CAPACIDADE DAS FLORESTAS TROPICAIS,ENTRE ELAS A AMAZÔNIA,DE ABSORVER DIÓXIDO DE CARBONO ESTÁ DIMINUINDO: O BRASIL QUE DESMATA,MATA E É CAPAZ DE GERAR RIQUEZA
Dia 5 de setembro de 1850, o príncipe D.Pedro II decretava a criação da Província do Amazonas. E é nesta data que celebramos o Dia da Amazônia, um dia que pode muito bem ser aproveitado para falar um pouco sobre conscientização quanto a importância da maior floresta tropical do mundo e sobre sua biodiversidade.
Atualmente a floresta amazônica tem sido ameaçada pelo desmatamento ilegal, o que causa um desequilíbrio direto na fauna e flora da região, gerando uma crise no ambiente a nível mundial.
Segundo a revista científica Nature Geoscience, edição de setembro, a floresta amazônica pode ser menos resistente às mudanças climáticas do que se pode imaginar. O estudo afirma que a quantidade de fósforo presente no solo, está diretamente ligada à qualidade da floresta de absorver CO2 (dióxido de carbono).
A destruição da Amazônia causa a perda da biodiversidade, além de afetar o equilíbrio climático em todo o planeta. Uma forma de contribuir com a preservação de um dos mais importantes patrimônios naturais, é o uso sustentável dos recursos e o combate ao desmatamento. As áreas de conservação precisam investir em fiscalização para que as leis sejam cumpridas com excelência.
As dificuldades para enfrentar as ameaças de queimadas, e lidar com o desafio de implantar a sustentabilidade como necessidade para um bem comum, tem sido o lema de organizações que já se propõem a fazer parte dessa luta diária. E a Biotec-Amazônia faz parte disso, promovendo a geração de negócios relacionados a biodiversidade amazônica, e com isso, promove o desenvolvimento sustentável da região.
Imagem: exame.abril
Fonte:http://biotecamazonia.com.br/hoje-e-o-dia-da-amazonia/
Desmatamento
da Amazônia Legal cresce 279% em 2020
Mesmo frente ao cenário de pandemia da Covid-19, a Floresta Amazônica sofre com índices recordes de desmatamento na chamada Amazônia Legal – que engloba os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão.
Segundo dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), a prática cresceu 279% em março deste ano, em comparação com o mesmo período em 2019. 274 quilômetros quadrados foram derrubados em um mês – maior registro em dois anos.
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) também detectou sinais de aumento da exploração da principal floresta tropical do mundo. No primeiro trimestre deste ano, o satélite Deter-B – que monitora os desmatamentos, praticamente, em tempo real – detectou um aumento de 51,45% dos alertas de desmatamento emitidos em relação ao mesmo período do ano passado.
Os dados apontam que foram emitidos alertas para 796,08 quilômetros quadrados de área verde – maior registro em quatro anos, desde o início da série. As áreas sob proteção que sofreram mais impactos no primeiro trimestre do ano são a Floresta Nacional do Jamanxim e a Área de Proteção Ambiental do Tapajós, ambas no Pará, onde a legislação foi afrouxada.
Mudanças na lei ‘regularizam’ grilagem
O Pará foi o segundo mais desmatado, com 23% da área atingida. O estado perde apenas para o Amazonas (31%).
Sancionada pelo governo do estado em julho de 2019, a Lei 8.878/2019 facilita a regularização de áreas da floresta em aproximadamente 20 milhões de hectares – correspondente a pouco mais que todo o território do estado. Considerando o período entre agosto do ano passado – um mês após a aprovação da lei – e a publicação dos últimos dados do SAD, nota-se um aumento de 72% no desmatamento da floresta em comparação com o mesmo período anterior.
Os dados informam ainda que a principal categoria de áreas atingidas pelo desmatamento é justamente a de áreas “privadas ou sob diversos estágios de posse” (57%) – o restante foi registrado em “assentamentos” (31%), “Unidades de Conservação” (9%) e “Terras Indígenas” (4%).
Degradação ambiental se manteve estável
Os índices de degradação, que indicam cortes e queimadas seletivas, se mantiveram estáveis, registrando 24 quilômetros quadrados de áreas atingidas.
Para os pesquisadores, embora esse tipo de exploração seja um estágio intermediário entre a floresta intacta e a que foi transformada em pasto, ainda compromete as capacidades do bioma em contribuir para o balanço hídrico, climático e de carbono do ambiente. Nessa categoria, Roraima concentrou 56% dos registros, seguido por Pará (20%) e Mato Grosso (8%).
Capacidade das florestas
tropicais de absorver dióxido de carbono
está diminuindo
A capacidade das florestas tropicais de absorver grandes quantidades de carbono diminuiu nos últimos anos. O declínio dessa capacidade é devido ao desmatamento em grande escala, degradação do habitat e efeitos das mudanças climáticas, como secas e incêndios.
A reportagem é publicada por Jet Propulsion Laboratory – NASA e reproduzida por EcoDebate, 21-07-2021. A tradução e edição são de Henrique Cortez.
A descoberta surge de um esforço para mapear onde a vegetação está emitindo e absorvendo dióxido de carbono da atmosfera.
