TALIBÃ E SUA ATUAÇÃO NO MUNDO DO TERRORISMO E QUEM OS FINANCIA

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Tropas do Talibã em 1996. Foto: AFP.

Talibã e sua atuação no mundo do terrorismo

Publicado em 16 de agosto de 2021

O Talibã é um grupo que atua no Afeganistão e no Paquistão desde os anos 1990. Conhecido pelas suas regras rígidas, o grupo responsável por inúmeros ataques tem retomado seu crescimento nos últimos anos. Quer saber como age o Talibã no terrorismo?

COMO SURGIU O TALIBÃ?

Quando as tropas soviéticas deixaram o Afeganistão nos anos 1990, o país foi tomado por uma série de conflitos entre facções que brigavam pelo controle da nação. Neste contexto de guerra civil, surge em 1994 o Talibã, sob a liderança do Mullah Mohammed Omar.

O grupo, criado no sul do Afeganistão, tem origem nas tribos que ocupavam a fronteira do país com o Paquistão. É formado principalmente pelos pashtun, um povo que lutou contra o imperialismo britânico, a invasão soviética e hoje se dedica a combater a intervenção do ocidente na região.

Em 1997, pouco tempo após o seu surgimento, o Talibã conquista o controle do Afeganistão, sendo muito bem recebido por significativa parte da população. Isto porque, após um longo período de guerras, o grupo estabeleceu a paz no território, combateu a corrupção e tornou as estradas mais seguras para o desenvolvimento do comércio. Apesar desse apoio interno, o Talibã só teve o seu governo reconhecido por três países: Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Paquistão.

Após os ataques em 11 de setembro de 2001, o Afeganistão foi invadido pelas tropas estadunidenses. As alegações de que o Talibã protegia Osama Bin Laden – responsável pelo ataque – motivaram uma coalizão liderada pelos Estados Unidos a destituir o Talibã do poder. Mas isso não impediu o grupo de continuar exercendo influência, na época controlando quase 90% do Afeganistão. Os Talibãs continuaram sua luta, agora na clandestinidade.

OBJETIVOS E AÇÕES DO GRUPO

Quando surgiu, o Talibã tinha como objetivo restaurar a paz e a segurança em um Afeganistão marcado pela guerra civil. Mas não era só isso! O grupo também pretendia impor sua versão da Sharia, lei islâmica. Com o tempo, suas motivações os levaram a cometer ações bastante rígidas e questionáveis, como execuções públicas, proibição de toda a influência ocidental, proibição do cinema, da música e da televisão, obrigatoriedade do uso da burca pelas mulheres e proibição de escolas para as meninas. Hoje em dia, as ações do Talibã são pautadas na recuperação do território e em expulsar os Estados Unidos e a OTAN do país, desde a ocupação em 2001.

Leia mais: Como os grupos terroristas se financiam?

A RELAÇÃO COM A AL-QAEDA

O Afeganistão possui dois conhecidos grupos terroristas atuando em seu território: o Talibã e a Al-Qaeda. Inicialmente, esses dois grupos eram opositores, mas essa relação foi mudando ao longo do tempo. Após um encontro entre Osama Bin Laden e o Mullah Mohammed Omar, em 1996, os dois grupos estabeleceram uma aliança, principalmente para unir forças no controle do Afeganistão.

Mas apesar de serem aliados, existem enormes diferenças entre o Talibã e a Al-Qaeda. A principal delas é que o Talibã é uma organização provincial, que age apenas na sua região e não realiza ataques em países do ocidente, ao contrário da Al-Qaeda. Outra diferença é que o Talibã é composto por membros de tribos afegãs, enquanto a Al-Qaeda é composta por árabes.

O ATENTADO A MALALA YOUSAFZAI

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Malala Yousafzai venceu o Prêmio Nobel da Paz em 2014. Foto: Pietro Naj-Oleari/ European Parliament.

O Talibã é responsável por diversos ataques, mas sem dúvidas o mais conhecido deles aconteceu em outubro de 2012, quando a estudante Malala Yousafzai foi baleada ao sair da escola, na cidade de Mingora, Paquistão. Na época com 15 anos, Malala já se destacava no país por sua luta pela educação de meninas e adolescentes. O caso passou a ser acompanhado por todo o mundo e dois anos depois, aos 17 anos, Malala foi uma das vencedoras do Prêmio Nobel da Paz por seu trabalho em defesa da educação feminina.

O TALIBÃ HOJE

Hoje o Talibã atua no Afeganistão e no Paquistão e tem como objetivo implementar a Sharia e recuperar o controle dos territórios, com ofensivas contra a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e os governos do Paquistão e Afeganistão. Para isso, a organização utiliza táticas de guerrilha e ataques de homens-bomba. No Paquistão, a mesma é nomeada de Tehrik-i-Taliban Pakistan.

