regime climático: ameaças, (auto)críticas e potencialidades e terá transmissão ao vivo a partir das 20h nos canais do IHU.

 

 Saiba mais sobre Felipe Tuxá

 

Felipe Sotto Maior Cruz, o Felipe Tuxá, é indígena do povo Tuxá Aldeia Mãe, Rodelas, na Bahia. É graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, mestre e doutor em Antropologia Social pela Universidade de Brasília – UnB. Atua como professor adjunto da Universidade Federal da Bahia – UFBA, no Departamento de Antropologia e Etnologia. Foi pesquisador visitante em Oxford, Inglaterra, na Faculdade de Antropologia e no Museu de Etnografia.

É pesquisador do Opará Etnicidades, Movimentos Sociais e Educação. Um dos fundadores da Articulação de Antropólogues Indígenas – ABIA, também é membro da Associação Brasileira de Antropologia integrando o Comitê de Assuntos Indígenas – CAI, Comitê de Antropólogues Indígenas e Comitê de Relações Internacionais. Membro da Associação Nacional de Ação Indigenista – ANAÍ.

Fonte: https://www.ihu.unisinos.br/624205-racismos-sexismo-e-genocidios-elementos-de-uma-necropolitica-a-ser-superada

Comentários