As árvores e plantas da Terra retiram grandes quantidades de dióxido de carbono da atmosfera durante a fotossíntese, incorporando parte desse carbono em estruturas como a madeira. As áreas que absorvem mais carbono do que emitem são chamadas de sumidouros de carbono. Mas as plantas também podem emitir o gás de efeito estufa durante processos como a respiração, quando as plantas mortas se decompõem, ou durante a combustão, no caso de incêndios. Os pesquisadores estão particularmente interessados em saber se – e como – as plantas na escala de um ecossistema como uma floresta agem como fontes ou sumidouros em um mundo cada vez mais quente.
Um estudo recente liderado por cientistas do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA no sul da Califórnia identificou se áreas com vegetação, como florestas e savanas ao redor do mundo, eram fontes ou sumidouros de carbono todos os anos de 2000 a 2019. A pesquisa descobriu que, ao longo dessas duas décadas, as plantas lenhosas foram responsáveis por mais de 80% das fontes e sumidouros na terra, com solo, serapilheira e matéria orgânica em decomposição constituindo o resto. Mas eles também viram que a vegetação retinha uma fração muito menor do carbono do que os cientistas pensavam originalmente.
Além disso, os pesquisadores descobriram que a quantidade total de carbono emitido e absorvido nos trópicos era quatro vezes maior do que nas regiões temperadas e áreas boreais (as florestas do extremo norte) combinadas, mas que a capacidade das florestas tropicais de absorver grandes quantidades de carbono diminuiu nos últimos anos. O declínio dessa capacidade é devido ao desmatamento em grande escala, degradação do habitat e efeitos das mudanças climáticas, como secas e incêndios mais frequentes.
Na verdade, o estudo, publicado na Science Advances, mostrou que 90% do carbono que as florestas ao redor do mundo absorvem da atmosfera é compensado pela quantidade de carbono liberada por distúrbios como desmatamento e secas.
Os cientistas criaram mapas de fontes e sumidouros de carbono de mudanças no uso da terra, como desmatamento, degradação de habitat e plantio de florestas, bem como crescimento de florestas. Eles fizeram isso analisando dados sobre a vegetação global coletados do espaço usando instrumentos como o Geoscience Laser Altimeter System (GLAS) da NASA a bordo do ICESat e o Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer (MODIS) a bordo dos satélites Terra e Aqua, respectivamente. A análise usou um algoritmo de aprendizado de máquina que os pesquisadores primeiro treinaram usando dados de vegetação coletados no solo e no ar usando instrumentos de varredura a laser.
Fazendo o inventário
“Muitas pesquisas anteriores não foram espacialmente explícitas – não tivemos um mapa de onde os fluxos de carbono estavam ocorrendo”, disse Nancy Harris, diretora de pesquisa do programa florestal do World Resources Institute em Washington e um dos autores do estudo.
Outras maneiras de estimar quanto carbono é trocado entre áreas com vegetação e a atmosfera incluem observar quantas plantas ou florestas existem em uma determinada região e estudar as mudanças no uso da terra, combinando essas informações com estimativas de emissão de carbono. Mas esses métodos têm limitações espaciais ou temporais que os autores do estudo tentaram abordar com seu método de aprendizado de máquina.
Saber onde as plantas estão absorvendo carbono e onde estão emitindo é importante para monitorar como as florestas e outras regiões com vegetação respondem às mudanças climáticas. “A Amazônia foi considerada um grande sumidouro de carbono por causa de grandes extensões de floresta intocada que absorvem dióxido de carbono”, disse Sassan Saatchi, cientista principal do JPL e investigador principal do estudo. “No entanto, nossos resultados mostram que, no geral, a Bacia Amazônica está se tornando quase neutra em termos de balanço de carbono porque o desmatamento, a degradação e os impactos do aquecimento, secas frequentes e incêndios nas últimas duas décadas liberam dióxido de carbono na atmosfera.”
Saatchi e seus colegas desenvolveram suas análises para que seja mais fácil rastrear mudanças em áreas com vegetação com base em dados coletados tanto no solo quanto remotamente. “Nossa abordagem foi projetada para garantir que possamos equilibrar sistematicamente o orçamento global de carbono a cada ano, e que os países possam usar os resultados e a metodologia para a gestão de carbono e suas próprias necessidades de relatórios”, disse ele.
Essa análise de orçamento ajudou os pesquisadores a entender melhor a dinâmica de como as florestas e outras áreas com vegetação ao redor do mundo armazenam o carbono que estão absorvendo da atmosfera. “Muitos estudos anteriores descobriram que a vegetação ao redor do mundo absorve uma grande quantidade de dióxido de carbono atmosférico”, disse o principal autor do estudo, Alan Xu, pesquisador de carbono do JPL e da UCLA. “Dá a impressão de que as florestas globais estão crescendo e ficando maiores em todos os lugares, mas não é o caso”.
