O QUE ESTÁ ENVOLVIDO NO DIVÓRCIO DE BILL E MELINDA GATES: BILLGATES FALA SOBRE CLIMA,VACINAS E UMA DOSE DE OTIMISMO


Bill e Melinda Gates (Foto: Getty Images)

Bill e Melinda Gates (Foto: Getty Images)


US$ 130 bilhões, fundação e caderno de Da Vinci: o que está envolvido no divórcio de Bill e Melinda Gates


O maior casal do universo filantrópico anunciou o término nesta segunda-feira (3-05-21)

O centibilionário Bill Gates e sua esposa, Melinda Gates anunciaram divórcio nesta segunda-feira (3), pondo fim a 27 anos de casados. “Depois de pensar e trabalhar muito em nosso relacionamento, decidimos tomar a decisão de dar fim ao nosso casamento", anunciou Gates em seu perfil no Twitter. "Não acreditamos mais que possamos crescer como casal nesse próximo estágio de nossa vida", conclui o comunicado.

Um divórcio envolvendo fortunas como a de Gates tem um impacto e tanto. Segundo dados do jornal Forbes, Bill Gates é dono de um patrimônio estimado em 130,5 bilhões de dólares, significando que um acordo entre os dois pode levar Melinda Gates ao clube dos maiores bilionários. Foi o que aconteceu, por exemplo, com MacKenzie Scott, ex-esposa de Jeff Bezos (fundador da Amazon) que recebeu um total de 25% das ações do marido na Amazon após a separação. Hoje ela detém uma fortuna de cerca de US$ 59,8 bi - ocupando a 22ª posição na lista de super ricos da publicação.

Os exatos termos do divórcio entre Bill e Melinda ainda estão para ser divulgados, então é impossível saber o quanto vai custar essa separação. Além disso, a situação de agora é bem diferente do divórcio dos Bezos em 2019. A maior parte da fortuna de Jeff e MacKenzie estava concentrada na Amazon, na companhia espacial Blue Origin e no jornal Washington Post. Já a dos Gates é mais pulverizada: Bill ainda detém 1,37% das ações da Microsoft (empresa cuja direção deixou há mais de 20 anos), mas espalha seu patrimônio por dúzias de empresas de capital aberto através de sua holding, a Cascade Investiment.

Se ambos decidirem por um acordo similar a de Bezos, digamos, trocando ações da Amazon pelas da Microsoft que Bill ainda detém (avaliadas em cerca de US$ 26 bi, segundo a firma de informações financeiras FactSet), estamos falando de algo na casa dos US$ 6,5 bilhões. Já se o caminho for compartilhar o valor do portfólio da Cascade, hoje calculado em cerca de US$ 73,6 bi (segundo a frima de pesquisa Fintel), o acordo pode resultar em um montante na casa dos US$ 18,39 bi passando para as mãos de Melinda. Vale lembrar que na lista ainda podem estar patrimônios como o lar do casal em Washington, avaliado em mais de 120 milhões de dólares, e sua coleção de arte, incluindo um caderno original de Leonardo Da Vinci arrematado pelo centibilionário em 1994 por US$ 30 milhões.

Sabe-se, por outro lado, que ambos continuarão ativos na Fundação Bill e Melinda Gates - gigante da filantropia que montaram em 2000 - mesmo após o fim do matrimônio.

Fonte:https://gq.globo.com/Lifestyle/Poder/noticia/2021/05/bilhoes-fundacao-da-vinci-divorcio-bill-gates-melinda.html

Bill Gates fala sobre clima, vacinas e uma dose de otimismo

O tecnólogo e filantropo vai além de seu mais recente livro para abordar negacionismo climático, vacinação e David Foster Wallace

NEW YORK, NY - SEPTEMBER 20:  Bill & Melinda Gates Foundation co-founder Bill Gates speaks speaks at Goalkeepers 2017, at Jazz at Lincoln Center on September 20, 2017 in New York City.  Goalkeepers is organized by the Bill & Melinda Gates Foundation to hi (Foto: Getty Images)

Bill Gates (Foto: Getty Images)

Quando dei parabéns a Bill Gates por alcançar o primeiro lugar na lista de best-sellers do New York Times com seu livro Como evitar um desastre climático [Cia. das Letras, 2021], uma análise preocupante e ainda assim otimista sobre a crise global do meio ambiente, ele me lembrou que o volume já estava lá há três semanas.”Para um livro sobre clima, isso é bom”, diz. Bill, isso é ótimo para qualquer obra. Mas o sucesso não é surpreendente: poucas pessoas têm a autoridade de Bill Gates, um especialista amplamente reconhecido não apenas em tecnologia e negócios, mas em campos menos óbvios, como saúde global e energia - tudo resultado de seu trabalho com a Fundação Bill e Melinda Gates. O filantropo estava preparado para publicar seu livro ambiental há um ano, mas decidiu adiar pois tanto ele quanto o resto do mundo estavam focados em outro problema: a covid-19. Não superamos este ainda, mas o clima não pode esperar. Aparentemente, muita gente ávida pela leitura concorda.

