É POSSÍVEL ESTAR BEM SOLTEIRA E QUERER NAMORAR AO MESMO TEMPO

 

Dá para querer namorar e estar bem solteira ao mesmo tempo (Foto: Divulgação)

Cena do emblemático (e ainda tão perfeito) filme "O Diário de Bridget Jones" (Foto: Divulgação)


É possível estar bem solteira e querer namorar ao mesmo tempo


Carol Tilkian, da Soltos S.A., traz reflexões importante sobre mais um Dia dos Namorados sem um "+ 1"

"Ah mas essa é uma data comercial"; "antes só do que mal acompanhada"; "pelo menos não vou gastar um dinheirão num presente e correr o risco da relação acabar antes das parcelas do cartão de crédito"; "vai saber se esses casais que tão postando declarações de amor no Insta tão felizes de verdade"... Essas são algumas das frases que muitas de nós, solteiras, nos vemos repetindo para tentar calar o incômodo que aparece com a chegada do Dia dos Namorados.

E, por mais que todas elas sejam verdade, esse texto é um convite para você (e para mim mesma) nos autorizarmos a ficar um pouco azedas, sim, caso a frustração de passar mais um ano sem conchinha fixa bata à sua porta. Mas, ficar azedinha é uma coisa, se sentir miserável e perdedora é outra… Bora encontrar um caminho do meio juntas?
A minha sensação é que a polaridade chegou também na forma como vivenciamos a vida amorosa. Se você quer um namorado, é tachada de carente e de incapaz pois não conseguiu a tão sonhada mudança de status. Do outro lado, se você diz que está bem solteira, das duas uma: ou rola uma sensação de que você "jogou a toalha", se contentando com um amor que é uma espécie de prêmio de consolação (já que o amor de verdade-real-oficial seria o amor romântico), ou vão achar que você é recalcada e só tá dizendo que tá bem solteira para esconder a irritação de não estar postando foto de 2 taças de vinho e jantar chique no dia 12 de junho. Felizmente o mundo é bem mais complexo e cheio de nuances e a gente precisa se autorizar a viver os dois sentimentos de forma complementar: a vontade de achar um parceiro e a alegria de experienciar uma vida solta.

Querer namorar não é ser "mulherzinha"

E nem estar desesperada! É tanta Tia Cleyde e tanta amiga careta casada fazendo comentários do tipo "tão bonita e não arranjou um namorado?" ou "amiga, talvez você esteja focando nos caras errados, vamos abrir seu WhatsApp e ver o que você tá fazendo" que eu sinto que a gente já se blinda e responde de bate-pronto: "Mas eu tô ótima solteira! Quem disse que eu quero um namorado?". É essa construção que eu quero desconstruir dentro de mim, e com vocês. A gente não precisa fazer um statement de mulher bem resolvida e independente para validar nossa solteirice. Não precisamos negar o desejo de ter um parceiro (caso esse seja o seu desejo, como é o meu) para provarmos que não perdemos no jogo da vida. Admitir esse desejo não é admitir a derrota.

E, nessa época de relações líquidas, parece que dizer que você quer um relacionamento sério é um "espanta macho" automático, como se a gente tivesse que fazer a linha "deixa a vida me levar… quem precisa de rótulos" para provar que é uma mulher contemporânea. Penso que cada vez que a gente não se autoriza a dizer que quer uma relação, a gente contribui para dinâmicas cada vez mais frouxas e insatisfatórias. Querer uma relação não é querer qualquer relação. Querer um namorado não é querer qualquer namorado. A gente precisa começar a falar mais isso para nós mesmas e para os dates.

Dá para querer namorar e estar bem solteira ao mesmo tempo (Foto: Divulgação)

Issa Rae tem seus altos e baixos na vida de solteira e comprometida na série da HBO, "Insecure" (Foto: Divulgação)

Canso de ouvir mulheres frustradas no inbox do @soltos_sa dizendo que têm medo de expor os sentimentos e o cara espirrar ou de serem carinhosas e serem interpretadas como carentes. Tá na hora da gente normalizar o afeto e os nossos desejos. Há algum tempo eu já trabalho com a ironia e saio falando: "Eu tenho vontade de ter um namorado, mas você vai ter que passar por muitas etapas para ganhar essa vaga no meu processo de RH do amor".