Peças faltando
Este estudo ajuda a preencher o quadro de onde e como as árvores e plantas estão absorvendo ou emitindo carbono, mas há mais trabalho a ser feito. Os mapas de carbono baseados em satélite neste estudo cobriram cerca de 39 milhas quadradas (100 quilômetros quadrados) de cada vez, mas eles não podiam necessariamente captar as mudanças que aconteciam em escalas menores. E havia algumas informações sobre como as florestas armazenavam e emitiam carbono nesses mapas que não eram necessariamente consideradas nos cálculos de fonte-sumidouro dos pesquisadores. Algumas dessas lacunas de informação devem ser remediadas por mapas de carbono de alta resolução fornecidos por satélites mais novos já em órbita, bem como por missões futuras como o NISAR da NASA-Organização de Pesquisa Espacial Indiana.
É importante entender como as regiões ao redor do mundo absorvem e emitem dióxido de carbono, disse Harris. “Se não estivermos acertando esses padrões, podemos estar perdendo alguns desses ecossistemas e como eles estão afetando o ciclo do carbono.” Mas ela é encorajada pela grande quantidade de dados que se tornam disponíveis para cientistas do clima sobre como o gás de efeito estufa se move entre a atmosfera e as florestas, pastagens e outras áreas de vegetação da Terra.
Saatchi tem esperança de que ter uma abordagem mais sistemática e consistente para acompanhar quais partes do mundo estão agindo como fontes ou sumidouros de carbono permitirá um melhor monitoramento entre regiões e países. “Isso poderia permitir que países ao redor do mundo usassem os dados como orientação para cumprir seus compromissos nacionais com o Acordo do Clima de Paris”.
Saiba mais sobre mudanças climáticas e dióxido de carbono aqui.
Referência:
Changes in global terrestrial live biomass over the 21st century. Liang Xu, Sassan S. Saatchi, Yan Yang, Yifan Yu, Julia Pongratz, A. Anthony Bloom, Kevin Bowman, John Worden, Junjie Liu, Yi Yin, Grant Domke, Ronald E. McRoberts, Christopher Woodall, Gert-Jan Nabuurs, Sergio de-Miguel, Michael Keller, Nancy Harris, Sean Maxwell, David Schimel. Science Advances02 Jul 2021 : eabe9829. Disponível aqui.
Fonte:http://www.ihu.unisinos.br/611361-capacidade-das-florestas-tropicais-de-absorver-dioxido-de-carbono-esta-diminuindo
Amazônia perde sua capacidade de
absorver carbono
A emissão de carbono é dez vezes maior em áreas com mais de 30% de desmatamento, enquanto apenas 18% das emissões por queimada são absorvidas pela floresta.
A reportagem é publicada por Jornal da USP, com informações da Agência Bori, 16-07-2021.
O desmatamento diminuiu a capacidade da floresta amazônica de absorver gás carbônico da atmosfera, transformando-a em uma fonte de carbono. As áreas do bioma com mais de 30% de desmatamento apresentaram uma emissão de carbono dez vezes maior do que regiões com desmatamento inferior a 20%.
Os dados são de estudo liderado por uma pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) publicado nesta quarta-feira (14), na revista britânica Nature. “É o estudo mais completo e extenso já realizado”, afirma Sir David King, presidente do Grupo Consultivo para a Crise Climática (CCAG, em inglês), e ressalta a importância do estudo em descrever como a floresta amazônica passou de consumidora para uma fonte de emissões de CO2.
De acordo com David, os resultados da pesquisa se relacionam à pressão por produção de carne bovina e soja e com a mudança catastrófica, em suas palavras, na direção das políticas do atual governo brasileiro “Trata-se de uma acusação devastadora de sua trajetória atual, já que o país passou de um dos mais progressistas em termos de gestão de emissões para um dos piores. Devemos continuar a pressionar quem está no poder a reconsiderar, a garantir um futuro melhor não apenas para o povo do Brasil, mas para a saúde do planeta”, afirma.
Os pesquisadores recolheram em torno de 8 mil amostras em mais de 600 voos, em nove anos de estudo em quatro localidades da Amazônia, que representam cada região da floresta. Nas áreas estudadas foram encontradas diferentes taxas de desmatamento. As regiões mais desmatadas, com uma taxa de mais de 30% de desmatamento, apresentaram uma estação seca mais estressante para a floresta: mais seca, mais quente e mais longa.
De 2010 a 2018, a Amazônia brasileira, território de 4,2 milhões de quilômetros quadrados, foi responsável por lançar 1,06 bilhões de toneladas de CO2 para a atmosfera por ano em queimadas. O balanço de carbono, ou seja, o saldo final entre absorções e emissões foi de 0,87 bilhão de toneladas por ano, o que significa que apenas 18% das emissões por queimada estão sendo absorvidas pela floresta. Com isso, a pesquisa aponta que, sem queimadas, a Amazônia brasileira retiraria da atmosfera 0,19 bilhão de toneladas de CO2 por ano.
A maior emissão de carbono acontece na localidade leste, nos estados do Pará e Mato Grosso, e ocorre por causa da grande quantidade de queimadas e de menor absorção de CO2 pela própria floresta. “Durante os meses de agosto, setembro e outubro a redução de chuva é muito acentuada nestas regiões, aumentando a temperatura em mais de 2˚C, além da duração da estação seca estar maior. Esta condição promove um aumento da inflamabilidade da floresta e da mortalidade das árvores, que são típicas de uma floresta tropical úmida”, explica a pesquisadora Luciana Gatti, uma das autoras do estudo.
