CONHEÇA 6 ARTISTAS BRASILEIRAS QUE REVOLUCIONARAM O SEU TEMPO

 

Conheça 6 artistas brasileiras que revolucionaram o seu tempo (Foto: Reprodução)

Conheça 6 artistas brasileiras que revolucionaram o seu tempo (Foto: Reprodução)

Conheça 6 artistas brasileiras que revolucionaram o seu tempo

Desde já clássicas com até musas da arte digital, uma seleção de mulheres que inspiram, apresentadas por Beta Germano, em sua nova coluna de Vogue Gente

Uma lista de artistas mulheres que você precisa conhecer...mas são muitas! Por isso resolvi escolher mulheres que inovaram em seu tempo: seja por enfrentar um mercado comandado por homens; por experimentar novas mídias; ou por propor formas inusitadas de ver o mundo. Vem comigo!

Conheça 6 artistas brasileiras que revolucionaram o seu tempo (Foto: Reprodução)

Maria Martins (Foto: Divulgação)

Maria Martins

Mais que escultora, musa! Conhecida pelas esculturas orgânicas, contorcidas e sensuais que evocam lendas e a natureza amazônica, Maria Martins foi uma das raras artistas mulheres que conseguiu chamar a atenção dos surrealistas - grupo tradicionalmente dominado por homens que objetificam o corpo de mulher (!).  André Breton, o autor do Manifesto surrealista, que escreve apresentação de sua exposição em Washington e a convida a integrar ao grupo que envolvia Max Ernst, Roberto Matta, Yves Tanguy, Chagall, entre outros.

Maria casou-se com o diplomata Carlos Martins Pereira e Sousa, gaúcho que era colega de infância de Getúlio Vargas e que, como ela, gostava de uma boa festa! Carlos Martins foi embaixador do Brasil, no período anterior e posterior à Segunda Guerra Mundial, tendo servido no Japão e também na Europa. Ela acompanhou Carlos e, por onde passava, fazia cursos de arte: em Paris ela começou a trabalhar com madeira; em Tóquio aprendeu a modelar a terracota, mármore e cera; e, em Bruxelas começou a utilizar o bronze - material que marcaria sua carreira.

Escultura de Maria Martins (Foto: Divulgação)

Escultura de Maria Martins (Foto: Divulgação)

Carlos e Maria tinham uma relação aberta e a artista chegou a ter um romance com ninguém menos que Marcel Duchamp. O artista francês, pai da arte conceitual, chegou a fazer algumas obras homenageando-a. Inclusive seu último trabalho, Étant Donné - uma instalação revelada somente depois de sua morte e que coloca Maria na mesma posição da modelo de Gustave Courbet em L'Origine du monde!

Mas Maria é muito mais do que uma musa talentosa, quem tiver a oportunidade de ver algumas de suas esculturas ao vivo saberá do que estou falando.  Maria destaca-se por trazer para a História da Arte temas advindos dos mitos e tradições originalmente brasileiras. Faz referência à natureza de forma potente  revelando um desejo selvagem feminino totalmente inovador para sua época!  Dica: Há uma versão de um dos seus trabalhos mais importantes, O Impossível, no Paço das Artes no Rio de Janeiro. E a Fundação Roberto Marinho também expõe uma escultura memorável, O Implacável.

Conheça 6 artistas brasileiras que revolucionaram o seu tempo (Foto: Reprodução)

Maria Auxiliadora da Silva (Foto: Divulgação)

Maria Auxiliadora da Silva

Maria Auxiliadora da Silva era uma artista talentosa, mas infelizmente o reconhecimento de sua obra veio somente depois que ela não estava mais entre nós para saboreá-lo. Aos 11 anos Maria já desenhava, com carvão, figuras nos muros.Mas sua condição dificultou a vida na escola e ela precisou trabalhar como doméstica ou passadora. Para piorar, tinha uma frágil e, aos 22 anos, teve de ser submetida a uma primeira cirurgia.

