4 MULHERES QUE DESBRAVAM CAMINHOS E MOVEM ESTRUTURAS SOCIAIS POR MEIO DA ESCRITA

 

Nossas vozes (Foto: Ilustrações: Jess Vieira)

Nossas vozes (Foto: Ilustrações: Jess Vieira)

4 mulheres que desbravam caminhos e movem estruturas sociais por meio da escrita

Vogue destaca quatro mulheres que desbravam caminhos e movem estruturas sociais por meio da escrita

Djamila Ribeiro
Pequeno Manual Antirracista

Informe-se sobre o racismo, enxergue a negritude, reconheça os privilégios da branquitude, leia autores negros, questione a cultura que você consome, conheça seus desejos e afetos. Esses são apenas alguns passos essenciais tirados do Pequeno Manual Antirracista (Companhia das Letras, R$ 25), livro da filósofa e autora brasileira Djamila Ribeiro que chega às livrarias neste mês. Uma das grandes intelectuais do feminismo negro, ela diz que o que a move a escrever é uma “luta constante contra tanto silenciamento. Muita coisa que foi dita e não foi escutada”, analisa a escritora. “Espero que esse livro promova diálogo e reflexão sobre lugares sociais e branquidade. O racismo é um problema da sociedade brasileira e deveria interessar a todos nós.” O título dá sequência às suas outras publicações sobre o tema, os elogiados O Que É Lugar de Fala (Letramento, 2017) e Quem Tem Medo do Feminismo Negro? (Companhia das Letras, 2018).

Como ser antirracista, segundo Djamila Ribeiro

Vogue selecionou 8 tópicos que você precisa saber do novo manual da filósofa e ativista

Djamila Ribeiro (Foto: Christian Parente)

Djamila Ribeiro (Foto: Christian Parente)

Como ser um membro atuante na luta contra o racismo? É exatamente isso que a filósofa Djamila Ribeiro busca responder – e instruir – por meio do Pequeno Manual Antirracista (Companhia das Letras, R$ 25), livro que será lançado hoje (05.11) na livraria Martins Fontes, em São Paulo e que já teve uma procura de mais de 2.800 exemplares só na pré-venda.

Djamila mostra que se informar sobre o racismo, reconhecer privilégios da branquitude, ler autores negros, questionar a cultura que consumimos e conhecer nossos desejos e afetos, por exemplo, são passos essenciais para que esse processo de mudança aconteça. Vogue separa 8 passagens do livro que você não pode perder:

Entenda que racismo é um problema estrutural
O primeiro ponto a entender é que falar sobre racismo no Brasil é, sobretudo, fazer
um debate estrutural. É fundamental trazer a perspectiva histórica e começar pela relação entre escravidão e racismo, mapeando suas consequências.

O que você tem feito pela luta antirracista?
Chegamos, assim, à seguinte pergunta: o que, de fato, cada um de nós tem feito e pode
fazer pela luta antirracista? O autoquestionamento— fazer perguntas, entender
seu lugar e duvidar do que parece “natural” —é a primeira medida para evitar reproduzir esse tipo de violência, que privilegia uns e oprime outros.

Reconheça os privilégios da branquitude
Todos devem questionar a ausência de pessoas negras em posições de gerência, autores negros em antologias, pensadores negros na bibliografia de cursos universitários, protagonistas negros no audiovisual. E, para além disso, é preciso pensar em ações que mudem essa realidade.

Perceba o Racismo internalizado em você
Como vimos, a maioria das pessoas admite haver racismo no Brasil, mas quase ninguém se assume como racista. Pelo contrário, o primeiro impulso de muita gente é
recusar enfaticamente a hipótese de terem um comportamento racista: “Claro que
não, afinal tenho amigos negros”, “Como eu seria racista, se empreguei uma pessoa
negra?”

Transforme seu ambiente de trabalho
É preciso romper com a estratégia do “negro único”: não basta ter uma pessoa negra
para considerar que determinado espaço de poder foi “dedetizado contra o racismo”.
A herança escravista faz com que o mundo do trabalho seja particularmente racista—
o que também o torna um dos espaços em que a luta antirracista pode ser mais transformadora.

Leia autores negros
Mesmo vencendo todos os obstáculos que acompanham a pele não branca e ingressando na pós-graduação, o estudante encontrará outro desafio: o epistemicídio,
isto é, o apagamento sistemático de produções e saberes produzidos por grupos oprimidos. É raro que as bibliografias dos cursos indiquem mulheres ou pessoas negras; mais raro ainda é que indiquem a produção de mulheres negras, cuja presença no debate universitário e intelectual é extremamente apagada.

Questione a cultura que você consome
Nos processos de colonização, a visão de cultura do colonizador foi imposta,
enquanto bens culturais eram saqueados. Um exemplo disso são as coleções dos
principais museus da Europa, onde hoje se encontram objetos de diferentes países africanos, asiáticos e americanos—peças que, com certeza, devem significar muito para essas culturas.