Brincadeiras a parte, acho que esse é um exercício que a gente deve se propor a fazer: já que estou sozinha, por que não aproveitar esse tempo para ter clareza de que tipo de pessoa e relação eu quero? A gente racionaliza tantos campos da vida, mas parece que no amor ainda rola um ideal romântico de ser arrebatado por uma paixão inexplicável. Deixar tudo no campo do sentimento é um perigo enorme para nos mantermos em relações de migalhas ou nos apegarmos a projeções do que um dia esse romance pode vir a ser.

Aproveita esse tempo só e faz uma listinha mesmo, das coisas que você não abre mão, quais valores, posturas e dinâmicas você quer para você. Não que a gente vá encontrar um pacote pronto (namorados não são tênis customizáveis da Nike), mas ter clareza do que a gente tolera e não tolera nos ajudará a termos diálogos mais construtivos com futuros parceiros e mais autonomia para entrarmos e sairmos de relações. 

Agora que a gente normalizou o desejo… bora fazer as pazes com a vida a um?

Pela estrada afora eu vou bem sozinha...

Dá para querer namorar e estar bem solteira ao mesmo tempo (Foto: Divulgação)

Zoe Kravitz em cena na série ótima "High Fidelity" (Foto: Divulgação)

Fazendo uma analogia com outros campos da vida: você pode querer ter sua casa própria com quintal e piscina mas, ainda assim, cuidar com todo amor e carinho do seu apartamento alugado e comprar flores lindas toda semana pra ele.

Tudo bem se sentir carente, tudo bem querer ter alguém… A gente só não precisa se sentir menos por não ter o tal mais um. Entendo que toda a nossa construção social foi pautada na ideia de que o final feliz da mulher é a cena de casamento naquela novela ou comédia romântica. Morro de vontade de mandar a conta da minha terapia pra Disney e pra Hollywood, que nos condicionaram a batalhar pelo príncipe e achar que as solteiras são as tias amarguradas que vivem com 32 gatos em casa.

Eu não sou a tia dos gatos e aposto que você também não é. Quanta coisa deliciosa rola na nossa vida e a gente subestima ou subaproveita porque está esperando a mensagem do boy do Tinder? Tá na hora da gente equalizar os afetos e entender que nossa vida pode ser cheia de amor e alegrias tão recompensadoras quanto uma conchinha fixa. Ao invés de olhar pro boy que falta, pensa na delícia que é poder maratonar sua série favorita quando quiser sem negociar com ninguém, no quanto seus amigos te preenchem com conversas maravilhosas e em como a gente pode tornar o cotidiano gostoso.

Assim como o apê alugado que a gente enche de flores, meu convite para vocês (e para mim mesma) é: vamos ritualizar o autoamor assim como a gente ritualiza o amor romântico. Vamos fazer autodates cotidianos: colocar uma mesa bonita e abrir um bom vinho só para nós mesmas; tirar um tempo sem celular e sair de bike ouvindo uma playlist gostosa; comprar um pijama fofinho, acender um incenso e ler um bom livro… Se curtir não é prêmio de consolação, não é "cuidar do jardim pra atrair as borboletas boy magia". É se permitir ser feliz hoje. Ainda que carente. Ainda que com vontade de conchinha. Ser feliz com o que falta, mas com o muito que a gente tem.

Que a gente transforme esse Dia dos Namorados em um dia pra celebrar o amor. Hoje, vai ser nosso amor próprio. No ano que vem… quem sabe?

Dá para querer namorar e estar bem solteira ao mesmo tempo (Foto: Divulgação)

Carol Tilkian (Foto: Divulgação)


Carol Tilkian é comunicadora, pesquisadora de relacionamentos e fundadora do canal soltos s.a., um espaço para discutir a solteirice e o amor em tempos de likes.

Fonte:https://revistaglamour.globo.com/Amor-Sexo/noticia/2021/06/e-possivel-estar-bem-solteira-e-querer-namorar-ao-mesmo-tempo.html



Comentários