O livro de Gates é parte lamento amargo, parte entusiasmo. Ele emprega uma abordagem sistêmica para a crise climática, dividindo-a entre as diferentes indústrias que geram a maior parte de emissões de gases poluentes (nenhum peido de vaca ficou fora da contagem). Gates encara a solução em termos do que ele chama de ‘taxa verde’: a diferença de custo entre produtos e serviços que não emitem gases do efeito estufa e aquelas alternativas mais baratas, cuspidoras de CO2, nas quais estamos atualmente vidrados. Aprendemos coisas surpreendentes, como o fato do cimento ser pior que o ar-condicionado. E Gates não deixa de notar um paradoxo: nosso enorme consumo energético não é vilão por si só - energia barata e mesmo o desmatamento já ajudaram as comunidades mais pobres da Terra a terem vidas melhores. Isso, claro, torna tarefa difícil desviarmos de um desastre climático.

Ainda assim, Gates acredita que somos capazes de evitá-lo através da inovação. Em seu parecer, será preciso dúzias de avanços em campos diversos, de preferência acelerados por suporte governamental, para baixar ou eliminar a ‘taxa verde’. Assim podemos chegar a essa meta - gigante, cabeluda e audaciosa - de fazer os 51 bilhões de toneladas de gases do efeito estufa que lançamos à atmosfera todo ano chegarem a um número bem redondo. Zero.

Falei com Gates através do Microsoft Teams (é claro) - então nenhum combustível de avião foi gasto para que essa conversa acontecesse!  A entrevista foi editada para melhor leitura e concisão.

Você é realmente otimista sobre como podemos vencer o desastre climático, mas passa boa parte do livro dizendo como será difícil eliminar os 51 bilhões de toneladas de gases do efeito estufa anuais até 2050. Também inclui uma longa lista de avanços científicos necessários para chegarmos à meta. De onde então vem seu otimismo?

Você pode me acusar de otimista num geral. É a característica de uma pessoa que abandona a escola imaginando que possa criar uma empresa de software, contrata um bocado de gente e só então a coisa funciona. E aí, na Fundação, todo trabalho que fiz com novas vacinas e com a melhoria da saúde global, também deu super certo. Isso te coloca na categoria do ‘uau-o-que-consigo-fazer’. Concordo que é uma coisa perigosa. Admito que o clima seja não apenas muito diferente dessas outras coisas, como também muito mais difícil.

O que mais me preocupa honestamente é o ímpeto político, principalmente se os jovens republicanos, como uma geração, não verem isso como algo que eles precisam apoiar - e que seus antecessores falharam no objetivo. Enquanto essa mensagem não circular de forma mais dramática do que hoje vai ser difícil, porque vamos continuar tendo governos republicanos e democratas. Você está pedindo que essas grandes indústrias - utilidade pública, aço, cimento - invistam em suas infraestruturas de forma muito radical. Se as políticas não forem duradouras, passarem do curto prazo, não tem como imaginar esse comprometimento.

Você acompanhou os jovens republicanos na CPAC [conferência estadunidense organizada em fevereiro pela ala conservadora]? Não acho que eles estejam lendo seu livro, Bill.

Este é um desafio interessante. Preciso ser mais científico a respeito. Temos um parceiro que ajuda a financiar o lobby republicano. As atitudes desses jovens está mudando? Sem isso, temos um profundo problema, porque é a inovação nos Estados Unidos que vai mover muito de tudo isso.

No livro, você aborda o negacionismo sobre o clima apenas nas duas páginas finais do último capítulo. Porque você decidiu, essencialmente, não discutir isso?

