Não saber lidar com a solidão nos torna dependentes e carentes (Foto: Ilustração Iago Francisco)
Como ser feliz sozinha – e se fortalecer com a solidão
Precisamos falar sobre dependência emocional e o processo (nem sempre fácil!) de encontrar a felicidade quando bate a solidão
(In)dependência
Essa história de estar sempre namorando ou viver rodeada de amigos 24 horas tem nome: dependência emocional. E ela existe por um motivo simples: viver em grupo é necessidade do ser humano, um comportamento herdado dos nossos ancestrais, instinto mesmo. “Raramente alguém consegue sobreviver sozinho. Necessitamos de outras pessoas para ter ajuda e evoluir, mas o convívio também nos tira a liberdade”, explica a filósofa e psicanalista Viviane Mosé, que já publicou mais de 10 livros. O cerceamento ocorre quando outros olhos se voltam para nós e passam a interferir em escolhas e experiências de vida. Sabe quando você repensa a roupa que usa ou dá mais uma chance para um namoro meia-boca por se preocupar com o que os outros vão pensar? Então! Aliás, por que seria “vergonha” sair de uma relação e ficar sozinha, na plenitude da própria companhia?
Antes só...
É que, segundo Viviane, muitas vezes confundimos solidão com abandono. Essa sensação faz com que a gente queira viver em grupo, perto de amigos. Mas não representa, necessariamente, o único e melhor caminho. “A convivência é prazerosa, claro, mas representa o olhar do outro. Já na solidão você olha para si mesmo e consegue ser livre. Ela nos faz sofrer, mas também nos fortalece”, afirma a filósofa. Por isso, o desafio é conseguir encontrar equilíbrio entre solidão (o próprio espaço) e convívio. O dilema do porco-espinho, descrito pelo filósofo alemão Arthur Schopenhauer, em 1851, representa bem essa dicotomia. Na metáfora, ele relata que os animais precisam ficar juntos para se proteger do frio, mas se machucam e se espetam quando se aproximam demais, então decidem se afastar. Qualquer semelhança com as relações humanas não é mera coincidência...
Tão perto, tão longe
“Não saber lidar com a solidão nos torna dependentes e carentes”, afirma Mosé. Ainda mais na era digital, em que estamos conectados com tanta gente e, ao mesmo tempo, cada vez mais distantes. O assunto é tão sério que foi criado, no Reino Unido, em 2018, um ministério para combater as consequências do isolamento social, chamado pela então primeira ministra, Theresa May, de “triste realidade moderna”.
O psiquiatra do hospital Albert Einstein Elton Kanomata explica que esse sentimento pode, sim, virar problema de saúde, como depressão e síndrome do pânico. Nesses casos, vários fatores devem ser levados em consideração, como traumas e cicatrizes na infância (lembra do caso da Dora?). “É necessário analisar se o paciente era solitário e isso gerou uma doença mental ou se já tinha uma doença e isso causou isolamento. Em ambos, a solidão é afetividade negativa, que gera desconforto e sofrimento.” Não precisa ser assim.
Precisamos do outro, claro, mas antes, precisamos de nós mesmas. Aquele lance de chegar em casa, escolher uma playlist e abrir um vinho, sem ninguém para impressionar, a não ser você mesma. Fundamental é mesmo o autoconhecimento, é impossível ser feliz sozinha (ou acompanhada) sem ele.
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