Foi em 1967 que ela decidiu se dedicar integralmente à pintura, trabalhando com determinação e expondo seus trabalhos na Praça da República. O físico e crítico de arte Mário Schemberg a apresentou ao cônsul dos EUA, Alan Fisher, que chegou a organizar uma exposição sua, em 1971, na galeria USIS do Consulado, em São Paulo. No ano seguinte, aos 37 anos, ela realizou o desejo de voltar a estudar, inscrevendo-se no Centro de Alfabetização de Adultos, universo que também retratou em seus trabalhos: ela mostra a realidade dos cursos noturnos, repleta de alunos cansados e sonolentos lutando com letras e números.

Obra de Maria Auxiliadora da Silva (Foto: Divulgação)

Obra de Maria Auxiliadora da Silva (Foto: Divulgação)

Em 1974, entretanto, ela faleceu vítima de câncer. Maria ficaria, mais tarde, conhecida por suas pinturas bidimensionais representando o cotidiano e cultura brasileira, atravessando muitos temas afro‑brasileiros: a capoeira, o samba, a umbanda, o candomblé e os orixás. De origem humilde, Maria inventa um outro modo de pintura, longe dos preceitos acadêmicos e modernistas. Uma técnica singular se tornou sua assinatura: mediante uma mistura de tinta a óleo, massa plástica e mechas do seu cabelo, a artista construía relevos na tela. Ela foi a primeira artista mulher negra do Brasil (até onde sabemos!) a conseguir perfurar o mundo dos museus  dominados por representações e gostos eurocêntricos, brancos e elitistas.

Conheça 6 artistas brasileiras que revolucionaram o seu tempo (Foto: Reprodução)

 Lygia Clark (Foto: Divulgação)

Lygia Clark

É com Lygia que a História da Arte Brasileira encontra a vida e entra para a lista dos momentos mais revolucionários da arte mundial. Clark é responsável pela desmistificação da arte e do artista e pela desalienação do espectador, que finalmente compartilha a criação da obra. Ela participou da Exposição de Arte Neoconcreta, assinando o Manifesto Neoconcreto, ao lado de Amílcar de Castro, Ferreira Gullar, Franz Weissmann e Lygia Pape, entre outros.
No entanto, logo Clark "quebra a moldura" e passa a sugerir que a pintura não se sustenta mais em seu suporte tradicional. Sua primeira revolução está nos famosos "Bichos"- esculturas dobráveis que podem mudar de forma de acordo com a manipulação do público. Mas ela não para por aí.

'Bicho', de Lygia Clark (Foto: Divulgação)

'Bicho', de Lygia Clark (Foto: Divulgação)

Ao criar Máscaras Sensoriais ela isola o espectador do exterior para atingir, assim, uma busca autoconhecimento! Lygia mergulha no mundo da psicologia, mas nunca abandona a arte - como muitos críticos sugerem. Ela só a vê de forma diferente e absolutamente radical e transformadora. Em 1973, sugere a performance Canibalismo fazendo alusão aos rituais de antropofagia - uma referência aos artistas modernos -,  compreendido como processo de absorção e de ressignificação do "eu" alheio! Já no trabalho A Casa é o corpo ela faz com que o visitante passe por uma espécie de túnel para reviver o processo de nascimento! Ela é a primeira artista brasileira a ter uma grande retrospectiva no MoMA, em Nova York, em 2014.

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Letícia Parente (Foto: Divulgação)

Letícia Parente

Pioneira da videoarte, Arte-xerox no Brasil, Letícia Parente reuniu suportes e temáticas que tiveram o corpo humano e os gestos como fonte predominante de investigações. Ressalta preocupações com o comportamento social, especialmente quando o assunto era o papel da mulher.  A obra Marca Registrada, de 1975, é um vídeo de 10 minutos que mostra Letícia Parente em close costurando a expressão “MADE IN BRASIL” com agulha e linha na sola de seu pé.

O corpo passa a ser entendido como uma mercadoria e não mais como aspecto físico de um indivíduo. Expõe-se o pertencimento a um país em um período violento de ditadura civil-militar por meio de um gesto doloroso. A pele é marcada ponto a ponto e produz uma sensação de angústia em quem observa a imagem ao longo do plano sequência – elemento estético essencial em outros trabalhos da artista em vídeo, priorizando o tempo da ação.

