POR QUE EUROPA ENFRENTA ONDA DE CALOR RECORDE, COM INCÊNDIO E MORTES? GUERRA E CRISE DESMOBILIZAM ESFORÇOS CONTRA MUDANÇAS CLIMÁTICAS

 

Passageiros no metrô de Londres

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Temperaturas podem atingir 42°C no Reino Unido

Por que Europa enfrenta onda de calor recorde, com incêndios e mortes?

O Reino Unido pode atingir nesta terça-feira (19/7) a temperatura mais alta de sua história, segundo o instituto nacional de meteorologia do país, o Met Office. As temperaturas podem atingir 42°C — mais de três graus acima do recorde histórico, de 2019.

Dados ainda não confirmados indicam que a noite de segunda para terça-feira foi a mais quente já registrada no Reino Unido. As mínimas registradas foram de 25°C, superando o recorde anterior de 23,9°C, registrado em agosto de 1990.

Na segunda-feira (18/7), a temperatura mais alta no Reino Unido foi registrada em Suffolk, na Inglaterra: 38,1°C. O número ficou pouco abaixo do recorde do Reino Unido de 38,7°C, estabelecido em 2019.

Grande parte da Inglaterra está no alerta máximo para o calor.

Na França, também foi emitido um alerta de calor extremo. O norte da Espanha registrou temperaturas de 43°C na segunda-feira. Incêndios florestais provocaram mortes na França, Portugal, Espanha e Grécia, e forçaram milhares de pessoas a deixar suas casas.

Duas pessoas morreram em incêndios florestais na região noroeste de Zamora, na Espanha, e os trens na área foram interrompidos por causa de fogo perto dos trilhos. Um casal de idosos morreu ao tentar escapar de incêndios no norte de Portugal.

Aquecimento global

Por que o calor é tão extremo na Europa? A maioria dos cientistas que trabalha com clima afirma que a resposta para essa pergunta é o aquecimento global.

O Met Office estima que a probabilidade de haver calor extremo na Europa aumentou em dez vezes por causa das mudanças climáticas.

As temperaturas médias mundiais aumentaram um pouco mais de 1°C além dos níveis pré-industrialização, no século 19.

Um grau pode não parecer muita coisa. Mas este é o período mais quente da história dos últimos 125 mil anos, de acordo com o órgão de ciência climática da ONU, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

Já se sabe o que está por trás disso — as emissões de gases de efeito estufa causadas pela queima de combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás, que retêm o calor em nossa atmosfera. Eles contribuem para aumentar a concentração de dióxido de carbono para os níveis mais altos em 2 milhões de anos, de acordo com o IPCC.

Pessoa se protegendo do calor com um guarda-chuva

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Temperaturas médias mundiais aumentaram um pouco mais de 1°C além dos níveis pré-industrialização, no século 19

Então, o que vai acontecer com o clima?

A meta estabelecida pela ONU é limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. Isso poderia evitar os impactos mais perigosos das mudanças climáticas.

Para fazer isso, as emissões precisam atingir o seu pico até 2025 — ou seja, em apenas dois anos e meio.

As emissões de CO2 das matrizes de energia aumentaram 6% em 2021, atingindo 36,3 bilhões de toneladas, o nível mais alto de todos os tempos, estima a Agência Internacional de Energia.

As emissões precisariam cair em, no mínimo, 43% até o final desta década, de acordo com o IPCC.

O mundo teria de reduzir as emissões líquidas anuais a zero até 2050. Isso significa cortar os gases de efeito estufa o máximo possível e ainda encontrar maneiras de extrair CO2 da atmosfera.

É um enorme desafio — muitos acreditam ser o maior que a humanidade já enfrentou.

No ano passado, líderes mundiais fizeram promessas na COP 26, uma grande conferência da ONU na Escócia. Se todas as promessas dos governos fossem realmente implementadas, ainda assim as temperaturas subiriam cerca de 2,4°C em relação aos níveis pré-industriais até o final do século.

Mas mesmo que consigamos reduzir as emissões para essa meta ambiciosa de 1,5°C, os verões do Reino Unido continuarão a ficar mais quentes.

"Em algumas décadas, este verão [de 2022] pode vir a ser considerado frio", diz a climatologista Friederike Otto, professora da Universidade Imperial College London, na Inglaterra.

Para o professor Nigel Arnell, cientista climático da Universidade de Reading, também na Inglaterra, devemos esperar ondas de calor cada vez mais longas no futuro.

Pedestres

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Dados ainda não confirmados indicam que noite de segunda para terça-feira foi a mais quente já registrada no Reino Unido

O que países como o Reino Unido, que enfrentam temperaturas recordes, estão fazendo? Muito pouco, segundo o Comitê de Mudanças Climáticas (CCC), que assessora o governo sobre mudanças climáticas.

Um relatório do CCC sobre as ações do Reino Unido alerta que as políticas atuais do governo dificilmente darão resultado. Segundo o texto, o governo estabeleceu muitas metas e implementou muitas políticas, mas alerta que há "poucas evidências" de que as metas serão cumpridas.

E o país não estaria fazendo o suficiente para se preparar para as ondas de calor mais frequentes e intensas no futuro.

Ondas de calor causaram mais 2 mil mortes em 2020, de acordo com a Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido.

- Texto originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62219380


Onda de calor na Europa: guerra e crise desmobilizaram esforços contra mudanças climáticas


Enquanto os países do norte enfrentam altas de temperatura sem precedentes, Estados Unidos sofre derrotas consecutivas no combate às mudanças climáticas.


Por g1

 

A onda de calor extremo que há uma semana faz subir as temperaturas a números sem precedentes na Europa já provocou mais de mil mortes – e mais uma vez coloca o mundo sob alerta para a urgência no combate às mudanças climáticas.


"A Europa é só um um sinal de que isso já é uma realidade", avalia Lincoln Muniz Alves, meteorologista do Inpe, em entrevista ao podcast O Assunto.


"A gente tem observado extremos também no Japão na Austrália, e mais recentemente aqui no Brasil com as próprias chuvas extremas [...] Então todos esses são sinais de que a mudança do clima já está impondo uma reflexão e chamado para uma ação imediata, seja da sociedade, seja dos tomadores de decisão para se adaptar a essa nova realidade."


Nos Estados Unidos, o caráter urgente da discussão sobre o clima não impediu que o governo Joe Biden sofresse uma grande derrota nas tratativas com o congresso para tentar implementar o seu plano de combate as mudanças climáticas.


Esse já não é o primeiro revés na questão ambiental. No mês passado, a Suprema Corte reduziu o poder do governo para cortar emissões de carbono de centrais de energia – uma decisão que o jornalista Claudio Angelo considera "uma tragédia".


"Em um momento em que a gente já tem uma desmobilização muito grande dos esforços de corte de emissões por conta da guerra da Ucrânia por conta da inflação, com mais e mais países correndo para aquilo que ele sabem fazer direito – que é extrair petróleo, carvão, esses combustíveis tradicionais para garantir segurança energética", analisa Claudio, que também é coordenador de comunicação do Observatório do Clima.




Fonte:https://g1.globo.com/podcast/o-assunto/noticia/2022/07/19/onda-de-calor-na-europa-guerra-e-crise-desmobilizaram-esforcos-contra-mudancas-climaticas.ghtml






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