Conheça seus afetos e desejos
As mulheres negras são ultrassexualizadas desde o período colonial. No imaginário
coletivo brasileiro, propaga-se a imagem de que são “lascivas”, “fáceis” e “naturalmente sensuais”. Essa ideia serve, inclusive, para justificar abusos: mulheres negras são as maiores vítimas de violência sexual no país. Obviamente a questão não é sobre a sensualidade de determinada mulher, mas sim sobre necessidade de enquadrar mulheres negras nesse estereótipo.

Fonte:https://vogue.globo.com/lifestyle/cultura/noticia/2019/11/como-ser-antirracista-segundo-djamila-ribeiro.html

Nossas vozes (Foto: Ilustrações: Jess Vieira)

Nossas vozes (Foto: Ilustrações: Jess Vieira)

Djaimilia Pereira De Almeida
Luanda, Lisboa, Paraíso

Foi depois de montar uma coleção de objetos comprados de forma aleatória em feiras de antiguidades que Djaimilia Pereira de Almeida, autora angolana radicada em Portugal, viu o recém-lançado Luanda, Lisboa, Paraíso (Companhia das Letras, R$ 60) tomar forma em sua cabeça. “Quase tudo o que escrevo tem uma origem análoga: um objeto antigo, uma fotografia que vi, duas linhas de um livro, uma casa”, conta. Na trama, o personagem Aquiles tem um calcanhar malformado (emclara referência ao mito grego) e isso o faz partir de Angola para Portugal em busca de tratamento. Sua única companhia na jornada é o pai, comquem não tem a melhor das relações – e, a partir daí, a história se desenrola. Ao abordar um passado (e uma África) que se quer esquecer, o livro explora o processo de descolonização portuguesa e a complexidade de um vínculo familiar. Vencedora do Prêmio Fundação Eça de Queiroz, Djaimilia se tornou estrela da nova literatura lusitana depois da publicação de seu primeiro livro, uma tragicomédia cheia de traços autobiográficos, Esse Cabelo (Leya, 2015).

Nossas vozes (Foto: Ilustrações: Jess Vieira)

Nossas vozes (Foto: Ilustrações: Jess Vieira)

Lupita Nyong’o
Sulwe

Ela tem a pele da cor da meia-noite, é mais escura que todos de sua família e só queria ter o mesmo brilho de sua irmã, mais clara. Em sua estreia literária com a história infantojuvenil Sulwe (Rocco, R$ 75), a queniana Lupita Nyong’o surpreende ao tratar de um tema delicado e polêmico: o colorismo. “Ela foi muito corajosa ao trazer a discussão sobre os efeitos do racismo na infância com metáforas simples: dia, noite, luz e estrelas”, reflete Paula Drummond, editora responsável pela publicação no Brasil. A ideia, como a autora escreve no epílogo, é despertar amor próprio logo cedo para evitar traumas que ela mesma vivenciou quando criança – como tentar clarear a pele com sabonete numa tentativa de ser aceita pela sociedade. Vencedora do Oscar pela atuação no primeiro longa de sua carreira, 12 Anos de Escravidão, dirigido pelo britânico Steve McQueen, Lupita faz parte da geração Own Voices, termo que se refere a novos autores que vêm de grupos marginalizados e escrevem sobre (e a partir de) suas próprias experiências. “O movimento tem crescido muito, e a ideia é tentar aumentar a diversidade no catálogo das editoras”, explica Paula. “O meio literário infantojuvenil ainda está atrasado em relação à discussão sobre os estereótipos estéticos femininos e o reconhecimento de belezas não hegemônicas. Isso começa a mudar com livros como este”, diz a editora.

Nossas vozes (Foto: Ilustrações: Jess Vieira)

Nossas vozes (Foto: Ilustrações: Jess Vieira)

Toni Morrison
A Origem Dos Outros

“Ler Morrison no Brasil é um prazer e um doloroso desafio”, avalia a editora Luara Franca sobre a importância do livro póstumo A Origem dos Outros: Seis Ensaios sobre Racismo e Literatura (Companhia das Letras, R$ 55), que acaba de chegar ao País. Compilado de uma série de palestras ministradas pela autora em Harvard, a publicação fala da desumanização racista como fator que delimita fronteiras de poder e cria muros na sociedade. Ao mesmo tempo, a autora americana, primeira mulher negra vencedora do Nobel de Literatura, propõe reflexões para que essas barreiras caiam. “Quando Morrison (1931-2019) cria ficção a partir de situações tão extremas, como o caso de Margaret Garner (que deu origem ao romance Amada, de 1997), ganhador do Prêmio Pulitzer e adaptado para o cinema com atuação de Oprah Winfrey), ela faz comque o leitor tenha sentimentos estranhos a ele, mas próprios do personagem”, reflete Luara. “Uma literatura como esta pode oferecer olhares diferentes e chamar nossa atenção para o que consideramos ‘comum’ e que na verdade é danoso. Precisamos disso para combater o racismo assimilado no cotidiano.” Morrison foi responsável não só por pautar o protagonismo negro, como também por revelar toda uma geração de escritores contemporâneos, a exemplo de Angela Davis e Gayl Jones.

Fonte:https://vogue.globo.com/lifestyle/cultura/noticia/2019/11/4-mulheres-que-desbravam-caminhos-e-movem-estruturas-sociais-por-meio-da-escrita.html


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