OBJETOS DE ARTE VINDOS DO CORAÇÃO DA FLORESTA NO BRASIL

  

 Cuias: as peças têm como tema as folhas da vegetação que envolve o cotidiano dos artesãos. São produzidas em Parintins | Bichos: os cabos das colheres feitas com madeira de descarte, em Iranduba, perto de Manaus, homenageiam os animais da região  (Foto: Fabio Scrugli)

Cuias: as peças têm como tema as folhas da vegetação que envolve o cotidiano dos artesãos. São produzidas em Parintins | Bichos: os cabos das colheres feitas com madeira de descarte, em Iranduba, perto de Manaus, homenageiam os animais da região (Foto: Fabio Scrugli)

Do coração da floresta

Objetos produzidos por povos indígenas e populações ribeirinhas do Amazonas encantam o mundo, preservam e revelam esta cultura brasileira

Nas tramas de fibra de arumã trançadas pelos povos indígenas da etnia Baniwa, do Amazonas, estão representadas as chamadas “sílabas gráficas”, desenhos que constituem um sistema simbólico ancestral aprendido com heróis mitológicos num passado remoto e transmitido de pai para filho (sim, apenas entre os homens!). Para formar os desenhos, são combinadas fibras naturais e tingidas. Todo esse código é dominado pelos Baniwa, cujas aldeias se localizam próximo ao rio Içana e seus afluentes, e também na região do Alto Rio Negro, no norte do Estado do Amazonas.

Esse artesanato carregado de significados e forte símbolo de identidade étnica é confeccionado com perfeição para a produção dos utensílios necessários ao cultivo da mandioca e outras atividades produtivas: o balaio, o jarro, a peneira e o cesto. A partir da realização de projetos de desenvolvimento do artesanato e de oficinas com designers e instrutores, ampliou-se a produção, sem que se perdessem, porém, a impecável qualidade técnica e o desenho original, identidade da cultura Baniwa: mantêm-se o uso do caule de arumã como matéria-prima, o tingimento vegetal - aprimorado e diversificado com utilização de outras plantas locais -, e o desenho simbólico. Mas são produzidas novas peneiras, novos cestos, sacolas, bolsas e colares a partir de bolinhas trançadas ou figuras geométricas, quadrados e retângulos.

Peneira | A peça é trançada pelos homens e usada pelas mulheres para o cultivo e o processamento da mandioca, base da alimentação dos indígenas (Foto: Fabio Scrugli)

Peneira | A peça é trançada pelos homens e usada pelas mulheres para o cultivo e o processamento da mandioca, base da alimentação dos indígenas (Foto: Fabio Scrugli)

Para os Baniwa, representa geração de renda com a preservação de seus valores culturais. O Programa Artesanato Sustentável do Amazonas, realizado em 2009 e 2010 pelo Grupo A G Arquitetura e Projetos Culturais para a Amazonastur, atendeu sete regiões: Manaus, Iranduba, Novo Airão, Tefé, São Gabriel da Cachoeira, Parintins e Barreirinhas. A curadoria foi do arquiteto e fotógrafo Fabio Scrugli, e a direção de criação, de Renato Imbroisi. Foram desenvolvidos cerca de 200 novos produtos.

Entre os instrutores, estava Hisako Kawakami, mestre em tingimento vegetal e profunda conhecedora da flora brasileira, que promoveu o resgate de técnicas de tingimento, muitas vezes perdidas pelos ribeirinhos, os descendentes de indígenas. Na cidade de Tefé, os escultores tingiam com nogueira – que nem é uma planta nativa. Adotaram, então, a flora local (crajeru, anil, urucum) para colorir esculturas de animais, com as quais montam colares desenvolvidos nas oficinas. Em Iranduba, foram criadas colheres de madeira com imagens de animais entalhadas nos cabos: onça, macaco, arara e peixes. A partir desse programa, os artesãos fundaram a Cooperativa do Artesanato Sustentável do Amazonas, Coopasam, que possui um espaço no Shopping Ponta Negra, em Manaus, e segundo a Amazonastur, leva peças para feiras internacionais de artesanato.

Centro de mesa | Feito de crochê com fibra de tucum, a peça é produzida por comunidade de Acajatuba, em Iranduba, no Rio Negro (Foto: Fabio Scrugli)

Centro de mesa | Feito de crochê com fibra de tucum, a peça é produzida por comunidade de Acajatuba, em Iranduba, no Rio Negro (Foto: Fabio Scrugli


Fonte:https://revistacasaejardim.globo.com/Casa-e-Jardim/Decoracao/Brasil-em-Casa-e-Jardim/noticia/2014/05/do-coracao-da-floresta.html

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