O atual líder do grupo é o Mullah Haibatullah Akhunzada, que assumiu a liderança com a difícil missão de unificar as diversas facções do grupo. As táticas utilizadas para combater a organização terrorista são diferentes nos dois países: no Paquistão, o governo tenta dialogar com o grupo, sem sucesso, enquanto no Afeganistão, o governo recebia treinamento de contraterrorismo das forças dos Estados Unidos e da Otan.

A estratégia dos Estados Unidos era de fortalecer o governo e o exército afegãos para que o próprio país tivesse capacidade de frear os avanços do Talibã. O governo dos EUA, após duas décadas de ocupação, decidiu retirar as tropas do país, cujo acordo com o Talibã foi assinado ainda sob a gestão Donald Trump, mas só foi implementado a partir do primeiro semestre do governo Biden em 2021. Infelizmente, as negociações foram malsucedidas, e o grupo voltou novamente ao caminho de dominação do país.

Ao passo que a presença militar norte-americana foi sendo removida do Afeganistão, o Talibã, aos poucos, começou a retomar o controle sobre os territórios do país da Ásia Meridional. Em agosto de 2021, com quase ¾ do território afegão já ocupado pela organização, a mesma tomou o controle da capital, Cabul, e ocupou a sede do governo nacional, causando a fuga do até então presidente Ashraf Ghan para o vizinho Tajiquistão. Enquanto os extremistas assumiam o comando, diplomatas e cidadãos de diferentes nações começaram a abandonar o país, bem como a sua própria população: mais de 250 mil afegãos fugiram de suas localidades desde maio, e multidões aflitas tentaram fugir do país diante da ascensão do Talibã ao poder

Qual a sua opinião sobre a atuação do Talibã? Comente!

Fontes: 

BBC Brasil – Afeganistão: as imagens que mostram o caos e o desespero dos afegãos após a entrada do Talebã em Cabul

BBC Brasil – Afeganistão: o drama dos que fogem da ofensiva do Talebã

BBC Brasil – Conheça as origens do Talebã, movimento que reivindica atentado no Paquistão

El País – Entenda o que ocorre no Afeganistão e a volta do Talibã

G1 – Presidente do Afeganistão deixa o país; Talibã diz que tomou controle do palácio presidencial em Cabul

G1 – Talibã é fruto de vácuo de poder após anos de conflito no Afeganistão 

G1 – Quem são e o que querem os grupos extremistas que propagam o terror

G1 – O que é o Talibã?

InfoEscola – As cinco maiores organizações terroristas

Nova Escola – O que é o Talibã?

UOL Notícias – Entenda o que querem e como surgiram os grupos extremistas que ameaçam o mundo

Veja – Afeganistão: Talibã conquista 10ª capital em uma semana

Texto publicado em 09 de agosto de 2017. Atualizado e republicado em 16 de agosto de 2021.
Fonte:https://www.politize.com.br/taliba-terrorismo/

 

Como funciona o financiamento do terrorismo?

Publicado em 20 de novembro de 2015

Com os recentes atentados em Paris e com a intensificação da atuação do Estado Islâmico, surge a pergunta: como os grupos terroristas conseguem financiar suas atividades? Essa indagação ganha força a cada ação terrorista, não somente entre os formuladores de políticas de segurança, mas também entre a população em geral.

O que é o financiamento do terrorismo?

Segundo o Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo do Banco Mundial, o financiamento do terrorismo é o apoio financeiro, por qualquer meio, ao terrorismo ou àqueles que incentivam, planejam ou cometem atos de terrorismo.

O financiamento do terrorismo tem como objetivo fornecer fundos para atividades terroristas. Essa arrecadação de fundos pode acontecer de diversas formas, entre elas fontes lícitas – tais como doações pessoais e lucros de empresas e organizações de caridade – bem como a partir de fontes criminosas – como o tráfico de drogas, o contrabando de armas, bens e serviços tomados indevidamente à base da força, fraude, sequestro e extorsão.

A luta contra o financiamento do terrorismo está intimamente ligada com o combate à lavagem de dinheiro, já que as técnicas utilizadas para lavar o dinheiro são essencialmente as mesmas utilizadas para ocultar a origem e o destino final do financiamento terrorista, para que assim as fontes continuem a enviar dinheiro sem serem identificadas. Normalmente essas transações financeiras ocorrem diversas vezes, sempre transferindo pequenas quantidades de dinheiro, que irão passar por diferentes contas bancárias, abertas em paraísos fiscais, para dificultar o trabalho das autoridades e também para proteger a identidade de seus patrocinadores e dos beneficiários finais dos fundos.

Como o Estado Islâmico financia suas atividades?

