O GLOSSÁRIO DA PAQUERA EM TEMPOS DE WHATSAPP E INSTAGRAM: GHOSTING,ORBITING,BREADCRUMBING

 

Chegadas e partidas se dão de jeitos diferentes online (Foto: Gleeson Paulino)

Chegadas e partidas se dão de jeitos diferentes online (Foto: Gleeson Paulino)


O glossário da paquera em tempos de Whatsapp e Instagram: Ghosting, orbiting, breadcrumbing

Paquera, aliás, é um termo que já era… Quando foi que se relacionar ficou assim tão complicado?

“Sempre foi complicado”, você pode responder. Ah, até que sim, mas a tríade Instagram-Whatsapp-Tinder/Happn tornou tudo ainda mais complexo. Sem o olho no olho, a voz do outro lado do telefone e a vontade genuína de desvendar os mistérios alheios (afinal, hoje, quase tudo está escancarado nas redes) as relações acabam sendo assim, meio sem nexo, vazias. Tanto fez como tanto faz, sabe? Foi louco me deparar com esse universo ao ficar solteira depois de 12 anos de namoro e casamento com a mesma pessoa.

Lá no começo dos anos 2000, última vez em que eu havia paquerado, o iPhone nem existia. A gente mandava SMS ou ligava para marcar encontros. E tinha que estar no ponto combinado (na frente do Espaço Itaú da Augusta, no banco atrás do prédio da faculdade, no centro acadêmico...) na hora certa, já que não rolava essa de “chegando lá te mando um Whats”. O Orkut estava engatinhando… Facebook apareceu depois. Whatsapp veio em 2009 e o Instagram, em 2010 (meus primeiros registros ali foram fotos da viagem de cinco anos de namoro). Textão se mandava por e-mail e DR se tinha ao vivo. A gente conversava para resolver as coisas, veja só…

Por que sumir em vez de falar que não quer mais? (Foto: Gleeson Paulino)

Por que sumir em vez de falar que não quer mais? (Foto: Gleeson Paulino)

Corta para o Adeus, Lênin! do relacionamento na era da pós-verdade, em que dormi mais de uma década e acordei no mundo dos crushes, nudes, “boys lixo”, tiques azuis… DMs de pessoas que você nunca viu na vida, chuva de likes, cobranças de atenção de desconhecidos, Stories para mostrar que está gata-linda-saindo pro rolê-olha o que você está perdendo. Tudo tão complexo que nesse mundo a gente acaba se perdendo da gente mesmo (por que estou escrevendo essa mensagem? Eu ao menos GOSTO delx?) e do outro. Como retrata brilhantemente o conto Cat Person, que viralizou e se tornou um dos textos mais acessados no site do jornal em todos os tempos (vale ler/reler).

No filme Adeus, Lênin!, a personagem principal entra em coma na Berlim socialista e acorda após a queda do Muro, com tudo novo (Foto: divulgação)

No filme Adeus, Lênin!, a personagem principal entra em coma na Berlim socialista e acorda após a queda do Muro de Berlim (Foto: divulgação)

Nele, a autora Kristen Roupenian fala de maneira corriqueira sobre o jogo de sedução entre uma universitária de 20 e poucos e um cara de 30 e poucos, das expectativas criadas virtualmente, da quebra delas no encontro ao vivo, do sexo por obrigação consentido quando “já se está lá mesmo”, dos papéis de gênero… Se você está solteirx em 2018, certamente se reconhece neste trechinho aqui:

“Ao longo das semanas que se seguiram, eles desenvolveram uma elaborada estrutura de piadas por mensagens de texto (...) Ela logo notou que, quando enviava uma mensagem, ele normalmente respondia na mesma hora, mas, se demorasse mais do que algumas horas para responder, a próxima mensagem dele seria sempre curta e não incluiria nenhuma pergunta, de modo que dependia dela retomar a conversa, o que sempre fazia. Algumas vezes, ela se perguntava se era ali que o diálogo ia morrer de vez, mas então pensava em algo engraçado para dizer ou via uma foto na internet que fosse relevante para a conversa, e eles recomeçavam.”

Tudo isso para falar que hoje me deparei com um glossário de termos que definem o comportamento de homens e mulheres nas relações que nascem/crescem/morrem online e… Ai, deu uma vergonha! Olha só eles aí - com livre tradução, interpretação e comentários da jornalista que vos escreve:

Breadcrumbing: o(a) espalhador(a) de migalhas, sabe como? Está na cara que não quer nada, mas fica puxando papo de vez em quando e dando em cima só para inflar o próprio ego e garantir que é desejadx por alguém. O problema disso é quando o alguém nutre sentimentos reais por quem oferece migalhas esporádicas por pura vaidade.

Ghosting: esse já é clássico e você provavelmente ouviu por aí. Quando o rolo dá aquela esfriada, os encontros param, a janela do whatsapp delx já está lá embaixo até que um dos dois some assim, tipo um fantasma. Para de responder, para de seguir no Instagram e vaza sem tchau nem por que. Not cool!

Orbiting: vocês terminaram, chegaram à conclusão que não rola mais ficar, mas de alguma forma o outro está sempre ali, assistindo aos seus stories, dando um like despretensioso e comentando um “hahaha”. Orbitando seu universo como se nada.

Haunting: sinônimo de orbiting. A pessoa não está mais fisicamente presente na sua vida mas quer você se lembre da existência dela e fica lá como uma assombração.

Cushioning: cushion = almofada. Essa pessoa quer se sentir segura, protegida por almofadas, mesmo depois de começar um relacionamento sério. Então mantém papinho com contatinhos mil porque vai que o namoro não dá certo, né? Um nome chique para o famoso “plano B”.

Phubbing: quando o papo na vida real está tão desinteressante que uma das partes passa o encontro todo fazendo o quê? Mexendo no celular. Vale para amigos também, viu?

Deu vergonha? Sei lá, somos tão melhores que isso… Vamos tentar ser mais reais com os outros e com nós mesmos? Curtiu a pessoa? Elogie em vez de mandar uma mensagem cifrada com emojis, demonstrando interesse mas não tanto. Não quer mais? Diz, ué. A verdade liberta quem fala e, para quem recebe, é mais fácil de assimilar do que um sumiço covarde. Evite migalhas, curtidas e qualquer coisa que possa parecer um interesse que não existe. As pessoas sentem. É isso. Sinta, beije, chore, sofra, se arrependa… Mas fale. Que viagem termos Whatsapp, Stories, DM, MSN, feed, likes, block, unfollow... E ainda faltar tanta comunicação.

Fonte:https://revistaglamour.globo.com/Amor-Sexo/Relacionamentos/noticia/2018/11/ghosting-orbiting-breadcrumbing-o-glossario-da-paquera-em-tempos-de-whatsapp-e-instagram.html


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