De certa forma, estive mais voltado para pessoas que pensam que a solução do problema é fácil e menos para aqueles que não acreditam no problema. Então você tem quatro campos: (1) Não há dilema aqui. (2) Existe um problema, mas ele é simples. (3) É absolutamente impossível, então é melhor desencanar. E (4) aqui estou eu, dizendo: (a) é importante, (b) é muito, muito difícil e (c) nada tão complicado a ponto de não termos chance de sucesso. Temos coisas como o carro elétrico que, dentro de 15 anos, conforme o custo inicial vai baixando, estações de recarga são instaladas e a capacidade da bateria sobe, chegará à ‘taxa verde’ zero. Isso significa que a GM pode abolir o carro à gasolina e saber que nenhum consumidor vai se revoltar. Isso é incrível considerando o volume de vendas na casa de 2% hoje em dia. O carro de passageiro será um problema solucionado.

Você não acha que um grande investimento político nas eleições de 2016, que poderia ter levado a um resultado diferente, ajudaria na crise climática - muito mais que as coisas que você lista no livro?

Não. Volte ao meu discurso sobre o clima em 2010. Eu disse que preferia ver inovação energética do que o direito de escolher todos os presidentes pelo resto da minha vida. Agora, devo admitir, não antecipei que o eleitorado acabaria escolhendo Trump. Então tive que pensar duas vezes, mas não por motivos climáticos. Competência importa de verdade. Olha, esse país precisa de alternâncias de partido. Não dá para ter apenas democratas no governo. É impossível acontecer, e não faz bem para a nação. Democratas não acreditam que nossos recursos são finitos, mas eles são. Sou centrista o bastante para olhar para o Green New Deal e imaginar em que mundo essas pessoas vivem, acreditando que vai haver empregos para todos e colocando isso num projeto de lei sobre o clima? Vocês não devem estar levando o assunto a sério, ou cantando o hino da Terceira Internacional e lendo Marx. Você quer esse partido no poder para sempre? Eu não.

Imagino que haja maior simpatia pelo cara na Casa Branca agora. Para mim, a parte do seu livro em que você descreve um plano de ação se assemelha a apresentar um currículo para a vaga de czar climático. Concorda?

O executivo é limitado no que pode fazer. Então tenho passado muito tempo com membros do congresso. Acho que serão oito anos muito bons para o progresso climático. E infelizmente é preciso fazer muito disso pela via da reconciliação. Há várias políticas que passam por esse prisma, e algumas que não. Espero que o gasto em pesquisa e desenvolvimento seja uma delas. Houve muita coisa a respeito de clima no orçamento [estadunidense] aprovado em dezembro. Havia tanta coisa lá, a bem da verdade, que essas propostas verdes ganharam quase nenhuma visibilidade. Sim, é um problema político, mas a solução não é ter apenas democratas no poder. Em um cenário ideal, isso promove a história do país - o Partido Republicano escuta a comunidade dos negócios. E agora há tanta gente jovem se importando com isso que até companhias petroleiras estão dizendo: “Ok, vamos seguir com esse plano.” De verdade, acho que se a geração mais jovem se importa, então estamos bem. Senão, vamos errar o alvo. Errar por 10, 20 anos? É tudo questão de quantas categorias continuarão com altíssimas ‘taxas verdes’.

Ainda assim, uma sugestão sua no livro é que pessoas preocupadas sobre o clima procurem entrar em cargos públicos. E quanto a você, dado que muitas sugestões realmente dependem dos governos criarem um suprimento de inovações e uma demanda por esees avanços a preços competitivos?

Em absoluto. Mas eu sou expert em uma quantidade limitada de coisas. É estranho que a mudança climática faça parte dessa lista porque minha abordagem com saúde e educação me fez gastar toda energia que tinha com trabalho governamental. Mas em termos do futuro de todo nosso trabalho em países subdesenvolvidos, isso meio que elimina o avanço que tivemos na saúde, e em coisas como melhores sementes para fazendeiros. E é tão complicado que você precisa de alguém com cabeça em sistemas para dizer quais são as métricas importantes e como você acelera inovação, algo que normalmente aconteceria a seu próprio tempo, sem qualquer prazo como o que temos aqui. 

Algumas pessoas defendem que a oposição a resolução desses problemas vem não da ignorância, mas do lobbying e da desinformação vinda da indústria de combustíveis fósseis. Em outras palavras, o capitalismo em si é o problema. Não sei se você o esse artigo sobre seu livro no London Review of Books, mas queria ler a conclusão: “O sistema que deu a Gates a chance de concentrar sua enorme riqueza é o mesmo responsável pela crise climática e que foi incapaz de peitar os desafios apresentados por ela.”