Obra de Letícia Parente (Foto: Divulgação)

Obra de Letícia Parente (Foto: Divulgação)

A casa, assim como o corpo, é outro ponto fundamental do conjunto de sua obra. Em Tarefa 1 a câmera registra Letícia Parente e sua empregada no simples ato cotidiano de passar roupa, com o pequeno detalhe que dentro da roupa está a própria artista. Em 1976, apresenta, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, a instalação Medidas, uma das primeiras obras no Brasil a abordar as relações entre arte e ciência. Parente cria um circuito em que os visitantes da exposição passam por várias estações, nas quais medem as características de seu tipo físico, sua capacidade respiratória, a resistência à dor, o grupo sanguíneo, a acuidade visual, a atenção, alguma medida secreta e a percepção de sabores.

Todos esses dados são anotados em uma ficha individual e em relatórios coletivos. Além do autoconhecimento sobre o próprio corpo, as pessoas são confrontadas com informações a respeito de padrões, classificações, recordes, e referências valorativas, colocando em questão a qualificação e a competição violenta incitadas pelas categorizações feitas pela ciência ou pseudociência.

Conheça 6 artistas brasileiras que revolucionaram o seu tempo (Foto: Reprodução)

Rosa Paulino (Foto: Divulgação)

Rosana Paulino

Rosana Paulino é a primeira artista negra a conquistar o mercado de arte em vida. Apesar de ter demorado pelo menos 20, ela finalmente pode viver de seu trabalho artístico, sem precisar se desdobrar em mil outros empregos para pagar as contas - situação bastante comum quando falamos de artistas mulheres negras no Brasil.

A artista aparece no cenário artístico nos anos 1990 e se destaca como voz única de sua própria geração, ao abordar de forma afiada temas sociais, étnicos e de gênero. Desde o início ela detecta um problema quando o assunto é a representação os negros na história das artes visuais. Ela questiona a falsa noção de democracia racial brasileira ao abordar situações decorrentes do racismo e dos estigmas deixados pela escravidão que circundam a condição da mulher negra na sociedade brasileira até hoje!

Arte de Rosa Paulino (Foto: Divulgação)

Arte de Rosa Paulino (Foto: Divulgação)

Aponta para os diversos tipos de violência sofridos por esta população que começam nos próprios fundamentos do "conhecimento científico e biológico" dos povos e da natureza dos trópicos, passam por narrativas religiosas até atingir o campo doméstico - tudo serve, de acordo com a artista, como eixo para a legitimação da supressão identitária dos africanos e africanas no Brasil.

Ao se apropriar de elementos da iconografia da natureza brasileira do século XIX – incluindo ilustrações científicas de plantas, animais e pessoas - , que circularam principalmente em livros de autoria de viajantes europeus, Rosana investiga como a ciência, mas também a religião e as noções de progresso serviram como justificativa para a colonização, a escravidão e o racismo. Este interesse pode ser visto nas colagens A Geometria à brasileira chega ao paraíso tropical e Paraíso tropical.

Conheça 6 artistas brasileiras que revolucionaram o seu tempo (Foto: Reprodução)

Ex-Miss Febem (Foto: Reprodução)

Ex-Miss Febem

A artista e ativista Aleta Valente chamou a atenção do mundo artsy em 2015 quando inicia sua incursão nas mídias sociais criando a conta de Instagram "Ex-miss Febem" inspirada na canção "Kátia Flávia, a Godiva do Irajá" de Fausto Fawcett. No perfil-performance, Aleta se dedicava a mostrar autorretratos com temáticas ligadas à exploração, violência e super sexualização do corpo feminino. Mesmo com um grande alcance, chegando a ter mais de doze mil seguidores, seu perfil foi retirado do ar devido a denúncias de conteúdo impróprio - o que já explica muito sobre o trabalho e sobre a própria política das mídias que censura corpos e a nudez femininos.

O perfil foi reativado e Aleta segue atuando no universo das artes questionando gênero, raça, estereótipos da estética suburbana e o corpo feminino que é padronizado pela sociedade.  Nesse sentido, portanto, o trabalho de Aleta vem atualizar as discussões de Letícia Parente: o consumo público ou privado do corpo feminino é problematizado pela ressignificação dos selfies e pelo erotismo fora de lugar. Ela é a primeira artista brasileira a produzir um trabalho relevante no mundo digital.

Fonte:https://vogue.globo.com/Vogue-Gente/noticia/2021/03/conheca-6-artistas-brasileiras-que-revolucionaram-o-seu-tempo.html



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