As regiões do sul do Pará e norte do Mato Grosso apresentaram o pior cenário. Além de constituírem as maiores extensões de área queimada, nessas áreas a floresta já é uma fonte de carbono significativa, com emissões para a atmosfera que crescem ano a ano. “Esta região da Amazônia é a que mais gera preocupação, pois a degradação é extrema, agravando a crise de mortalidade das árvores”, comenta Luciana.
O desmatamento também altera a condição climática na Amazônia, afetando também a capacidade da floresta não desmatada de absorver carbono – além de aumentar sua inflamabilidade. Por isso, Luciana Gatti é categórica ao afirmar que a redução de emissões de carbono da floresta passa por uma estratégia de combate ao desmatamento e queimadas. “Com isso, contribuiríamos também para um aumento da chuva e redução da temperatura na região, formando um ciclo positivo que também afeta o restante do Brasil, a América do Sul e o planeta.”
Para Mercedes Bustamante, representante do CCAG no Brasil, o destino da Amazônia é central para a solução das crises climática e de biodiversidade. “Os ecossistemas amazônicos são um dos elementos mais críticos do ciclo global do carbono e do sistema climático. Atualmente, 18% da Amazônia já foi desmatada, e 17% está em processo de degradação. As perturbações também colocam a biodiversidade em risco, afetando o funcionamento e a produtividade dos ecossistemas”, completa.
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais mostraram que a Amazônia tinha 2.308 focos de queimadas em junho, o maior número desde 2007 para este mês. “Parar o desmatamento e as queimadas associadas e investir na restauração de ecossistemas degradados na região são pontos críticos para travar a espiral de degradação”, afirma Mercedes.
Referência:
Gatti, L.V., Basso, L.S., Miller, J.B. et al. Amazonia as a carbon source linked to deforestation and climate change. Nature 595, 388–393 (2021). Disponível aqui.
Fonte:http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/611174-amazonia-perde-sua-capacidade-de-absorver-carbono
João Vitor Santos
Cláudio Ângelo analisa as questões que impedem que
o país avance no combate à destruição ambiental, não gerando mais violência e
desigualdades
É sempre dito que a Amazônia é o pulmão verde do
Brasil, que a Mata Atlântica é fundamental para a preservação da biodiversidade
e assim por diante. Entretanto, a cada ano, o desmatamento aumenta. Em 2016, na
Amazônia, foi o maior dos últimos quatro anos. Entre agosto de 2015 e julho de
2016, foram desmatados 7.989 km2, segundo dados do Sistema de Monitoramento do
Desmatamento na Amazônia Legal. “O desmatamento torna o Brasil o sexto ou
sétimo maior emissor de gases de efeito estufa do mundo”, destaca o jornalista
Cláudio Ângelo, que atua junto ao Observatório do Clima. Além de perder suas
matas, há questões ainda mais perversas. “Traz um aspecto particularmente
cruel, que é o fato de essas emissões não gerarem riqueza, nem desenvolvimento;
65% do que se desmatou na Amazônia até hoje foi para fazer pastos de baixíssima
capacidade, menos de um boi por hectare. Isso não gera riqueza para ninguém”,
avalia.
Na entrevista a seguir, concedida por e-mail
à IHU On-Line, Ângelo ainda revela outras nuances. “A mais trágica
delas são os assassinatos no campo, que ocorrem na Amazônia e em Mato Grosso do
Sul. O Brasil é o país no mundo onde mais morrem ativistas ambientais – foram
50 entre 2010 e 2015, a maioria em conflitos fundiários”, diz. Além disso,
lembra, entre outros problemas, a falta de investimentos para pesquisas e
coletas de dados e um parlamento alheio às questões ambientais. “Enquanto não
lutarmos também para melhorar e diversificar a composição de forças no
Congresso, estaremos enxugando gelo”, pontua. Saída? Para ele, um caminho
possível é o esclarecimento. “É preciso levar as crianças para o mato. É
preciso fazer turismo em parques nacionais e outras áreas protegidas. Quem não
conhece não conserva”, alerta.
Cláudio Ângelo é jornalista formado pela Universidade de São Paulo - USP, coordena a comunicação do Observatório do Clima, organismo que tem o objetivo de formar uma coalizão de organizações da sociedade civil brasileira para discutir mudanças climáticas. Ainda foi editor de Ciência do jornal Folha de São Paulo e é autor do livro A Espiral da Morte (São Paulo: Cia das Letras, 2016), sobre como a humanidade alterou o clima nos polos e como isso afeta a todos.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Como as interferências e impactos
ambientais nos biomas brasileiros repercutem nas questões climáticas?
Cláudio Ângelo - O Brasil tem no uso da terra a principal fatia de
suas emissões de CO2: 43% delas vêm do desmatamento, em especial na Amazônia e
no Cerrado. O desmatamento torna o Brasil o sexto ou sétimo maior emissor de
gases de efeito estufa do mundo, e traz um aspecto particularmente cruel, que é
o fato de essas emissões não gerarem riqueza, nem desenvolvimento; 65% do que
se desmatou na Amazônia até hoje foi para fazer pastos de baixíssima
capacidade, menos de um boi por hectare. Isso não gera riqueza para ninguém.
