PRECISAMOS, AINDA, DE MAIS MULHERES NA TECNOLOGIA E TODOS PODEMOS CONTRIBUIR

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Ser mulher no mercado de tecnologia ainda é fazer parte da minoria — Foto: Getty Images

Ser mulher no mercado de tecnologia ainda é fazer parte da minoria — Foto: Getty Images


Precisamos, ainda, de mais mulheres na tecnologia

 

As organizações têm a responsabilidade de contribuir para a inclusão de mais mulheres, além de promover a diversidade no grupo como um todo

 

Por Daniele Dias da Silva

 

 

Comecei minha trajetória profissional em 1998 — quando estudava Processamento de Dados —, como estagiária de Help Desk, prestando suporte de TI para o pessoal da empresa. A VISA ainda era uma companhia com cerca de 30 pessoas, em sua maioria homens, o que era bastante comum no mundo financeiro.

Mas algo era diferente comparado com outras organizações nas quais eu já tinha passado por processos de seleção: a gestora da área de Tecnologia era uma mulher, algo pouco comum na época.

A presença dela foi uma referência muito importante, pois acendeu em mim, desde então, um alerta: havia espaços para as mulheres na empresa e eu estava motivada a me desenvolver ali. Foi o que aconteceu.

Sem dúvida, precisei de resiliência, muito empenho, trabalho em horários pouco convencionais para desempenhar minha função e crescer no segmento, ainda mais se pensarmos na realidade do mercado de tecnologia da época.

O cenário da década mostrou uma evolução, e em 2010 cerca de 91 mil profissionais mulheres trabalhavam no setor, segundo o IBGE. Porém, isso representava apenas 21% do total dos trabalhadores no mercado de tecnologia. E era essa a realidade da minha vida no ano em que fiquei grávida do meu primeiro filho, ainda em 2010. Trabalhava em um dos projetos mais importantes da minha carreira, que mudaria o mercado de cartões com a abertura da multiadquirência — o que exigiu muitas horas de trabalho, viagens e dedicação extra.

Mudei minha rotina, adaptei funções e passei a integrar a equipe de operações da empresa quando retornei da licença. Alguns anos depois, passei a gerenciar projetos de implementação de meios de pagamento e tive a oportunidade de liderar um time pela primeira vez.

Em 2014, veio a segunda gravidez, dessa vez de gêmeos. Isso fez com que muita gente me perguntasse se eu voltaria a trabalhar. Retornei, assumi novos desafios em Operações e hoje respondo pela vice-presidência da área.

Hoje há muito mais mulheres em tecnologia, se comparado a quando comecei. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a participação feminina nesse mercado cresceu 60% nos últimos 5 anos. Talvez isso faça com que elas não tenham sua profissão questionada quando se tornam mães, não haja comentários tão frequentes como os que eu escutei quando descobri que ganharia gêmeos.

Mas sei que ser mulher no mercado de tecnologia ainda é fazer parte da minoria. Segundo pesquisa de dezembro de 2021 da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom), as mulheres representam apenas 37% das posições na área de TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação). Se considerarmos cargos de liderança como o meu, o número será infinitamente menor.

No entanto, consigo ver uma luz no fim do túnel: esses dados mostram que há, ainda, um abismo, mas também há oportunidade. O mercado de TI registra déficit de profissionais no Brasil e no mundo. De acordo com o relatório da Microsoft, (ISC)² Cybersecurity Workforce Study, há uma defasagem de mais de 400 mil profissionais só no segmento de cibersegurança no Brasil, por exemplo. No mundo são impressionantes 2,7 milhões. Se analisarmos a totalidade do ambiente de TIC, o número salta ainda mais.

É aí que vejo a oportunidade: como líderes de grandes organizações, temos que formar e empregar mais mulheres em Tecnologia.

Assumo aqui que as organizações têm responsabilidade para contribuir para a inclusão de não só mais mulheres, mas promover a diversidade em toda a sua totalidade. Promover ações para acolher mães e pais, oferecer facilitadores para o aleitamento no ambiente de trabalho, entre muitas outras iniciativas.

Já sabemos que uma empresa diversa é mais criativa, gera mais negócios, é mais rentável. Resta a nós, gestores, entendermos o nosso papel de inclusão nos ambientes em que atuamos.