Segundo o jornal Al-Araby al-Jadeed, todos os integrantes do Estado Islâmico recebem algum tipo de apoio financeiro. Por exemplo, um combatente comum ganha de 500 a 600 dólares por mês. Além disso, o EI também tem apoiado programas de caridade para beneficiar órfãos, viúvas e feridos simpáticos a sua causa. Ainda segundo o jornal, o grupo terrorista possui, em 2015, um orçamento de pelo menos 2 bilhões de dólares.

Mas como o EI consegue esse dinheiro? Uma das principais fontes de arrecadação do grupo vem da venda de petróleo no mercado negro. Até o fim de 2014, a organização radical assumiu o controle de importantes regiões petrolíferas no Iraque e na Síria, que de acordo com a revista Foreign Affairs produzem cerca de 44 mil barris de petróleo por dia. Estes são vendidos por meio de intermediários na Turquia e na Síria. Para Matthew Levitt, integrante do Washington Institute, o EI ganha em torno de U$ 1 milhão (R$ 2,3 milhões) por dia somente com a exploração do petróleo iraquiano.

Entretanto, o petróleo não é a única fonte de renda para o EI. Ainda segundo Levitt, o grupo armado já possui um sistema de cobrança de impostos em áreas conquistadas, ao mesmo tempo em que promovem atividades ilegais como roubo de reservas de dinheiro de bancos locais, contrabando de carros e armas, sequestros e bloqueios de estradas e também a venda de antiguidades roubadas.

Porém, Levitt acredita que o tipo de operação que vimos em Paris não é financiada diretamente pelo EI, para ele a célula possui um financiamento que provém de outras atividades criminosas, como a venda de drogas, realizadas na própria região. Isso porque os custos para realizar um atentado não são excessivamente altos: para Levitt, os atentados em Paris podem ter custado menos de 50 mil dólares, principalmente se comparados aos custos para evitar ataques terroristas.

Políticas de combate ao financiamento do terrorismo

O financiamento aos grupos terroristas não é um problema recente. Já em 1999, as Nações Unidas demonstravam preocupação com essa questão, e por isso criaram a Convenção Internacional para a Eliminação do Financiamento do Terrorismo.  Essa convenção impõe aos Estados ratificantes a criminalização do terrorismo, das organizações terroristas e dos atos terroristas. Segundo a Convenção, é considerado crime qualquer pessoa fornecer ou recolher fundos com a intenção de que os fundos sejam utilizados para a execução de qualquer ato de terrorismo.

Além disso, em 1989, foi criado pelo G-8, o GAFI (Grupo de Ação Financeira) que tinha como objetivo criminalizar a prática da lavagem de dinheiro no âmbito internacional. Após os atentados de 11 de setembro de 2001, o GAFI expandiu seu mandato para poder tratar também da questão do financiamento dos atos e organizações terroristas, bem como das questões referentes ao financiamento da proliferação de armas de destruição em massa. O grupo atua através da publicação de recomendações específicas para melhorar e harmonizar as regras contra crimes financeiros. Suas recomendações estão relacionadas com o aumento nas exigências de transparência, além de tornar mais rigorosas a fiscalização de transferências eletrônicas, aumento da cooperação internacional entre agências governamentais e grupos financeiros, a fim de trazer mais eficiência para trocas de informações, rastreamento, bloqueios, confiscos e repatriação de bens ilegais.

Foi através de umas das recomendações do GAFI que o Brasil criou a COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), principal órgão brasileiro no combate a crimes financeiros. É a COAF que coordena a participação brasileira em diversas organizações multigovernamentais de prevenção e combate ao financiamento de grupos terroristas.  A maior crítica feita pelo GAFI é o fato do Brasil ainda não criminalizar o financiamento terrorista.

No que se refere a medidas mais efetivas contra os meios de arrecadação financeira de grupos terroristas, especificamente o EI, pode-se dizer que os bombardeios contra refinarias e poços de petróleo têm afetado as receitas da organização terrorista, diminuindo o lucro vindo da venda de petróleo. Também tentando frear o poder econômico dos grupos terroristas o G-20 e o GAFI têm trabalhado para fortalecer o combate a esse tipo de financiamento, principalmente aumentando as medidas contra a lavagem de dinheiro, já que eles afirmam que medidas contra a lavagem de dinheiro são fundamentais para conter economicamente o EI. Já na última semana, o Conselho de Segurança da ONU, numa tentativa de diminuir a capacidade financeira do EI, proibiu todo o comércio de antiguidades da Síria, ameaçou impor sanções a qualquer um que compre petróleo do Estado Islâmico e de militantes da Frente Al-Nusra, ligada à Al Qaeda, e exortou os países a não pagar mais resgates de reféns.

Referências:

COAF Brasil – BBC Brasil – Grupo de Ação Financeira – Guia de Referência Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo do Banco Mundial – Infomoney

Fonte:https://www.politize.com.br/financiamento-do-terrorismo/

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