IHU On-Line - Como os biomas brasileiros estão
interconectados? A que tipo de (re)equilíbrios estão submetidos?
Cláudio Ângelo - Eles estão interconectados por estarem no mesmo
território da América do Sul e estarem sujeitos às mesmas pressões demográficas,
econômicas e climáticas. Há os ecótonos, as zonas de contato entre os biomas, e
eles são particularmente importantes entre a Amazônia e o Cerrado, que é onde a
fronteira agrícola do Brasil se expande. Em Minas Gerais, os pontos de contato
entre a Mata Atlântica e o Cerrado são zonas críticas de desmatamento.
IHU On-Line - De que forma os conflitos ambientais
podem ser percebidos nos biomas brasileiros?
Cláudio Ângelo - De várias formas. A mais trágica delas são os
assassinatos no campo, que ocorrem na Amazônia e em Mato Grosso do Sul. O
Brasil é o país no mundo onde mais morrem ativistas ambientais – foram 50 entre
2010 e 2015, a maioria em conflitos fundiários.
IHU On-Line - Como compreender os microclimas brasileiros e suas mudanças a
partir dos biomas nacionais?
Cláudio Ângelo - Um exemplo simples: um estudo publicado em
fevereiro no periódico Nature Climate Change mostrou que o desmatamento em
Rondônia, depois de um certo tamanho de clareiras, altera completamente a
distribuição das chuvas. Chove 25% mais a barlavento e 25% menos a sotavento de
uma área desmatada.
IHU On-Line Quais os maiores desafios para
sensibilizar a população sobre a importância do debate acerca das questões
climáticas?
Cláudio Ângelo - O principal desafio é a própria complexidade do
assunto, difícil de comunicar ao coração do público. Outro problema é que
vários efeitos das mudanças climáticas são de muito longo prazo, e o cérebro
humano não evoluiu para processar riscos que ocorrem fora de sua experiência
direta e riscos intergeracionais. Por fim, há a questão de que combater
mudanças climáticas requer toda a sociedade envolvida, sem exceção, o que é
sabidamente difícil de conseguir.
IHU On-Line - Como analisa os estudos sobre clima
no Brasil hoje? Quais os avanços e os principais limites e desafios?
Cláudio Ângelo - A principal limitação das pesquisas de clima é a
absoluta carência de bases de dados confiáveis e de longo prazo no Brasil. Um
exemplo rasteiro: em Brasília nós sabemos que as temperaturas mínimas subiram 2
graus desde 1961. Mas não conseguimos isolar os efeitos da mudança climática da
ilha de calor urbana, porque há apenas uma estação de coleta de dados e ela
fica numa área da cidade que foi cercada de prédios. Então o que é aquecimento
global e o que é concreto e asfalto? Difícil dizer. Isso vale para tudo, desde
chuvas até nível do mar.
IHU On-Line - Em encontros internacionais sobre clima e meio ambiente, há
sempre uma preocupação internacional com relação à Amazônia. O que está por
trás de toda essa preocupação? É importante trazer ao debate preservacionista a
questão da soberania nacional sobre a Amazônia? Por quê?
Cláudio Ângelo - O Brasil tem exercido muito mal sua soberania
sobre a Amazônia. Na época da ditadura, fazia isso deliberadamente, defendendo
o direito ao desmatamento. Esse discurso ainda permanece em alguns quadros do
governo. Há temores, a meu ver infundados, de que os estrangeiros vão chegar
aqui e roubar nossas riquezas, nossa água (dou um prêmio para quem arrumar um
esquema para fazer isso) etc. Enquanto isso, transformamos a floresta em
fumaça, efetivamente internacionalizando-a, já que o carbono emitido vai parar
no mundo todo.
Acho curioso que essas pessoas que batem tanto no
peito para dizer "A Amazônia é nossa!" não se incomodam com venda de
terras a estrangeiros nem com a participação maciça de empresas multinacionais
no agronegócio brasileiro. Parece, para parafrasear o Romero Jucá , uma
xenofobia selecionada. Então, embora seja óbvio que é preciso defender a
integridade do território brasileiro, há um ranço militarista extemporâneo
nessa questão de soberania.
IHU On-Line - É comum observarmos no Rio Grande do
Sul, por exemplo, grupos que defendem a Mata Atlântica e até mesmo a Amazônia,
mas desconhecem a importância de preservação do Pampa. Quais os desafios para
se conhecer e preservar todos os biomas brasileiros?
Cláudio Ângelo - É preciso levar as crianças para o mato. É preciso
fazer turismo em parques nacionais e outras áreas protegidas. Quem não conhece
não conserva. É claro que se eu for a Foz do Iguaçu voltarei de lá disposto a
matar pela preservação da Mata Atlântica, mas se não visitar o Parque Nacional
de Brasília, jamais vou querer fazer o mesmo pelo cerrado.
IHU On-Line - Qual a maior ameaça aos biomas
brasileiros hoje? Como enfrentá-la?