A condição humana é melhor hoje do que há 20, 40, 200 anos. O capitalismo merece um crédito por isso. Eu iria preferir ser uma mulher, ou um homem gay, ou alguém com câncer, hoje do que no passado. Tente pensar nessa pandemia 10 anos atrás, antes da internet ou da sabedoria que nos levou às vacinas modernas. Se as pessoas acreditam que a vida há 100 anos era melhor que a de hoje, daí podem dizer que fizemos um grande erro com todo a coisa do capitalismo.

É interessante que as pessoas que você imaginaria serem grandes apoiadoras do combate à crise climática estão hoje entusiasmadas com criptomoedas como o Bitcoin. O que, em termos de impacto, parece ser um enorme passado para trás ao consumir tanta energia.

Minhas críticas do Bitcoin não vão muito pro lado do ridículo gasto energético. É mais centrada nessa crença em câmbios de moedas digitais locais atribuídas como replicáveis e reversíveis, como as que a Fundação está financiando na Índia, Quênia e em muitos outros lugares. Acredito em moedas digitais para transações de baixo custo, e fizemos mais pelo barateamento de remessas do que qualquer um. Dirija pelo Quênia hoje e você vai ver outdoors em todo lugar. O Bitcoin não foi capaz de fazer isso, porque você não consegue sacá-lo. Esses caras do Bitcoin não fizeram coisa alguma - além de taxas para sequestradores ou para o tráfico de drogas.

Quero te perguntar sobre geoengenharia, que você menciona rapidamente no livro. Você disse estar financiando algumas pesquisas a respeito e que essa abordagem, que mexe com o próprio clima, é uma medida emergencial, para quando foi tarde demais para impedir consequências catastróficas. Quando esse momento chegaria, e o que precisaríamos fazer?

No momento o grande debate é se eles deveriam poder fazer o menor experimento que seja ou se seria melhor nem tocar no assunto. É muito controverso. Lembro que quando Uma Verdade Inconveniente foi lançado, eu disse depois da exibição: “Gore, ei, que tal essa geoengenharia?”. E ele só fez isso [Gates ensaia um sinal de cruz, como se quisesse afugentar vampiros]. A gente nem deveria falar a respeito. Não quis forçar a barra no livro, mas pensei que seria esquisito se não mecionasse o tema, como se tivesse tentando abafar algum plano secreto. É complicado porque não somos lá muito bons em criar modelos climáticos, e será uma enorme decisão política. Não será uma decisão feita por mim. Se formos responsáveis e continuarmos avançando a pauta climática como deveríamos, não haverá nem a tentação de usá-la.

Tem certeza que não será uma decisão feita por você?

Bill Gates: Tenho certeza que não será feita por mim. Não vou patrocinar isso. Sou a favor de algo mais racional, a favor de mudar a maneira como se faz ferro. Vamos atrás de hidrogênio, verde e barato. Eu investi alguns milhões em geoengenharia e, no todo, fiz 2 bilhões de dólares. Perco cem vezes mais dinheiro com companhias de bateria do que já joguei em bioengenharia. Eu financiei o modelo ‘código aberto’ de energia limpa, a fusão nuclear. No evento climático em Paris, havia uma única pessoa encorajando líderes políticos sobre a pauta da pesquisa e desenvolvimento. É estranho para mim quão precoce é todo esse setor climático no assunto do desenvolvimento e da compreensão do que é preciso ser feito.

Me parece que a compreensão está mesmo num nível precoce, mas o planeta está nos alertando que, no campo da ação, estamos atrasados.

Um atraso de 20 anos, de certa forma. Eu o entendi pela ótica do que via acontecer na África, em termos da dificuldade crescente do plantio na região, e imaginando: temos mesmo que lidar com esse limitador complexo que é a crise climática? Tive muita sorte de ter pessoas que me atualizaram sobre o tema.

Em certo ponto do livro você nota que também consome uma quantidade “absurda” de energia. Imagino que tenha viajado muito menos esse ano. Considerando seu ativismo climático, isso vai continuar mesmo com o fim da pandemia?

Claro. Espero que a quantidade de viagens internacionais que faço caia pela metade do númro que costumava ser no passado. Todos os líderes africanos, por exemplo, hoje tem uma marcação em suas agendas para “atender videochamadas”. Para muitos daqueles que costumava encontrar, ao invés de voar até seus países a cada dois anos para ter uma reunião de uma hora, posso fazer um encontro de 20 minutos com tradução simultânea e discutir tudo que preciso. Minha eficiência no trabalho com esses líderes - em termos do tempo deles e do meu - foi umas 10 vezes melhor este ano. Não tem porque dar meia volta, e acho que há muitas coisas seguindo o mesmo caminho.

