Cena do emblemático (e ainda tão perfeito) filme "O Diário de Bridget Jones" (Foto: Divulgação)
É possível estar bem solteira e querer namorar ao mesmo tempo
Carol Tilkian, da Soltos S.A., traz reflexões importante sobre mais um Dia dos Namorados sem um "+ 1"
E, por mais que todas elas sejam verdade, esse texto é um convite para você (e para mim mesma) nos autorizarmos a ficar um pouco azedas, sim, caso a frustração de passar mais um ano sem conchinha fixa bata à sua porta. Mas, ficar azedinha é uma coisa, se sentir miserável e perdedora é outra… Bora encontrar um caminho do meio juntas?
Querer namorar não é ser "mulherzinha"
E nem estar desesperada! É tanta Tia Cleyde e tanta amiga careta casada fazendo comentários do tipo "tão bonita e não arranjou um namorado?" ou "amiga, talvez você esteja focando nos caras errados, vamos abrir seu WhatsApp e ver o que você tá fazendo" que eu sinto que a gente já se blinda e responde de bate-pronto: "Mas eu tô ótima solteira! Quem disse que eu quero um namorado?". É essa construção que eu quero desconstruir dentro de mim, e com vocês. A gente não precisa fazer um statement de mulher bem resolvida e independente para validar nossa solteirice. Não precisamos negar o desejo de ter um parceiro (caso esse seja o seu desejo, como é o meu) para provarmos que não perdemos no jogo da vida. Admitir esse desejo não é admitir a derrota.
E, nessa época de relações líquidas, parece que dizer que você quer um relacionamento sério é um "espanta macho" automático, como se a gente tivesse que fazer a linha "deixa a vida me levar… quem precisa de rótulos" para provar que é uma mulher contemporânea. Penso que cada vez que a gente não se autoriza a dizer que quer uma relação, a gente contribui para dinâmicas cada vez mais frouxas e insatisfatórias. Querer uma relação não é querer qualquer relação. Querer um namorado não é querer qualquer namorado. A gente precisa começar a falar mais isso para nós mesmas e para os dates.
Canso de ouvir mulheres frustradas no inbox do @soltos_sa dizendo que têm medo de expor os sentimentos e o cara espirrar ou de serem carinhosas e serem interpretadas como carentes. Tá na hora da gente normalizar o afeto e os nossos desejos. Há algum tempo eu já trabalho com a ironia e saio falando: "Eu tenho vontade de ter um namorado, mas você vai ter que passar por muitas etapas para ganhar essa vaga no meu processo de RH do amor".
Brincadeiras a parte, acho que esse é um exercício que a gente deve se propor a fazer: já que estou sozinha, por que não aproveitar esse tempo para ter clareza de que tipo de pessoa e relação eu quero? A gente racionaliza tantos campos da vida, mas parece que no amor ainda rola um ideal romântico de ser arrebatado por uma paixão inexplicável. Deixar tudo no campo do sentimento é um perigo enorme para nos mantermos em relações de migalhas ou nos apegarmos a projeções do que um dia esse romance pode vir a ser.
Aproveita esse tempo só e faz uma listinha mesmo, das coisas que você não abre mão, quais valores, posturas e dinâmicas você quer para você. Não que a gente vá encontrar um pacote pronto (namorados não são tênis customizáveis da Nike), mas ter clareza do que a gente tolera e não tolera nos ajudará a termos diálogos mais construtivos com futuros parceiros e mais autonomia para entrarmos e sairmos de relações.
Agora que a gente normalizou o desejo… bora fazer as pazes com a vida a um?
Pela estrada afora eu vou bem sozinha...
Fazendo uma analogia com outros campos da vida: você pode querer ter sua casa própria com quintal e piscina mas, ainda assim, cuidar com todo amor e carinho do seu apartamento alugado e comprar flores lindas toda semana pra ele.
Tudo bem se sentir carente, tudo bem querer ter alguém… A gente só não precisa se sentir menos por não ter o tal mais um. Entendo que toda a nossa construção social foi pautada na ideia de que o final feliz da mulher é a cena de casamento naquela novela ou comédia romântica. Morro de vontade de mandar a conta da minha terapia pra Disney e pra Hollywood, que nos condicionaram a batalhar pelo príncipe e achar que as solteiras são as tias amarguradas que vivem com 32 gatos em casa.
Eu não sou a tia dos gatos e aposto que você também não é. Quanta coisa deliciosa rola na nossa vida e a gente subestima ou subaproveita porque está esperando a mensagem do boy do Tinder? Tá na hora da gente equalizar os afetos e entender que nossa vida pode ser cheia de amor e alegrias tão recompensadoras quanto uma conchinha fixa. Ao invés de olhar pro boy que falta, pensa na delícia que é poder maratonar sua série favorita quando quiser sem negociar com ninguém, no quanto seus amigos te preenchem com conversas maravilhosas e em como a gente pode tornar o cotidiano gostoso.
Assim como o apê alugado que a gente enche de flores, meu convite para vocês (e para mim mesma) é: vamos ritualizar o autoamor assim como a gente ritualiza o amor romântico. Vamos fazer autodates cotidianos: colocar uma mesa bonita e abrir um bom vinho só para nós mesmas; tirar um tempo sem celular e sair de bike ouvindo uma playlist gostosa; comprar um pijama fofinho, acender um incenso e ler um bom livro… Se curtir não é prêmio de consolação, não é "cuidar do jardim pra atrair as borboletas boy magia". É se permitir ser feliz hoje. Ainda que carente. Ainda que com vontade de conchinha. Ser feliz com o que falta, mas com o muito que a gente tem.
Que a gente transforme esse Dia dos Namorados em um dia pra celebrar o amor. Hoje, vai ser nosso amor próprio. No ano que vem… quem sabe?
Carol Tilkian é comunicadora, pesquisadora de relacionamentos e fundadora do canal soltos s.a., um espaço para discutir a solteirice e o amor em tempos de likes.
Fonte:https://revistaglamour.globo.com/Amor-Sexo/noticia/2021/06/e-possivel-estar-bem-solteira-e-querer-namorar-ao-mesmo-tempo.html
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