Cláudio Ângelo - A maior ameaça é uma aliança espúria entre
interesses particulares e o Congresso Nacional. Setores do agronegócio e do
poder econômico elegem parlamentares comprometidos com a destruição do meio
ambiente e a extinção de direitos difusos. Para mim essa é a maior crise. Claro
que devemos lutar contra o desmatamento, mas enquanto não lutarmos também para
melhorar e diversificar a composição de forças no Congresso, estaremos
enxugando gelo.
IHU On-Line - Qual a importância de perspectivas como
a da ecologia integral, concepção de novas formas de economia e consumo e até
um novo humanismo para o debate sobre a preservação do planeta?
Cláudio Ângelo - Não entendo nada de ecologia integral, mas mudar
padrões de consumo é fundamental, já que é o nosso consumo que está nos levando
à breca.
IHU On-Line - Como analisa a política e postura do
Brasil diante dos debates internacionais sobre questões climáticas?
Cláudio Ângelo - O Brasil é um ator relativamente progressista, mas
ao mesmo tempo relativamente conservador. Já foi bem pior, mas está longe de
fazer o que lhe cabe para reduzir emissões. Há diplomatas extremamente
competentes, mas se aferram a alguns dogmas, como o Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo, a negação total aos mercados de REDD+ e uma insistência
em achar que seu sistema energético é limpo.
De modo geral, é muito bom em cobrar os países
ricos, que de fato não se esforçam muito, mas não se enxerga e vive dizendo que
já fez muito, o que é uma mentira. Nada do que o Brasil fez na última década
para cortar emissões produziu um milímetro de mudança na economia real. O país
também tem perdido sua relevância no debate climático, como perdeu sua
relevância em quase todos os outros temas na arena internacional.■
“Utopia X
irracionalidade”. O desafio de conservar as florestas brasileiras
Patricia Fachin
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A expansão da fronteira agrícola é o grande vilão
do desmatamento florestal, diz professor da Universidade Federal Rural da
Amazônia, Fernando Jardim. “É um crime substituir uma floresta por uma cultura
de soja ou outro cultivo agrícola qualquer, quando existem muitas áreas mais
propícias para essas culturas”, argumenta
As florestas não foram feitas para serem
contempladas e tampouco para serem destruídas pela irracionalidade do homem. É
possível conciliar a produção de bens e serviços ambientais, “mantendo a
‘floresta em pé’”, enfatiza o pesquisador em entrevista concedida à IHU
On-Line por e-mail. “É impossível manter intocável a floresta, quando
a sociedade depende de inúmeros produtos que ela fornece e não acredito que as
florestas tenham sido criadas para mera contemplação pela sociedade. Mas daí a
considerá-la como um obstáculo que deve ser removido em favor do
desenvolvimento vai muito longe”, pondera.
Engenheiro florestal há mais de 30 anos, Fernando Jardim diz
que para proteger as florestas é preciso conservar ao invés de preservar. Para
ele, este conceito é “mais viável sob todos os aspectos, pois permite o uso
sustentável e contínuo das florestas, mantendo as suas funções econômicas,
ambientais e sociais”. Na entrevista a seguir, ele também comenta as mudanças
no Código Florestal Brasileiro, aprovado pela Câmara dos Deputados e a
alteração textual do artigo que se refere às Áreas de Preservação Permanente –
APPs. “Permitir plantio em APP é descaracterizá-la em seu conceito –
preservação”, menciona.
Fernando Cristovam da Silva Jardim graduou-se em Engenharia Florestal pela
Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA (antiga FCAP), cursou mestrado em
Manejo Florestal pelo convênio INPA/FUA e doutorado em Ciência Florestal pela
Universidade Federal de Viçosa. Foi pesquisador do Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia - INPA, no período 1980-1995. De 1997 a 2000 coordenou o
curso de mestrado em Ciências Florestais da UFRA, foi Pró-Reitor de
Planejamento e Gestão desta instituição no período de 2000 a 2005, e atualmente
atua como docente.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Qual a atual situação das florestas brasileiras? Ainda é
possível regenerá-las?
Fernando Jardim - As
florestas brasileiras, assim entendidas a Mata Atlântica , a Amazônia e
os cerrados , apresentam diferenciados graus de fragmentação, com quase total
destruição da Mata Atlântica. A Amazônia ainda apresenta grande parte de suas
florestas não perturbadas, principalmente na chamada Amazônia Ocidental, mais
por falta de colonização e ocupação humana do que por ações preservacionistas.
A resiliência ou capacidade de regeneração natural dessas florestas é muito
grande, mas é preciso que lhes seja dado tempo para isso.
IHU On-Line – Hoje, dá-se muita atenção às florestas tropicais. Elas são
mais importantes que outros tipos de florestas?
Fernando Jardim -
Não creio! Cada floresta tem sua importância na região onde ocorre porque é
consequência dos fatores de formação dessa região – clima, solo etc. – com os
quais interage numa via de mão dupla. No caso da Amazônia, a sua importância
global é mais determinada pela sua extensão territorial – é um continente!
IHU On-Line - A Amazônia, caso não seja preservada, pode ter o mesmo destino
da Mata Atlântica?
