"NINGUÉM NASCE MAXISTA. É A SOCIEDADE QUE TREINA AS CRIANÇAS PARA O MAXISMO", DIZ A ESCRITORA NANA QUEIROZ

 

Menino e menina brincando (Foto: Anna Shvets/Pexels)

"Como esperamos ter bons pais se os meninos não são autorizados a brincar de boneca, de paternidade?", questiona Nana Queiroz (Foto: Anna Shvets/Pexels)


"Ninguém nasce machista. É a sociedade que treina as crianças para o machismo", diz escritora Nana Queiroz


  • NATHALIA ZIEMKIEWICZ
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Em entrevista à CRESCER, a autora ressalta a importância de cercar as crianças com bons exemplos para não reforçar estereótipos de gênero. Confira a entrevista!


CRESCER: Por que precisamos repensar o modelo tradicional de educação e investir em uma “criação feminista amorosa”?

Nana Queiroz: Ninguém nasce machista. É a sociedade que treina as crianças para o machismo. Quanto mais a neurociência avança, mais se comprova que esses estereótipos de gênero são uma grande bobagem. O cérebro é como uma massinha de modelar e vai sendo modelado de acordo com os estímulos. Acreditar que os meninos são assim ou assado é moldá-los para isso – como uma profecia autorrealizável. A criação feminista amorosa deixa a criança livre para ser o que é e desenvolver as habilidades que naturalmente manifesta.

C: De que formas meninos são punidos pelos estereótipos de gênero?

N.Q.: Ao privar as crianças de determinadas formas de brincar, por exemplo, a gente impede que exercitem certas características. Porque é assim que elas assimilam o mundo. Como esperamos ter bons pais se os meninos não são autorizados a brincar de boneca, de paternidade? Nós os privamos do mundo emocional ao dizer que “menino não chora” ou esperamos uma “dureza” deles. Não os ensinamos a expressar e lidar com as emoções, algo tão importante para a felicidade.

C: Temos falado muito sobre empoderamento feminino, em como dar mais autonomia às meninas e incentivar todo o seu potencial. Estamos esquecendo de colocar meninos e homens nessa roda?

N.Q.: É impossível resolver o machismo sem incluir metade dos envolvidos. É como ter um problema no casamento e mandar só a mulher para a terapia de casal. Óbvio que algumas coisas serão resolvidas com grito, protesto, lei. Mas a maioria das mudanças para as mulheres vai acontecer no seio de relações amorosas – com filhos, marido, irmãos, pais, colegas de trabalho... Aí as revoluções serão mais efetivas.

C: Como lidar com as interferências externas que a criança recebe?

N.Q.: Não depende só da mãe, é uma criação em aldeia. É importante cercar a criança de bons exemplos, participar do que ela aprende na escola e intermediar como recebe o que traz. Temos que ser a testemunha consciente: ver as injustiças e nomeá-las para a criança. “Essa atitude da pessoa X está errada.” Além de admitir os próprios erros e pedir desculpas.

Como educar crianças para a igualdade (Foto: Getty Images)

A escritora Nana Queiroz com os filhos, João e Vicente: ela defende a importância de cercar as crianças com bons exemplos para não reforçar estereótipos de gênero (Foto: acerno pessoal)


Fonte:https://revistacrescer.globo.com/Educacao-Comportamento/noticia/2022/06/ninguem-nasce-machista-e-sociedade-que-treina-criancas-para-o-machismo-diz-escritora-nana-queiroz.html

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