O fato de termos nos limitado em coisas como viagens mostra que estamos assustados. Mudamos nosso comportamento. Você deveria estar otimista com isso.

Mas não é assim que chegamos a zero: países ricos fazendo menos de uma dada atividade. O teste de fogo vai ser a Índia adotando estratégias verdes em 2050. Os indianos vão usar mais eletricidade, instalar ar-condicionados e providenciar abrigos básicos, e quando ligarmos para eles em 2050 pedindo para usar abordagens verdes com a atual tecnologia, eles dirão: “Ei, nos envie trilhões de dólares pois vocês são ricos - vocês causaram esse problema, enquanto precisamos garantir o básico para nossa população”. Então não, não vamos nos garantir dessa maneira. Se todos os países ricos chegarem a zero, não adianta. A ideia de contribuições determinadas por países não nos leva ao nosso objetivo.

Aqui vai uma pergunta sobre covid. Da última vez que nos falamos, você disse que estava financiando fábricas para vacinas mesmo antes delas terem sido aprovadas, de forma que teríamos o bastante assim que órgãos dessem o sinal verde. Mas não parece ter funcionado. O que aconteceu?

Bom, ninguém disse saber como fazer 14 bilhões de vacinas do dia para a noite. O motivo porque a fábrica do imunizante da AstraZeneca produz mais que qualquer outro complexo similar no mundo é devido ao aporte que providenciamos. Estamos muito atrás de uma vacinação igualitária. Pfizer e Moderna, que enfrentam uma questão de escala e são mais caras, são boas soluções para países ricos. Mas exigem um novo processo que ainda é impossível para nações em desenvolvimento. Fizemos mais no campo da vacina de mRNA do que qualquer outra organização. Mas ela não estava pronta. Não havia uma única vacina aprovada usando essa tecnologia. Se a pandemia tivesse chegado cinco anos mais tarde, o mRNA seria uma plataforma estável em termos de custo, duração e capacidade de produção. Mas ei, eu investi US$2 bilhões e sei que, caso não tivesse gasto isso, a desigualdade seria ainda pior.

Quando você acha que vamos voltar a participar de conferências e a visitar salas de cinema?

O outono vai parecer bem mais normal. Ficaria realmente surpreso se houver um número minimamente significativo de escolas fechadas. Ainda temos que fazer a taxa de aceitação da vacina subir muito em comunidades de baixa renda.A captação ainda está abaixo do ideal. E temos que ter as pessoas mais inteligentes mostrando que estão tomando a vacina e que ela funciona. Acho que o governo [Biden] está fazendo isso. Mas mesmo com o aumento da cobertura, ainda não teremos um retorno completo à normalidade. No resto do mundo, imagino que esse nível de cobertura ocorra apenas ao final de 2022. Era normal que vacinas demorassem 20 anos para irem dos países ricos para os mais pobres. Então estamos em melhor forma, ainda que esteja longe do ideal.

Uma última pergunta: em seu livro você disse que estava lendo coisas do David Foster Wallace em preparação para Graça Infinita. Você chegou a terminá-lo?

Ainda não. De maneira alguma. Quero ler toda palavra que David Foster Wallace já escreveu, todo artigo, cada livro, antes de me aventurar pela página um. É que tenho uma regra. Se começo um livro, eu preciso terminar. Graça Infinita pode levar um ano! Basta olhar todas aquelas notas de rodapé.

Por que ler Wallace para início de conversa?

Acho que ele era genial. Amo o jeito que ele escrevia. Claro, acabou sendo uma história trágica, mas ele tinha um certo gênio no sentido de como ele trabalhava. Alguns de seus trabalhos são tão divertidos, mas ele também complicava tanto as coisas. Então era algo que eu precisava fazer.

Você acha que teria se dado bem com ele?

Quase tudo que sei dele vem daquele filme chamado O fim da turnê. Acho que ele era uma pessoa muito difícil de se relacionar, não era do tipo muito sociável, mas era um gênio. Ele gostava de jogar tênis, e era quase decente - como eu. Acho que poderia ter jogado umas partidas com o cara.

*Leia a entrevista original na Wired

Fonte:https://gq.globo.com/Lifestyle/Poder/noticia/2021/03/bill-gates-clima-vacinas-otimismo-capitalismo.html


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