Daniele Dias da Silva é vice-presidente de Operações da Visa


Fonte:https://epocanegocios.globo.com/colunas/noticia/2022/11/precisamos-ainda-de-mais-mulheres-na-tecnologia.ghtml


Todos podemos contribuir para mais mulheres na tecnologia

  • PATRÍCIA FUMAGALLI*
 ATUALIZADO EM 

Se você é mulher e gosta de ciências e tecnologia, ocupe esse espaço e incentive outras mulheres a fazerem o mesmo; se você é homem, adote ações propositivas que quebrem estereótipos e gerem inclusão

Programa do Google visa promover mulheres na área de tecnologia (Foto: Andrea Piacquadio/Pexels)

Todos nós podemos colaborar para trazer mais mulheres à área de tecnologia (Foto: Andrea Piacquadio/Pexels)

Se você recebeu ou enviou alguma vez um presente no Dia Internacional da Mulher com a mensagem “Parabéns e obrigado” e não ficou incomodada(o), quero convidá-la(o) a refletir. Eu fiquei contrariada com isso por anos, esboçando um sorriso sem graça sempre que recebia uma gentileza, em forma de flores e chocolates, encobrindo o machismo estrutural. Mas, de alguns anos para cá, tenho visto a data ser cada vez mais usada para trazer à tona questões relacionadas ao preconceito de gênero. Entendi que não basta ficar contrariada; temos que fazer o melhor uso deste espaço e provocar discussões e ações que ajudem a mudar a realidade.

Dentre as inúmeras frentes de batalha, está a ainda muito baixa representatividade das mulheres nas áreas de Ciências e Tecnologia ou, de forma mais ampla, STEM (sigla em inglês Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática). E, quando vamos atrás da origem do problema, as descobertas são impactantes: nossa cultura e o funcionamento da nossa sociedade produzem estereótipos tão fortes que fazem com que as meninas, desde pequenas, desenvolvam mecanismos de auto cancelamento em relação à sua capacidade de ingressar, evoluir e ter sucesso nestas áreas.

Estudos apontam que esse processo começa cedo, no início da vida escolar. Uma pesquisa publicada em 2017 pela revista Science, feita com crianças de 5 a 7 anos, mostra que, aos 5 anos, as crianças não diferenciam meninos e meninas em relação ao brilhantismo intelectual; já aos 6 anos, as meninas começam a associar essas características aos meninos e, com isso, a evitar jogos e atividades feitas para crianças “muito, muito espertas”. E esse comportamento só piora com o tempo.

A ONU Mulheres, entidade das Nações Unidas voltada para a igualdade de gênero e o empoderamento feminino, divulgou o estudo “Decifrar o código: educação de meninas e mulheres em ciências, tecnologia, engenharia e matemática (STEM)”. O relatório, que compila uma série de pesquisas transnacionais com dados de mais de 120 países, mostra que 74% das mulheres se interessam por ciência, tecnologia, engenharia e matemática - mas que apenas 30% delas escolhem campos relacionados a STEM na educação superior. E conclui: “O viés da auto-seleção é a principal razão pela qual as meninas não escolhem STEM. Essa “escolha” sofre muita influência do processo de socialização e das ideias estereotipadas sobre os papéis dos gêneros.” Em outras palavras, as estudantes abandonam os cursos não por fatores relacionados à capacidade intelectual, mas por não se enxergarem capazes, sofrerem discriminação e não terem apoio suficiente.

O papel das escolas é fundamental para ajudar a mudar esse cenário. Currículos que integram em vez de separar, professoras e professores que criam ambientes de aprendizagem igualitários, e atividades e processos avaliativos sem vieses ou estereótipos são algumas escolhas educacionais que fazem muita diferença. Considerando que o STEM tem como base a prática e a experimentação, permitir que as estudantes personalizem suas jornadas de acordo com seus interesses favorece ainda mais o engajamento e o sucesso.

Por fim, vem a conexão com o mercado de trabalho. Parcerias entre as universidades e as empresas permitem às mulheres experimentar uma atuação profissional nestes ambientes contando com o suporte acadêmico; e aqui há espaço para uma série de ações propositivas e coletivas. As empresas – ou, pelo menos, as mais inovadoras – já descobriram os inúmeros benefícios de times diversos. Equipes que contam com pessoas de diferentes gêneros, raças, orientações sexuais, formações e histórias de vida, quando trabalham juntas, têm um potencial muito ampliado. São mais criativas e têm maior capacidade de encontrar soluções inovadoras. E as referências são muito importantes - conhecer mulheres que trilham caminhos parecidos cria identificação e dá coragem. E então cria-se um ciclo virtuoso: mais mulheres nestas áreas trazem maior representatividade, o que, por sua vez incentiva mais mulheres a se juntarem a elas.

Se você é mulher e gosta de Ciências e Tecnologia, ocupe esse espaço e/ou incentive outras mulheres a fazerem o mesmo; se você é homem ou não se identifica com nenhum gênero, adote ações propositivas que quebrem estereótipos e gerem inclusão. Olhe ao redor também, para sua família e amigos: talvez haja uma menina cheia de sonhos esperando seu apoio e estímulo. Ainda há muito a ser feito, mas a cada ano damos mais alguns passos na direção certa.

*Patrícia Fumagalli, VP Transformação Digital na Ânima Educação

Fonte:https://epocanegocios.globo.com/colunas/noticia/2022/03/todos-podemos-contribuir-para-mais-mulheres-na-tecnologia.html


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