Fernando Jardim -
Preservação é um conceito difícil de implementar quando se trata da Amazônia
como um todo, penso até que é uma utopia. É possível preservar pequenas áreas –
as Áreas de Preservação Permanente - APPs por exemplo. O termo conservação é
muito mais viável sob todos os aspectos, pois permite o uso sustentável e
contínuo das florestas, mantendo as suas funções econômicas, ambientais e
sociais. Eu não acredito que possa acontecer o que aconteceu com a Mata
Atlântica por causa do nível de consciência atual da sociedade, muito diferente
do século passado. A sociedade, em termos gerais, salvadas as terríveis e
maléficas exceções, tem grande compreensão do papel das florestas como
fornecedoras de bens e serviços ambientais, principalmente na questão
climática.
IHU On-Line - Que atividade tem causado mais impacto nas florestas?
Fernando Jardim - Essa
é uma questão interessante, pois me permite expor o que penso acerca do papel
do setor florestal nesse contexto. A exploração florestal pura e simples “mal
arranha” as florestas, quando comparada com outros usos do ecossistema
florestal como a expansão da fronteira agrícola, expansão urbana ou a
mineração. Mesmo a chamada exploração florestal convencional, a despeito de
impactos ecológicos sobre a população das espécies arbóreas, tem pouco impacto
em termos ambientais. Como já mencionei, a floresta tem um grande poder de
resiliência, que lhe permite em poucos anos se recuperar dos danos causados
pela exploração madeireira. Já existem vários exemplos disso. O grande vilão do
desmatamento florestal é a expansão da fronteira agrícola. É um crime substituir
uma floresta por uma cultura de soja ou outro cultivo agrícola qualquer, quando
existem muitas áreas mais propícias para essas culturas como as várzeas. Nada
que um zoneamento ecológico-econômico não resolva!
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IHU On-Line - Como o senhor vê o debate entre aqueles que defendem a
intocabilidade das florestas e aqueles que a veem como obstáculo ao
desenvolvimento?
Fernando Jardim - Em
tese é utopia X irracionalidade. É impossível manter intocável a floresta,
quando a sociedade depende de inúmeros produtos que ela fornece e não acredito
que as florestas tenham sido criadas para mera contemplação pela sociedade. Mas
daí, considerá-la como um obstáculo que deve ser removido em favor do
desenvolvimento vai muito longe! A Ciência Florestal já demonstrou que é
possível conciliar a produção de bens e serviços ambientais com a manutenção da
“floresta em pé” através da sua conservação, que nada mais é do que a aplicação
da filosofia do manejo florestal.
O conceito de desenvolvimento sustentável preconiza a garantia da qualidade de
vida para as populações futuras e as florestas, “em pé”, são responsáveis por
grande parte dessa qualidade de vida em termos dos benefícios que proporciona.
Evidentemente, existem atividades, como a mineração, em que não é possível
impedir a remoção da floresta. Mas a legislação garante a restauração da mesma,
o que tem sido feito.
Removem-se florestas para implantar cidades e depois tentamos arborizar essas
cidades, muitas vezes com espécies exóticas, sem muito sucesso, quando
poderíamos planejar melhor a urbanização. Tem sido demonstrado que a
substituição da floresta de terra firme por agricultura de ciclo curto é, de
maneira geral, insustentável devido a pobreza de nutrientes dos solos da
Amazônia e que a vocação desses solos é para atividade florestal. Todavia,
existem alternativas como as várzeas e algumas manchas de solos férteis em que
a agricultura pode ser aplicada com bom rendimento.
IHU On-Line - Como devemos tratar as florestas? É possível utilizá-las de
forma sustentável?
Fernando Jardim - A
floresta é um recurso natural renovável em um sentido muito amplo, que pode
fornecer indefinidamente bens e serviços ambientais indispensáveis para as
populações humanas. Por essa razão, é dever da sociedade protegê-las para
garantir a oferta dos mesmos. A Ciência Florestal há muito tempo desenvolveu e
preconiza o conceito de manejo florestal como a forma mais adequada de
utilização dos recursos florestais. Para entender esse conceito, podemos nos
valer do exemplo de uma caderneta de poupança: utilizando somente os
rendimentos da caderneta teremos o capital indefinidamente no tempo – se
extrairmos da floresta somente aquele produto que ela repõe pelo crescimento
durante um período de tempo, poderemos tê-la indefinidamente fornecendo esse
produto.
IHU On-Line - Em que consistiria uma gestão sustentável das florestas
brasileiras?
Fernando Jardim - Além
das políticas públicas que devem ser implementadas – a Lei de Gestão de
Florestas Públicas é um começo. A gestão em si das florestas não pode
prescindir da aplicação do conceito de manejo florestal. Todavia, essa
tecnologia tem sido insuficientemente assimilada e adotada pelo setor
produtivo, por diversas razões, entre as quais destaco: 1) o ceticismo dos
empresários e também dos pequenos produtores, considerando o longo tempo
necessário para retornar a uma área que tenha sofrido a primeira exploração, o
chamado ciclo de corte; 2) o descompromisso desses segmentos com a questão da
conservação das florestas “em pé” para garantir um segundo corte, ou seja, a
sustentabilidade do processo; 3) a grande abundância de matéria prima florestal
que gera uma total despreocupação com o esgotamento dos recursos florestais. A
certificação de produtos e processos florestais, almejada por alguns produtores
e empresários, não reflete essa conscientização, mas apenas garante o chamado
“selo verde” que lhes permite acesso a mercados mais exigentes. A pressão sobre
as florestas naturais para produção de determinados bens como energia e outros
pode ser até eliminada através de florestas plantadas. Existem milhões de
hectares de áreas improdutivas para o setor agrícola que poderão ser
convertidas em plantios florestais que, além de produzir bens físicos –
madeira, lenha, fibras etc. –, podem recuperar funções ambientais como
regulação de clima, sequestro de carbono, entre outras. O mercado de carbono
pode proporcionar expressivas vantagens financeiras para essa atividade, mas
seu fomento tem sido limitado devido ao longo prazo necessário para a maturação
dos financiamentos. Por outro lado, apesar de o Brasil deter tecnologia de
ponta em termos de eucaliptocultura, relativamente pouca pesquisa tem sido
apoiada acerca do cultivo de nossas essências florestais. Há ainda um longo
caminho a percorrer até que o governo, não só nos palanques eleitorais, de
fato, absorva o compromisso de conservação das florestas.
IHU On-Line - A principal lei que protege as florestas brasileiras e a
biodiversidade é o atual Código Florestal. Quais as implicações para as
florestas caso o novo Código seja aprovado pelo Senado?
Fernando Jardim - O
argumento da bancada ruralista de que o Código Florestal é uma lei inóqua
reflete a convicção de impunidade que os setores envolvidos experimentam,
afinal é uma lei que deve ser respeitada. Quando a justiça começou a cobrar o
seu cumprimento, esses setores “enxergaram a lei” e estão preferindo mudá-la
para atender a seus interesses em vez de se adequar ao que ela estabelece. É
injusto com aqueles que cumpriram a lei! O Senado talvez faça ainda alguma
alteração na proposta. Portanto, é prematuro falar do que ainda não foi
aprovado. Mas a principal crítica que faço é com respeito à anistia dada para
quem desmatou de “má fé”, ou seja, aquele que não teve incentivo governamental
e que conhecia a lei 4771 (Código Florestal). Penso que é possível
identificá-los!
No que concerne às Áreas de Preservação Permanente - APPs, alguns pontos também
merecem consideração: a proposta muda o texto original “ao longo dos rios ou de
qualquer curso d’água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja
largura mínima seja (Art. 2º, item a) para as faixas marginais de qualquer
curso d’água natural, desde a borda do leito menor, em largura mínima de”.
Existem rios na Amazônia, cuja largura no nível mais baixo é de 100m, mas que
na cheia se derrama por vários quilômetros de largura e que pelo novo texto não
poderia ser considerada APP. Outro ponto que considero merecedor de crítica é a
proposta de “15 (quinze) metros, para os cursos d’água de menos de 5 (cinco)
metros de largura (Art. 3º, item I, alínea a)”. Esses 15 metros são suficientes
para cursos com menos de 5m? Acredito que abaixo de 5 ou de 10m de largura a
faixa de 30m do código atual ainda é pequena para “segurar” eficientemente
fluxo de sedimentos da erosão superficial. Permitir plantio em APP é
descaracterizá-la em seu conceito – preservação.
IHU On-Line - Há casos de exploração de minérios na floresta amazônica?
Quais os impactos da mineração para as áreas florestais?
Fernando Jardim - Há vários: Albras/Alunorte (Rio Trombetas); Vale
do Rio Doce (Carajás e outros), para citar alguns. As jazidas de minérios na
Amazônia sempre estão sob a floresta. Portanto, para explorá-las é necessário
remover a cobertura florestal, o que inevitavelmente causa grande impacto,
tanto na flora como na fauna. A reparação desse impacto tem sido feita com
relativo sucesso, conforme expressam os relatórios dessas empresas. Como já
mencionei antes, a floresta é “dura na queda” e pode se recuperar desses
impactos, desde que lhe seja dado tempo.
IHU On-Line - Por que não há uma cultura de preservação das florestas?
Fernando Jardim - Penso que é simplesmente por causa da abundância de
recursos. Como dizia o professor Francisco Uchoa Guerra, da UFRA: “Com tanta
Ceiba pentandra não faz mal que suma uma”. Esse é um pensamento normal,
principalmente no amazônida, mas também naqueles que aqui chegam para atuar na
região. Quem viaja de avião entre Belém e Manaus, por exemplo, custa a
acreditar que esse mar verde visto da janela pode acabar. Embora sejam recursos
naturais renováveis, poderão ser esgotados se não forem manejados com cuidado.
IHU On-Line - Qual a importância de conservar as florestas?
Fernando Jardim - A conservação das florestas é imperiosa, pelas
diversas razões já mencionadas anteriormente. Além dos produtos físicos
expressos em termos de biodiversidade – produtos madeireiros e não madeireiros
–, as florestas são fornecedoras de inúmeros serviços ambientais indispensáveis
à vida das pessoas, com destaque para regulação do clima, do ciclo hidrológico
das chuvas, filtragem do ar, entre outros. A manutenção dessas funções está
implícita no conceito de conservação.
Fonte: http://www.ihuonline.unisinos.br/artigo/17-artigo-2011/3928-fernando-jardim-1?start=1
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